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170. A utente, originalmente seguida no Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE (CHLN – Hospital de Origem, HO), foi submetida a cirurgia, no âmbito de Vale Cirurgia emitido ao abrigo do SIGIC, no dia 26 de janeiro de 2017 no British Hospital (Hospital de Destino, HD)

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Mod.016_01 172. Perante complicações clínicas surgidas no pós-operatório, a utente foi submetida a

nova cirurgia no dia 15 de março de 2017,

173. Tendo recebido alta hospitalar no dia 16 de março de 2017.

174. Após a utente, com queixas por dores, ter contactado telefonicamente, poucos dias antes, o Dr. JG, no dia 25 de maio de 2017, este observou-a e informou-a da necessidade de proceder à cirurgia de manipulação articular sob anestesia, tendo a mesma ficado agendada para o dia 30 de maio.

175. Todavia, no próprio dia da cirurgia, a utente foi contactada telefonicamente pelo HD no sentido de a informar que a cirurgia não poderia ser realizada por se encontrar ultrapassado o período de acompanhamento pós-operatório previsto no Regulamento do SIGIC.

176. Conforme prevê o § 124 do Regulamento, “O hospital de destino, após a realização da intervenção cirúrgica e de todos os procedimentos pós-operatórios, conclui o processo, no prazo máximo de 60 dias […]”;

177. Prevendo o § 126 do Regulamento que o Hospital de Destino (HD) é responsável “[…] pelo tratamento da ferida operatória, pela continuação dos tratamentos de todas as intercorrências da sua responsabilidade ocorridas durante o internamento, assim como de quaisquer complicações dos tratamentos instituídos, identificadas no período de dois meses após a alta”.

178. Ora, no caso sub judice, confirma-se que, quer considerando a data da alta dada após a primeira cirurgia (1 de fevereiro de 2017), quer a data da alta dada no seguimento da segunda cirurgia (16 de março de 2017),

179. No momento em que a utente contactou telefonicamente o médico para lhe comunicar as suas queixas (semana de 21 de maio de 2017),

180. O prazo de 2 meses previsto no Regulamento SIGIC já se encontrava ultrapassado. 181. Pelo que se mostra legítima e legalmente conforme a recusa do HD em proceder à

cirurgia no dia 30 de maio de 2017.

182. Sendo isso verdade, mostra-se, porém, irrazoável, em matéria do direito à informação dos utentes e de gestão das suas expectativas de acesso ao cuidados de saúde, que, logo aquando desse contacto estabelecido pela utente com o médico JG e da consulta realizada a 25 de maio de 2018 nesse seguimento,

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Mod.016_01 183. Não tenha sido a utente imediatamente informada do limite temporal em causa e, por isso, da impossibilidade de, atendendo às regras do SIGIC, a cirurgia se realizar no HD.

184. Do mesmo modo que se mostra inadequada e de má prática a conduta do HD em apenas comunicar à utente o cancelamento da cirurgia no próprio dia da mesma. 185. O que é especialmente gravoso tratando-se de uma utente com 63 anos à data dos

factos, e com queixas permanentes por dores.

186. Contactada telefonicamente a exponente R.O. em 7 de janeiro de 2019, a mesma informou que a utente, após ter sido observada no serviço de urgência do Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital Santa Maria (Hospital de Origem),

187. Foi operada de urgência em Agosto de 2017, cirurgia correspondente àquela que o HD se recusou a efectuar, como acima descrito.

188. Termos em que já beneficiou a utente da cirurgia em causa.

189. Em todo o caso, a exponente informou que, fruto do insucesso parcial da cirurgia, a utente continua a ser acompanhada no HO, inclusivamente durante o ano de 2018, estando neste momento a aguardar a inscrição em LIC para realização de nova cirurgia.

190. Num outro plano de análise, e conforme o British Hospital expressamente informou a ERS, “Relativamente ao pedido do processo clínico, compete-nos informar que, de acordo com o regime legal de proteção de dados atualmente vigente, nos termos do qual o titular dos dados de saúde (ou representante autorizado) só por intermédio de médico poderá aceder a toda a informação de saúde depositada junto das unidades de saúde”.

191. Posteriormente, o prestador veio tentar matizar a sua posição, referindo o seguinte: “[…]

Nunca foi recusado à utente o acesso ao seu processo clínico, foi sim indicado que os elementos clínicos solicitados encontravam-se no Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE, Hospital de origem e que a utente os poderia solicitar àquela unidade hospitalar a qualquer momento.

[…]

No que se refere ao acesso ao processo clínico por parte dos utentes, o British Hospital está a cumprir os normativos legais em vigor: Lei 12/2005 de 26 de janeiro com as alterações da Lei 26/2016 de 22 de agosto, só que no caso concreto o pedido de

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Mod.016_01 acesso à informação de saúde não foi feito diretamente por parte da sua titular (F.O.) mas sim através de terceiro (R.O.) e por isso foi dada a informação a esta de que o acesso à informação clínica só podia ser feito através de médico designado pela própria doente. Acresce que como supra referido, os elementos clínicos solicitados encontravam-se no Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE, Hospital de origem e foi transmitido à familiar da utente de que esta os poderia solicitar àquela unidade hospitalar a qualquer momento.

[…]”.

192. A posição assumida pelo prestador não tem, como vimos acima, qualquer fundamento legal.

193. Os utentes são os titulares da sua informação de saúde e os estabelecimentos de saúde, enquanto depositários dessa informação, devem respeitar e fazer cumprir o direito dos utentes de acesso à mesma, seja por consulta, seja por reprodução.

194. Não cabe ao prestador recusar, dificultar ou por qualquer meio condicionar o acesso à informação de saúde, pois que tal informação pertence ao seu titular, não ao prestador e tão-pouco aos profissionais de saúde (v.g., médicos) do prestador.

195. Assim sendo, justifica-se a intervenção regulatória da ERS, para assegurar que os direitos dos utentes de acesso à sua informação clínica são salvaguardados, evitando- se a repetição de situações idênticas à descrita nos autos.

196. Sendo imperioso garantir que, doravante, e de forma imediata, o prestador altere os seus procedimentos, nomeadamente, o “Procedimento – Solicitação de Informação Clínica”, datado de 19 de setembro de 2016, no sentido de assegurar que os seus profissionais respeitam o direito de acesso imediato dos utentes aos respetivos processos clínicos e informação de saúde, seja por consulta ou reprodução, nos termos previstos na Lei.

197. Com a presente deliberação pretende-se igualmente alertar o prestador para a necessidade de adaptar os seus procedimentos internos ao disposto no Regulamento n.º 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de abril de 2016, relativo à proteção das pessoas singulares no que diz respeito a tratamento de dados pessoais, o qual entrou em vigor em 25 de maio de 2018.

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