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2. Os Seguros

2.3. Situação económica

2.3.1. Análise sectorial

No ano 2007, os resultados obtidos pelas empresas de seguros e de resseguros sob a supervisão do Instituto de Seguros de Portugal (ISP) – empresas de direito português e sucursais de entidades não comunitárias – apresentaram-se favoráveis no que se refere ao ramo Vida e aos ramos Não Vida. No entanto, registou-se um decréscimo dos resultados técnicos Não Vida, face ao ano anterior, ao contrário do que se verificou no âmbito do ramo Vida.

O crescimento dos resultados da actividade seguradora, no que respeita ao ramo Vida, encontra-se fortemente relacionado com os retornos dos investimentos no mercado de capitais. Este aspecto espelha o facto de a função financeira assumir um papel cada vez mais relevante nos resultados do sector, o que em boa medida decorre das características de uma importante parte dos produtos oferecidos pelas empresas que exploram o ramo em análise.

Os resultados técnicos do ramo Vida totalizaram 371 milhões de euros (aumento de 21,1% em relação a 2006), o que se deveu, tal como já foi referido, ao aumento do resultado financeiro em 3,4%, ao mesmo tempo que se verificou uma diminuição no resultado operacional (-8,9%). Isto teve um efeito na variação dos resultados correntes que se traduziu num decréscimo de 5,5%.

A redução registada a nível dos resultados operacionais terá ficado a dever-se essencialmente a um substancial aumento (de 47,9%) no montante dos resgates, o que contribuiu para um incremento dos custos com sinistros líquidos de resseguro da ordem dos 2.018 milhões de euros, o que foi parcialmente compensado pela redução em cerca de 1.435 milhões de euros no montante de variação de outras provisões técnicas líquidas de resseguro. Para além disto, houve uma redução relativamente significativa (39,1%) da variação da provisão matemática de seguro directo paralelamente a uma maior variação da provisão para compromissos de taxa (144,8%), ao passo que os custos de exploração líquidos cresceram em cerca de 21,9%. Os prémios adquiridos líquidos de resseguro registaram uma subida de 7%.

A diferença positiva nos resultados técnicos entre os últimos dois anos originou-se sobretudo no Fundo para Dotações Futuras (FDF). Enquanto que em 2007 foram utilizados 17,6 milhões de euros do FDF, no ano anterior registou-se uma variação positiva, ou seja, dotação do FDF em 75,3 milhões de euros. Verificou-se ainda uma ligeira descida da participação nos resultados (1% face ao ano anterior), o que de igual modo contribuiu para um resultado técnico mais elevado.

No que se refere aos resultados técnicos do conjunto das 22 empresas que exploram o ramo Vida, verificou-se que 4 destas apresentaram, em 2007, valores negativos, quando em 2006 todas haviam registado resultados positivos.

Gráfico 2.22 Resultados técnicos do ramo Vida

376 -5 -100 0 100 200 300 400 500 Mi lhões de eu ro s Positivos Negativos Resultados técnicos Resultados técnicos Ramo Vida

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Relativamente à conta técnica dos ramos Não Vida, verificou-se um decréscimo de cerca de 38,1% nos resultados, o que contrariou a tendência crescente verificada nos últimos anos, em especial no anterior (aumento de cerca de 39%), tendo passado de 539 milhões de euros em 2006 para 334 milhões de euros em 2007. Este último valor deverá ser comparado com os cerca de 574 milhões de euros de resultados técnicos do ramo Vida antes de participação nos resultados, uma vez que esta nos ramos Não Vida é pouco expressiva (não atingindo 3 milhões de euros), o que permite concluir que Vida continuou, em 2007, a apresentar resultados mais elevados.

