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A caracterização pode ser realizada por dois métodos diferentes: o método indutivo e o dedutivo. A diferença básica entre elas é o grau de certeza das premissas nas quais as conclusões se baseiam. (PETHERICK, 2006, p. 15)

A indução baseia-se na criação de premissas gerais a partir da observação de dados específicos. (THORNTON, 1997 apud TURVEY, 2002, p. 23) O método indutivo de caracterização baseia-se na análise de um certo número de crimes, analisando características gerais destes e de seus autores, verificando que em casos similares, as características dos autores também seriam similares aos dos dados que o compuseram. Geralmente a base se dá por análise de casos similares ou programa de entrevistas com criminosos já condenados, sendo o mais famoso aquele conduzido pelo FBI, ou de métodos estatísticos como os da Psicologia Investigativa, assim, verificam-se as características do caso em análise e aplicam- nas ao ofensor desconhecido. (TURVEY, 2002, p. 26) De tal forma é que o raciocínio indutivo baseia-se em probabilidades (PETHERICK, 2006, p. 16), podendo ser comparado com o raciocínio utilizado para realizar o diagnóstico de uma doença, comparando-se as características do caso investigado aos casos existentes. (TURVEY, 2002, p. 26)

Em muitos casos, tal raciocínio pode prejudicar a criação de um bom relatório e eliminar grupo de suspeitos sem uma devida filtragem, como, por exemplo, a muito utilizada dedução de que o ofensor sexual é homem, devido à altíssima proporção em favor de tal gênero, sem haver sido incluída nos dados qualquer prova material disto, como DNA ou sêmen recolhido ou limitarem-se apenas ao material entregue pelos investigadores para basear a construção do perfil, não checando o grau de sua completude. (TURVEY, 2002, p. 27)

Portanto, apesar da rapidez de sua confecção, o perfil produzido por tal metodologia, segundo Turvey (2002, p. 28), possui aspectos genéricos, o que tiraria sua confiabilidade; o

fato da base dos mesmos ser de criminoso encarcerados pode desconsiderar ofensores com maior habilidade de evitarem ser capturados, além do que tais entrevistas, em sua maioria, são feitas com um número reduzido de encarcerados e sem um grupo de controle, o que não permite um discernimento apurado das informações obtidas; o mau uso de tais generalizações por pessoas sem a devida capacidade profissional, que pode ser utilizado até mesmo para uma condenação sem as devidas provas.

A metodologia dedutiva surge a partir da crítica de Brent Turvey, ao apresentar um pensamento alternativo ao método indutivo, chamado modo dedutivo de construção de perfil, cujo representante principal é a Análise Comportamental dos Indícios. Tal linha de pensamento escora-se na utilização do método científico e pensamento crítico, procurando analisar os dados do crime investigado em sua completude.

A dedução seria a inferência de um fato particular a partir de uma regra geral. (THORNTON, 1997 apud TURVEY, 2002, p. 23)

O método científico baseia-se no princípio da experimentação, ou seja, obter a informação e testar sua validade. Tal método utiliza-se de racionalização indutiva e dedutiva; sendo que na primeira, cria-se uma idéia geral a partir de fatos isolados, e na dedução, regras aceitas geralmente levam a conclusões, sendo então que a indução é o inicio do raciocínio e a dedução é o final, sempre se procurando testar a validade das hipóteses iniciais. As teses boas resistirão a estas tentativas de falsificação e prevalecerão como corretas. (TURVEY, 2002, p. 36, 37)

Concretamente, o uso do método científico seria dividido em cinco fases: definir um problema a partir dos dados obtido na investigação; verificar, a partir da análise anterior, quais informações e indícios ainda precisam ser obtidos; criar uma hipótese, documentando as informações anteriormente recolhidas, o que Turvey faz por via da Análise Inicial; proceder a uma nova análise do material em vista dos novos indícios colhidos; analisar quais características do autor são compatíveis com as provas já existentes, descartando as características que não possam ser inferidas por tal via; construção da caracterização, baseado nas provas disponíveis. (TURVEY, 2002, pp. 43-44)

A outra base da metodologia, o pensamento crítico, seria o constante questionamento dos argumentos que são apresentados, procurando nunca aceitar uma verdade como absoluta, sempre procurando a motivação que norteia tais presunções. (TURVEY, 2002, p. 37)

No método dedutivo, a partir de premissas verdadeiras, é construída uma conclusão com boa possibilidade de ser válida, interpretando e reconhecendo padrões de comportamento que sugerem características do autor, baseando-se na análise dos indícios encontrados. (TURVEY, 2002, pp. 23, 39)

Portanto a caracterização a partir do método dedutivo seria a inferência de características psicológicas de um suspeito a partir dos indícios encontrados. A partir de indícios materiais que podem estar relacionadas ao local do crime em si, comportamento ou ao estudo das vítimas, esboçam-se características dos suspeitos. As conclusões do relatório do perfil teriam origem direta na análise das provas e indícios e o perfil teria seu foco no comportamento do agressor e não em características baseadas em outros ofensores já condenados. (TURVEY, 2002, p. 39)

Há também a lógica analítica, pela qual, a partir dos indícios chega-se a conclusões e tais conclusões são testadas cientificamente. (THORNTON, 1997, apud TURVEY, 2002, p. 40)

Baseando-se nestas premissas, percebe-se que a construção de perfil é um processo sempre sujeito a mudanças. Os indícios descobertos, seja na aplicação do perfil ou após um novo crime ser cometido são utilizados para a melhoria do perfil, podendo inclusive chegar a conclusões diversas daquelas conseguidas anteriormente. (TURVEY, 2002, p. 45)

Para tal processo funcionar de modo correto, certas qualidades são necessárias a seu aplicador: não permitir que sua intuição seja substituta para a fundamentação de seu raciocínio; evitar ao máximo que teorias pré-concebidas diminuam a abrangência das possibilidades na investigação sem que as mesmas sejam confirmadas; evitar julgamentos morais no perfil; conhecer-se bem o suficiente para que não ocorra de, inconscientemente, transferir as próprias características para vítimas ou agressor; ter consciência de que o uso do próprio senso comum para julgar outrem pode conduzir a maus resultados. (TURVEY, 2002, pp. 47-51).