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3.6 Análise estatística

3.6.2 Análises inferenciais

A variável independente deste estudo foi idade (com n=9 mensurações repetidas) e as variáveis dependentes foram: a) número de alcances; b) tempo de manipulação; c) atividade motora grossa (percentil AIMS). Este estudo testou, ainda, as associações entre número de alcances e tempo de manipulação, número de alcances e atividade motora grossa e entre tempo de manipulação e atividade motora grossa.

Inicialmente, a distribuição das variáveis número de alcances, tempo de manipulação e atividade motora grossa (percentil AIMS) foi examinada quanto às características gaussianas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Em seguida, testes de ANOVA simples para medidas repetidas testaram o efeito do tempo sobre as variáveis número de alcances, tempo de manipulação e atividade motora grossa (percentil AIMS). Quando se identificou efeito significativo, análise post-hoc (contraste pré-planejado) foi utilizada para localizar diferenças bivariadas (entre duas idades). Devido ao excessivo número de possíveis comparações bivariadas entre as diferentes idades (n=36), o que necessitaria de correção do nível de significância, visando controlar para erro tipo I, foram definidas, a priori, comparações entre idades com mês completo, reduzindo-se para 10 comparações. As avaliações realizadas nas idades intermediárias (4,5, 5,5, 6,5 e 7,5 meses) não foram testadas nas comparações post-hoc. Desta forma, a correção de Bonferroni foi realizada, corrigindo-se o nível de significância pelo número de comparações post-hoc (n= 10), que passou a ser α=0,005.

Análises de correlação Pearson investigaram a direção, significância e magnitude da associação entre número de alcances e tempo de manipulação, como também da associação entre número de alcances e atividade motora grossa e tempo de manipulação e atividade motora grossa, em cada uma das idades testadas. Os coeficientes de correlação foram dispostos em gráficos para visualização da progressão longitudinal dessas associações no período de quatro a oito meses. A partir da análise visual do gráfico, testes-t adaptados (ROSENTHAL; ROSNOW, 1991) foram utilizados para testar diferenças entre idades nos índices de correlação.

Modelos hierárquicos de regressão investigaram a associação entre função manual (número de alcances e tempo de manipulação) e atividade motora grossa, bem como a variação do número de alcances, tempo de manipulação e atividade motora grossa ao longo do tempo. Esse modelo estatístico é indicado para estudos longitudinais, pois considera a dependência entre as observações repetidas de cada indivíduo ao longo do tempo (LIANG; ZEGER,1986; MIRMAN; DIXON; MAGNUSON, 2008). Sua modelagem hierárquica possibilita a análise de dados que apresentam estrutura complexa de variabilidade com inter-relacionamento entre as unidades amostrais, decorrente de variáveis aninhadas, sendo possível estimar as variabilidades intra e entre indivíduos, ao longo do tempo. O modelo é construído a partir de uma variável resposta e de variáveis explicativas denominadas covariáveis.

Neste estudo, o tipo de modelo hierárquico utilizado foi o modelo linear para dados longitudinais, ajustado por meio do comando “xtmixed” disponível no software STATA®. O motivo da escolha se deve ao fato de que as variáveis dependentes (número de alcances, tempo de manipulação e atividade motora grossa) são intervalares com distribuição normal. Sua estrutura permite a análise dos dados em dois níveis. O primeiro nível considera a relação da variável resposta com cada variável explicativa, analisando a variabilidade entre indivíduos. O segundo nível considera a estrutura de correlação do indivíduo estabelecida no primeiro nível de análise, ao longo do tempo, ou seja, o segundo nível acrescenta informações sobre a variação intraindividual. A análise descrita se refere ao modelo completo. Outra possibilidade de análise com esse tipo de modelo é investigar a variabilidade da variável resposta explicada apenas pelo decorrer do tempo (variação intraindividual). Neste caso, o modelo é ajustado correlacionando-se a variável apenas com o segundo nível do modelo, ou seja, o tempo.

Foram analisados nesta pesquisa seis modelos completos, além de quatro análises com o modelo ajustado (relação da variável apenas com o tempo). Inicialmente, foram construídos três modelos completos tendo como variável resposta o número de alcances e atividade motora grossa (percentil AIMS) como covariável, nos períodos de quatro a seis meses, de seis a oito meses e ao longo das nove avaliações. Além disso, os modelos do período de quatro a seis meses e de quatro a oito meses foram ajustados para correlacionar a variável resposta número de alcances apenas com o tempo. Nessas análises foram avaliadas a variação do número de alcances explicada pelo tempo no período de quatro a seis e de quatro a oito meses, bem como a relação entre número de alcances e atividade motora grossa em três períodos de tempo.