A evolução desfavorável da conta técnica de Não Vida ficou fundamentalmente a dever-se à significativa redução dos resultados financeiros, quer na componente de saldo de mais e menos-valias não realizadas, quer na de proveitos de investimento líquidos. Relativamente à primeira registou-se, simultaneamente, um forte decréscimo do valor das mais-valias não realizadas (em 48,5%) e um acréscimo igualmente significativo das menos-valias não realizadas (em 50,9%). No tocante ao saldo de proveitos e custos com investimentos, verificou-se uma redução de 33,7% face ao ano anterior. Contudo, é importante notar que estes últimos, embora mais baixos que os obtidos no ano anterior, são os segundos melhores dos últimos cinco anos. Logo, o principal factor de deterioração dos resultados financeiros encontra-se no saldo de mais e menos-valias não realizadas, que verificou um valor positivo muito mais baixo que qualquer um dos conseguidos nos últimos anos (8,7 milhões de euros em 2007 contra 85,8 milhões de euros em 2006). Para melhor compreender as razões que justificaram os contributos divergentes dos resultados financeiros para a evolução das contas técnicas dos ramos Vida e Não Vida, proceder-se-á à análise da composição das respectivas carteiras, no capítulo dedicado à análise dos investimentos.

Por sua vez, os resultados operacionais aumentaram cerca de 14,3%, o que foi ditado, fundamentalmente, por uma redução na participação nos resultados e na variação de outras provisões técnicas. Note-se que a participação nos resultados diminuiu em 30,4% face ao ano anterior, o que, tal como já foi referido, facilmente se explica pelo decréscimo dos resultados financeiros. Tanto os prémios adquiridos como os custos com sinistros e de exploração líquidos de resseguro sofreram alterações de reduzida dimensão, tendo subido 0,5%, 0,3% e 1,0%, respectivamente.

Saliente-se, ainda, que o saldo de outros proveitos e custos técnicos verificou uma redução de 15,5% (8,1 em 2006 para 6,8 milhões em 2007), o que constitui um factor desfavorável, embora com pouco peso relativo em termos do resultado final. A análise por ramos revela que, com excepção do ramo Doença, todos os restantes registaram, em 2007, resultados técnicos positivos, tendo o seguro Automóvel sido aquele que mais contribuiu para o resultado global (com cerca de 190 milhões de euros) embora com uma forte redução face ao obtido no ano anterior (de 362 milhões de euros), seguido pelo grupo de ramos Incêndio e Outros Danos (com cerca de 68 milhões de euros) e de Responsabilidade Civil Geral (com cerca de 22 milhões). A modalidade de Acidentes de Trabalho apresentou resultados mais baixos que os registados no ano transacto (num montante de pouco mais de 0,1 milhões de euros), tendo vindo a registar quedas consecutivas, diminuindo assim a sua contribuição para os resultados dos ramos Não Vida (questão que se analisará mais adiante). O conjunto dos demais ramos contribuiu com cerca de 16,7% para o resultado global.

É ainda de salientar o facto de 5 empresas de seguros terem apresentado resultados negativos (uma em 2005 e três em 2004), no âmbito de um conjunto de 33 empresas que exploram estes ramos. No entanto, os resultados técnicos negativos são materialmente irrelevantes para a determinação do resultado global.

Resultados técnicos ramos Não Vida

Gráfico 2.23 Resultados técnicos dos ramos Não Vida 336 -3 -100 0 100 200 300 400 500 M ilhões de e u ro s Positivos Negativos

No gráfico que se segue, pode analisar-se a evolução dos resultados técnicos do ramo Vida e dos ramos Não Vida ao longo dos últimos cinco anos.

Gráfico 2.24 Resultados técnicos – Ramo Vida e ramos Não Vida

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 2003 2004 2005 2006 2007 M ilhões de eur os

Resultado da co nta técnica Vida Resultado da co nta técnica Não Vida To tal

O gráfico anterior permite visualizar a tendência crescente que os resultados técnicos do ramo Vida têm vindo a seguir nos últimos anos. No que se refere aos dos ramos Não Vida, estes evoluíram significativamente entre 2003 e 2006, tendo registado, no último ano, o já referido decréscimo.

