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2. Qualidade de Vida

3.5. Análise de dados

perceção de apoio social recebido. Na amostra do presente estudo, os valores do alfa de Cronbach foram todos superiores a .90 (cf. Quadro 4).

Quadro 4. Alfa de Cronbach e número de itens de cada dimensão do apoio social

Alpha de Cronbach Nº de itens

Interação social positiva 0.938 4

Apoio emocional 0.957 8

Apoio afetivo 0.932 3

Apoio material 0.901 4

3.5. Análise de dados

As análises foram realizadas com a utilização do programa Social Package for the Social Sciences (IBM SPSS, versão 21). Em primeiro lugar, recorreu-se à estatística descritiva (médias, desvios-padrão, frequências) para caracterização sociodemográfica e clínica da amostra, assim como dos resultados dos diferentes questionários da bateria de avaliação. Para análise da associação entre as variáveis em estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Pearson. A significância estatística foi estabelecida para valores de p < .05.

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4. Resultados

Caracterização do tipo de rede social dos doentes com perturbação do humor

Relativamente ao apoio social, em média, os doentes possuíam cerca de cinco pessoas na sua rede social (M = 4.9, DP = 4.5). Nas dimensões do apoio social, excetuando a dimensão Interação social positiva, os scores médios variaram entre 65 e 70, sendo o Apoio afetivo aquele que apresentou os valores médios mais elevados. Tendo em conta que os resultados totais em cada dimensão variam entre 0 e 100, os resultados obtidos são indicativos de níveis adequados de perceção de apoio social, acima do ponto médio da escala (50). Os resultados descritivos encontram-se no Quadro 5.

Quadro 5. Resultados descritivos nas dimensões de apoio social

M DP

Interação social positiva 61.7 29.7

Apoio emocional 65.2 25.5

Apoio afetivo 68.5 29.4

Apoio material 65.8 29.4

Índice global 65.1 26.1

Caracterização da qualidade de vida dos doentes com perturbações do humor

No Quadro 6 encontram-se os resultados descritivos para os domínios da qualidade de vida.

Quadro 6. Resultados descritivos dos domínios de qualidade de vida

M DP Físico 53.5 19.7 Psicológico 52.1 23.0 Relações sociais 54.2 22.1 Ambiente 54.5 15.4 Faceta geral 46.3 21.3

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Os resultados indicaram que os doentes apresentaram resultados médios superiores ao ponto médio do questionário (50) nos quatro domínios do WHOQOL-Bref, com exceção da faceta geral de qualidade de vida.

Relativamente às facetas específicas de qualidade de vida, os resultados encontram-se no Quadro 7.

Quadro 7. Resultados descritivos nas facetas específicas de qualidade de vida

M DP

Qualidade de vida em geral 3.03 0.87

Estado de saúde 2.67 1.08

Dor e desconforto 3.26 1.27

Dependência de medicação e tratamentos 3.43 1.23

Sentimentos positivos 3.40 1.24

Espiritualidade 3.26 1.22

Pensamentos, aprendizagem, memória, concentração 2.97 1.09

Segurança física 3.19 1.03

Ambiente físico 3.17 0.95

Energia e fadiga 2.85 1.03

Aparência e Imagem corporal 3.29 1.07

Recursos económicos 2.60 0.79

Aquisição de informações 3.19 0.94

Recreio/lazer 2.67 1.01

Mobilidade 3.44 1.16

Sono e repouso 3.08 1.07

Atividades da vida diária 2.93 0.99

Capacidade de trabalho 3,00 1.08 Autoestima 3.03 1.14 Relações pessoais 3.31 1.07 Atividade sexual 2.69 1.16 Apoio social 3.51 0.98 Ambiente no lar 3.44 1.10

Acesso a serviços de saúde e sociais 3.54 0.91

Transportes 3.58 0.98

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O resultado mais baixo pertence às facetas Sentimentos Negativos (M = 2.44, DP = 1.07), perctencente ao domínio Psicológico e Recursos Económicos (M = 2.60, DP = 0.79) pertencente ao domínio Ambiente. De destacar também a pontuação dos itens Recreio/Lazer (M = 2.67, DP = 1.01), e perceção do estado de saúde (M = 2.67, DP = 1.08), com pontuações inferiores ao ponto médio da escala de resposta (3). Por outro lado, nas pontuações mais elevadas, temos as facetas Transportes (M = 3.58, DP = 0.98) e Acesso a serviços de saúde e sociais (M = 3.54, DP = 0.91), ambas do domínio Ambiente.

