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4. RESULTADOS

4.5. Análise da qualidade de vida

A avaliação da qualidade de vida através do questionário M-A QoLQ é demonstrada na tabela 3 e figura 6. Os quesitos interrogados foram analisados separadamente na tabela 4. As respostas de todos os seis quesitos avaliados pelo questionário M-A QoLQ foram significativamente diferentes entre os grupos bariátrica e controle.

Tabela 3. Resultado do questionário de avaliação da qualidade de vida M-A QoLQ no

grupo bariátrica e grupo controle. Dados analisados pelo teste de qui-quadrado, relação aos não operados (p < 0,0001)

Grupo bariátrica n (%) Grupo controle n (%) Muito ruim 0 (0%) 2 (3,7%) Ruim 0 (0%) 6 (9,5%) Razoável 2 (3,8%) 35 (65,5%) Boa 18 (34,0%) 9 (16,4%) Muito boa 33 (62,3%) 3 (5,5%) Total 53 (100%) 55 (100%)

Figura 6. Qualidade de vida no grupo bariátrico e grupo controle. 62% 34% 3,8% 5,4% 16,3% 65,4% 9,2% 3,7% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Muito Boa Boa razoável Ruim Muito Ruim

GB GC

Tabela 4. Pontuação total e em cada quesito interrogado no questionário M-A QoLQ

nos grupos bariátrica e controle

Grupo Bariátrica (n=53) Grupo Controle (n=55) Teste de Mann- Whitney Como me sinto em

relação a perda de peso

0,4 (0,3 a 0,5) -0,2 (-0,4 a -0,1) < 0,0001

Sou capaz de participar de atividades físicas

0,4 (0,2 a 0,5) -0,2 (-0,4 a 0,2) < 0,0001

Estou disposto a me envolver socialmente

0,5 (0,4 a 0,5) 0,3 (-0,1 a 0,5) < 0,0001

Sou capaz de trabalhar 0,5 (0,45 a 0,5) 0,3 (0,1 a 0,5) < 0,0001

Tenho interesse sexual 0,5 (0,3 a 0,5) 0,2 (-0,1 a 0,4) < 0,0001

Minha relação com a comida é

0,3 (0,2 a 0,5) -0,2 (-0,4 a 0,1) < 0,0001

Total 2,6 0,2 < 0,0001

NOTA: Pontuação em cada quesito varia entre -0,5 e +0,5; pontuação total varia entre -3 e +3; Pontuações entre -0,1 e -0,5 refletem percepções negativas, enquanto pontuações entre 0,1 e 0,5 refletem percepções positivas. A primeira pergunta foi adaptada para grupo controle, já que este não havia perdido peso, portanto foi perguntado: como me sinto com meu peso.

A análise das proporções de indivíduos com qualidade de vida muito boa, boa, razoável, ruim e muito ruim foi analisada pelo teste do qui-quadrado (Tabela 3), que evidenciou diferenças estatisticamente significantes entre os grupos no percentual de pacientes com diferentes graus de qualidade de vida. Ou seja, houve um efeito benéfico da gastroplastia sobre a qualidade de vida em relação aos não operados (p < 0,0001), tendo em vista que, no grupo de operados, prevaleceu uma qualidade de vida muito boa ou boa (96,2%) enquanto a qualidade de vida razoável predominou no grupo de pacientes não operados (65,5%). Todavia, os critérios que definem a validade do teste de qui-quadrado não foram obedecidos: o teste de qui-quadrado é válido se, pelo menos, 80% das frequências esperadas forem superior a 5 e todas as frequências esperadas forem superior a 1. A solução é, então, combinar colunas, conforme descrito nas tabelas 5 e 6.

Na tabela 5, o agrupamento foi realizado em três colunas, a de qualidade de vida muito boa/boa, qualidade de vida razoável e de qualidade de vida ruim/ muito ruim, sendo então possível a aplicação do qui-quadrado com resultado mais consistente (p< 0,0001). Já, na tabela 6 o agrupamento foi construído em duas colunas com uma qualidade de vida muito boa/boa e outra com, qualidade de vida razoável, ruim e muito ruim, assim sendo foi aplicado o teste exato de Fisher, que evidenciou um efeito benéfico da gastroplastia na qualidade de vida em relação aos não operados (p < 0,0001), tendo em vista que a proporção de pacientes com qualidade de vida muito boa ou boa verificada no grupo de operados (96,23%) foi significantemente maior que a observada no grupo de pacientes não operados (21,82%). Razão de prevalência de 4,41 (intervalo de confiança de 95%: 2,67 a 7,30).