A produção de seguro directo apresentou, em 2007, um incremento de 4,8% correspondente a um aumento de cerca de 616 milhões de euros, para um valor global de 13.346 milhões de euros.

Este acréscimo corresponde, quase na totalidade, ao aumento da produção do ramo Vida (7,1%), já que nos ramos Não Vida este foi de apenas 0,1%.

Tal como se analisará mais adiante, a variação positiva da produção observada deveu-se ao incremento dos prémios emitidos de seguros de vida não ligados (em 557 milhões de euros), especialmente dos seguros de capitais diferidos sem participação nos resultados. As operações de capitalização também verificaram um

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acréscimo de 23,5%, embora a sua expressão nos prémios totais seja relativamente mais baixa.

Nos ramos Não Vida continuou a desaceleração do ritmo de crescimento dos prémios, traduzida num aumento da produção na ordem dos 3 milhões de euros relativamente ao ano anterior, tendo-se constatado algum decréscimo da produção nos ramos Automóvel e Acidentes de Trabalho, contrabalançado pela subida dos prémios nos restantes ramos Não Vida.

Gráfico 2.25 Evolução da produção – Ramo Vida e ramos Não Vida

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 2003 2004 2005 2006 2007 Mi lhõe s de e u ro s

Prémios Vida Prémios Não Vida Total

A evolução verificada na produção do ramo Vida conduziu à manutenção do respectivo peso no total da carteira nos níveis observados desde 2005, representando 69,0% do total, um valor ligeiramente superior ao verificado em 2006 (67,5%).

Gráfico 2.26 Peso na carteira – Ramo Vida e ramos Não Vida

69,0% 31,0%

Vida Não Vida

Seguidamente irá efectuar-se uma análise mais pormenorizada dos resultados técnicos obtidos para o ramo Vida e para os ramos Não Vida.

Em primeiro lugar, esta análise será realizada para o ramo Vida, começando por apresentar-se o gráfico que expõe a evolução dos resultados correntes e respectiva desagregação, entre 2003 e 2007.

Resultados correntes ramo Vida

Gráfico 2.27 Resultados operacionais e financeiros – Ramo Vida -1.500 -1.000 -500 0 500 1.000 1.500 2003 2004 2005 2006 2007 Mi lhões de eur os

Resultados financeiros Resultados operacionais

Resultados correntes

Os resultados correntes apresentaram um ligeiro decréscimo (cerca de 5,5%), causado na sua totalidade por uma diminuição de 8,9% do resultado operacional, facto que foi parcialmente compensado pelo aumento do resultado financeiro em aproximadamente 3,4%.

É de referir que o saldo de mais e menos-valias não realizadas sofreu uma redução de cerca de 261 milhões de euros, tendo-se, no entanto, registado uma subida de 293 milhões de euros no saldo de proveitos e custos financeiros (incremento de 22,3%), o que permitiu uma melhoria do resultado financeiro. Note-se que nos últimos cinco anos constataram-se valores negativos no que se refere aos resultados operacionais, embora com alguma recuperação nos últimos dois, tendo a componente financeira permitido compensar estes prejuízos.

No gráfico seguinte explica-se, de forma mais detalhada, a formação dos resultados financeiros do ramo Vida e a evolução, ao longo dos últimos anos, das suas várias componentes.

Gráfico 2.28 Resultados financeiros – Ramo Vida

-2.000 -1.000 0 1.000 2.000 3.000 2003 2004 2005 2006 2007 Milhões de euros P ro veito s financeiro s Custo s co m investimento s

Saldo de mais e meno s-valias não realizadas P articipação no s resultado s

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A partir do gráfico anterior é possível constatar o facto de que a função financeira exerce um peso cada vez maior na exploração do ramo Vida, verificando-se um aumento acentuado dos proveitos e dos custos com investimentos.

