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ANÁLISE DISCURSIVA DO DIÁRIO 2: “TURIPEREGRINAÇÃO A LOURDES

5.3 Análise temática do DIÁRIO

Como acabamos de verificar, o tema omnipresente no Diário de Turi- peregrinação a Lourdes, no Centenário das Aparições, é o tema da viagem turístico-cultural. A abordagem quantitativa do vocabulário do DIÁRIO 2 mostrou a ocorrência de inúmeros vocábulos desta temática nas altas fre- quências. Porém esta temática surge, do mesmo modo, nas baixas frequên- cias ou hápax.

Iremos levantar das 18 páginas de hápax tão-somente alguns vocábulos e expressões ilustrativas do domínio temático do turismo cultural e seus avata- res, porque são muitos vocábulos e alongaria demasiado a análise a execução exaustiva de todos eles.

A temática do turismo cultural é a predominante neste texto viático e abarca outros tipos de turismo: o espiritual, o turismo de experiência ou emoção, o turismo propriamente dito.

Dado que a maior parte da viagem turístico-cultural se passa em Espanha, os vocábulos e expressões ilustrativas deste o domínio temático e do turismo urbano retirados dos hápax remete claramente para os topónimos, os monu- mentos, os sítios, as paisagens culturais urbanas e rurais em território espa- nhol. Contudo afloram também vocábulos que enviam para lugares e monu- mentos franceses e em menor escala portugueses, uma vez que a viagem em Portugal era a mais curta. Atente-se nalguns exemplos:

– “afamadas Grutas de Bethárram, agência de viagens, Alcácer de Toledo, antiga cidade de Saragoça, antigo Palácio Real, arrabaldes de Burgos, Bayon- ne, belo panorama, Biarritz, caminho de Burgos, caminho de Lourdes, cami- nho de Saragoça, cidade de Burgos, cidade de Pau, cidade do rio Tormes, ci- dade histórica, cuidad Rodrigo, Coimbra, com destino a Madrid, construção de moderna arquitetura, construção medieval, curta visita à cidade, monu- mentos aos mortos da guerra civil, monumento nacional do Vale dos Caídos, monumento nacional, monumental portão de bronze de ferro forjado, museu do Prado, museu nacional de escultura, Navarra, pórtico riquíssimo de arte, programa traçado, real mosteiro do Escurial, província de Valladolid, provín- cia de Aragão, região basca, salmódia de três horas, típica calle de Saragoça, Tomar, Tolosa, Toledo, universidade de Salamanca, vestígios do domínio ro- mano, Vitória”, entre outros.

Maria Olinda Rodrigues Santana 119

Quanto à vertente do turismo espiritual e da turiperegrinação a Lourdes a presença de vocábulos e expressões exemplificativas deste tipo de turismo é muito significativa, com uma indicação clara da turiperegrinação a Nossa Senhora de Lourdes, mas também com uma referência a muitos locais reli- giosos situados em Espanha. Vejamos alguns exemplos dos hápax:

– “admirável cruxifico, ajoelhavam, ambiente de fé, aquisição de alguns artigos religiosos, Basílica da Imaculada, Basílica subterrânea de Pio XII, be- líssimo templo, bênção dos doentes, calvário, capela de S. Bruno, capela dos condestáveis, capela interior, Cartuxa, célebres conchas de Santiago, cente- nário das Aparições de Nossa Senhora, cerimónias, cerimónias privativas, com muito pesar, convento das Agostinhas, convento de Santa, convento de S. Tomás, costumada e imponente procissão de velas, cripta Basílica, cripta Basílica subterrânea, mestres da vida espiritual, milhares de crentes, mostei- ros cartusianos, mosteiro do Escurial, mosteiro de Santo Estêvão, mosteiro da Pedra, mosteiro da Ordem de S. Bruno, mosteiro da Cartuxa, Nossa Senhora, nosso adeus, ofício divino, ordem beneditina, padroeira da aviação, padroei- ra da infantaria, padroeira da marinha, padroeira de Aragão, padroeira dos presos, pastorinha Bernadette Soubirous, peregrinação a Lourdes, peregrina- ção de mineiros da diocese de Metz, peregrinação local, prelados, programa da peregrinação, recinto de fé, recinto sagrado, santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, três santuários primitivos de Lourdes, unção e reco- lhimento, virgem de África, virgem do Carmo, virgem do Loreto, virgem da Mercê, virgem do Pilar”.

O tema da turiperegrinação é, na verdade, um dos mais representativos deste diário.

