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O cartaz acima, foi um dos mais comentados durante os protestos, e foi utilizado após a presidente Dilma ser vaiada durante a abertura da Copa das Confederações no estádio Mané Garrincha em Brasília, em Junho de 2013, antes do jogo da seleção brasileira.

O enunciado presente no cartaz, além dos lexemas que serão analisados, por constituírem casos relevantes de ambiguidade, possui também lexemas homônimos e polissêmicos que não são relevantes para a análise, porém os apresentarei sem maiores detalhes, apenas por questão de esclarecimento. São eles: somos (ser); paciência; causa; acertou; mundo e o como casos de polissemia; os lexemas das e sem como casos de homonímia parcial; e ainda o, se, um, e, a, e que como homônimos perfeitos.

Dentre os lexemas ambíguos acima citados, dois são relevantes para análise: educação e saúde. De acordo com o dicionário Michaelis7, educação possui os seguintes sentidos8: “1. Ato ou efeito de educar; 2. Aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano; disciplinamento, instrução, ensino; 3. Processo pelo qual uma função se desenvolve e se aperfeiçoa pelo próprio exercício: educação musical, profissional etc.; 4. Formação consciente das novas gerações segundo os ideais de cultura de cada povo; 5. Civilidade; 6. Delicadeza; 7. Cortesia; 8. Arte de ensinar e adestrar os animais domésticos para os serviços que deles se exigem; e ainda”. Todos os sentidos do lexema educação possuem uma relação entre seus sentidos, estabelecendo um caso de polissemia.

Podemos observar a mesma relação entre os sentidos no lexema saúde: “1. Bom estado do organismo, cujas funções fisiológicas se vão fazendo regularmente e sem estorvos de qualquer espécie; 2. Qualidade do que é sadio ou são; 3. Vigor; 4. Força, robustez; 5. Disposição física, estado das funções orgânicas do indivíduo; 6. Disposição ou estado moral do indivíduo; 7. Bem-estar físico, econômico, psíquico e social (conceito moderno); 8. Brinde ou saudação que se faz bebendo à saúde de alguém; 9. A que apresenta alternativas de melhor ou pior. S. pública: arte e ciência que trata da proteção e melhoramento da saúde da comunidade, pelo esforço organizado dos poderes públicos e que inclui a Medicina preventiva e diversas formas de assistência social”.

Diante do contexto9 em que a frase está inserida, o leitor que possui conhecimento do que estava ocorrendo no Brasil, ao ler a primeira oração, possivelmente, irá selecionar o sentido de “civilidade” e “cortesia”, ou seja, irá entender que o povo brasileiro não possui boas maneiras, não é cortês ou polido, pois, a frase foi uma resposta ao que muitas pessoas, inclusive o presidente da FIFA10, Joseph Blatter, falaram a respeito dos torcedores que estavam no estádio durante o jogo da seleção, após as vaias à presidente Dilma. Sendo assim, seleciona-se o sentido de “pessoa não polida”, “mal educada”, devido a isotopia semântica com o item vaias. Contudo, ao deparar-se com a segunda ocorrência do lexema educação,

7 Dicionário online Michaelis. (http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 22 de fev. de 2014).

8 Na análise dos sete cartazes, serão listados apenas os sentidos mais relevantes de cada lexema, de acordo com a necessidade da análise.

9 Aqui, refiro-me a contexto extralinguístico.

10 Do francês, Fédération Internationale de Football Association (Federação Internacional de Futebol), é a entidade que supervisiona diversas federações, confederações e associações relacionadas com o futebol ao redor do mundo. (http://www.infoescola.com/esportes/federacao-internacional-de-futebol-fifa/. Acesso em: 10 de fev. 2014).

há uma reinterpretação, e assim, o sentido selecionado passa a ser outro. Assume-se, então, educação, como acesso ao sistema educacional de ensino (fundamental, médio e superior), responsável por formar e capacitar o cidadão para exercer uma profissão ou uma determinada função. A reinterpretação do lexema educação ocorre por meio da isotopia semântica com o item saúde.

Observamos também que há uma relação sincrônica entre os sentidos do lexema educação, relação do mesmo tipo existe no lexema saúde. É importante observar que, geralmente, associa-se “polidez” e “gentileza” a pessoas que são escolarizadas, ou seja, que tiveram acesso ao sistema de ensino, que condiciona o cidadão a uma formação educacional/acadêmica. E o mesmo ocorre com saúde, pois, geralmente, associamos pessoas doentes àquelas que não têm acesso à saúde, que não possuem recursos11 para tratamentos.