A comparação da soma dos escores obtidos com a aplicação do questionário M- A QoLQ foi efetuada pelo teste de Mann-Whitney, que revelou qualidade de vida superior no grupo submetido à cirurgia bariátrica em relação ao grupo controle (soma dos escores = 2,6 vs. 0,0, respectivamente), com p< 0,0001.

Tabela 5. Avaliação da qualidade de vida nos pacientes dos grupos Controle e

Bariátrico

Grupo Muito boa ou Qualidade de vida Total

boa Razoável Ruim ou muito ruim

Controle 12 (21,8%) 36 (65,5%) 7 (12,7%) 55 (100,0%)

Bariátrica 51 (96,2%) 2 (3,8%) 0 (0,0%) 53 (100,0%)

Total 63 38 7 108

Tabela 6. Avaliação da qualidade de vida nos pacientes dos grupos Bariátrico e

ruim). Dados analisados pelo teste exato de Fisher, que evidenciou um efeito benéfico da DGYR na qualidade de vida em relação aos não operados (P < 0,0001).

Grupo Qualidade de vida Total

Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Bariátrica 51 (96,2%) 2 (3,8%) 53 (100,0%)

Controle 12 (21,8%) 43 (78,9%) 55 (100,0%)

Total 63 45 108

Analisando o reganho de peso do grupo bariátrica, todos os pacientes alocados no GB apresentaram algum reganho, desde um valor mínimo de 2 Kg até um valor máximo de 36 Kg. Considerando que a média de reganho de peso foi de 12,4 ± 8,7 Kg a análise estatística relacionando um reganho de peso > 10kg e um reganho <10kg e a qualidade de vida apresentada por esses sub-grupos está documentada na tabela 7. Dados analisados pelo teste exato de Fisher, que não evidenciou associação entre o reganho de peso e a qualidade de vida de vida (p = 1,0).

Tabela 7. Relação entre qualidade de vida e reganho de peso nos pacientes operados,

p = 1,0.

Reganho de peso

Qualidade de vida

Total Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

< 10 kg 25 (96,1%) 1 (3,9%) 26 (100, 0%)

≥ 10 kg 26 (96,3%) 1 (3,7%) 27 (100,0%)

A possível relação entre as deficiências minerais e vitamínicas do grupo bariátrica e uma qualidade de vida ruim foi investigada. Dentre as deficiências, as mais prevalentes foram a de ferro, de vitamina D e de vitamina B 12. Ocorre que nos dados analisados pelo teste de Fisher, constatou-se que a proporção de pacientes com qualidade de vida muito boa ou boa entre os pacientes com deficiência de ferro foi significantemente menor (p=0,0101) que a observada entre os sujeitos com ausência desta, Tabela 8.

Tabela 8. Relação entre qualidade de vida e deficiência de ferro nos pacientes

operados, p= 0,0101.

Deficiência de ferro

Qualidade de vida

Total Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Presente 2 (50,0%) 2 (50,0%) 4 (100,0%)

Ausente 31 (100,0%) 0 (0,0%) 31 (100,0%)

Total 33 2 35

Quanto à deficiência de vitamina D e a possível diminuição da qualidade de vida desses indivíduos, dados analisados pelo teste exato de Fisher não evidenciaram associação entre a deficiência de vitamina D e a qualidade de vida de vida (p = 1,0), como mostra a Tabela 9. E ainda, analisando a relação entre a deficiência de vitamina B12 e a qualidade de vida no grupo estudado, os dados analisados pelo teste exato de Fisher não evidenciaram associação entre a deficiência de vitamina B12 e a qualidade de vida (p=0,4324). Logo, as deficiências minerais ou vitamínicas não estão intimamente relacionadas com piora na qualidade de vida dos pacientes alocados no grupo bariátrica.

Tabela 9. Relação entre qualidade de vida e deficiência de vitamina D nos pacientes

Deficiência de vitamina D

Qualidade de vida

Total Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Presente 26 (92,9%) 2 (7,1%) 28 (100,0%)

Ausente 9 (100,0%) 0 (0,0%) 9 (100,0%)

Total 35 2 37

Tabela 10. Relação entre qualidade de vida e deficiência de vitamina B12 nos

pacientes operados, p= 0,4324.