Caracterização da saúde mental dos doentes com perturbações do humor

Em relação à sintomatologia ansiosa e depressiva, os doentes apresentaram resultados médios mais elevados na dimensão Ansiedade (M = 11.8) que na Depressão (M = 9.6) (cf. Quadro 8).

Quadro 8. Resultados descritivos na sintomatologia ansiosa e depressiva

M DP

Ansiedade 11.8 4.3

Depressão 9.6 5.0

Tendo em consideração os pontos de corte da HADS para a sintomatologia ansiosa e depressiva, e considerando a totalidade da amostra, os resultados mostraram que 34.5% dos doentes apresentaram sintomatologia moderada na Ansiedade. Apenas 17.2% dos doentes reportaram ausência de sintomatologia. No que diz respeito à dimensão Depressão, 32.2% revelaram ausência de sintomatologia, enquanto 13.6% apresentaram sintomatologia depressiva ligeira. Os resultados encontram-se descritos no Quadro 9.

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Quadro 9. Resultados descritivos tendo em conta os pontos de corte da HADS para a sintomatologia ansiosa e depressiva

N=59 % Ansiedade Ausência de sintomatologia 10 17.2 Sintomatologia ligeira 11 19.0 Sintomatologia moderada 20 34.5 Sintomatologia severa 17 29.3 Depressão Ausência de sintomatologia 19 32.2 Sintomatologia ligeira 17 28.8 Sintomatologia moderada 14 23.7 Sintomatologia severa 8 13.6

Associação entre os domínios de qualidade de vida e saúde mental dos doentes com perturbações do humor

Relativamente à associação entre os domínios e faceta geral de qualidade de vida e a ansiedade e depressão (cf. Quadro 10), observa-se a existência de correlações negativas fortes entre estes indicadores, sendo todas estatisticamente significativas (p < .001). Estes resultados indicam que maior sintomatologia ansiosa e depressiva está associada a menor perceção de qualidade de vida.

Quadro 10. Correlação entre a qualidade de vida os sintomas de ansiedade e depressão HADS Ansiedade Depressão Físico -.687*** -.673*** Psicológico -.785*** -.816*** Relações sociais -.564*** -.594*** Ambiente -.529*** -.505*** Faceta geral -.558*** -.718*** *** p .001

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Associação entre a composição da rede social e o apoio social percebido pelos doentes e a sua qualidade de vida e saúde mental

No que respeita à associação entre o número de pessoas da rede social e o apoio social percebido pelos doentes, os resultados mostraram a existência de correlações positivas, sendo apenas com a Interação social positiva (p = .021), o Apoio emocional (p < .018) e o Índice global de apoio social (p = .031) (cf. Quadro 11).

Quadro 11. Correlação entre o número de pessoas na rede social e as dimensões de apoio social Apoio social Interação social positiva Apoio emocional Apoio afetivo Apoio material Índice global Número de pessoas na rede social .310* .319* .255 .174 .291* * p < .05

No que diz respeito à associação entre o apoio social percebido pelos doentes e a sua qualidade de vida, globalmente, os resultados indicaram a existência de correlações positivas e significativas, indicando que quanto mais elevada a perceção de apoio social, melhor a perceção de qualidade de vida (cf. Quadro 12).

Relativamente ao número de pessoas na rede social, verificaram-se apenas correlações significativas com os domínios Psicológico (r = .353, p < .01) e Relações sociais (r = .322, p < .05).

A Interação social positiva revelou estar significativamente associada a todos os domínios e faceta geral de qualidade de vida. A dimensão Apoio emocional e o Índice Global de Apoio Social apresentaram uma correlação com significância estatística com todos os domínios da qualidade de vida, com exceção da faceta geral de qualidade de vida. O Apoio afetivo e o Apoio material mostraram-se significativamente associados a todos os indicadores de qualidade de vida, com exceção do domínio Físico e da faceta geral. Em termos globais, as correlações mais fortes foram com o domínio Relações sociais e domínio Ambiente.

