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Análise por eixos temáticos

2 CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO: CRECHES, CRIANÇA PEQUENA,

3.2 Resultados

3.2.3 Análise por eixos temáticos

Eixo 1. Concepções sobre bebê, criança pequena, sua educação e cuidado As entrevistadas, de maneira geral, apresentaram concepções sobre bebê como sendo um ser em desenvolvimento, frágil, dependente de adultos para se comunicar, comer, tomar banho, que necessitam de cuidados mais intensos e específicos (quadro 19).

Adriana se referiu ao bebê como sendo uma extensão da mãe e do pai, um ser em desenvolvimento: “Como se fosse uma parte que tivesse se dividido, uma parte que tivesse se separado, assim, que vai começar desenvolver de novo” (Adriana). Joana declarou que o bebê é uma “coisinha pequenininha”. Na conceituação de Sara, aparece também a dependência: “uma criança que depende da gente para tudo” (Sara).

Todas elas notam diferenças entre bebê e criança pequena que parecem se situar no confronto dependência x autonomia.

Quadro 19 - Concepções sobre bebê e criança pequena.

Entrevistadas Concepção de bebê Concepção de criança pequena

Adriana

“[...] extensão de outras pessoas, no caso mãe e pai ou só mãe, poucas vezes, só pai”. [...] que está em desenvolvimento”.

“Eu acho que é essa parte já em desenvolvimento mais avançado, que já tem seus próprios desejos [...] Já tem seus gostos [...]. Referências próprias, diferentes do bebê, têm menos interferência da mãe, é principalmente”.

Quadro 19 - Concepções sobre bebê e criança pequena (continuação).

Joana

“Uma coisinha pequenininha [...] um bebê requer mais cuidado do que uma criança maior, mas eu vejo meu filho como um bebê. [...] quando ele era bebezinho de colo ele dependia de mim para tudo [...] ele precisava desse cuidado muito maior [...] o bebê é um ser que requer mais cuidado”.

“Eu acho que hoje meu filho é uma criança pequena né? Ele não é um bebezinho, mas ele é uma criança em formação. Ele ainda precisa de mim para algumas coisas, enfim, ele não consegue fazer tudo sozinho. Eu acho que ele tem uma autonomia maior. Ele está com fome, ele consegue ir lá e comer alguma coisa. Mas enfim, eu acho que esta questão de autonomia é que avança um pouco nesse sentido de bebê e criança pequena”.

Sara

“[...] o bebê é uma criança que depende da gente para tudo. Depende para se comunicar, não sabe falar, está aprendendo a dar os primeiros passos [...]”.

“Acho que é a partir do momento que ela é menor [...] Menor de idade. Creio eu, que até mais ou menos uns 12 anos. Acho que pode se considerar uma criança pequena, que não responde pelos seus atos. Eh, pai e mãe estão aqui para orientá-los ainda. Eu acho que se pode considerar como uma criança pequena, por isso que diferencia entre um bebê e a criança. A criança depois de um tempo já começa a falar, se comunicar, a gente já consegue entender mais a linguagem da criança, ela é pequena, mas é criança. E o bebezinho ainda não tem toda essa artimanha”.

Fonte: Entrevistas. Quadro elaborado pela autora.

Um bebê tem até 1 ano, para as mães cujos filhos já são maiorzinhos, isto é, para Adriana e Joana. Para Sara, cuja filha tem 1 ano e 5 meses, a idade do bebê vai até os 3 anos. Apesar de certa ambiguidade na fala de Adriana, sobre a idade da criança pequena, notar que ela concorda com Joana e Sara, em torno de 6 anos. Ou seja, nota-se certa coincidência entre as idades sugeridas pelas mães, com o corte etário legal para final da pré-escola e início do ensino fundamental.

Quadro 20 - Concepções sobre diferenças entre bebê e criança pequena.

Entrevistadas Diferenças entre

bebê criança pequena

Adriana

“Tanto de cuidados, de aprendizado, de desenvolvimento, o bebê requer cuidados específicos [...] O bebê ele é exatamente dependente de uma terceira pessoa para tudo. Para comer, para higiene e até para estímulos, [...] de desenvolvimento”.

“Uma criança pequena com o desenvolvimento ela vai criando um pouco de autonomia, uma certa independência, então até de escolher, né, a roupa que vai vestir o que quer comer porque eles têm esses desejos, eles já têm, entre aspas, uma opinião assim do que eles gostam [...]”.