Deficiência de vitamina B12

Qualidade de vida

Total Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Presente 8 (88,9%) 1 (11,1%) 9 (100,0%)

Ausente 27 (96,4%) 1 (3,6%) 28 (100,0%)

Total 35 2 37

4.6. Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão

A EHAD foi aplicada a ambos os grupos. No GB, 20,8% (11/53) dos pacientes apresentaram ansiedade e 1,9% (1/53) depressão. Já no GC, ansiedade foi observada em 42,1% (8/19) e depressão em 26,3% (5/19), como mostra a Figura 7. A análise estatística utilizando o teste de Fisher mostrou que não houve diferença estatisticamente significante entre a proporção de indivíduos com ansiedade nos grupos Bariátrico e Controle (p=0,12), entretanto a depressão foi significante mais frequente no grupo controle (p<0,0001).

Figura 7. Percentagem de ansiedade e depressão no grupo bariátrico e grupo controle

Concluídas as comparações entre os grupos, foram feitas análises intra-grupo para verificar a existência de correlação entre qualidade de vida e ansiedade, assim como entre qualidade de vida e depressão. No grupo Bariátrico, foi observada correlação negativa entre qualidade de vida e ansiedade (r = - 0,45, IC95% = - 0,6515 a - 0,2042, p=0,0006), assim como correlação negativa entre qualidade de vida e depressão (r = - 0,46, IC95% = - 0,6524 a - 0,2057, p = 0,0006).

Agrupando os pacientes do grupo bariátrica em dois subgrupos, com qualidade de vida muito boa/boa e qualidade de vida razoável/ruim/muito ruim, e analisando os dados pelo teste exato de Fisher constatou-se que a proporção de pacientes com qualidade de vida muito boa ou boa entre os voluntários com ansiedade (81,82%) foi significantemente menor (p = 0,0399) que a verificada entre os sujeitos nos quais tal enfermidade não foi observada (100,00%), de acordo com a Tabela 11. E, analisando os mesmos subgrupos para depressão, os dados segundo o teste exato de Fisher evidenciaram que a proporção de pacientes com qualidade de vida muito boa ou boa entre os voluntários com depressão (0,00%) foi significantemente menor (p = 0,0227) que a verificada entre os sujeitos nos quais tal enfermidade não foi observada (100,00%), Tabela 12.

Tabela 11. Relação entre qualidade de vida e ansiedade nos pacientes operados,

grupo bariátrica

Ansiedade Qualidade de vida Total

Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Presente 9 (81,8%) 2 (18,2%) 11 (100,0%)

Ausente 42 (100,0%) 0 (0,0%) 42 (100,0%)

Total 51 2 53

Tabela 12. Relação entre qualidade de vida e depressão nos pacientes operados, p=

0,0227

Depressão Qualidade de vida Total

Muito boa ou boa Razoável, ruim ou muito ruim

Presente 0 (0,0%) 1 (100,0%) 1 (100,0%)

Ausente 52 (100,0%) 0 (0,0%) 52 (100,0%)

5. Discussão

A obesidade é considerada uma doença crônica, não transmissível e de elevada morbidade. Tem causas multifatoriais e resulta de fatores genéticos, sociais, comportamentais e culturais. A obesidade mórbida (IMC ≥ 40 Kg/m2) é uma das

doenças que mais matam no mundo.

A preocupação sobre os efeitos da cirurgia bariátrica a longo prazo é relevante, pois a base para a redução e manutenção de peso é a restrição da ingestão alimentar e/ou redução da absorção de nutrientes através de modificações da anatomia digestiva, podendo proporcionar várias deficiências nutricionais, incluindo anemia, perda de massa óssea e desnutrição proteica, neuropatias periféricas e danos visuais.

Neste estudo, a proposta seria convidar todos os pacientes operados entre 2005- 2007 no Núcleo do Obeso do Ceará, porém contamos somente com 10,4% (55/538, com exclusão de 02) do total de 538 pacientes operados. A maioria dos pacientes foram mulheres. A prevalência feminina na procura pelo tratamento cirúrgico para a obesidade foi observada em nossa pesquisa assim como em outros trabalhos (VASCONCELOS, PO; NETO, SB., 2008; RIZZOLO A., et al., 2004), tal fato pode ser devido a uma maior preocupação existente por parte das mulheres em relação à aparência.

