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10.1 Grupo 1 Organização Prestadora de Serviços Educacionais (n =11)

10.1.1 Análise Qualitativa

Seguem-se os resultados qualitativos referentes aos testes realizados com o Grupo 1 – Organização Prestadora de Serviços Educacionais. Os quadros 4 e 5 referem-se a análise qualitativa e sintetizam as repostas dos participantes relativamente ao questionamento sobre a QVT antes e após a intervenção com Yoga. Na análise das respostas, tomou-se um dos pressupostos da psicodinâmica do trabalho de que as mesmas indicariam vivências de prazer ou sofrimento (MENDES, 2007). Com base nessas duas categorias analisou-se o discurso dos participantes.

Praticante Prazer Sofrimento 1 Qualidade de vida no meu

trabalho esta boa.

Só gostaria que mudasse a maneira como sento para trabalhar. Gostaria de uma cadeira mais apropriada para eu sentar e não o banco devido a dor nas costas.

2 Ando meio estressada tanto no trabalho como em casa.

3 Está estressante, muita carga de trabalho. Aposentar-se é um desejo e um desafio é o desligar-me emocional e

concretamente da demanda de trabalho.

4 Está muito a desejar. O trabalho me estressa bastante, me toma a maior pare do meu tempo e dos meus pensamentos.

Sentimento de grande insatisfação.

5 Bem Mas poderia melhorar se houvesse maior flexibilidade no horário para me dedicar mais as atividades que me dão prazer. 6 Minha qualidade de vida

no trabalho esta boa

Porem há problemas que permanecem ao longo do tempo e que interferem no meu bem estar.

7 Atualmente estou muito satisfeito com meu trabalho e estudos e espero continuar melhorando cada vez mais.

8 Com o aumento dos alunos na universidade e poucos

funcionários para executar as mesmas tarefas, e um pouco mais. Vivemos num ambiente tenso, portanto, a qualidade no ambiente de trabalho cai um pouco; chegamos no final do expediente cansadas, com pouca energia para realizar outras tarefas, ou lazer fora do trabalho ou em casa

9 Bem Mas poderia melhorar, uma vez que meu horário de trabalho me priva de algumas atividades que gosto de fazer. Trabalho tarde e noite.

10 Estou numa boa fase. Me sinto feliz de estar próxima ao meu marido e filha

Apesar que seria melhor se tivesse mais tempo com a minha filhinha. Sinto falta de tempo para atividade física e estou procurando ajeitar isso.

11 Atualmente estou conseguindo ficar indiferente a certos problemas que me faziam mal, como fofoca e intrigas.

No entanto, sinto um cansaço muito grande, como se eu não tivesse energia para realizar o que é preciso. Às vezes fico o dia todo esperando a hora passar, só para chegar o horário de ir embora e geralmente não fiz tudo que precisava.

Praticante Prazer Sofrimento

1 Atualmente, mais ou menos, devido aos problemas

no braço esquerdo.

2 Ultimamente não tenho tido boa qualidade de vida,

pois passo por um problema de saúde (tratamento de artrite) e isso me impede de fazer as coisas. Não tenho vontade de sair, passear. Só venho mesmo trabalhar porque preciso, mas já tive dias em que faltei ou cheguei mais tarde. Tenho noites mal dormidas devido ao problema.

3 Boa Mas com pontos nevrálgicos.

4 Tenho um ritmo de trabalho muito intenso, me

causa estresse e que acaba por afetar minha vida familiar.

5 Muito boa.

6 Minha qualidade de vida no trabalho esta boa.

Porem algumas situações me fazem mal por não conseguir resolvê-las, já que nem sempre dependem apenas de mim.

7 Sinto-me muito bem, procuro sempre estar me atualizando, fazendo cursos. Sou muito curioso e gosto de desafios onde coloco minhas experiências ou vou atrás de informações novas para resolver os problemas. Estou muito feliz com minha vida e procuro manter essa felicidade.

8 Boa. Percebo que as funcionárias e as chefes da Biblioteca estão mais próximas, conversamos mais e tentamos resolver os problemas juntas.

9 Boa.

10 Está numa fase tranquila.

11 Continuo tentando não me envolver com as idéias

negativas e maldosas das pessoas, mas parece que está cada vez mais difícil. Às vezes me pego tendo pensamentos negativos, desesperançosos e

maldosos, acredito que por causa da convivência muito forte com tais pessoas. Quando percebo esses pensamentos, isso me faz muito mal, dando a impressão de que não tenho mais opinião própria. É um esforço bastante grande

Quadro 5 - Vivências de prazer e sofrimento no trabalho Grupo 1 (pos-intervenção)

Observou-se uma maior incidência de falas que expressam vivências de sofrimento em detrimento das vivências de prazer. Nota-se que alguns participantes expressaram uma certa estabilidade e uma esperança de melhora no pré teste “...satisfeito com meu trabalho e estudos e espero continuar melhorando cada vez mais...” e um sentimento de satisfação e

continuidade no pós teste “...procuro manter essa felicidade.” Ou ainda, de forma mais nítida, a fala que pode significar a perspectiva de uma reavaliação positiva de uma situação que anteriormente mostrava-se unicamente como sofrimento no pré teste “...aumento dos alunos na universidade e poucos funcionários para executar as mesmas tarefas...” e ao pós teste “Percebo que as funcionárias e as chefes...estão mais próximas, conversamos mais e tentamos resolver os problemas juntas.”

