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5. ESTUDO 3 - ‘SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÃO’

5.2. DISCUSSÃO SOBRE ‘SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÃO’

A ‘Solicitação de Informação’ é uma categoria presente em todos os sistemas de categorização de comportamentos de terapeutas tendo definições semelhantes, tornando os dados obtidos por diferentes pesquisas usando diferentes sistemas de categorização bastante comparáveis entre si.

‘Solicitação de informação’ pode ter duas funções principais, a de clarificar (tornar mais clara uma resposta do cliente) e a de explorar pensamentos e sentimentos. ‘Solicitação de reflexão’, considerada uma subcategoria de ‘solicitação de informação’ é mais do que solicitar descrição de pensamentos e sentimentos, é solicitar o estabelecimento de relações e a análise dos eventos em discussão. É necessário levar em conta que a ‘Solicitação de Informação’ nem sempre ocorre na forma de uma pergunta e nem toda pergunta é uma ‘Solicitação de Informação’.

Entretanto, os dados da pesquisa de Del Prette (2006) mostraram que existem diferentes funções de ‘solicitação de informação’ que pertencem tanto à própria categoria, como funções que eram de outras categorias. Quando o terapeuta faz perguntas sobre temas triviais, com o objetivo de manter a interação por meio do diálogo, demonstração de interesse pela criança e/ou atividade, verificação de preferências de objetos e assuntos e ainda permitir que a criança demonstre seus conhecimentos, mantendo-a envolvida na atividade, a função destas perguntas está mais próxima da definição da categoria ‘empatia’. Recomendações podem ser dadas na forma

155 de pergunta. Da mesma forma, Del Prette (2006) encontrou que discordâncias podem assumir a forma interrogativa. Portanto, é necessário que o leitor de estudos de análise de sessões de psicoterapia esteja atento à possibilidade de perguntas com funções de outras categorias estarem inflacionando o valor obtido.

‘Solicitação de informação’, no banco de dados, se apresentou como uma categoria com freqüência relativa bastante alta. A média das porcentagens nas 17 pesquisas do banco de dados foi 32%, variando de 10 a 55%. No início da terapia, os terapeutas, conforme se poderia esperar, fazem mais perguntas. Da primeira à quarta sessão a porcentagem média de ‘solicitação de informação’ foi igual ou superior a 40%. Da Sessão 5 até a sétima essa porcentagem foi diminuindo até alcançar um patamar de 20 a 27% que se manteve da sétima à nonagésima primeira sessão.

Os dados agrupados no banco de dados indicaram que ‘solicitar informações’ é inversamente proporcional ao tempo de experiência do terapeuta: quanto mais experiente o terapeuta, menor proporção de perguntas em relação a outras formas de intervenção, tanto nas sessões iniciais quanto no decorrer da terapia. Na primeira sessão os terapeutas experientes solicitaram, em média, 30% de informações. A partir da segunda sessão essa porcentagem situou-se entre 10 e 20%. Nas seis primeiras sessões dos terapeutas com menos de cinco anos de experiência ‘solicitação de informação’ flutuou entre 35 e 45%. Da sétima à 46ª sessão ficou na faixa dos 25 a 35%. Nas cinco primeiras sessões dos terapeutas em formação ‘solicitação de informação’ flutuou entre 50 e 63%. Da sexta em diante as porcentagens flutuaram de 30 a 40%.

O tipo de pergunta que terapeutas analítico-comportamentais deveriam priorizar foi explicitado nas pesquisas de Ireno (2007) e de Ulian (2007). As informações que deveriam ser coletadas são aquelas que permitem identificar respostas que serão alvo da intervenção devendo conter a investigação da queixa, operacionalização de

156 comportamentos problema inclusive suas dimensões e investigação da presença de comportamentos adequados. Os terapeutas devem também coletar dados pessoais e familiares, sobre o estado de saúde e medicação e a existência de tratamentos anteriores.

As perguntas devem incluir também as que permitem identificar antecedentes e história de vida relevante. Os antecedentes a serem investigados incluem estímulos discriminativos, condicionais, contextuais, além de regras, auto-regras e operações estabelecedoras. A coleta de dados abrange ainda a identificação de conseqüentes imediatos e dados relevantes da história de vida.