A pequena participação de voluntários se deveu a algumas dificuldades encontradas, tais como a alteração do número de telefone dos pacientes, a mudança de cidade, a falta de tempo disponível para integrar a pesquisa e a falta de interesse em participar do estudo.

Admitindo que a adesão ao acompanhamento clínico é um fator determinante no sucesso do tratamento, podemos considerar como possível viés deste estudo o maior interesse em participar da pesquisa por parte dos pacientes com evolução clínica favorável no que se refere à perda de peso e à melhora da qualidade de vida. Entretanto, durante os contatos telefônicos foi possível observar que esse estudo foi visto como oportunidade de avaliação clínica por aqueles que perderam o seguimento médico há algum tempo.

O grupo de pacientes submetidos à DGYR foi comparado a um outro grupo de obesos (controle) pertencente ao mesmo serviço, com indicação cirúrgica e aguardando cirurgia. Em virtude do interesse em avaliar qualidade de vida apenas no pós-operatório tardio (superior a 5 anos) e da limitação de tempo para a conclusão dessa pesquisa, não foi possível avaliar o mesmo grupo de indivíduos no pré- e pós-operatório tardio. Sendo assim, foi delineado um estudo transversal.

O grupo de 53 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica foi avaliado 6,4 anos após o procedimento. A literatura dispõe de muitos estudos que avaliaram perda de peso, alterações laboratoriais e qualidade de vida em fase mais precoce do pós- operatório principalmente. (COSTA RCN, 2011; FORBUSH SW, 2011; CAMPOS GM, 2010).

O grupo controle apresentou idade e IMC inferiores aos observados no grupo operado. Os pacientes do grupo operado (GB) apresentaram IMC pré-operatório de 46,9 ± 4,4 Kg/m2 e a maioria deles (59,2%) conseguiu atingir IMC mínimo de 27,1 ± 4,4

Kg/m2 ao final do primeiro ano de pós-operatório, tendo o restante dos pacientes

atingido o nadir de IMC no segundo ano. De acordo com a literatura a redução máxima de peso ocorre ao final do primeiro ano para a maioria dos pacientes (COSTA, 2011; MIKA H., et al, 2011).

Com o objetivo de uniformizar os resultados cirúrgicos entre os estudos, o peso perdido após a cirurgia deve ser mensurado em percentagem (%) do excesso de peso que o paciente apresentava no pré-operatório. O excesso de peso é a diferença entre o peso pré-operatório e o peso correspondente ao IMC de 22,5 Kg/m². O percentual do excesso de peso perdido deve ser entendido como o peso perdido quantificado em percentual do excesso de peso (%PEP) que o paciente apresentava no pré-operatório. O percentual do excesso de peso perdido foi 82,8 ± 15,5%. Esse parâmetro é o principal critério para análise dos resultados da cirurgia bariátrica. No grupo Bariátrica, o excesso de peso foi de 66,2 ± 20,5 Kg e o peso perdido foi 53,6 ± 17,2 Kg, até o mínimo alcançado após a cirurgia. Segundo Halverson e Koehler et al. (1981), uma perda do excesso de peso em torno de 50% é indicativa de sucesso cirúrgico (KARLSSON J, 2007).

Capella et al. (1991) obtiveram uma percentagem da perda do excesso de peso (% PEP) médio de 77% em cinco anos, com 93% dos pacientes emagrecendo mais de 50% do excesso do peso. No Brasil, Valezzi et al. (2011) evidenciaram %PEP de 66,8% em oito anos, sendo que 92,9% dos pacientes perderam mais de 50% do excesso do peso. Em revisão de literatura, foram encontrados resultados semelhantes (QUADRO 3).

