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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3 Análise do segundo objetivo específico

Identificar expectativas da Empresa de Assistência Domiciliária (representada pelas Enfermeiras Supervisoras) na relação de trabalho, segundo o modelo de análise das seis dimensões de Sels, Janssens e Van Den Brande (2004).

Para a identificação das expectativas da empresa, foi realizado o mesmo procedimento do objetivo anterior, considerando os dados coletados das entrevistas com as Enfermeiras Supervi soras. Os quadros 12 a 17, que constam do Apêndice D desta pesquisa, apresentam separadamente os dados encontrados de cada uma dessas seis dimensões.

Considerando as semelhantes expectativas de cada dimensão, foi possível reuni-las e assim verificar o que a Empresa de Assistência Domiciliária espera dos Técnicos de Enfermagem. Os dados também foram separados por categoria contratual formal, pelo fato de haver expectativas diferentes, sendo apresentados os dados em duas colunas, para cada dimensão no Quadro 4.

Quadro 4 - Expectativas da Empresa de Assistência Domiciliária (Dados da Pesquisa)

O detalhamento com as principais características de cada dimensão é apresentado nas subseções a seguir.

4.3.1 Dimensão 1 - Estrutura Temporal

Na primeira dimensão, conforme o contexto de expectativas da Estrutura Temporal (prazo percebido do relacionamento do trabalho), todas as falas relacionadas à carreira, manter vínculo, autonomia, permanecer, ficar, sair, trabalhar na empresa, foram consideradas.

Algumas observações podem ser ponderadas nessa dimensão, pois a empresa, ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade da manutenção de outros empregos pelos trabalhadores, desconsiderando exclusividade, não deixa de querer lealdade. Aqui, pode ser percebida uma tendên cia para a temática da retenção de talentos, pelo fato de perceberem que os colaboradores desejam permanecer na organização, e ainda consideram como um fator de sucesso, por ser um item considerado importante nos valores da empresa.

Para os profissionais cooperados, as rotinas que determinam somente três meses como período de permanência, reforçam as expectativas de pouco tempo; porém, o desempenho técnico além do esperado pode gerar uma expectativa de manutenção de longo prazo para contratação futura, se questões legais permitirem.

Seguem alguns exemplos dos depoimentos das Enfermeiras Supervisoras, como representantes do empregador, que remetem a essas expectativas:

E 01 “... porque a maioria deles, a maioria, tem outros vínculos, a maioria, principalmente assim, os mais experiente (sic). Tem muito técnico que tem família, filhos e uma remuneração baixa, que precisa ter dois ou três vínculos...então a gente já trabalha sabendo que eles vão daqui para outro ou vem de outro para cá...” [SIC]

E 07 “... porque eu procuro realmente que ele (contratado) fique mais tempo

essa fidelidade com o salário que deixa a desejar, mas assim, em relação a amizade, a uma consideração” [SIC]

E 07 “... a gente sabe que tem um rodízio de três meses (para o cooperado)... mas quando o Técnico é muito bom, mas muito bom mesmo, a gente pede para trazer o currículo e dependendo (de questões legais) a gente contrata...” [SIC]

4.3.2 Dimensão 2 - Tangibilidade

Na dimensão da Tangibilidade (grau de clareza dos termos de desempenho), as falas relacionadas a aspectos de comportamento e postura, execução de normas e rotinas, assistência ao paciente, organização no trabalho, competência e responsabilidade, foram cons ideradas.

Para os contratados elas são mais altas do que para os cooperados, onde a questão do vínculo parece se manifestar com mais intensidade nesse aspecto: quanto maior o vínculo, maiores as expectativas de cumprimento de rotinas, compromissos, treinam entos. O que se mostra contrário nos cooperados, com baixas expectativas de participação e compromissos efetivos, como pode ser visto nas falas:

E 02 “... O técnico que trabalha em home care, ele acaba tendo que ser mais do que num hospital, porque lá tem uma equipe e no HC ele é sozinho até que chegue o médico e o outro técnico, a enfermeira, eles acabam por realmente tendo que superar as expectativas. Eu acho que isso é bom! ...” [SIC]

