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8.1 Yoga Laboral

8.1.3 Benefícios Biopsicossociais do Yoga Laboral

Tendo em vista o alinhamento teórico que se delineia nesta pesquisa de foco humanista, importa definir que maneira a prática do Yoga Laboral (YL) pode enquadrar-se de forma a preencher coerentemente as demandas contextuais colocadas pela QVT e a saúde. Entende-se, portanto, que tal síntese explicativa deva contemplar os aspectos subjetivos no sentido dinâmico saúde-doença, em interação complexa e multifatorial abrangendo fatores ambientais, sócio-culturais e médicos.

Optou-se, portanto, em utilizar um modelo baseado no conceito Biopsicosocial para direcionar um olhar compreensivo e amplo sobre os possíveis benefícios do Yoga.

Considerando-se primeiramente que, do ponto de vista da ciência, o Yoga traz muitos benefícios fisiológicos comprovados, sendo que o YL compartilha com os exercícios físicos a maioria destes benefícios, diferenciando-se porém, devido a certas especificidades, as quais serão expostas em maiores detalhes.

Do ponto de vista dos valores éticos e de qualidades psicológicas, por exemplo, pode- se dizer que o Yoga incentiva a prática de não buscar os frutos diretos das ações, mas sim de agir pela causa em si (EVANS, 2009). Tal idéia contrasta com muitas formas de atividades físicas, as quais frequentemente invocam a comparação entre indivíduos ou o forçar a ir além

dos limites para se alcançar o progresso. O foco não competitivo no desenvolvimento pessoal pode ser atribuído à filosofia prática do Yoga, no sentido do respeito com o corpo e para com a própria consciência, o qual é cultivado através da auto-aceitação e da atenção ao momento presente.

Um princípio orientador do Yoga é encorajar a trabalhar com a resiliência, ou a aceitar forças negativas na vida. Um indivíduo, com a saúde debilitada, deve ser encorajado a aceitar seus limites, ainda que continue a buscar uma prática de Yoga completa, e, em última instância, isto se aplica à completar tarefas da vida a despeito dos desafios físicos.

O Yoga também pode ser associado com o desenvolvimento de habilidades em dominar dificuldades na vida, o qual talvez possa se estender a administração do sofrimento e a dor (RAUB, 2002). A prática regular do Yoga talvez possa atuar para redefinir a experiência de dor ou dificuldade, encorajando a aceitação, e a continuidade das funções a despeito da dor. Essa noção é compatível na medicina ocidental, onde a aceitação da dor é vista como importante para as condições crônicas auxiliando a persistir nas atividades regulares (Mason et al., 2008).

Contudo, vale ressaltar que concepções correntes de saúde usam o modelo biopsicosocial, com o qual identificam a fisiologia, a psicologia, o ambiente e o comportamento de uma pessoa para entender como os efeitos sociais e psicológicos interagem com os aspectos biológicos influenciando a dor, a doença e a saúde (GATCHEL et al., 2007). Dessa forma, a ação proposta do Yoga para o bem-estar é possível quando considerada do ponto de vista do modelo biopsicosocial, pelo qual a mente de um indivíduo, seu corpo e a extensão do seu ambiente social são considerados no impacto de sua saúde.

Isto sugere que, a combinação do corpo, da mente e da consciência da respiração utilizadas no Yoga tem possibilidade de exercer um impacto correspondente nas funções psicofisiológicas. O Yoga poderia, portanto, ser entendido em termos da medicina ocidental, como um promotor de homeostase (EVANS, 2009).

Neste sentido, coerentemente ao modelo biopsicosocial, o funcionamento psicológico positivo tem maior probabilidade de conduzir ao um melhor funcionamento físico, especialmente em pacientes que experienciam doenças e dor crônica (EVANS, 2009). Por exemplo, em casos de jovens pacientes com artrite reumatoide, onde foi possível um “coping positivo”, incluindo controle de altos índices de dor e pensamento racional, relacionados ao aumento nos escores de dor (SCHANBERG et al., 1997).

A aceitação e a atenção consciente, dois benefícios mentais conhecidos dentre as literaturas clássicas do Yoga, são também denominados como mindfulness (atenção ou

consciência do momento presente), termo correntemente encontrado nas pesquisas acadêmicas sobre Yoga e meditação. A prática do Yoga geralmente envolve técnicas para o desenvolvimento da atenção consciente, principalmente relacionadas à respiração e ao corpo físico, incluindo a postura, o equilíbrio e a simetria. Este foco no corpo, na respiração e na mente centrada no momento presente, podem libertar a mente para explorar maneiras de minimizar o estresse, a incapacidade e a dor. Face a essas possibilidades, muitos estudos tem associado a mindfulness a uma série de resultados positivos, como a melhora no estresse e no humor (MONRO, 1995; NETZ; LIDO, 2003), redução de níveis de cortisol, assim como a queda da pressão sanguínea em pacientes com câncer (CARLSON et al., 2007).

Por fim entende-se que os domínios interligados e complexos da estrutura corpo- mental, com os quais o Yoga interage, podem ter seus estudos facilitados por meio de enfoques multi e inter - disciplinares. Como por exemplo através das ciências da saúde, incluindo não somente as ciências biomédicas, mas também a psicologia, em específico os estudos da psicossomática. Torna-se também importante entender o contexto no qual a prática do Yoga será aplicada, para assim realizar discussões mais profundas a respeito dos seus efeitos e limitações. Também importante é o domínio das ciências humanas, em específico das ciências sociais, de modo a compreender os valores culturais, sociais e as relações de poder envolvidas no ambiente em que o Yoga é estudado. Estas discussões aliadas ao rigor científico, e ao diálogo com as ciências exatas, (engenharias e as ciências da administração, no caso do Yoga Laboral) podem oferecer resultados expressivos e apontar caminhos para um maior embasamento e institucionalização da aplicação do Yoga, como prática voltada para o bem-estar à saúde e o auto-conhecimento em diferentes ambientes, auxiliando a suprir diferentes demandas da sociedade.