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A natureza da ação prática do cuidar em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia traduz-se no processo de reconhecimento, promoção e aumento da capacidade de identificação de necessidades e sua satisfação, na resolução de problemas e na mobilização dos recursos necessários, para controlar a sua atividade clínica (Encarnação, Torcato & Santiago, 2015). Portanto, é crucial entender que a nossa exigência profissional, enquanto enfermeiros especialistas, deve ser pautada pela aquisição de um conjunto de conhecimentos e habilidades que possibilitem o julgamento clínico e a tomada de decisão autónoma, traduzidos num conjunto de competências especializadas, no nosso campo de atuação específico (OE, 2010a).

A articulação entre o processo de apoio clínico, a autonomia e a espontaneidade resultante da busca de conforto pela própria parturiente no decurso do TP, tem conduzido a uma nova perceção e compreensão sobre o efeito de determinadas intervenções em Saúde Materna e Obstetrícia, nomeadamente da liberdade de movimentos e de posicionamento, resultando no incentivo destas práticas que proporcionam à parturiente um maior envolvimento e empoderamento nas decisões sobre o seu TP e parto. Neste sentido, os EESMO, com o objetivo de potenciarem as suas competências, devem promover e/ou colaborar no desenvolvimento de processos de aprendizagem e formação contínua, para que possam responder às solicitações da mulher, assegurando o seu bem-estar e segurança durante o TP e parto (OE, 2010b).

O último capítulo do Relatório Final traduz assim a avaliação acerca do desenvolvimento pessoal de competências da EESMO, no papel de mestranda, através da elaboração e aplicação do plano de ação, tendo em vista o projeto que pretendeu, de igual modo, promover a aquisição de competências pela equipa de EESMO na aplicabilidade da deambulação e das posições verticais, em mulheres de baixo risco obstétrico, no primeiro estádio do TP. Tendo por base os objetivos traçados para o projeto de intervenção, foram mobilizadas e alcançadas competências investigativas; de análise, reflexão e pensamento crítico; cognitivas e técnico-científicas; de autonomia na tomada de decisão e na identificação de necessidades/prioridades, de acordo com o diagnóstico de situação; relacionais, comunicacionais, éticas e deontológicas.

A persistente procura de evidência científica atualizada e devidamente fundamentada sobre o domínio da nossa atuação deve constituir um exercício contínuo de qualquer profissional de saúde, pelo que se considerou que este projeto e o estudo envolvido constituíram uma perfeita forma de aprofundar e consolidar competências no âmbito da investigação em enfermagem, sobretudo nesta área de intervenção relacionada com o estímulo à movimentação, à verticalidade e à mudança de posição pela parturiente. Assim sendo, foram desenvolvidas competências investigativas relacionadas com a justificação da problemática a abordar; a definição e aplicação dos instrumentos de recolha de dados; a seleção da amostra; o tratamento e análise dos dados/resultados e a comunicação pública acerca das conclusões obtidas e do conhecimento subjacente produzido.

No que se refere ao aperfeiçoamento de competências técnico-científicas, estas constituíram-se como uma das principais necessidades a desenvolver e a aprimorar, o que se tornou possível através da mobilização de conhecimentos teóricos para a prática, os quais sustentados na pesquisa científica efetuada. Desta forma, este projeto, ao oferecer material de suporte à prática profissional e incidir na formação dos EESMO, mediante a transmissão de conhecimentos específicos, contribuiu para o desenvolvimento das suas aprendizagens e competências profissionais, procurando capacitá-los para:

 Facilitarem a fisiologia materna, de forma a não manipularem o TP e o parto;

 Incentivarem a parturiente a caminhar ou a mudar/adaptar a sua posição corporal, de acordo com a postura que a mesma considere mais cómoda;  Criarem um ambiente que favoreça a liberdade de movimentos e de

posicionamento, assegurando a privacidade da parturiente;

 Oferecerem e encorajarem a parturiente a utilizar instrumentos de apoio à posição vertical;

 Incentivarem o acompanhante a participar de forma direta, nas intervenções que envolvem a movimentação e a adoção de posturas verticais pela parturiente;

 Adaptarem a sua assistência à parturiente, durante o TP, seja qual for a posição corporal elegida;

 Melhorarem a comunicação com a parturiente, facilitando e partilhando decisões e responsabilidades.

O pensamento crítico e reflexivo sobre as intervenções desenvolvidas tornou-se uma constante ao longo de todo o projeto, através de uma postura pró-ativa e do diálogo estabelecido com a orientadora pedagógica, os EESMO e os restantes elementos da equipa multidisciplinar. Por outro lado, a motivação constante dos EESMO, pela mestranda, também foi considerada como um fator de favorecimento e desenvolvimento das suas aptidões reflexivas e avaliativas perante a prática de cuidados.

As competências relacionais e de comunicação foram bastante valorizadas, quer no contato com os colegas de profissão, através da sua colaboração no estudo e na partilha de experiências e conhecimentos, quer com as grávidas/parturientes, pelo aperfeiçoamento da competência sensório-emocional, atendendo ao seu contexto biopsicossocial e cultural e pela competência afetiva na expressão, interpretação e compreensão das suas escolhas no TP.

O desenvolvimento de competências relacionadas com a tomada de decisão efetivou-se na identificação das necessidades e do diagnóstico de situação, como etapa fundamental para a definição das prioridades, nomeadamente a nível da prática dos cuidados e da formulação e concretização do estudo de cariz investigativo, manifestando-se através de uma postura de iniciativa, questionamento e argumentação. Através de intervenções eficazes na resolução de problemas e da emissão de juízos e reflexões sobre as suas implicações ou condicionamentos, a autonomia e a responsabilidade de decisão também foram desenvolvidas, no sentido de adquirir competências na prestação de cuidados especializados à parturiente.

Por último, analisam-se as competências ampliadas na responsabilidade profissional, deontológica, ética e legal, que se constituíram como pilares fundamentais de atuação no decurso do projeto, respeitando o envolvimento dos profissionais e acionando intervenções que respeitaram os direitos humanos, concretamente, a intimidade e a privacidade das parturientes.

Todas estas competências foram desenvolvidas no sentido de promoverem a valorização profissional e o contributo para sugestões e recomendações, aplicáveis em futuras intervenções na melhoria da prática especializada em Saúde Materna e Obstetrícia e na continuidade da produção de conhecimento através da investigação.