O turismo de experiência ou emoção, hoje muito em voga, emerge no DIÁRIO 2. Retenham-se alguns exemplos retirados dos hápax, constituídos por um nome e um adjetivo ou um adjetivo anteposto ao nome, com uso estilístico tratado atrás:

– “agradável sessão, agreste paisagem, apreciado, bela paisagem, beleza agreste, beleza artística, beleza natural dos Pirenéus, beleza natural e arqui- tetónica, belezas paisagísticas, belíssimas avenidas de plátanos, bonita ponte, com elegância e fino gosto, comovedora expressão, comovedor e edificante, precioso museu de escultura, preciosíssimas obras de arte, preciosas escultu- ras, profundas e caras recordações, satisfeita e emocionada, satisfeitos, sen- tíamos saudades, uma boa apreciação, vibro de saudade, voz emocionada, etc.”.

O turismo tout court, isto é, o direcionado para a venda e compra de pro- dutos turísticos também desponta nos vocábulos e expressões dos hápax:

120 Diários de viagem duma portuense – Diário 2...

– “agência de viagens, albergue de carretera, algumas compras, ampla e cómoda dependência, anunciadas excursões noturnas, aposentos, aquisições, bom almoço, bom restaurante local, ciceroneava (visita guiada), compras feitas a correr, mercado local, minhas aquisições, montras repletas, óptimas instalações, óptimo e reconfortante almoço, parte velha e típica da cidade, pe- quena viagem de teleférico, típica serenata aragonesa, típica residência, zona turística, entre outros”.

Dentro do tema do turismo, ocorrem vocábulos e expressões nos hápax associados ao tema do alojamento: “ampla e cómoda dependência, aposentos, óptimas instalações, quarto n.º 1, quarto n.º 202, quarto n.º 338, quarto n.º 75, recolhemos, recolher ao quarto, etc.” Mas também o tema dos locais de restauração e respetivas refeições: “almoçar, anunciado almoço, após o almo- ço, após o jantar, bom jantar servido, bom restaurante local, bom almoço, bom jantar servido, mesmo valor nutritivo das anteriores refeições, muito bem servido almoço, muito frugal jantar, óptimo e reconfortante almoço, res- taurante Cristal, restaurante local, pouco menos frugal, refeição de emergên- cia, refeição anterior, repasto, servido à lista, todas as refeições servidas, etc.” Convém ainda notar que, neste diário, a narradora-viajante fez um elo- gio à gastronomia portuguesa servida no “restaurante Cristal”, na Guarda, referindo a “saborosa culinária portuguesa”, mostrando, ao invés, o seu desa- grado pela gastronomia castelhana servida nalguns hotéis de luxo espanhóis: “alimentação condizente que não foi apreciada, não mais satisfatório, não agradou”. Em relação à gastronomia francesa servida no hotel em Lourdes, a escrevente não faz uma apreciação nem uma depreciação, limita-se a indicar que foram refeições simples “muito frugal jantar, pouco menos frugal”.

Aliado à temática do turismo em geral despontam, nos hápax, vocábulos associados às visitas aos monumentos históricos e religiosos, formas verbais de verbos de movimento, os meios de transporte usados na turiperegrinação. Observemos alguns exemplos:

– “visita à Cartuxa, visitando, visitar, visita e admiração, excursão, excur- sões noturnas, primeiro autocarro” da turiperegrinação a Lourdes, no qual viajou a diarista e a irmã Amélia, “Amélia e eu”, nos lugares “17 e 18”, ocorre a expressão “meios de condução”, alusivos ao metropolitano, ao táxi, usados na estada em Madrid, o teleférico “pequena viagem de teleférico”, próximo de Loudes em França.

Os temas da recordação e da escrita do texto viático estão também repre- sentados em diversas palavras e expressões dos hápax: “lembrança, lembran- do, ‘recordar é fazer passar pelo coração alguém ou alguma coisa’ (abertura do DIÁRIO 2), folhear, caderno, vibro de saudade, sentíamos saudades”. Nes-

Maria Olinda Rodrigues Santana 121

te tema, está presente a enunciadora, a escrevente do diário na forma verbal na primeira pessoa do singular indicada na desinência verbal “vibro” e na primeira pessoa do plural que incluía a sua irmã e os outros turiperegrinos no fecho do diário quando a escrevente declara que “sentíamos saudades” da “nossa Pátria”. O tema da escrita do diário relaciona-se também com os verbos de inteleção dos quais surgem algumas formas na frequência 1, tais como: “falar-lhe, fala, falado em espanhol, ouvidos, ouvindo e apreciando, soubemos, vendo, ver e apreciar”. Curiosamente o verbo “apreciar” que indica uma valoração dos sentidos da audição e da visão, apontando mais uma vez para a vertente do turismo experiencial, emotivo muito pronunciado neste diário.

No capítulo seguinte, abordamos a turistificação do santuário de Nossa Senhora de Lourdes no centenário das Aparições.

CAPÍTULO 6

A TURISTIFICAÇÃO