Outro aspecto a ser destacado, além da relação sincrônica, é o fato da relação existente entre os significados dos itens lexicais polissêmicos ser sistemática. Assim, “parece existirem classes de nomes que partilham a capacidade de exprimir conceitos da mesma ordem” (ANTUNES, 2002, p. 21) Esse é o caso dos lexemas acima citados: educação e saúde.

A título de exemplo, podemos lembrar outros itens lexicais que possuem o mesmo tipo de relação entre os significados, como Janela “abertura na parede” e “objeto que serve para tapar a abertura na parede”; e porta “abertura na parede”; e “objeto usado para tapar a abertura”; como também escola “instituição de ensino” e “edifício onde a instituição de ensino se localiza”; e banco “instituição financeira” e “edifício onde se localiza a instituição financeira”, como aborda Antunes (2002). Esse fenômeno é o que chamamos de polissemia regular, que ocorre quando “o tipo de distribuição existente entre os significados de um item lexical for comum a outros itens da mesma classe, tornando o fenômeno regular e previsível” (ANTUNES, 2002, p. 22). A mesma relação existente entre os lexemas janela e porta e escola e banco, existe, então, nos lexemas educação (sistema educacional e condição que

11Muitas vezes esses recursos são associados ao resultado da formação acadêmica, ou seja, educação. Deixando bem claro aqui que há quem tenha predisposição a alguns problemas de saúde, mesmo possuindo recursos. A diferença é que quando existem condições de tratamento, a chance de uma pessoa ser tratada e curada são maiores do que a chance de quem não tem como se tratar, por falta de dinheiro para ir a um hospital particular, ou por falta de uma saúde pública de qualidade e de fácil acesso ao cidadão.

um ser possui) e saúde (sistema de saúde e condição que o ser possui em ter o organismo saudável).

Em síntese, observamos que os sentidos dos itens lexicais polissêmicos podem co- ocorrer em um determinado co(n)texto sem que isso prejudique a comunicação. No caso, há indícios de que quem produziu o cartaz, soube, desde o início, qual o seu objetivo e qual mensagem queria transmitir.

2.3 Análise do texto 2

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A sentença do cartaz acima foi utilizado durante o jogo do Brasil contra o México, na Copa das Confederações. O cartaz é constituído apenas de linguagem verbal; contudo, para interpretarmos mais detalhadamente o conteúdo do cartaz, devemos também observar que o torcedor que o segura veste a camisa da seleção brasileira, mas usa chapéu mexicano, parecendo estar em contradição, ou indeciso quanto à sua torcida. Contudo, o motivo deste

12http://esportes.br.msn.com/copa-confederacoes/fotos/cartazes-de-protesto-chegam-%C3%A0s- arquibancadas?page=29

cartaz se deve ao fato de o mesmo ser utilizado como forma de protesto durante as manifestações no Brasil. Os torcedores decidiram protestar dentro do estádio Castelão, em Fortaleza, utilizando cartazes e aproveitando o fato de ser o jogo algo visto nacional e mundialmente. Assim, o acontecimento teve grande repercussão e ajudou a chamar mais atenção para os protestos que ocorriam na cidade de Fortaleza, e também para os protestos que ocorriam em todo o país.

Na expressão linguística do cartaz, temos a ocorrência da ambiguidade nos lexemas: o e no (homonímia); e está (polissemia). Contudo, as ambiguidades relevantes no cartaz estão nos lexemas povo e ataque. Começaremos com o item ataque, que se encontra em destaque, escrito em caixa alta e em vermelho, cor que representa a guerra e luta, e é associada ao sangue derramado. Em ataque, os sentidos podem variar em: “sm (de atacar2) 1. Ação ou efeito de atacar; assalto, investida; 2.Acusação, agressão, injúria, insulto, ofensa; 3.Os ataques da imprensa ao governo; 4. Altercação, discussão, disputa, pendência; 5. Esp Linha dianteira no jogo de futebol; vanguarda; 6. Esp Ainda em futebol, ação de levar a bola em direção ao arco contrário, com o objetivo de fazer gol”.