Outros três modelos tiveram tempo de manipulação como variável resposta e atividade motora grossa (percentil AIMS) como covariável, sendo considerados os mesmos intervalos de idades das análises do número de alcances (quatro a seis meses, seis a oito meses e de quatro a oito meses). Essas análises investigaram a associação entre tempo de manipulação e atividade motora grossa em três períodos de tempo. A variação do tempo de manipulação explicada pelo tempo no período de seis a oito meses e de quatro a oito meses foi investigada pelos ajustes dos modelos correspondentes a esses períodos.

Para a análise dos dados foram utilizados os softwares STATA® versão 9.1. e o pacote Statistical Package for Social Sciences (SPSS®), versão 12.0. Em todas as análises foi considerado um nível de 5% de significância.

O perfil evolutivo de desenvolvimento individualizado dos participantes deste estudo foi graficamente demonstrado nas Figuras 6a e 6b. O eixo y corresponde ao dado bruto de cada uma das três variáveis dependentes (número de alcances, tempo de manipulação e atividade motora grossa) e o eixo X informa sobre o período de tempo de acompanhamento das crianças (avaliações longitudinais) em cada idade.

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RELAÇÃO ENTRE A FUNÇÃO MANUAL E A ATIVIDADE MOTORA GROSSA

EM CRIANÇAS NASCIDAS A TERMO, NA FAIXA ETÁRIA DE 4 A 8 MESES

RELATION BETWEEN HAND FUNCTION AND MOTOR GROSS ACTIVITY IN 4-8 MONTH CHILDREN BORN AT TERM

Título corrente: RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO MANUAL E ATIVIDADE

MOTORA GROSSA EM CRIANÇAS

Solange Figueiredo Nogueira1 Marisa Cotta Mancini2 Elyonara M. Figueiredo3

1

Terapeuta ocupacional. Mestranda do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

2

Doutora em Rehabilitation Science, Boston University. Professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

3

Doutora em Ciências do Movimento e da Reabilitação, Boston University. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

Endereço para correspondência: Marisa Cotta Mancini

Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Departamento de Terapia Ocupacional. Av. Antônio Carlos, 6.627, Campus Pampulha. Tel: (31) 3409-4790.

RESUMO

Este estudo investigou a relação entre função manual e atividade motora grossa em crianças (n=13) a termo, de quatro a oito meses, com avaliações longitudinais quinzenais. Alcances e manipulação foram extraídos de filmagens sincronizadas ao sistema Qualisys®. Atividade motora grossa foi avaliada pela Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Modelo de regressão hierárquico testou associação entre alcance e AIMS e entre manipulação e AIMS. Índices de Correlação Pearson documentaram essas relações em cada idade. Resultados revelaram associação entre alcance e AIMS (R2=0,84; p<0,001) e entre manipulação e AIMS (R2= 0,13; p=0,02), no período de 4 a 6 meses. Essas associações não foram significativas de 6 a 8 meses. Índice de correlação revelou associação significativa entre manipulação e AIMS, aos 4 meses (r= 0,56; p=0,046). Relação entre função manual e AIMS não permaneceu constante, sendo o intervalo de 4 a 6 meses um período crítico onde a associação apresentou-se forte e significativa.

Palavras-chave: desenvolvimento infantil, desenvolvimento motor, função manual, atividade motora grossa, capacidade motora nas crianças.

ABSTRACT

This study investigated the relation between development of both hand function (reaching and manipulation) and gross motor activity in 13 normally developing children born at term, evaluated every 15 days from 4 to 8 months. Amount (number) of reaches and period (time) of manipulation to a target were extracted from video syncronized with movement analysis system. Gross motor activity was measured with Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Hierachical model tested association between reaching and AIMS, and manipulation and AIMS. Pearson correlation coefficients (PCC) measured these relations in each age. Results revealed associations between reaching and gross motor activity (R2=0,84; p<0,001) and manipulation and gross motor activity (R2= 0,13; p=0,02), from 4 to 6 months. From 6 to 8 months they were not significant. Correlation coefficient revealed significant association between manipulation and AIMS at 4 months (r= 0,56; p=0,046). Relation between hand function and AIMS was not constant and the age span from 4 to 6 months was a critical period in which this association was strong and significant.