Quadro 20 - Concepções sobre diferenças entre bebê e criança pequena (continuação). Adriana ● Bebê até 1 ano ● Criança pequena até 7 anos

Joana

“[...] os bebês têm suas vontades, mas eles não conseguem se expressar. Você vai lá, ele come e fica tranqüilo”. ● Bebê até 1 ano

“[...] no sentido da educação, ele também exige muito mais de mim”. [...] é questão de autonomia. Hoje, meu filho escolhe a roupa que quer usar. Ele faz negativo para alimentação, eu não gosto disso, eu não quero isso.

"Meu filho, ele já consegue se expressar até os sentimentos, a raiva, o amor muito mais, de uma forma muito mais clara que antes”.

● Criança pequena até 6 anos

Sara

“[...] o bebê está começando [...] a se comunicar. No início são gestos, aponta, aperta, pega, e criança já não”. ● Bebê até 3 anos

“A criança já fala, mãe é isso, mãe é aquilo, eu quero, eu não quero, eu acho que são essas as diferenças”.

● Criança pequena até 6 anos

Fonte: Entrevistas. Quadro elaborado pela autora.

Bebês e crianças pequenas se diferenciam, sobretudo, pela autonomia dessas últimas. Portanto, mesmo quando não diretamente expresso, bebês são dependentes: “O bebê ele é exatamente dependente de uma terceira pessoa para tudo” (Adriana). Também sua comunicação “está começando” (Sara), “não conseguem se comunicar” (Joana). Já as crianças pequenas “têm, entre aspas, uma opinião sobre o que gostam” (Adriana), “os sentimentos, a raiva, o amor” (Joana), “já fala [...] eu quero, eu não quero” (Sara).

Quadro 21 - Como um bebê gostaria de ser educado e cuidado. Entrevistadas Como um bebê gostaria de ser educado e cuidado?

Adriana “Com carinho, atenção, com paciência, respeito, de uma forma tranqüila, né,

sem pressão no ambiente tranqüilo”.

Joana

“[...] um bebê ou uma criança pequena como estamos tratando aqui, eu acho que com amor, acho que tem que dar amor, segurança, mas acho que eles têm que ser respeitados por eles também. Eles têm vontades, né? Acho que é dar amor, respeito e segurança”.

Sara

“[...] Ah, para eles tudo sim. Risos! Quando a gente fala não, a gente vê uma carinha feia. Então, para eles é tudo sim. Se não tivesse a palavra não, seria tudo perfeito. [...] tem que saber educar, saber a hora de falar não, porque o sim é mais fácil e mais gostoso de falar, mas se a gente não souber a parte do não, e a parte do sim é o que eles mais gostam. Mãe quero bala, sim, mãe pode brincar, sim, aí é mais fácil, [...]”.

A explicitação dos componentes do cuidado e da educação para com o bebê aparece de modo pormenorizado nas respostas à pergunta “como um bebê gostaria de ser educado e cuidado” (quadro 21): com carinho, amor, atenção, paciência, respeito, em ambiente tranquilo, com segurança, atributos coletados nas falas de Adriana e Joana. Sara trata de um modo peculiar do atributo “respeito”, que interpretamos como respeito a vontades, individualidade. O respeito também foi mencionado por Adriana e Joana: Para Sara “[...] para eles é tudo sim. Se não tivesse a palavra não, seria tudo perfeito...” (Sara). Porém, adiante na resposta à pergunta “quais as necessidades do bebê (quadro 22), Sara também integra o coro do amor, carinho, paciência, sabedoria “a hora certa de falar um sim, a hora de dar um abraço, a hora de brincar” e de falar um não (Sara). Adriana volta a explicitar carinho e amor como já o fizera na pergunta sobre as necessidades do bebê e acrescenta: alimento, dedicação, conversa. Joana retorna ao tema da dependência e acrescenta a necessidade de atenção integral da parte do cuidador, de quem cuida. “Muitas vezes, quem faz o papel é a escola também, né?” (Joana).

Quadro 22 - As necessidades do bebê.

Entrevistadas Do que um bebê necessita?

Adriana “De tudo, de tudo, de alimento, carinho, amor, higiene, dedicação, conversa,

porque os bebês também gostam de conversas”.

Joana

“Eu acho que quase uma atenção integral. Assim, porque ele é muito dependente, então, assim, ele precisa de uma atenção muito grande, do pai, da mãe, sim. Mas, enfim, no sentido de cuidados, né? Do cuidador, de quem cuida. Muitas vezes, quem faz o papel é a escola também, né? Porque a gente não pode estar perto o tempo inteiro”.