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Quadro 12. Correlação entre as dimensões de apoio social e os domínios e faceta geral de qualidade de vida

Qualidade de Vida

Físico Psicológico Relações

sociais Ambiente

Faceta geral

Interação social positiva .329* .428** .649*** .508*** .282*

Apoio emocional .289* .462*** .623*** .470*** .250

Apoio afetivo .185 .351** .676*** .445** .202

Apoio material .212 .295* .529*** .337* .181

Índice global .280* .423** .656*** .472*** .248

* p < .05; ** p < .01; *** p .001

Em termos da associação entre o apoio social percebido e os sintomas psicológicos, constata-se a existência de correlações negativas entre todas as dimensões de apoio social e a sintomatologia ansiosa e depressiva. Apenas não se observaram correlações com significância estatística entre o Apoio afetivo, o Apoio material e a Ansiedade. Em relação ao número de pessoas na rede social, as correlações observadas foram também significativas com os sintomas de ansiedade e depressão (cf. Quadro 13).

Quadro 13. Correlação entre as dimensões de apoio social e os sintomas de ansiedade e depressão

HADS

Ansiedade Depressão

Número de pessoas na rede social -.291* -.272*

Interação social positiva -.298* -.355**

Apoio emocional -.378** -.386**

Apoio afetivo -.249 -.364**

Apoio material -.248 -.304*

Índice global -.329* -.379**

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Discussão

A presente investigação procurou analisar a associação entre o apoio social e a saúde mental e qualidade de vida de pessoas diagnosticadas com perturbações de humor. Os principais resultados apontam, ao nível da caracterização da rede social, que os doentes da nossa amostra possuem poucos elementos na sua rede social, no entanto, verificamos a existência de uma correlação positiva entre número de pessoas na rede de apoio social e o nível de apoio social, em particular com as dimensões interação social positiva e apoio emocional. Os participantes revelaram ainda, como esperado, níveis elevados de sintomatologia depressiva e ansiosa, estando esta sintomatologia associada a uma menor percepção de QdV. Por outro lado, foi possível verificar que quanto mais elevada a percepção de apoio social dos doentes, mais baixa é a sintomatologia depressiva e ansiosa e mais elevada é a percepção de QdV.

No que respeita às características sociodemográficas da amostra, existem alguns aspetos a anotar. A amostra foi constituída por doentes com perturbação do humor, dos quais 62.7% são mulheres. Esses dados estão em linha com a maioria dos estudos existentes, que demonstram que as mulheres apresentam maior vulnerabilidade que os homens no que respeita às perturbações ansiosas e do humor (Andrade et al., 2006). No que diz respeito à patologia mais frequente, os resultados revelaram a depressão como doença predominante, com uma percentagem de aproximadamente 80%, o que confirma a premissa de que a depressão é das doenças mentais com maior prevalência nos países industrializados (Gusmão et al., 2005).

Tendo em consideração os resultados das escalas, de modo geral, e em concordância com a revisão da literatura efetuada, foram obtidos alguns resultados esperados. Na literatura podemos encontrar algumas investigações que referem que as pessoas com perturbações mentais possuem uma rede social diminuída, composta por 8 a 12 elementos (Pattison, Defrancisco, Wood, Frazier & Crowder, 1975., Barron, 1996). Por norma, a rede social destas pessoas, além de ser pequena, caracteriza-se também pela assimetria e falta de reciprocidade (isto é, os doentes recebem mais apoio do que

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proporcionam), o que pode provocar stresse, tensão e desgaste em variadas situações (Guterres, 2002). No presente estudo, a média da rede social dos doentes estudados foi de aproximadamente 5, valor inferior ao retratado na literatura revista. A qualidade das relações familiares/amizade de doentes com perturbações do humor são tidas como importantes no desenvolvimento da doença, tendo efeito positivo no seu tratamento (Tucci, Kerr-Corrêa, & Dalben 2001).

Relativamente à análise das dimensões de apoio social, o apoio afetivo foi a dimensão que apresentou os valores mais elevados, o que nos leva a levantar a hipótese de que os doentes inquiridos têm uma ou mais pessoas na sua vida que lhes transmitem sensações de afetividade. De igual modo, pode-se assinalar, relativamente às outras dimensões, que as pontuações são bastante adequadas, tendo em conta a amplitude das respostas (0-100). Podemos, assim, concluir que os doentes inquiridos valorizam aspetos como afeto positivo, empatia, apoio recíproco. Ainda sobre esta questão, a literatura refere que sentir-se membro de um grupo, partilhar com outros as emoções do sucesso e dividir com eles as dificuldades – não estar só, enfim – é uma grande ajuda para enfrentar as dificuldades da vida (Lima, Marques, & Camilo, 2015), o que assume grande relevância no caso de doentes com perturbações mentais.

