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3.3 Análise Comportamental de Indícios

3.3.1 Visão geral

3.3.2.2 Análise Vitimológica

Neste ponto da análise procura-se realizar um estudo completo da vítima(TURVEY, 2002, p. 137). Conhecendo seus hábitos, estilo de vida, características familiares e de ambiente, pode ajudar a afunilar uma lista de suspeitos conhecidos ou prover uma lista, quando não há suspeitos para o crime (TURVEY, 2002, p. 138). Procura-se avaliar o risco corrido pela vítima em sua rotina diária e na situação específica e o risco da ação do criminoso e o seu risco na ação considerada em si mesma.

Um dos pilares para uma correta análise da vítima é não analisá-la sob cunho moral, nem a endeusando nem a vilanizando. Endeusa-se a vítima, quando se atribuem características positivas a ela baseadas em senso comum e generalizações que podem não estar presentes na realidade, não baseando as mesmas em entrevistas e real investigação a respeito da vítima. Já a vilanização se dá quando, geralmente a vítima pertence a um grupo social marginalizado, não sendo considerada digna do esforço investigativo que se dirigiria a outra, muitas vezes considerando a vítima culpada pelo crime (TURVEY, 2002, pp. 139,140).

Para não incorrer nas generalizações acima explicitadas, deve-se partir do ponto de vista de que a vítima é um ser humano, com virtudes e defeitos, não havendo vítima que

30 Originalmente seria vitimologia, mas como esta ciência encerra um objeto muito mais abrangente que a

mereça atenção maior ou menor por sua condição. De tal forma, o construtor de perfil livra-se de preconceitos que certamente não permitiriam que ele alcançasse todos os rumos da investigação, como, por exemplo, quando a vítima de uma família de renome é assassinada e endeusada, não se pensa que ela poderia ter aspectos de sua vida ocultos de terceiros que poderiam motivar alguém a matá-la ou quando por sua condição de prostituta, ou acusado de crime, por exemplo, o investigador não provê atenção necessária à resolução do crime (TURVEY, 2002, p. 140).

3.3.2.2.1 Risco da Vítima

Esta seria a fase na qual se analisa a como o estilo de vida da vítima provê maior ou menor sujeição a correr os riscos que a levaram a situação na qual fora vitimizada (TURVEY, 2002, p. 142). As vítimas podem ser caracterizadas como de baixo risco, médio risco e alto risco. Tal avaliação é realizada levando em conta a maneira como aspectos de sua vida profissional, pessoal e social podem contribuir para a sua vitimização. Para a obtenção destes resultados investiga-se o risco que o estilo de vida da vítima lhe trouxe e o risco de incidente.

O risco do estilo de vida seria a análise de seus hábitos e personalidade em busca de atividades que, em geral aumentam o risco de uma pessoa se tornar vítima em um determinado tipo de crime. Alguns exemplos seriam os de uma pessoa irritadiça ou com baixa auto-estima, no que tange à personalidade; ou uma pessoa que se engaje em atividades sexuais consideradas promíscuas (TURVEY, 2002, p. 144).

Risco de incidente seriam fatores presentes ao momento da realização do crime que poderiam contribuir para o maior risco da vitimização. Alguns exemplos seriam: a hora e local onde o crime ocorreu, podendo ser um fator o local ermo e muito tarde da noite; o fato da vítima estar sozinha, o que a tornaria mais vulnerável. Porém cabe sublinhar que esses traços devem ser examinados no contexto das informações gerais sobre a vítima, nunca em isolamento (TURVEY, 2002, pp. 145, 146).

Neste ponto, analisa-se o quanto as ações do criminoso ao realizar a conduta aumentariam o risco de sua captura e/ou identificação perante testemunhas. Verificam-se quais obstáculos o criminoso avaliou e ultrapassou para obter acesso a vítima e evitar captura e identificação. Tal avaliação pode ser feita em um contexto geral, analisando seu modus

operandi, ou o risco do incidente para o criminoso (TURVEY, 2002, p. 146).

O Modus operandi, na questão do risco, é avaliado sob o aspecto do grau de habilidade e atos de precaução que o criminoso demonstrou na realização do crime, sendo este considerado antes do ato criminoso, durante sua comissão e após a mesma. Um modo de operação de baixo risco é percebido por aspectos como escolha de vítima cuja ausência demorará a ser percebida, como uma prostituta ou mendigo; levando a vítima para um local ermo; cometer o crime à noite, entre outros. Porém, deve-se levar em conta que um crime no qual se avalie que a vítima era de alto risco não necessariamente significa que, o M.O. do criminoso seria de baixo risco, como quando se rapta uma criança que sofre constante abuso físico; pois apesar dela estar propensa a ser vitimizada, muito provavelmente será procurada quando for levada por um terceiro, muitas vezes procurada pelos próprios vitimizadores. Já o M.O. de alto risco é aquele no qual não se levam em conta circunstâncias como as acima elencadas na comissão do crime, podendo não haver um planejamento do mesmo, muitas vezes pela má avaliação que o criminoso faz do risco do crime (TURVEY, 2002, pp. 146, 147).

Risco do incidente seria a avaliação que se faz a respeito de qual seria o risco perceptível ao autor quando este cometia o crime. Muitas vezes, ele, em uma perspectiva abstrata, pode realizar ações que sugiram cautela, porém não concretizar tais ações, como, por exemplo, quando considera estar em um local ermo com a vítima e não vê uma testemunha que pode identificá-lo. De tal modo pode-se verificar também, se um criminoso não levou em conta riscos óbvios para obter acesso à vítima, o que pode fazer com que o analista obtenha uma perspectiva sob o quanto à vítima era especificamente importante para ele (TURVEY, 2002, p. 148).

Também é importante, através das provas coletadas e das informações de testemunhas e, conforme o caso, da própria vítima, procurar estabelecer uma relação dos acontecimentos ocorridos com a vítima, preferencialmente nas ultimas 24 horas anteriores ao crime. Tal rotina é importante para entender a vítima, muitas vezes descobrir conhecidos e até mesmo descobrir como o criminoso entrou em contato com a vítima. Juntamente com a relação de eventos também é interessante traçar um mapa dos locais nos quais a vítima esteve no referido período. Tal pesquisa pode ajudar a determinar fatores como necessidade de familiaridade do ofensor com o local do crime; possibilidade da vítima ter sido vigiada, analisar na questão do risco, como já explicado etc (TURVEY, 2002, pp. 150, 151).