Sara

“Amor, carinho, bastante paciência, porque eles ainda não sabem exatamente o que querem, na verdade quase nada. Então a gente está ali para direcionar. Então acho que, o amor é a primeira parte, depois vem à paciência, a sabedoria para lidar com aquilo, se a gente não tiver esses pequenos, esses pequenos dons, digamos assim, não vai. E a sabedoria, você saber lidar, saber falar um não, à hora certa de falar um sim, a hora de dar um abraço, a hora de brincar. Porque assim, eles têm muita energia. Porque é assim, tem uma hora do dia em que eu chego, que eu reservo para ela. Agora é a hora da Isadora. A gente brinca, a gente corre, a gente faz de tudo. Porque é assim, a gente percebe que eles têm essa carência, então se a gente não fizer isso. Falam que bebê é uma vez só, né? Então...”.

Fonte: Entrevistas. Quadro elaborado pela autora.

A pergunta sobre a melhor maneira de educar o bebê (quadro 23), a partir da análise das respostas, parece ter sido interpretada, pelas três entrevistadas, como

princípios gerais da boa educação, ou um ideário educacional. Adriana e Sara explicitam que se trata de uma ação compartilhada, apesar de certa nuance nas respostas: para Sara, família e escola; para Adriana, uma expansão para além do pai e da mãe: “a responsabilidade [pela educação do bebê] não pode ser só da mãe e do pai” deve envolver um coletivo (Adriana).

Quadro 23 - A melhor maneira de educar o bebê. Entrevistadas Qual seria a melhor maneira de educá-lo?

Adriana “ser no coletivo não pode ser responsabilidade só da mãe e do pai, é um coletivo de No coletivo, é eu acredito que a educação das crianças e dos bebês ela tem que pessoas, consanguíneos ou não”.

Joana

“O bebê, eu acho que desde sempre, você tem que aprender impor limites né? Eu estou vivendo uma fase bem difícil com o meu filho, sobre essa coisa, mas acho que é impondo o limite, mostrando que o limite não é uma forma de cortar ele, né? Assim, não achei uma palavra melhor para dizer, mas uma forma de educar e que ali tem muito amor também, neste processo inteiro, né? Que não é um processo só de olha, eu só brigo. Não. Eu brigo por que eu quero que você seja um cara legal. Eu quero que você cresça um adulto do bem, né? Essas coisas!”.

Sara

“Olha, a gente fala que educação, a primeira base vem de casa, né, e a segunda vem da parte de escola, essas coisas. Na parte de casa, eu acho que é o respeito, mostrar para criança respeitar o próximo, principalmente os mais velhos. Porque se eles já estão ali, eles já passaram por aquilo, então acho que ensinando eles o limite da cada pessoa é respeito, limites, humm, que mais que eu posso argumentar? Acho que o respeito em primeiro lugar, ela vai saber os limites das pessoas. [...] não sei o que te falar mais referente a isso. Acho que respeito né? Acho que é a primeira parte, saber respeitar o próximo”.

Fonte: Entrevistas. Quadro elaborado pela autora.

As entrevistadas informaram ter tido apoios variados para se informarem sobre como cuidar do bebê: amigas que tinham filhos, outros familiares, principalmente a mãe. Relataram que hoje o acesso à informação é maior que fôra antigamente, dispondo-se de outras fontes como recursos de comunicação: sites especializados em bebês, livros específicos sobre o assunto, informações obtidas junto a médicos, participação em palestras no hospital antes do parto e conversa com “amigas que já tinham filhos” (Adriana).

Quadro 24 - Instrução da mãe para a educação e o cuidado do bebê.

Entrevistadas Como se deu a instrução sobre a educação e o cuidado do bebê?

Adriana

“Com as amigas que já tinham filhos e pesquisando. Hoje temos muitos sites, muitas pessoas que escrevem sobre maternidade, tanto mães como especialistas. Diferente da época da minha mãe, né que aprendeu com a mãe, com as irmãs. Eu, por ser filha única e minha mãe está doente e não pode me ajudar tanto, então eu conversei muito com minhas amigas que já tinham filhos e fui pesquisando, lendo livros e pesquisando em sites. [...]”.

Joana

“[...] na verdade, a gente pega as experiências vividas pelas pessoas próximas e eu li um livro que chamava “Encantadores de bebês”. Eu li esse livro porque meu primeiro filho, enfim, eu e meu ex-marido, a gente não tinha experiência. E a gente não queria escutar tudo o que diziam, né. A gente queria criar nosso filho com a nossa carinha, com o nosso jeito. Aí, a gente leu esse livro e ajudou bastante”.

