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5.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

5.5.3 Terceira etapa: Avaliação da ação implementada

5.5.3.2 Análise qualitativa dos dados

Para proceder à análise qualitativa dos dados os achados resultantes da transcrição das respostas às questões abertas foram digitados e consolidados no programa Microsoft Word, e submetidos ao método de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

O DSC consiste em uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, elaborado por Lefevre e Lefevre na década de 1990, e tem como fundamento a teoria da Representação Social (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

As representações sociais são esquemas sociocognitivos que as pessoas utilizam para emitirem juízos ou opiniões no seu cotidiano; é uma forma de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado, de uma realidade comum a um conjunto social. Esses esquemas sociocognitivos, acessíveis mediante depoimentos individuais, precisam ser reconstituídos por meio de pesquisas sociais que comportem uma dimensão qualitativa e quantitativa (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Assim o DSC baseia-se no pressuposto de que o pensamento de uma coletividade é o conjunto de representações presentes em um determinado contexto histórico-social, as quais as pessoas recorrem para expressar seus pensamentos sobre os temas em debate na sociedade. Dessa forma o método busca a reconstituição discursiva das representações sociais de uma coletividade como se esta fosse a emissora de um discurso (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Na técnica do DSC, os depoimentos coletados são metodologicamente tratados com o objetivo de obter o pensamento coletivo. A técnica consiste basicamente em analisar o material coletado nas pesquisas que têm depoimentos como sua matéria-prima, extraindo-se de cada um destes as Expressões Chave (ECH) e respectivas Idéias Centrais (IC) ou Ancoragens. A partir da união das expressões-chave contendo a mesma ideia central e/ou ancoragem são compostos os discursos (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

As expressões chave (ECH) são pedaços, trechos do discurso, que devem ser destacados pelo pesquisador, e que revelam a essência do conteúdo do discurso ou a teoria subjacente. As ECH são fundamentais para a confecção do DSC, e selecioná-las significa depurar o discurso de tudo o que é secundário e não essencial, buscando identificar a essência do pensamento, tal como ela aparece no depoimento analisado (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

A Idéia Central (IC) por sua vez é um nome ou expressão lingüística que revela, descreve e nomeia, da maneira mais sintética e precisa possível, o (s) sentido (s) presentes em cada uma das respostas analisadas e de cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC. Neste último caso a IC recebe também o nome de categoria (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Algumas ECH remetem não apenas a uma IC correspondente, mas também e explicitamente a uma afirmação que é denominada Ancoragem (AC) que é a expressão de uma dada teoria ou ideologia que o autor do discurso professa e que está embutida no seu

discurso como se fosse uma afirmação qualquer. Contudo nem sempre as ancoragens estão presentes nos discursos analisados (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

O processo final da técnica do DSC é a elaboração da síntese, ou seja, trata-se de fazer a reunião, utilizando discurso único redigido na primeira pessoa do singular, das expressões- chave que apresentam ideias centrais ou ancoragens semelhantes. No caso de surgirem depoimentos contraditórios a respeito de uma mesma questão, são elaborados DSC para as falas concordantes e para as falas discordantes (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009; (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Assim, por meio dessa estratégia qualitativa os pensamentos de uma coletividade são apresentados na forma de um discurso-síntese, escrito na primeira pessoa do singular, que reúne as apreensões semelhantes emitidas por pessoas distintas (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Por suas características o DSC possui como atributos quantitativos a intensidade e a amplitude. A intensidade refere-se ao número ou percentual de indivíduos que contribuíram com suas ECH relativas às IC ou ancoragens semelhantes, para a composição de um dado DSC. Esse atributo permite ao pesquisador conhecer o grau de compartilhamento de cada uma das ideias ou representações entre a população pesquisada (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Já a amplitude refere-se à medida da presença de uma idéia ou representação considerando o universo pesquisado. Tem a função de revelar ao pesquisador o grau de espalhamento ou difusão de uma ideia no campo estudado (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

O DSC representa um avanço importante em relação aos métodos de pesquisa de opinião, pois não há nele a falsa oposição entre o qualitativo e o quantitativo. Em todos os momentos da pesquisa fica preservada a natureza essencialmente discursiva e qualitativa da opinião e, inseparável dela, a dimensão quantitativa, associada à representatividade e generalização dos resultados (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Assim sendo, a opinião que emerge do DSC representa característica tanto qualitativa como quantitativa. Qualitativa porque no DSC cada distinta opinião coletiva é apresentada sob a forma de um discurso que recupera os conteúdos que conformaram a dada opinião na escala social e coletiva e, quantitativa porque tais discursos têm uma expressão numérica, considerando que as sociedades são coletividades de indivíduos que compartilham ideias e opiniões socialmente disponíveis (LEVEFRE; LEVEFRE, 2012).

Para auxiliar no processamento dos depoimentos e na construção dos DSC foi utilizado o programa Qualiquantisoft® versão 1.3c, desenvolvido na Faculdade de Saúde

Pública da Universidade São Paulo (USP) por Lefevre e Lefevre em parceria com Sales & Paschoal Informática.

Cabe ressaltar que o QualiQuantsoft® é uma ferramenta facilitadora e que não supre, de maneira alguma, a função do pesquisador. Tal software faz com que o pesquisador se empenhe nos afazeres de análise dos significados nos depoimentos, enquanto o programa viabiliza a organização e armazenamento do material.

A utilização do DSC como método sistemático de tratamento e análise dos dados permite maior objetividade e confiabilidade no processo interpretativo dos dados de uma pesquisa qualitativa, além de favorecer a construção de discursos que representam as vozes do grupo de indivíduos sob estudo (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009).