Tendo em conta os resultados descritivos da qualidade de vida, verificamos que os doentes apresentam pontuações mais elevadas nos domínios das relações sociais e do ambiente, apesar de, globalmente, todos os valores estarem muito próximos do valor médio do questionário (50). Estes dados parecem demonstrar, que para além de satisfação com as suas amizades e com a sua família, a satisfação com o ambiente habitacional, o acesso a informações de organização da vida diária, bem como o acesso a cuidados de saúde e social (tal como mostram os resultados das facetas específicas) são indicadores importantes para a pontuação mais elevada nestes domínios. Como mostra a literatura, a percepção da QdV poderá ser influenciada pelo ambiente em que o sujeito se encontra inserido, no que respeita às condições de realização e de satisfação das necessidades definidas pela sociedade vigente (Almeida, Gutierrez, & Marques, 2012). Relativamente ao domínio psicológico, dado a natureza da amostra deste estudo, seria de esperar que esta obtivesse o pior resultado, principalmente

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tendo em consideração os sintomas emocionais negativos que a doença provoca e o facto de serem doentes com perturbação psicológica. Na faceta geral da QdV, os doentes apresentaram resultados médios abaixo de 50 (M = 46.3), sugerindo uma avaliação global da QdV muito pobre. Globalmente, estes resultados são concordantes com os apresentados no estudos de Gameiro et al. (2010), com doentes com depressão major, que reportou resultados abaixo do ponto médio em praticamente todos os domínios de QdV, sendo que a faceta geral foi também a menos pontuada. No que respeita aos resultados das facetas específicas da QdV, no nosso estudo, os resultados mostraram ainda que os participantes revelam pontuação mais baixa na faceta sentimentos negativos (o que é expectável, tendo em conta que este item questiona acerca da presença de sintomas como ansiedade e depressão) e consideram possuir baixos recursos económicos e baixas possibilidades de execução de atividades de lazer. Contudo, cada vez mais estudos comprovam a tese de que atividades físicas, sociais ou de lazer reduzem o risco de demência, assim como podem reduzir os estados depressivos e ansiosos, proporcionando assim melhorias ao nível da saúde emocional (Crowe, Andel, Pedersen, Johansson, & Gatz, 2003).

Na caracterização da saúde mental (sintomas de ansiedade e depressão), os resultados revelaram índices elevados de sintomatologia psicológica. Tendo em conta os pontos de corte da HADS para a sintomatologia ansiosa e depressiva, os resultados indicam uma elevada prevalência de sintomas ansiosos moderados (34.5%) e severos (29.3%). Em relação à sintomatologia depressiva, verificamos um padrão um pouco diferente, uma vez que apenas 8% dos participantes demonstraram ter sintomatologia severa e 32.8% demonstraram ausência de sintomatologia.

No que diz respeito à associação entre QdV e sintomatologia depressiva e ansiosa, confirmamos que maior sintomatologia depressiva está associada a menor perceção de QdV dos doentes. De salientar especialmente o coeficientes de correlação com o domínio psicológico (-.79) na ansiedade e (-.82) na depressão, que confirmam a importância destes sintomas para a QdV dos doentes.

No que se prende com a associação entre o número de pessoas na rede de apoio social e as dimensões de apoio social, no presente estudo, destaca-se a correlação positiva

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do número de pessoas na rede social com as diferentes dimensões de apoio, mas apenas significativas com a interação social positiva e com o apoio emocional. Uma rede social pessoal estável, ativa e confiável protege o indivíduo na sua vida diária, favorece a construção e manutenção da autoestima e acelera os processos de recuperação da saúde (Brusamarello et al., 2011) sendo, por isso, fundamental para a promoção da saúde nos aspetos físicos, psicológicos e emocionais. Continuando esta ideia, quando nos referimos ao apoio social fornecido pelas redes, destacamos os aspetos positivos das relações sociais, como o compartilhar informações, o auxílio em momentos de crise e a presença em eventos sociais (Andrade & Vaitsman, 2002). No que concerne à associação entre apoio social e QdV dos doentes com perturbações do humor, através dos dados do presente estudo podemos concluir que quanto mais elevados são os resultados nas dimensões de apoio social, mais elevados são os resultados nos diferentes domínios da QdV. A satisfação com o apoio social é uma condição fundamental para a existência de QdV, sendo este um fator protetor de saúde e bem-estar (Pais Ribeiro, 1999). Verificamos ainda que o número de pessoas na rede social se encontra positiva e significativamente associado aos domínios de QdV Psicológico e Relações sociais. Tal como referem Lima, Marques e Camilo (2015), permanecer ligado a um grupo tem efeitos positivos na autoestima da pessoa, uma vez que o grupo se torna um espaço de emoções positivas, de partilha e aceitação com benefícios a nível emocional. Consistente com estes dados, no que se refere à QdV, os nossos resultados mostram que os doentes que reportam maior apoio afetivo e apoio material também apresentaram significativamente melhores resultados na maioria dos domínios do WHOQOL-Bref (Psicológico, Relações sociais e Ambiente).