No entanto, salvo exceções, mesmo os relatos de vivência de prazer, vem acompanhados de ressalvas “Minha qualidade de vida no trabalho esta boa, porém há problemas que permanecem ao longo do tempo e que interferem no meu bem estar.” e ainda no pós teste “Boa, mas com pontos nevrálgicos.”. Percebe-se, contudo, diversas falas que denotam situações organizacionais difíceis, “Está estressante, muita carga de trabalho”, e outras falas que salientam o fato do trabalho influenciar a vida pessoal do sujeito entendendo- se para além do seu contexto: “O trabalho me estressa bastante, me toma a maior parte do meu tempo e dos meus pensamentos.”, “poderia melhorar se houvesse maior flexibilidade no horário para me dedicar mais as atividades que me dão prazer”, “chegamos no final do expediente cansadas, com pouca energia para realizar outras tarefas, ou lazer fora do trabalho ou em casa” e por fim “um desafio é o desligar-me emocional e concretamente da demanda de trabalho”.

Tais falas assinalam a possibilidade da ocorrência de um cotidiano estressante, com alto ritmo e demanda de trabalho, o que pode gerar vivências de sofrimento no trabalho e adoecimento.

Análise dos discursos na Entrevista Coletiva (Grupo 1 – Organização Educativa)

Contrariamente à Organização Alimentícia, não foi possível realizar a entrevista coletiva após a intervenção. Tal dificuldade ocorreu pela finalização do semestre na Organização Educativa, levando a dificuldade de encontro coletivo do grupo. Contudo, o pesquisador participou como observador dessa entrevista coletiva realizada no mesmo local da presente investigação. Os resultados publicados (PEÇANHA; CAMPANA, 2010) serão, em parte, re-apresentados dada sua pertinência ao objetivo deste trabalho.

A orientadora desta Pesquisa realizou uma entrevista coletiva na Organização Educativa, aberta a todos os funcionários que desejassem participar. Compareceram praticantes e não praticantes de Yoga, de ambos os sexos. Lembra-se que o projeto de Yoga faz parte do programa de QV dessa organização sob coordenação da Orientadora da presente

pesquisa desde 1999. Seguem-se os resultados obtidos, pois esse diagnóstico inicial apóia os achados relativos ao estresse organizacional nesse grupo.

Observou-se que houve diferença de gênero nos relatos. Embora a “loucura”, velocidade de demandas e atividades, fosse sentida por praticantes e não praticantes de Yoga; o estresse foi maior para o sexo feminino que precisava atender demandas da família, principalmente dos filhos, além do trabalho, assim como apóiam outros estudos (SHAUFELI; EZMANN, 1998).

Houve diferença entre praticantes e não praticantes de Yoga. O discurso destes últimos indicou desamparo frente às demandas crescentes do trabalho, enquanto que nas falas dos praticantes apareceu maior assertividade [“o que importa é saber falar “não”], maior auto- estima [“Não importa que digam que somos fracos, o que importa é saber falar “não” e escolher o que é melhor para você, uma escolha pessoal para aprimorar a vida; (... ) É muito bom, vão dizer que sou louca mas não me importo. O importante é parar e relaxar”], e esperança: [Com a crise, de alguma forma, as pessoas verão o mundo de forma diferente (o olhar e as relações irão mudar). Nada é por acaso.”] e bem-estar [“Pratico Yoga há 7 meses e recomendo para enfrentar o estresse pois é muito bom”; “os pequenos momentos de silêncio ajudam muito”]. Além disso, a fala dos praticantes expressou maior aprendizagem com a experiência [“Temos que aprender a lidar com o medo”].

Levantou-se a hipótese de que a referência a suicídios, durante a entrevista coletiva, poderia sugerir vivências de muito sofrimento no trabalho dos participantes. Isso poderia estar sendo ocultado, sendo que o reprimido retornaria na identificação com os suicidas, e também com o medo do desemprego projetado em outros [“Hoje em dia há demissões em massa, deve ser muito estressante”]. Também foi notória a descrição de um mundo opressor ao lado de racionalizações como “Liberdade e individualidade: temos que brilhar e crescer!”.

A entrevista coletiva deixou clara as demandas crescentes do mundo contemporâneo, bem como o esforço das pessoas para responder a essas pressões. Importante observar que os praticantes de Yoga conseguiram enfrentá-las de forma mais positiva, ou seja, conseguindo manter a auto-estima, a consciência de si e de seu meio, minimizando, assim, as vivências de sofrimento e incrementando as vivências de prazer.