A pergunta realizada pelo terapeuta não é forte determinante para a informação que o cliente fornece. Essa foi a principal contribuição da pesquisa de Martins (1999). As informações prestadas podem se seguir a diferentes modalidades de perguntas não tendo necessariamente correspondência direta com aquilo que foi perguntado. Por exemplo, após uma pergunta do tipo “sim ou não” o cliente responde “sim ou não” em apenas 15% dos casos. A pergunta do tipo “sim ou não” produz praticamente todos os tipos de respostas possíveis identificadas por Martins (1999).

A formulação de perguntas pelo terapeuta está sob controle de antecedentes presentes na sessão. Del Prette (2006) mostrou que diferentes atividades com crianças favorecem diferencialmente a formulação de perguntas pelo terapeuta. Em sua pesquisa, quando a atividade era uma conversa sobre a brincadeira em curso, o terapeuta fazia bem menos perguntas do que em outras modalidades de interação. Mais pergunts eram feitas enquanto ocorria uma brincadeira paralela. Atividades de fantasia também evocaram bastantes perguntas do terapeuta indicando ser esta uma boa estratégia para conhecer melhor pensamentos e sentimentos da criança.

Na psicoterapia com adultos diferentes temas abordados também favorecem diferencialmente a formulação de perguntas pelo terapeuta. A pesquisa de Yano (2003)

157 também indicou que a modalidade de tratamento teve influência sobre o comportamento de perguntar do terapeuta. Quando o tratamento era padronizado e com duração pré-determinada, o terapeuta formulou mais perguntas sobre temas relativos à queixa principal - transtorno do pânico - do que sobre outros temas. Essa diferença não ocorreu quando o tratamento era individualizado e sem duração definida.

Foi observado menor número de perguntas sobre o tema que era espontaneamente mais abordado pelo cliente e que os temas que mais propiciaram perguntas estavam relacionados aos objetivos da terapia na pesquisa de Taccola (2007), indicando serem as perguntas uma estratégia terapêutica de modelagem de comportamentos alvo. Na pesquisa de Taccola (2007) também houve diferenças na proporção de ‘solicitação de informação’ em relação aos sentimentos. O sentimento que foi evocado por menor quantidade de perguntas foi o de tristeza, e o que foi evocado por maior proporção de perguntas foi o de raiva.

Assim, pode-se concluir que o terapeuta pergunta diferencialmente de acordo com atividade (Del Prette, 2006), tema (Taccola, 2007 e Yano, 2003) e sentimentos abordados (Taccola, 2007).

Além da função de coleta de dados, perguntas são formas de intervenção terapêutica, conforme discutido por Brandão (2003). Uma delas é a de promover auto-observação. Outra função é a de promover uma boa relação terapêutica ao demonstrar interesse por meio de perguntas. Perguntas podem, ainda, ter a função de bloqueio de esquiva, como quando o terapeuta pergunta “Existe alguma coisa que você está evitando falar ou pensar, neste momento?”

O terapeuta analítico-comportamental solicita informações sobre sentimentos e emoções de seus clientes e quando investiga a emoção ou mesmo tenta relacioná-la com

158 eventos ambientais, aumenta a probabilidade de o cliente relatá-la, confirmá-la ou negá-la, de acordo com os resultados da pesquisa de Brandão (2003).

Pedir informação mostrou-se muito mais presente imediatamente após a expressão emocional do cliente do que nas falas antecedentes e nas que aconteciam em seguida, indicando que os terapeutas da pesquisa de Brandão (2003) respondiam a expressões emocionais, mas as evocavam menos. A forma mais freqüente que os terapeutas usaram para evocar emoções foi indireta. Esta informação está de acordo com a visão Behaviorista Radical na medida em que, tendo em vista as emoções/sentimentos como meio e não como fim numa terapia (Banaco, 1999), a investigação indireta talvez traga mais informações a respeito das contingências controladoras do comportamento do cliente.

Taccola (2007) também verificou que parte das expressões emocionais do cliente ocorre após perguntas do terapeuta, dando suporte aos dados de Brandão (2003) de que o terapeuta trabalha com emoções, no sentido de solicitá-las, ou seja, enquanto antecedente da expressão emocional.

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