Keywords: child development, motor development, hand function, gross motor activity, children motor ability

Introdução

A relação entre o desenvolvimento da função manual e o desenvolvimento das habilidades motoras grossas da criança tem despertado interesse de psicólogos do desenvolvimento desde a década de 30 (Case-Smith et al., 1989; Cole & Cole, 2004; Heriza, 1991). Nessa época, McGraw e Gesell realizaram estudos descritivos sobre o comportamento motor de lactentes e de crianças nos primeiros anos de vida, cujos resultados nortearam a concepção da teoria neuromaturacional (Heriza, 1991; Marques & Xavier Filho, 2008).

Entre os pressupostos desta, dois referem-se diretamente à relação entre função manual e atividade motora grossa da criança. O primeiro estabelece que o desenvolvimento motor segue uma direção pré-determinada no sentido céfalo-caudal e proximal-distal. Esse postulado de direcionamento do desenvolvimento motor, iniciando proximalmente e evoluindo para regiões distais, influiu diretamente na caracterização da relação entre o desenvolvimento das habilidades motoras finas e grossas, como uma relação hierárquica e unidirecional, na qual habilidades motoras grossas seriam precursoras das motoras finas (Fetters; Fernandez & Cermak, 1989; Heriza, 1991). O segundo refere-se ao princípio da maturação individualizada, que considera a progressão do desenvolvimento motor invariante de indivíduo para indivíduo, uma vez que a fonte de mudança do desenvolvimento é endógena, controlada pela maturação do sistema nervoso central, a partir de uma sequência geneticamente determinada da concepção à vida adulta. Essa concepção atribui constância e previsibilidade, tanto ao ritmo e sequência do desenvolvimento motor grosso e fino da criança, quanto à relação entre esses desfechos ao longo do desenvolvimento da criança (Darrah et al., 1998, 2003; Piper & Darrah, 1994).

Tais concepções direcionaram formulações teóricas sobre o desenvolvimento motor, que nortearam por muitos anos a produção de conhecimento e a prática clínica (Case-Smith et al., 1989).

A tradição estabelecida até então começou a ser questionada com o surgimento de novas abordagens teóricas no início da década de 80 (Fitch; Tuller & Turvey; 1982; Gibson, 1988; Gibson & Pick, 2000; Thelen et al., 1993; Tuller; Turvey & Fitch, 1982; Turvey; Fitch & Tuller, 1982). De acordo com as tendências teóricas emergentes, as ações motoras adquiridas no decorrer do desenvolvimento surgem da interação de diversos fatores relacionados aos múltiplos subsistemas da criança, considerando-se, ainda, a demanda da tarefa e as condições do contexto, em tempo real (Newell, 1986; Smith & Thelen, 2003). Esse modelo atribui caráter relacional ao processo de desenvolvimento motor, elegendo a unidade indivíduo-ambiente como unidade básica de análise, direcionando assim a escolha de variáveis e os desfechos de investigações científicas.

Um pressuposto dessa nova abordagem teórica refere-se à dinâmica de cooperação estabelecida entre os subsistemas do indivíduo na relação indivíduo-ambiente. O elevado número de subsistemas do indivíduo, que inclui motor, cognitivo, psicoafetivo, motivacional, entre outros, associado ao ritmo diferenciado de desenvolvimento entre eles possibilita a emergência e a formação de diferentes padrões de ação, sendo que, para adaptar-se às condições ambientais vigentes e atender às demandas da tarefa, a criança usa o padrão de ação mais confortável e adequado (Smith & Thelen, 2003; Thelen & Ulrick, 1991).

Desta forma, tal abordagem prevê diferenças no ritmo de desenvolvimento entre indivíduos, bem como variação no repertório de ações motoras da criança no decorrer do desenvolvimento (Adolph & Eppler, 2002; Bertenthal, 1999). Nesse âmbito téorico, admite-se que o desenvolvimento motor é um processo não-linear, marcado por períodos

de rápidas mudanças e surgimento de novas ações motoras, assim como períodos de relativa estabilidade (Connel & Furman, 1984). Além disso, alterações em um determinado comportamento motor podem manifestar-se de forma contínua, com mudanças qualitativas e/ou quantitativas de aquisições em um dado período e também apresentar-se de forma descontínua, com rápidas modificações em outro intervalo de tempo (Fischer; Pipp & Bullock, 1984).

Os conhecimentos provenientes das novas abordagens teóricas impulsionaram a produção científica na área de desenvolvimento motor (Barreiros et al., 2008). Alguns autores investigaram a relação entre motricidade grossa e fina em crianças normais no

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