Além da ambiguidade em ataque, temos também a ambiguidade presente no lexema povo, que possui de acordo com o dicionário Michaelis, os possíveis significados, e esses significados se relacionam entre si: “1. Conjunto de pessoas que constituem uma tribo, raça ou nação: Povo brasileiro; 2. Conjunto de habitantes de um país, de uma região, cidade, vila ou aldeia; 3. sociol. sociedade composta de diversos grupos locais, ocupando território delimitado e cônscia da semelhança existente entre seus membros pela homogeneidade cultural; 4. Pequena povoação; 5. As pessoas menos notáveis e menos privilegiadas de uma nação ou localidade; a plebe; 6. Grande número; quantidade; 7. Família: Como vai o seu povo?”.

Se levarmos em conta a caracterização de quem segura o cartaz, podemos relacionar o chapéu mexicano, como sendo representante dos jogadores mexicanos, adversários da seleção brasileira. Assim, é possível acessarmos o sentido de povo como sendo o grupo de jogadores mexicanos partindo para o ataque, ou seja, levando a bola em direção ao arco contrário com a intenção de fazer o gol e, possivelmente, obter vitória. Uma segunda interpretação, que é a relevante, ocorre ao levarmos em conta que o torcedor está vestido com a camisa da seleção brasileira, assim, poderíamos assumir que aquele torcedor representa o povo, a nação brasileira, e ataque tem seu sentido relacionado à investida do

povo brasileiro em busca dos seus direitos, ou ainda, metaforicamente falando, representa o povo em ataque ao governo que é o adversário, com o intuito de fazer o gol e possivelmente obter vitória, ou seja, ter seus direitos respeitados.

A ambiguidade nos itens lexicais povo e ataque é um caso de polissemia, tendo em vista que o lexema povo apresenta seus sentidos relacionados entre si, da mesma forma ocorre com ataque. Com relação ao lexema povo, este substantivo não poderia ser um caso de homonímia, porque há relação entre seus sentidos; nem tampouco um caso de vagueza, pois, de acordo com a propriedade da vagueza, a escalaridade, apresentada por Aragão Neto (2012, p. 8) “alguém pode estar mais velho do que da última vez que o vimos”, mas não pode ser uma entidade menos povo, visto que a há uma escala que classifica alguém como velho, variando entre mais ou menos, mas não há como classificar alguém como entidade do tipo mais ou menos povo. Sendo assim esse, um caso de polissemia e não vagueza.

Já para aferir a polissemia em ataque, podemos recorrer ao critério de lexicalização, proposto por Moura (2001), visto que os sentidos de ataque estão previamente disponíveis no léxico, e não são produzidos pelo co(n)texto, como ocorre no caso de lexemas vagos. Na polissemia, o co(n)texto apenas seleciona um dos sentidos já existentes no léxico, não o gera. As regras linguísticas existentes no léxico “possibilitam a produção de sentidos lexicais nos diferentes contextos” Pustejovsky (1995, p. 59 apud MOURA 2001).

Assim, fica a critério do leitor selecionar um dos sentidos previamente disponíveis no léxico. Tendo o cartaz como finalidade estabelecer um diálogo entre os sujeitos, observamos que em se tratando do cartaz de protesto, a função desse diálogo é reivindicar, e nesse caso em especial, espera-se que o receptor seja não apenas uma pessoa, mas sim o público em massa (ROCHA, 2013).

2.4 Análise do texto 3

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O texto presente no cartaz, traz dois itens lexicais ambíguos relevantes: troco e bala. Primeiramente, observamos o lexema bala, e seus possíveis sentidos de acordo com o dicionário Michaelis14: “sf (ant alto - al balla) 1. Projétil de arma de fogo; 2. Blocozinho de açúcar refinado em mistura com outras substâncias e solidificado; caramelo, rebuçado”.

O destaque dado ao lexema bala, possivelmente, leva o leitor a interpretar e selecionar o sentido que considera apropriado, que nesse caso seria o de “projétil de arma de fogo”, levando em consideração que, possivelmente, a intenção de quem fez o cartaz foi associar a cor em que bala está escrito em vermelho, ao efeito que a mesma provoca ao atingir alguém (no caso, uma pessoa atingida por bala sangra). Essa interpretação ocorre pelo fato desse cartaz ser uma resposta aos policiais que estavam revidando de forma injusta aos manifestos que ocorriam naquele momento, e como forma de “conter” esses manifestantes, utilizavam balas de borracha, alegando que estas não machucavam, apenas dispersavam os manifestantes. Contudo, houve manifestante reclamando e mostrando que as balas utilizadas machucavam de fato.

