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ANÁLISES DA ASSISTÊNCIA ANTIDROGAS DOS EUA NA REGIÃO ANDINA

VERSUS AMÉRICA LATINA – REGIÃO ANDINA

2 A PARTICIPAÇÃO DOS EUA NO COMBATE ÀS DROGAS NA REGIÃO ANDINA E SEU CONCEITO DE SEGURANÇA

2.7 ANÁLISES DA ASSISTÊNCIA ANTIDROGAS DOS EUA NA REGIÃO ANDINA

Nas políticas antidrogas com assistência dos EUA desde o ano 2001 ao ano 2008 predominaram cinco características:

- O desenvolvimento do programa “Avançada dentro do Sul da Colômbia”, dentro do Plano Colômbia, para desarticular a agrupação guerrilheira das FARC, que ocupava a zona cocalera de Putumayo e Caqueta na Colômbia.

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Ver INL, 2009, p. 64.

- Fazer uma abordagem macro do combate às drogas mediante o início da Iniciativa Regional Andina, para evitar um possível efeito balão, combatendo em conjunto no Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Brasil e Panamá.

- Realizar operações para proteger os oleodutos do Equador, Venezuela e o oleoduto Caño Limón Coveñas, da Colômbia.

- Formar e treinar pessoal para agências antidrogas em tarefas de interdição, fumigações aéreas e erradicações na Colômbia, Peru e Bolívia.

- Formar, treinar e outorgar equipamento de batalhões ao pessoal policial e militar para combater o tráfico de drogas e às agrupações guerrilheiras.

O orçamento outorgado pelos EUA para desenvolver tais estratégias nos países andinos Peru, Bolívia e Colômbia, é ilustrado na Figura 2-1 correspondente ao período 2000-2008:

Figura 2-1 Financiamento das políticas antidrogas dos EUA no ano fiscal (FY) 2000-2008 (milhões US$) para Peru, Bolívia e Colômbia. Fonte: Elaboração própria baseada no CRS, 2006 e INL, 2009.

0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 PC  FY2000 PC  FY2001 IRA  FY2002 IRA  FY2003 IRA  FY2004 IRA  FY2005 IRA  FY2006 ACI  FY2007 ACI  FY2008 US$  milhões

Colômbia Bolívia Peru 

Pode-se ver que os maiores orçamentos são para a Colômbia, seguida por Peru e em menor quantidade para Bolívia.

A seguir, a Figura 2-2 ilustra o financiamento que foi destinado a operações de interdição e erradicação e a Figura 2-3 mostra o financiamento destinado para desenvolvimento alternativo.

Figura 2-2 Financiamento dos EUA destinado a interdições e erradicações no FY2000-2008 (milhões US$) para Peru, Bolívia e Colômbia. Fonte: Elaboração própria baseada no CRS, 2006 e INL, 2009.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

FY 2000 FY 2001 FY 2002 FY 2003 FY 2004 FY 2005 FY 2006 FY 2007 FY 2008

US$

 milhões

anos

Colômbia Bolívia Peru

Figura 2-3 Financiamento dos EUA destinado a desenvolvimento alternativo no FY2000-2008 (milhões US$) para Peru, Bolívia e Colômbia. Fonte: Elaboração própria baseada no CRS, 2006 e INL,

2009 0 50 100 150 200 250 300 350 400

FY 2000 FY 2001 FY 2002 FY 2003 FY 2004 FY 2005 FY 2006 FY 2007 FY 2008

US$

 milhões

anos

Colômbia Bolívia Peru

As operações de interdição e erradicação foram realizadas por pessoal militar e policial. Seu financiamento nos anos 2000-2008 foi aproximadamente 200% maior em relação ao destinado para desenvolvimento alternativo.

Além disso, se financiou a formação militar (FMF), a educação e treinamento internacional militar (IMET), operação de desminagem (NARD) e fundos para o departamento de defesa (DOD), nas quantidades que ilustra a Figura 2-4 a seguir.

Figura 2-4 Financiamento dos EUA destinado para FMF, IMET, NARD, DOD, e gastos em equipamento ou treinamento militar e policial no FY2000-2006 (milhões US$) para Peru, Bolívia e

Colômbia. Fonte: Elaboração própria baseada no CRS, 2006 e INL, 2009

0 50 100 150 200 250 300 350

FY 2000 FY 2001 FY 2002 FY 2003 FY 2004 FY 2005 FY 2006

US$

 milhões

anos

Colômbia Bolívia Peru

Finalmente, a Figura 2-5 ilustra a comparação em porcentagem do financiamento desde o FY2000 ao FY2006, destinado às operações antes mencionadas. Pode-se observar que do total destinado nesse período, as operações de interdição tiveram 50% do orçamento, o FMF, IMET, NARD e DOD obtiveram 24% e uma menor porcentagem foi para desenvolvimento alternativo, com 26% do orçamento.

Figura 2-5 Comparação em porcentagem do financiamento dos EUA no FY2000-2006 para Peru, Bolívia e Colômbia em conjunto. Fonte: Elaboração própria baseada no CRS, 2006 e INL, 2009.

