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1. INTRODUÇÃO

1.2. Meta análise

Para garantir generalização de resultados obtidos em pesquisas de sujeito único para outros clientes é necessário que um experimento seja replicado diversas vezes, nenhum caso único é um “experimento crítico”. É difícil e trabalhosa a coleta de medidas repetidas que é característica essencial dos experimentos com sujeito único.

Para contornar a dificuldade de obter número representativo de filmagens de boa qualidade de sessões de psicoterapia, pensou-se na utilidade de construir uma base de dados composta de sessões gravadas, que poderiam ser compartilhadas por diferentes pesquisadores ligados a centros de pesquisa reconhecidos (Meyer, 2006). Tal iniciativa seria útil também porque nem sempre todos os dados coletados são utilizados, a relação entre trabalho e resultados é pequena sendo interessante poder usar melhor e de diversas formas uma parte tão trabalhosa das atividades do pesquisador. Mas questões éticas dificultam essa solução. A resolução do CNS 196/96 sobre pesquisas com seres humanos requer que para cada novo estudo um novo consentimento informado seja obtido. Seria difícil encontrar os participantes das sessões gravadas para obter um novo consentimento.

Enquanto soluções para esse impasse não são encontradas e adotadas, outra idéia surgiu: utilizar resultados de análises de sessões que já estivessem publicados, ou que estivessem à disposição por meio de contatos pessoais. Pelo menos quatro grupos de

38 pesquisa, além de outros pesquisadores mais isolados, estudaram sessões de terapia comportamental no Brasil: pesquisadores orientados pelo Dr. Tourinho do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará; pesquisadores orientados pela Dra. Rachel Kerbauy do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo, pesquisadores orientados pelo Dr. Roberto Banaco do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pesquisadores orientados pela Dra. Sonia Meyer do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo. A criação de um banco de dados com os resultados publicados nas teses e dissertações passou a ser um objetivo a ser alcançado. Tal banco de dados deve ser aberto e novas pesquisas devem ser agregadas sempre que encontradas e produzidas.

A este tipo de estudo é dado o nome de meta-análise. A meta-análise é descrita como uma síntese de pesquisas anteriores sobre um tópico, que apresenta ênfase na produção de conclusões quantitativas. A partir dela o pesquisador adota um novo enfoque ao reunir resultados e conclusões alheias. Os dados geralmente são provenientes de trabalhos publicados, mas podem ser obtidos de registros de diversas instituições, ou serem uma mistura desses dois tipos com dados novos, coletados pelo próprio executor da meta-análise (Luiz, 2002). Considerada uma forma quantitativa de unificarem-se estudos, a meta-análise apresenta, dentre suas principais vantagens, a possibilidade de oferecer a cientistas e teóricos uma visão global dos fenômenos – permeada por inúmeras variáveis – e de analisar resultados discordantes (aparentemente ou não) de pesquisa (Pereira, 2004). A meta-análise pode evidenciar um efeito que estudos individuais não permitem por falta de potência analítica (baixo n) (Lovatto, Lehnen, Andretta, Carvalho & Hauschild, 2007).

39 A ciência vem sendo marcada pelo princípio básico de que o conhecimento é construído de forma progressiva e cumulativa, ou seja, baseado em informações existentes e no acréscimo de resultados de pesquisa atuais às bases de conhecimento. Nas últimas décadas, tem havido, no entanto, uma explosão “desordenada e fragmentada” de produções científicas, cujos resultados não apenas diferem das verdades estabelecidas, mas, sobretudo, divergem fortemente de outros estudos. Além do uso de metodologias e bases teóricas diferenciadas, as dificuldades de replicação de estudos e a influência de erros de amostra e mensuração contribuem para este cenário, tornando mínima a possibilidade de estudos com mesma metodologia e área de aplicação obter resultados iguais (Pereira, 2004).

Ao realizar uma meta-análise devem-se tomar cuidados para verificar se as características dos diversos trabalhos não variaram significativamente em algum importante fator influente sobre a variável de interesse. Isso não inviabiliza a meta-análise, mas, se ocorrer, precisa ser incorporado de alguma forma pela técnica de análise escolhida. Para evitar que detalhes passem despercebidos é fundamental que os artigos utilizados como fonte de dados sejam lidos integralmente, e não apenas copiados os dados das suas tabelas (Luiz, 2002).

No caso dos dados serem provenientes de trabalhos já publicados, a sua obtenção é bastante simples, exatamente igual à que se utiliza em uma revisão bibliográfica comum. Não há necessidade de autorização para uso, pois os dados já são de domínio público, sendo apenas indispensável a citação correta da fonte. Isso não significa que os autores que geraram e publicaram os dados posteriormente usados em uma meta-análise irão concordar com suas conclusões. Em contrapartida à facilidade de obtenção, uma desvantagem deste tipo de dados é que raramente as revistas publicam artigos com os dados originais. Na maioria das vezes, só são apresentados os resultados

40 já analisados, na forma de estatísticas, o que limita os tipos de técnicas que poderão ser aplicadas na meta-análise (Luiz, 2002).

O pesquisador poderá ter acesso aos dados brutos de pesquisas anteriores. Em alguns casos pode-se conseguir dos autores de trabalhos publicados que forneçam os dados originais para serem submetidos à meta-análise. Um obstáculo à utilização de dados brutos é a heterogeneidade entre bases de dados, tanto dentro de uma mesma instituição, ao longo do tempo, como entre instituições. Ou seja, para uma variável que vem sendo coletada ao longo dos últimos anos por um centro de pesquisas, pode ter havido várias mudanças na forma de sua obtenção, que impeçam ou dificultem sua utilização em conjunto. O mesmo pode ocorrer, até com mais freqüência, entre centros de pesquisa distintos, que se utilizem de diferentes métodos para o cálculo do valor de uma determinada variável. Pode-se ainda associar dados antigos com dados novos, coletados pelo próprio pesquisador (Luiz, 2002).

Destaca-se como vantagem da meta-análise a possibilidade de se obter uma visão dos elementos dos multifatores determinantes, descobertas discordantes de pesquisa, bem como uma síntese de resultados diferentes. Esta metodologia nunca deverá ser considerada substituta de novas pesquisas primárias; são partes complementares de uma linha de pesquisa (Pereira, 2004).

Levando em consideração o interesse em pesquisa de processo em psicoterapia, na abordagem analítico-comportamental e o aproveitamento mais amplo dos dados de pesquisa já produzidos, os objetivos desta tese foram formulados.