13http://www.autosurf.wcsa.info/diretorio/Noticias/2013/Julho/27-07-2013_20:17:28-julejerizu-autosurf- elpais.html

Agora associando o sentido de bala ao lexema também ambíguo troco, que de acordo com o dicionário Michaelis15 pode significar: “(ô) sm (der regressiva de trocar) 1. Moedas pequenas que se dão por uma que vale tanto quanto elas; 2. Soma de dinheiro que o vendedor entrega ao comprador da coisa, como diferença entre o preço desta e o valor da moeda dada em pagamento; 3. O mesmo que troca; e ainda 4. fam Resposta, a tempo, a uma ofensa; réplica. Dar o troco: replicar a tempo, responder à letra. Dar o troco por miúdo: responder ponto por ponto, na altura; esclarecer a situação”.

Podemos interpretar a sentença como uma resposta dos manifestantes aos policias em que estes não aceitavam receber bala como resposta aos atos de “vandalismo”.

Assim, observamos que a presença da ambiguidade em troco e bala, gerada pela polissemia, foi utilizada na confecção do cartaz como recurso criativo, levando o leitor a relacionar a expressão troco em bala, utilizada pelo vendedor quando compramos algo e, como troco, nos dão bala (o doce de açúcar), ao que ocorria naquele momento, em que os manifestantes reivindicavam seus direitos, pois algumas vezes como resposta, os policiais atiravam, ou seja, faziam uso de bala (projétil). Vale também destacar, que no caso dos cartazes de protesto, a linguagem utilizada tende a expressar a subjetividade de um dado contexto social e também histórico, em que as formas de agir e pensar são comumente reveladas por meio dos discursos que se materializam no gênero em questão, que tem por finalidade discursiva reivindicar um desejo pessoal que irá refletir na coletividade. Assim, o objetivo particular do “eu”, o locutor, tem um efeito que contribui para o objetivo de um “outro”, que é referente à coletividade (ROCHA, 2013). Assim, o efeito desejado em particular do locutor, irá refletir no todo, ou seja, nos manifestantes em geral.

O enunciado presente no cartaz 3 é uma réplica, uma resposta a um enunciado que antecedeu a esse. Assim, faz-se o uso sátira para responder às ações ocorridas anteriormente. De acordo com o que aborda Camilo (2002), no artigo Minoria tenebrosa, “Maioria silenciosa”, "a eficácia do discurso do cartaz reside precisamente nesse poder de evocação de discursos anteriormente enunciados e não na relação entre tamanho e quantidade de informação", assim, nesse cartaz, fez-se o uso negativo da expressão “(me dê o) o troco em bala” como sátira em resposta aos ataques sofridos pelos manifestantes por parte dos policiais.

Os lexemas em, não e meu apresentam polissemia, este último, porém, também apresenta homonímia, pois pode ter o sentido de “cara” (referindo-se a pessoas do sexo masculino), apresentado aqui informalmente. Entretanto, estes lexemas, na expressão em que estão inseridos, não são relevantes para análise.

2.5 Análise do texto 4

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O cartaz em análise, nos traz a presença de três lexemas ambíguos relevantes para analisarmos, por permitirem mais de uma intepretação, são eles: direita, esquerda e frente. Contudo, há ainda a presença de outros itens lexicais ambíguos, eu e ir, como casos de polissemia; e o lexema é que apresenta homonímia. Todavia, não causam ambiguidade na expressão. Com isso, aqui, nos propomos a analisar apenas os lexemas que nos possibilitam mais de uma leitura da expressão linguística acima.

Assim, iniciaremos a análise listando os sentidos dos lexemas direita esquerda. De acordo com o dicionário Michaelis, o lexema direita possui os seguintes sentidos: “sf (de direito)1. Mão direita; 2. Lado direito: Coloquem-se à direita; 3. Grupo da maioria em certos parlamentos; 4. Nas assembleias políticas, a parte do parlamento que fica à direita do presidente, os conservadores; 5. Regime ou partido político de tendências totalitárias e capitalista”. Temos, portanto, um caso de polissemia, pois todos os sentidos acima incidem sobre direita.