Sara

“[...] na minha gestação, eu tive muito acompanhamento dos meus familiares, né? Como eu acho que você sabe, mãe, pai, adoro avó, risos, sempre dá uma dica, “filha faz assim, filha faz de tal forma”. Na minha gestação, também, o médico que passei Dr. [...], ele sempre fazia palestra sobre isso, indicava como tinha que fazer tal coisa, então nessa, não foi nenhum tipo de curso, mas participei de uma palestra, no hospital, também, tem a parte de mães, que eles explicam como tem que fazer como dar os primeiros cuidados para com o bebê”.

Fonte: Entrevistas no apêndice C. Quadro elaborado pela autora.

Joana foi a única a explicitar que, a despeito de orientações e conselhos, “a gente queria criar nosso filho com nossa carinha” (Joana).

Quadro 25 - Frequência de termos relacionados ao bebê/criança e família.

Palavras Adriana Joana Sara Total

bebê(s) e crianças bebê(s) 14 18 18 50 bebezinho(s) 0 3 7 10 criança(s) 66 36 121 223 criancinha(s) 0 0 1 1 Total 1 80 57 147 284 família família(s) 10 4 8 22 familiar 2 0 5 7 familiares 3 0 2 5 mãe(s) 18 11 54 83 pai 10 4 5 19 pais 5 8 1 14

Quadro 25 - Frequência de termos relacionados ao bebê/criança e família (continuação). família Marido 0 0 1 1 ex-marido 0 2 0 2 avó(s) 0 1 5 6 sogra 0 0 3 3 ex-sogra 0 1 0 1 irmã(s) 1 0 3 4 prima(s) 0 2 2 4 sobrinha(s) 0 0 4 4 Total 2 49 33 93 175 Total 3 (1+2) 129 90 240 459

Fonte: Entrevistas no apêndice C. Quadro elaborado pela autora.

A análise da frequência no uso de termos associados a bebê/criança e família sugere algumas diferenças nos discursos proferidos pelas mulheres: o discurso de Sara é o que mais se referiu aos termos criança e bebê, e o que mais mencionou (sem ter sido quantificado) o nome da filha. Também foi o discurso que mais apresentou termos associados à família. Sugerimos, para interpretação, a idade da bebê de Sara, a criança mais nova, bem como o fato de Sara ainda não usufruir de vaga em creche, evidentemente, ao lado das peculiaridades individuais.

No conjunto do vocabulário sobre a família, o termo mais frequente é mãe, porém, com diferenças individuais: o discurso de Sara é o que ostenta-o com frequência nitidamente superior aos demais termos (58,1%), seguido do discurso de Adriana (36,7%) e o de Joana (33,3%). A idade do(a) filho(a) e a disponibilidade do uso da creche parecem descentrar, até certo ponto, o discurso dessas mulheres da figura materna, quando o tema do “diálogo” é bebê.

Eixo 2. Opções e concepções referentes às alternativas de educação e cuidado do bebê

As falas das entrevistadas integraram ou “misturaram” suas opções e experiências concretas referentes às alternativas de educação/cuidado de seu(sua) filho(a), suas expectativas pessoais a concepções mais gerais sobre bebês

genéricos e ideário sobre educação. Tal “mistura” não decorreu apenas dos estilos e experiências das entrevistadas, mas, também, do modo de formular as perguntas, pois algumas são diretas e personalizadas (“Você colocaria o bebê em uma creche em tempo integral?”) e outras mais genéricas (“Existe diferença entre creche pública e creche privada?”).

Nesse contexto de reflexões, é necessário lembrar que os filhos de duas entrevistadas (Adriana e Joana), além de já terem 3 anos, frequentam creche particular ou conveniada em tempo integral, sendo que o de Joana frequenta desde o primeiro semestre de vida e que a filha de Sara, mais nova, não conseguiu vaga em creche e estava sendo atendida pelas avós.

O fato de os filhos de Adriana e de Joana estarem frequentando creches particular/conveniada não significa que esta tenha sido a opção materna. Ambas teriam preferido que seus filhos frequentassem creche pública, não o fazem em decorrência de horário, localização e disponibilidade de vaga. Assim, as três mulheres criticaram duramente a oferta de vagas nas creches paulistanas. Vejamos as respostas para a pergunta “O que você acha da oferta de vagas em creche?”: Adriana respondeu: “Pequena né? Péssima, negligente faltam muitas vagas”. Para Joana ela é “Amadora, né? Porque são pouquíssimas, pouquíssimas. Chega a ser uma piada [...]”. E Sara que está às voltas com vaga em creche para sua filha, inclusive acionando o Conselho Tutelar, afirmou: “Ruim, é assim a procura está alta com poucas vagas” (Sara).

Assim, essas três mães negras/preta paulistanas expressam concepção positiva de creche como a conceituamos, mesmo quando não adotam o vocabulário oficial, ou quando usam terminologia ambígua, reservando o termo creche para o atendimento público.