No que se prende com a associação entre o apoio social e sintomatologia psicológica, podemos verificar a existência de correlações negativas e significativas enttre todas as dimensões de apoio social e os sintomas de ansiedade e depressão, com exceção das correlações entre o apoio afetivo e apoio material e a ansiedade. Mais uma vez, globalmente, estes resultados vão de encontro ao esperado, que indicam que quanto mais elevado é o apoio social, mais baixa é a sintomatologia ansiosa e depressiva, tal como tem sido referido na literatura (Cobb, 1976., Batista et. al., 2006). Quanto mais

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consistente for o apoio social menor a sintomatologia depressiva, uma vez que o apoio social (e a perceção de apoio social recebido) possui um papel relevante na percepção de bem-estar subjetivo, contribuindo, por exemplo, para uma diminuição de estados ansiosos e emoções negativas (Rueger, Malecki, & Demaray, 2010). A intervenção no apoio social torna-se relevante quando verificamos a existência de doentes mentais que “conseguem ultrapassar situações de crise sem recorrer ao internamento, através do suporte proporcionado por um amigo, um familiar ou por um técnico de acompanhamento, existindo também situações em que os indivíduos entram em crise quando as suas ligações sociais se alteram ou desaparecem” (Ornelas, 1996, p. 265). Salientamos, assim, a importância concedida às variáveis relacionadas com o apoio social, e das repercussões destas ao nível da capacidade de locomoção, mobilidade, tarefas domésticas e emoções, ou seja, o apoio social recebido parece ter efeitos significativos em dimensões avaliadas como bastante importantes no funcionamento da vida diária (McIntyre et al., 2002) e, consequentemente da qualidade de vida das pessoas.

Conclusões, Contributo e Limitações

“Na verdade, o problema não é decifrar

os padrões das doenças mentais do futuro próximo; a questão é prever que tipos de laços sociais, que valores,

que cultura e que tipo de homem se está hoje projetando”. (Manuel Desviat)

A criação de laços sociais afigura-se como um promotor essencial na manutenção da saúde mental, pelo que a promoção do desenvolvimento de competências sociais (por exemplo, reconstrução ou criação de redes de apoio social) (Lima, Marques, Bernardes, & Pereira, 2016) é essencial nos doentes com perturbações psiquiátricas em geral e perturbações do humor em particular.

A presente investigação procurou caracterizar o tipo de rede social dos doentes com perturbações do humor, associar a composição da rede social com o apoio percebido

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pelos doentes assim como correlacionar a QdV e saúde mental destes participantes. Os resultados obtidos neste estudo confirmam a premissa de que o apoio social tem uma influência positiva na QdV dos doentes com perturbações do humor, na medida em que quanto mais elevada é a perceção de apoio social, mais elevada é a perceção de QdV, e menor é a gravidade da sintomatologia ansiosa e depressiva. Por outro lado, pudemos verificar uma associação significativa entre níveis mais elevados de sintomas psicológicos e pior perceção de QdV.

Apesar dos progressos no campo da associação entre a saúde e apoio social, a literatura mantem-se escassa no que respeita às perturbações do humor. Deste modo, consideramos este trabalho com relevância científica na medida em que relaciona perturbações como depressão, perturbação bipolar e perturbação de ansiedade com o apoio social e a qualidade de vida.

O presente estudo não está isento de limitações, que importam anotar. Em primeiro lugar, uma das limitações tem a ver com a dimensão da amostra, que é relativamente pequena. Em estudos futuros seria importante que esta fosse aumentada. Por outro lado, sendo uma amostra por conveniencia não nos permite fazer generalizações para

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