E 03 “... o cooperado fica mais complicado porque ele roda mais, n ão é

aquela escala fixa. E como ele não tem aquele vínculo então pra eles, eles não dão tanta importância a isso como o funcionário aqui da empresa. Então é mais complicado por isso...” [SIC]

E 01 “... a gente sabe que o cooperado, ele é um profissional q ue ele trabalha

como um profissional liberal, um autônomo, ele trabalha quando quer. Se não quiser, não vai, não tá contratado. Se faltar não vai ter punição... Então a gente precisa quebrar isso através da boa relação, então a supervisora, ela chama para tentar convencer criar aquele vínculo, que mesmo que não haja um vínculo empregatício conosco, mas que pelo menos, boa relação para que ele se sinta, né, pelo menos, é como eu posso dizer, estimulado a não faltar,

entendeu, a não chegar atrasado, a gente tenta isso... “[SIC]

Outro aspecto esperado dos profissionais é o fato de não se envolverem com familiares dos pacientes no sentido de aceitarem um gerenciamento deles em detrimento ao da empresa. Pelo fato de atuarem na residência, se tornarem muito próximos da família e estarem distantes fisicamente do sistema que efetivamente os gerencia, há o risco de deixarem de representar a organização e passarem a não atuar de acordo com as normas estabelecidas pela empresa e sim pelos desejos da família. Seguem exe mplos:

E 07 “... Então, a minha equipe a gente sempre procura fazer entender que

eles não são funcionários da família, eles são funcionários da empresa. Só que é muito fácil falar isso. Na hora que a família diz: Está faltando o material xis, ligue para a empresa imediatamente, insistem... Então eu tenho muito que ver esses dois lados, mas o que eu assim, busco, o que eu espero deles, é que sejam imparciais... Porque ele vai se levando pela família, porque afinal, quem está próximo a ele é a família, a gen te só visita uma vez por semana...” [SIC]

E 04 “... Ele tem que saber naquele momento que ele é a empresa na residência, ele tem que saber lidar com a família, e não ser da família, ele não pode confundir isso. Porque muitas vezes o que acontece, diferent e do hospital, no home care ... ele passa a maior parte do tempo na residência, então ele fica muito próximo e cria um elo com a família e que não pode acontecer porque naquele momento ele é um profissional...” [SIC]

4.3.3 Dimensão 3 - Escopo

Analisando a terceira dimensão (Escopo – grau do quanto existe envolvimento no trabalho), todas as falas referentes a relacionamento, colaboração, cooperação, esforço pessoal, envolvimento, confiança, foram consideradas, havendo algumas semelhanças para os dois tipos de c ontratos formais.

A dedicação ao trabalho é muito esperada pela empresa, apesar de ter sido relatado um pouco menos em relação aos cooperados. A importância dada a essa expectativa, provavelmente , é devido ao fato de se tratar de um trabalho que envolve a assistência a pessoas que necessitam de cuidados técnicos que o profissional deve executar de maneira contínua, pois a maioria dos pacientes em atendimento possui escalas de trabalho de vinte e quatro horas ininterruptas.

Foi citado pelas Enfermeiras Super visoras:

E 07 “... Eu peço a cooperação de todos, porque quem vem render hoje, tem

que chegar às sete horas, tem que compreender, então tem que ser assim, não

dá para pensar só em si...” [SIC]

E 05 “... E eu sempre espero que ele seja muito dedicado ao t rabalho, que façam tudo e todos os procedimentos com muito amor, tratando como se fosse um familiar dele, um parente. Eu sempre espero muito isso deles, tanto os cooperados quanto os contratados...” [SIC]

4.3.4 Dimensão 4 - Estabilidade

Conforme o contexto da quarta dimensão, a Estabilidade (grau no qual o contrato é limitado ou flexível em relação às mudanças), todas as menções de liberdade, mudanças, ajuste, resistência, foram consideradas para análise.