“[...] a creche é um espaço público, né?” “Marta: O que você ouviu falar ou comentar sobre creche?”. Joana: “Então, antes a gente tinha medo da

creche, né? Porque a creche era um depósito de crianças era o que se falava. Os filhos das minhas primas frequentam e são tão estimulados quanto meu filho que frequenta uma escola particular [...]” (Joana).

Portanto, as três afirmaram que colocariam o bebê em uma creche pública; recomendariam a creche pública para outros pais, bebês e crianças pequenas. Adriana considera “acho que a criança tem que ir para a creche o quanto mais cedo possível, porque [...] é um espaço de sociabilidade”. Joana afirma que recomendaria

a creche pública “mesmo que a creche não esteja nos moldes que a gente espera, os pais têm o direito de ir lá e reclamar e fazer com que aquilo melhore, certamente”. Informa, também, que colocaria seu filho em creche pública se “estivesse de acordo com o meu horário, eu colocaria” (Joana). Sara respondeu “Sim, com certeza” colocaria sua filha em creche pública, e que recomendaria a outros bebês – “Eu acho que, já que é digamos que é um benefício, um direito nosso, eu acho que temos que usufruir dele” (Sara).

O fato de avaliarem positivamente a alternativa da creche não significa que acatem sem crítica a duração da licença maternidade considerada muito curta (quadro 26) e o tempo integral, “opção” decorrente de obrigações laborais que não corresponde inteiramente ao desejo. Sara falou: “[...] não é o que eu queria de fato, se a gente pudesse deixar só meio [período] e curtir mais um pouquinho e casa, mas a mãe e o pai trabalham, a gente passa o dia fora, então não tem como ser menos [...]”.

O tempo é um tema importante nesse momento da vida. Houve concordância de que as licenças maternidade e paternidade deveriam ter uma duração mais longa: Adriana e Sara que trabalham no setor privado e, portanto, dispuseram de apenas quatro meses, consideram que o ideal seria seis meses. Joana, que é funcionária municipal, amplia para um ano (quadro 26).

Adriana e Sara consideram que seis meses seria a idade ideal para o bebê ingressar na creche, Joana sugeriu sete meses.

Quadro 26 - Duração das licenças maternidade e paternidade por entrevista. Entrevistadas Licença maternidade Licença paternidade

Adriana

6 meses

“Porque é isso, 6 meses a criança ela já está percebendo outras coisas, ela também já indica outras coisas para você. Acho que seria mais fácil deixar aos cuidados, aos cuidados e educação de outras pessoas, também”.

6 meses

“[...] acho que teria que ser o mesmo tempo da mulher. Porque é isso, trabalhar a paternidade responsável [...]”.

Joana

1 ano

“[...] você pegaria essa fase de Ah! Ele está andando, as primeiras palavras, essa coisa toda gostosa. Você seria a primeira a ver aquilo, ninguém iria te contar o que aconteceu [...]”.

1 mês

“[...] Ele iria conhecer aquele bebê, ele iria conseguir ver o contexto das coisas que ele precisava [...]”.

Quadro 26 - Duração das licenças maternidade e paternidade por entrevista (continuação).

Sara

6 meses

“[...] Não dá para, do nada tirar ela do seio [...]”.

15 dias

“[...] depois do prazo de 15 dias dá para gente fazer muita coisa sozinha e dá para ele voltar”.

Fonte: Entrevistas. Quadro elaborado pela autora.

Para essas entrevistadas, a creche é tratada como experiência vivida. As três mulheres informaram ter conhecimento sobre creches, seja de sua vizinhança, seja a frequentada por amigos(as) e familiares, ou mesmo por ter frequentado até os 5 anos, como é o caso de Sara. Sempre levando em consideração a eventual dissonância entre o vocabulário da pesquisadora (creche) e o das mães (creche, escola, escolinha), é possível afirmar que as apreciações que serão comentadas, a seguir, envolveram, então, algum conhecimento concreto das entrevistadas.

Esta observação parece-nos importante, porque, nem sempre as pessoas falam ou escrevem sobre creches a partir de observação ou vivência in loco. A despeito dessa peculiaridade, as entrevistadas revelam incertezas e desconhecimento sobre a faixa etária: Adriana e Joana, afirmando incerteza, estipulam os 3 anos e Sara os 4 anos como idade limite para freqüentar creche.

Adriana afirma que a creche é “um serviço que é destinado às crianças”. Joana foi a única a mencionar que “é um direito da criança” e completou para enfatizar: “não é da mãe que trabalha, mas sim da criança de vivenciar, dentro daquele espaço