Interdição 50% D. Alternativo 26% FMF, IMET,  NADR, DOD 24%

Sabendo que as operações de interdição e erradicação também são feitas por pessoal militar ou policial, podemos ver que o apoio dos EUA aos países andinos no período de FY2001 a FY2008 é predominantemente no setor militar (74%) e em menor medida para o desenvolvimento alternativo (26%).

Assim tomando como ferramenta de analises os novos conceitos de segurança descritos neste trabalho, poderíamos propor que:

- A estratégia de erradicação forçada sem desenvolvimento alternativo antecipado, provoca deslocamentos, acrescentando a pobreza nas comunidades cocaleras, não permitindo assim seu desenvolvimento, o que segundo Johan Galtung poderia estar descrito em um tipo de “violência estruturada”.

- As erradicações com operações militares e policiais que causaram violação de direitos humanos e ações fora dos procedimentos legais do Estado, poderiam estar descritas no conceito de securitização de Ole Waever, no qual a manipulação de poder por parte de poucos por seu beneficio, pode ser prejudicial para outros.

- Afrontar a ameaça do narcotráfico mediante o uso de uma política unilateral, focada na redução da oferta e na participação militar, estaria indo contra os novos conceitos de

segurança como a teoria dos complexos e a noção de setores da Escola de Copenhague, que pregam uma responsabilidade compartida que envolve também aos países demandantes, e olhar outros problemas como a corrupção (setor social), e a lavagem de dinheiro (setor econômico) que o narcotráfico precisa para subsistir.

- As operações de erradicação com deslocamentos, perda de terras, fumigações com substâncias químicas nocivas para a saúde, opções de desenvolvimento pouco sustentável, casos de violação de direitos humanos, impacta no maior danificado “o indivíduo”, o qual segundo a concepção da segurança humana deveria ser o objeto central para proteger.

- A segurança política e pessoal descrita pela PNUD (1994) não é tomada em conta em casos como a limitação de ajuda para desenvolvimento alternativo na Bolívia por suas diferenças políticas com os EUA, e no fato de nomear à folha de coca como um estupefaciente igualado à cocaína, afetando assim nas costumes ancestrais e o consumo tradicional da folha pela cultura andina.

Pode-se dizer que o fato de que os Estados Unidos estabeleça que “o fluxo de drogas para seu país é considerado problema de segurança nacional” e exerça pressão e restrições sobre os países produtores de drogas ilícitas, faz com que estes países muitas vezes acabem securitizando o tratamento deste fenômeno, porque de outra maneira estariam sob o risco de se tornar eles mesmos uma ameaça para a segurança do país hegemônico, o que poderia constituir um motivo para tomada de ações de força contra eles (Tokatlian, 1998).

Muitos desses Estados periféricos ao sistema reinante, na sua procura de segurança estatal, produzem insegurança em diversos atores sociais internos, já que muitos deles são caracterizados por uma profunda deterioração dos direitos humanos e por ter Estados muitas vezes precários. Portanto, o tratamento ao problema das drogas, mediante a segurança nacional, no caso dos países periféricos ao sistema reinante poderia anunciar o aumento da violência e poucas possibilidades de resolver o problema.

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Alguns outros países enfrentam o problema com políticas sociais nas quais predomina a segurança do indivíduo, um exemplo desse caso é o Chile.

O governo chileno centra a redução do consumo e do tráfico de drogas no marco das políticas públicas (CONACE, 2003, p. 61-62). A partir da utilização de instrumentos modernos de política social, tais como a avaliação integrada de ações, a segmentação de ações de intervenção tendo em conta as especificidades geográficas e/ou setoriais e de gênero, a focalização e seletividade, concentrando esforços nos grupos mais vulneráveis. É assim que sua ação se centra na interdisciplinaridade e na formação de equipes de trabalho multidisciplinares.

Diferente é o caso mexicano, que considera o problema das drogas da mesma forma que o Peru e a Colômbia: tema de segurança nacional.

Atualmente estão-se dando enfrentamentos entre os cartéis das drogas e as forças armadas mexicanas. Embora os conflitos entre os cartéis houvessem começado muito antes, durante os anos 90, até o começo do ano 2000 as ações do governo não tinham tido maiores resultados, mas em dezembro de 2006 o novo presidente Felipe Calderón deu iniciou à operação conjunta Michoacán88, que enviou 6.500 tropas federais à área para combater o narcotráfico. Este combate é desenvolvido atualmente com a participação do exército, as forças armadas, a força aérea e a polícia federal e com o apoio dos Estados Unidos.

Poderíamos dizer, então, que o conceito de segurança nacional utilizado pelos EUA estaria afetando os novos conceitos de segurança e a segurança humana nos países andinos.

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Ver BBCMUNDO. México: Guerra al narcotráfico, dezembro de 2006. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/go/pr/fr/-/hi/spanish/latin_america/newsid_6171000/6171017.stm. Acesso em outubro de 2009.