Embora as expectativas para mudanças sejam semelhant es nos dois tipos de contrato, a dificuldade para aceitá -las se mostrou mais esperada para o cooperado, conforme se verifica na citação a seguir:

E 02 “... Eles sempre reclamam, qualquer mudança eu já espero a reclamação. De horário de medicação, tirou da noite, passou pro dia...Ah mas você ...!! Sempre tem o impacto, mas com o tempo vai se organizando e vendo que dá tudo certo. Mas sempre reclamam no começo ... aí a gente conversa, explica que tem que ser d aquele jeito, que vai melhorar.À s vezes a mudança até é para melhor, mas só pelo fato de ser uma mudança... E para o cooperado... é a mesma coisa só... as vezes o da gente reclama, mas faz, o cooperado às vezes reclama e vai deixando...percebo a diferença... É mais

fácil lidar com o técnico da gente do que com o da cooperativa...”

4.3.5 Dimensão 5 - Simetria de Troca

Na dimensão da Simetria de Troca (grau de aceitação das diferenças hierárquicas ou desigualdades), todas as falas relacionadas a essa temática, além de respeito e equipe, foram consideradas.

Para os contratados as expectativas foram de aceitação, respeito e trabalho em equipe, mas para os cooperados, a falta de vínculo diminui o que é esperado em relação a eles nesse sentido. Segue exemplo:

E 04 “... tem uma hierarquia, eles são Técnicos de Enfermagem e eu sou

Enfermeira e eles precisam me respeitar e seguir as ordens. É lógico que isso pode ter uma comunicação, ele podem concordar ou não com a conduta, isso pode ser conversado, mas eu acho que respeito deve haver e tem, tanto com o cooperado quanto do não cooperado. mesmo eu não podendo me dirigir diretamente a eles, mas que eles respeitem da mesma forma a sua chefia na cooperativa...” [SIC]

4.3.6 Dimensão 6 - Nível de Contrato

E na sexta e última dimensão (Nível de contrato – grau o qual o contrato é percebido como individual ou coletivo), todos os aspectos que envolvem acordos, direitos, negociações, foram considerados para se analisar o resultado.

Os acordos individuais são muito esperados para os contratados, pois há um gerenciamento de equip e, por parte das Enfermeiras Supervisoras, onde procuram ouvir seus colaboradores e ajustar as necessidades individuais. Para os cooperados, pela falta de vínculo, as expectativas relacionadas ao nível de contrato são direcionadas para os acordos coletivos com as cooperativas.

As falas que exemplificam essa dimensão são:

E 01 “... Os cooperados, assim, é complicado, porque quando ele pra trocar,

precisa ter uma relação muito boa, entre a equipe. Então os auxiliares da cooperativa se não tem uma relação boa com o resto da equipe e não consegue troca, é falta! Porque eles são autônomos! Não vai trazer nenhuma punição, nenhum prejuízo pra eles não tem, então, falta... é difícil porque é difícil até eles tarem atrás de supervisora para tentar resolver. Ele ten ta com os colegas, não vai conseguir ele simplesmente falta...” [SIC]

E 04 “... Com certeza, mas assim, nessa área de saúde a gente tem que ser maleável, mas não pode abrir as portas para todos, tem uma regrinha, mas sempre que eles me procuram, desde que seja uma justificativa adequada gente procura ser maleável. É melhor que eles cheguem e façam um acordo do que faltem. Porque faltar aí a gente não tem Técnico de Enfermagem aqui, há problemas, então assim, sempre que dá, desde que seja tudo certo entre as duas partes eu procuro liberar...mas sempre que dá eu autorizo...” [SIC]

Finalizando as observações deste objetivo, chama a atenção o fato das gestoras dos Técnicos de Enfermagem da empresa terem que gerenciar formas diferentes de contrato num mesmo ambi ente, demonstrado pelas distintas

posições quanto a esses profissionais, em situações semelhantes. Isso corrobora o que diz Rubery et al (2003), sobre algumas dificuldades de negociação na convivência com variadas formas de vínculos em uma mesma atividade, conforme demonstrado na fala:

E 03 “... o cooperado fica mais complicado porque ele roda mais, não é aquela escala fixa. E como ele não tem aquele vínculo, então para eles, eles não dão tanta importância a isso como o funcionário aqui da empresa...” [SIC]

Partindo das análises das expectativas de cada parte dos envolvidos na relação de trabalho deste estudo, passa -se ao terceiro objetivo que trata da comparação entre elas, chegando aos resultados de aspectos divergentes e convergentes, conforme apresentado na próxima subseção.

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