Quadro 3. Estudos de percentagem do excesso de peso perdido (% PEP) em pacientes

submetidos à DGYR de acordo com o tempo de acompanhamento

Autor Ano Tempo de cirurgia

(anos) N %PEP Capella et al 1991 5 148 77 Christou et al 2004 5,3 841 67 Sjostrom et al 2005 10,9 4047 40 White et al 2005 5 342 70 Velai et al 2005 5 41 71 Meyer et al 2006 1 182 75 Yan et al 2008 2 59 58 Scozzari et al 2009 3 38 60,9 Valezi et al 2011 8 211 66,8 Silveira et al 2014 6,4 53 66,2

Com relação ao tempo de acompanhamento, recuperação de peso ocorre mais frequentemente após o terceiro ano de pós-operatório (CAMPOS M et al, 2013). Em nosso estudo, o GB apresentou IMC ao final de 6,4 anos da cirurgia de 31,7 ± 5,7 Kg/m2, correspondendo a um reganho de 12,4 ± 8,7 Kg ou 22,8 ± 13,4% de reganho de

peso em relação ao peso. Não houve diferença estatística entre a perda do excesso de peso e o reganho do excesso de peso entre homens e mulheres.

Di Giorgi et al. (2010) realizaram um estudo retrospectivo envolvendo 42 pacientes submetidos à DGYR com seguimento de pelo menos três anos de cirurgia e observaram um reganho médio de 21% do peso que havia perdido.

Em nosso estudo, o GB apresentou 22,8 ± 13,4% de reganho de peso em torno de 06 anos de cirurgia. Portanto, o valor de reganho foi semelhante ao da literatura.

Os pacientes foram submetidos a um interrogatório de sinais de sintomas relacionados com as possíveis carências nutricionais decorrentes do procedimento cirúrgico, já que tais deficiências poderiam implicar em piora da qualidade de vida. O principal sintoma clínico relatado pelos pacientes foram os vômitos em 66,0% dos entrevistados frequentemente associados com a ingesta rápida dos alimentos e alimentos mais consistentes. De acordo com estudos de avaliação da mastigação, os pacientes obesos apresentam ciclos mastigatórios mais curtos e ineficazes, resultando na chegada de alimento não triturado ao estômago (GONÇALVES RF, 2012). Em virtude do estreitamento do fundo gástrico, esse alimento não triturado pode causar obstrução transitória. Idealmente, o paciente operado deveria fazer acompanhamento com fonoaudiólogo para melhorar os ciclos mastigatórios, assim como fracionar a quantidade de alimentos por refeição.

O segundo sintoma mais relatado foi a síndrome de Dumping, ocorrendo em 56,6% dos entrevistados. Essa síndrome é causada na DGYR pela diminuição da função de reservatório do estômago e o rápido esvaziamento do conteúdo hiperosmolar no intestino delgado o que causa uma sensação de plenitude, seguida por calor, astenia, fraqueza e hipotensão. Ocorre quando o paciente se alimenta, ou nos primeiros 30 minutos após a ingestão estando mais relacionada com os carboidratos. Na DGYR ocorre numa frequência em torno de 20-40% dos casos. LOSS B et al. 2009 estudaram 34 pacientes submetidos à DGYR havia 04 anos e desses, 44% apresentaram Dumping.

Os outros sintomas referidos como câimbras, diminuição de energia, sensação de dor e fraqueza nos membros inferiores podem estar relacionados às carências nutricionais. As deficiências nutricionais colocam em risco o sucesso do procedimento cirúrgico, considerando que as vitaminas e minerais são fatores e cofatores essenciais aos processos biológicos. As principais alterações metabólicas relatadas após a DGYR

são a anemia ferropriva, alterações no metabolismo do cálcio, a deficiência de vitamina D e de vitamina B12 e estão intimamente relacionadas com a técnica cirúrgica.

A reposição de vitaminas e minerais é indicada desde o pós-operatório imediato até longo prazo como medida preventiva. No quadro 4, encontram-se as orientações acerca das doses necessárias de reposição. Em nosso estudo, observamos que somente 03 pacientes (5,7%) faziam uso de todas as vitaminas preconizadas.

Quadro 4. Orientações para a suplementação nutricional preventiva após a cirurgia

bariátrica.

Suplemento Dosagem

Ferro M: 100mg/d Fe elementar, 400-800mg sulf.

ferroso H: 40-65mg Fe elementar, 200-400mg sulf. Ferroso Vitamina B12 500 µg/d oral, 1000 µg/ mês IM ou 3000 µg/6 meses IM Cálcio 1500- 2000 mg/d Vitamina D 100-400 UI/d

Polivitamínicos minerais 1-2 comprimidos/d

Figura 8. Alterações metabólicas relacionadas às alterações anatômicas na derivação

gástrica em Y de Roux.