O lexema esquerda, também possui seus sentidos relacionados entre si: “sf (fem. De esquerdo) 1. Lado esquerdo; 2. Grupo ou grupos de deputados, senadores ou membros de quaisquer assembleias que ficam à esquerda do presidente; 3. A oposição parlamentar. 4. (por extensão) conjunto dos partidos de reivindicações populares, trabalhistas, socialistas (de qualquer tipo), comunistas; e 4. À esquerda ou à mão esquerda: do lado esquerdo”.

Com isso dito, podemos fazer a seguinte leitura: o manifestante que segura o cartaz está reivindicando nas ruas o direito do cidadão brasileiro por melhorias na saúde pública, na educação, no transporte público e ainda, por uma mudança de postura dos políticos brasileiros. Com isso, a ambiguidade dos lexemas direita e esquerda nos dá a ideia de posicionamento do sujeito no espaço, ou seja, sua localização, direção a seguir.

Contudo, há uma outra leitura, que é a relevante, em que o cidadão assume a postura anti-partidária, visto que além dos sentidos de direção a seguir, ou rumo, os lexemas citados possuem também o sentido ligado à política, nos permitindo uma segunda interpretação, em que o sujeito se posiciona contra os esquerdistas, e contra os direitistas.

O lexema frente possui diversos sentidos, os que são relevantes para esta análise são: 1. Lado dianteiro de qualquer parte do corpo; 2. Lado dianteiro de qualquer coisa; 3. Vanguarda; 4. Mil Primeira fila da tropa formada; e ainda com sentido militar, extensão ou linha de território contínuo em que combatem os exércitos.”.

A associação dos sentidos referidos acima, dos lexemas direita e esquerda ao lexema frente nos leva a interpretar que o sujeito assume uma posição de vanguarda, à frente dos esquerdistas e direitistas, passando a ideia de que o melhor é ir pra frente Podemos observar também que assim como direita e esquerda são opostos se selecionarmos o sentido de direção/movimento, são opostos também com relação ao sentido político. Já o lexema frente é parcialmente oposto a estes dois. Em resumo, a intenção do locutor foi passar a ideia de

que ir pra frente é a melhor opção, pois os políticos e seus partidos não têm representado bem a população, quando seria essa a sua obrigação.

Quem acompanhou as manifestações, pode observar que não houve presença de bandeiras de partidos políticos. A postura adotada pelo povo foi uma forma de expressar sua insatisfação e descontentamento com a classe política, o que se aplica à postura adotada nesse cartaz, em que se rejeita partidarismos, ficando evidente que para o povo os políticos não os representam. Inclusive, foram vistos alguns cartazes em que a frase “fulano não me representa” foi usada como forma de reação a algumas ações que vinham sendo cometidas por alguns políticos, um deles, Feliciano17.

De acordo com o que aborda Rocha (2013), sem considerar o contexto enunciativo e histórico e as condições de produção, circulação e recepção, como também o dialogismo presente, os sentidos atribuídos aos cartazes poderiam ser outros, assim como o efeito que os mesmos causariam.

As ambiguidades dos lexemas direita, esquerda e frente, aqui analisadas, foram geradas pela polissemia, que ocorre quando há relação entre os sentidos. Vale ressaltar aqui outra característica dos lexemas polissêmicos: o co(n)texto selecionou o sentido que estava previamente disponível no léxico de cada lexema, assim, assumimos que os lexemas estão devidamente lexicalizados. Os sentidos dos itens polissêmicos co-ocorrem no co(n)texto e não causam nenhum prejuízo à comunicação, nem tão pouco, à intenção. Esta é uma das diferenças entre a polissemia e a homonímia, pois em termos teóricos comumente se afirma que na homonímia é necessário selecionar obrigatoriamente um sentido no co(n)texto.

17Deputado federal eleito com maior número de votos. Também pastor da Igreja Pentecostal. Foi eleito Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados do Brasil, cargo que exerceu durante o ano de 2013, o que gerou controvérsia pelas diversas declarações polêmicas de Feliciano, principalmente em relação a temas como direitos dos homossexuais e direito ao aborto.

2.6 Análise do texto 5

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O presente cartaz faz referência a um outro evento que ocorria no Brasil no mesmo período das manifestações, a Copa das Confederações. O país sede da Copa do Mundo tem por obrigação sediar o referido evento que ocorre um ano antes. Com isso, muitos manifestantes reivindicavam o fato de o governo brasileiro investir nesses eventos esportivos

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