Quanto ao nível de participação nos resultados, registou-se um crescimento médio no período em análise de quase 19%, espelhando a evolução observada ao nível dos resultados. No entanto, no que se refere ao valor desta rubrica e apesar do ligeiro aumento ocorrido nos resultados financeiros do ramo Vida, verificou-se, em 2007, um ligeiro decréscimo da participação nos resultados face ao ano anterior (em 0,9%).

Relativamente ao conjunto dos ramos Não Vida, constatou-se um pequeno incremento dos resultados operacionais (cerca de 2,3%) e uma forte redução dos resultados financeiros (-43,8%), o que motivou a obtenção de um resultado corrente mais baixo que o registado em 2006 (diferença de 209 milhões de euros), embora não inferior aos resultados financeiros médios obtidos até 2005. Este aspecto pode ser visualizado no gráfico seguinte.

Gráfico 2.29 Resultados operacionais e financeiros – Ramos Não Vida

-100 0 100 200 300 400 500 600 2003 2004 2005 2006 2007 Mi lh õ e s de eur os

Resultados operacionais Resultados financeiros Resultados correntes

Note-se que os resultados financeiros de 2007 foram praticamente idênticos aos de 2005, sendo 2006 um ano atípico.

Resultados correntes ramos Não Vida

Gráfico 2.30 Resultados financeiros – Ramos Não Vida -200 0 200 400 600 2003 2004 2005 2006 2007 Milhões de euros P ro veito s financeiro s Custo s co m investimento s Saldo de mais e meno s-valias não realizadas

P articipação no s resultado s

A análise do gráfico anterior permite verificar o notório aumento dos custos com investimentos, no último ano, em linha com a quebra nos proveitos financeiros. O saldo de mais e menos-valias registou o valor mais baixo dos últimos cinco anos (note-se, no entanto, que anteriormente a 2003 este saldo assumiu frequentemente valores negativos).

Como seria de esperar, o nível de participação nos resultados sofreu o efeito da diminuição dos resultados financeiros, tendo decrescido cerca de 30,8% face a 2006. Ressalva-se, no entanto, que este não se trata de um facto relevante dada a reduzida expressão que esta rubrica apresenta no âmbito deste conjunto de ramos. Ao resultado positivo da conta técnica acresce ainda o contributo da revalorização dos activos livres traduzido em várias rubricas da conta não técnica, tendo a soma das duas contas apresentado um saldo final de 838 milhões de euros antes de impostos, o que representa um decréscimo de 10,8% em relação ao obtido para 2006. O resultado líquido do exercício totalizou 653 milhões de euros, o que revela uma diminuição de 7,2% em relação ao ano 2006 e um crescimento de cerca de 51,0% face a 2005.

Se retirarmos ao resultado líquido de 2006 o efeito da mais-valia de 157 milhões de euros resultante da alienação de uma participação qualificada detida por uma empresa de seguros numa instituição bancária, verifica-se que esta rubrica evoluiu cerca de 19,5% em 2007.

No quadro que se segue é apresentada a estrutura da conta não técnica, cuja análise permite consolidar estas conclusões.

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Quadro 2.8 Estrutura da conta não técnica

milhões de euros 2005 2006 2007

Resultado da conta técnica Não Vida 369 539 334

Resultado da conta técnica Vida 273 306 371

Resultado da conta técnica 642 845 705

Saldo dos proveitos e custos com investimentos 46 32 95

Saldo de mais e menos-valias não realizadas 53 57 24

Outros proveitos 28 60 34

Outros custos, incluindo provisões 84 (193) 75

Resultado extraordinário 15 100 16

Dotação ou utilização da reserva de reavaliação regulamentar (141) 235 (55)

Recuperação de mais ou menos-valias realizadas de investimentos 3 0 95

Imposto sobre o rendimento do exercício 128 0 184

Resultado líquido do exercício 433 1.094 653