A deficiência de ferro pode acometer até 52% dos pacientes no pós- operatório tardio e se deve ao desvio duodenal e do jejuno proximal do trânsito alimentar e, em menor grau, às úlceras anastomóticas. A anemia ferropriva acomete entre 20% e 49% dos pacientes submetidos à DGYR (BARRETA GA, et al, 2008). Em nosso estudo, 48,6% dos pacientes do GB apresentaram deficiência de ferro (valores de ferritina < 30 µg/mL), sendo todas as pacientes femininas. Esta deficiência pode ter sido agravada nas mulheres pelos ciclos menstruais. A suplementação de ferro é indicada rotineiramente, apenas 13,2% (07/53) dos pacientes faziam uso regular.

A deficiência de vitamina B12 tem sido frequentemente relacionada com a DGYR acometendo 12-75% dos pacientes operados (BARRETA GA, et al., 2008). Níveis séricos diminuídos já são identificados após seis meses do procedimento aumentando progressivamente ao longo do tempo. Estudos mostram que 71,3% dos pacientes terão deficiência de vitamina B12 após dez anos de cirurgia bariátrica (MASON EE, et al., 1992). A DGYR predispõe a essa deficiência, pois a absorção da vitamina B12 depende do fator intrínseco (FI) produzido no estômago, que estará reduzido e com isso, a

F O N T E : B or da lo L A , e t a l, 20 1 1

produção de FI alterada. Marcuard et al. (2005) observaram baixos níveis de fator intrínseco em 53% dos pacientes pós-DGYR que também apresentavam a deficiência de vitamina B12. No grupo bariátrica, 27% (10/37) apresentaram esta deficiência, semelhante ao valor encontrado na literatura.

O ambiente gástrico menos ácido após a cirurgia compromete a absorção de cálcio que é agravada pela deficiência concomitante de vitamina D. A forma de repor o cálcio seria preferencialmente na dieta, entretanto os pacientes não tem uma dieta rica em laticínios na maioria dos casos, grupo de alimentos com maior teor de cálcio. Em nosso estudo menos da metade dos pacientes (47%) relataram ingestão de pelo menos 500 mg/dia de cálcio elementar, grupo de alimentos com maior teor de cálcio. A combinação de citrato de cálcio com vitamina D3 parece ser a maneira mais absorvível do cálcio, superior ao carbonato de cálcio, já que o citrato de cálcio não requer meio ácido para sua absorção (RHODE BM, LEAV LD, 2000). A calciúria de 24h, dosagem de cálcio na urina de 24h, é o exame laboratorial utilizado para avaliação da ingestão e absorção de cálcio elementar. Os pacientes que mantêm reposição insuficiente de cálcio apresentarão diminuição na excreção urinária de cálcio.

A vitamina D juntamente com o cálcio e o PTH está implicada no remodelamento ósseo. Essa vitamina é reabsorvida no intestino delgado, porções proximal e medial e, pela ressecção de parte do intestino sua reabsorção estará prejudicada. Os pacientes com esta deficiência podem sentir fraqueza, astenia, dores difusas e há estudos correlacionando com doenças não ósseas, cardiovasculares, câncer e diabetes (TOGEIR TS et al, 2011). No GB, obtivemos 27% dos pacientes no estágio de deficiência de vitamina D e 43,2% com insuficiência de vitamina D. Esses dados estão em acordo com a literatura haja vista que 50-80% dos pacientes operados por DGYR apresentaram esta deficiência (ROSEN CJ et al, 2012).

O PTH é o principal regulador da homeostase do cálcio, portanto um importante parâmetro analisado. As concentrações séricas baixas de cálcio promovem aumento do PTH pelas paratireoides, causando um hiperparatireoidismo secundário. Nesse estudo, observamos um importante percentual de pacientes com baixa ingestão de cálcio, 70,2% de pacientes com níveis insuficientes/deficientes de vitamina D e 70,8% de

pacientes com baixa calciúria de 24 h, enquanto apenas 35% apresentaram hiperparatireoidismo secundário.

Em um estudo com 123 obesos submetidos à cirurgia bariátrica avaliados quanto à vitamina D e PTH antes e um ano após a cirurgia, observou-se diminuição da vitamina D em 70% e hiperparatireoidismo (PTH>62 pg/mL) em 33,3% dos pacientes operados

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