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CHEMICAL COMPOSITION BODY OF FEMALE SANTA INES DURING GROWTH

2.3. Procedimento de abate dos animais

2.3.3. Análises Laboratoriais

As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Foram realizadas as determinações de matéria seca, matéria mineral, proteína bruta e extração de gordura das amostras do corpo do animal segundo a metodologia proposta por Silva e Queiroz (2002). As amostras de cada componente corporal foram pesadas em cadinhos de porcelana e secas em estufa a 105ºC por 6 horas para a determinação de matéria seca. O resíduo do material pesado após essa etapa junto com o cadinho de porcelana foi colocado em forno mufla à temperatura de 600 ºC por quatro horas para incineração e determinação da matéria mineral. O nitrogênio total das amostras foi determinado pelo método de combustão usando-se o aparelho Leco®. A extração de gordura foi determinada usando-se o aparelho tipo Soxhlet. A quantificação do teor de gordura das amostras foi realizada pela multiplicação das perdas de gordura durante o processo de secagem, desengorduramento inicial e extração de gordura final no aparelho tipo Soxhlet.

2.3.4. Composição química corporal

A composição corporal foi determinada pela análise química dos conteúdos de água, matéria mineral, gordura e proteína nos componentes corporais analisados separadamente (carcaça, pele, cabeça e patas, vísceras, trato gastrointestinal, depósitos de gordura, glândula mamária e útero). O conteúdo corporal de energia foi obtido calculando-se a quantidade de gordura e proteína pelos equivalentes calóricos conforme proposto pelo ARC (1980).

Energia corporal = (5,6405 x Proteína) + (9,3929 x Gordura)

2.3.5. Delineamento experimental e análises estatísticas

Para o estudo da composição corporal, o delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em arranjo fatorial 3 x 2, sendo três pesos de abate (20 kg, 30 kg e 40 kg) e dois manejos nutricionais (manejo ad libitum e restrito) perfazendo seis tratamentos experimentais com seis repetições por tratamento. Os dados foram submetidos aos testes de normalidade e homocedasticidade e as análises estatísticas foram realizadas utilizando o

software R e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O modelo

estatístico utilizado foi:

Yijk = μ + Mj + Pk + MPjk + eijk em que,

Yijk = valor referente à observação da repetição i, do tratamento j e das dietas experimentais k;

μ = média geral;

Mj = efeito do manejo nutricional j (j = ad libitum e restrito); Pk = efeito do peso de abate k (k = 20 kg, 30 kg e 40 kg);

MPjk = interação do manejo nutricional j versus peso de abate k; eijk = erro aleatório associado à observação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

.

Não houve interação para o peso vivo inicial e final, peso de corpo vazio inicial e final e peso dos componentes corporais, em kg ou gramas e em % do PCVZ, em função do peso de abate e regimes alimentares (P>0,05) (Tabela 4).

Tabela 4. Pesos dos componentes corporais (em kg ou g e em % PCVZ) de cordeiras Santa Inês abatidas em diferentes pesos e submetidas a regimes alimentares distintos

Variável Pesos de abate Regime CV

δ (%) 20 kg 30 kg 40 kg Ad libitum Restrito PCVZ inicial 13,20c 17,23b 22,17a 17,32a 17,75a 8,49 PCVZ final 14,13c 22,56b 29,32a 23,19a 20,82b 8,06 PV inicial 17,51c 22,33b 28,23a 22,44a 22,94a 7,85 PV final 19,65c 28,67b 38,36ª 29,68ª 27,11b 7,51 PV jejum 19,05c 27,14b 35,59ª 28,43ª 26,09b 6,69 Carcaça (kg) 7,66c 13,12b 17,15a 13,26a 12,03b 8,60 TGI (kg) 1,215b 1,223b 1,440a 1,32a 1,27a 13,98 Pele (kg) 1,234c 1,800b 2,208ª 1,871ª 1,624b 10,48 Vísceras (kg) 1,903c 2,565b 3,215ª 2,678ª 2,443b 7,98 Cabeça e patas (kg) 1,735b 2,157ª 2,382ª 2,093ª 2,090ª 14,52 Útero (g) 30,42b 60,83ª 52,73ª 47,57ª 48,41ª 27,32 Glândula mamária (g) 35,10c 102,66b 172,84a 117,91a 89,16b 26,59 Peso de Corpo Vazio (% PCVZ)

Carcaça (%) 54,04b 58,20a 58,56a 56,77a 57,10a 3,32 TGI (%) 8,68a 5,40b 4,95b 6,17a 6,51a 14,98 Pele (%) 8,74a 7,97b 7,53b 8,22a 7,94ª 6,82 Vísceras (%) 13,56a 11,37b 11,00b 11,86a 12,09ª 7,43 Cabeça e patas (%) 12,37a 9,58b 8,15c 9,57b 10,50ª 9,98 Útero (%) 0,22ab 0,27a 0,18b 0,21a 0,23ª 26,48 Glândula mamária (%) 0,24c 0,46b 0,58a 0,46a 0,39b 22,15

Médias na mesma linha seguidas por letras distintas diferem entre si para o mesmo fator pelo teste Tukey (α=0,05). δCoeficiente de variação. PCVZ = Peso de Corpo Vazio; PV = Peso vivo; TGI = Trato gastrointestinal

Não houve diferenças para o peso vivo inicial e peso de corpo vazio inicial em função dos regimes alimentares (P>0,05) o que refletiu a homogeneidade inicial dos lotes de animais experimentais, uma vez que a padronização dos grupos experimentais no inicio do ensaio é pressuposto necessário para ensaios de exigências nutricionais. O peso vivo inicial ao abate e o PCVZ final dos animais foram influenciados pelo regime nutricional sendo constatados menores pesos para os animais com limitada ingestão de nutrientes (P<0,05) (Tabela 4). Houve diferenças em função dos pesos de abate (P<0,05) sendo observados maiores peso vivo inicial e final e PCVZ inicial e final pelos animais abatidos aos 40 kg seguidos pelos animais

de 30 kg e pelos animais abatidos aos 20 kg (Tabela 4). Os resultados demonstram uma redução dos pesos pelos animais em restrição nutricional, fato esperado, em virtude da limitação na ingestão de nutrientes e consequentemente modificação do desenvolvimento corporal dos animais. Vale ressaltar que animais submetidos à restrição nutricional buscam atingir o estádio de maturidade corporal de animais que não passaram pela restrição, seguindo-se uma priorização normal de crescimento de tecidos e modificações na composição corporal (Berg e Butterfield, 1976). No decorrer do trabalho, a partir das avaliações de composição química corporal, serão realizadas abordagens a esse respeito. Em relação às faixas de peso de abate, houve aumento progressivo a medida que se alcançou o peso alvo atingido. Ressalta-se ainda que a padronização dos resultados para ensaios experimentais em função do peso de corpo vazio, a qual é voltada para avaliação de composição química corporal e exigências nutricionais, pois permitem um índice mais preciso do conteúdo energético e de nutrientes no corpo animal pela eliminação dos efeitos do trato gastrointestinal (Owens et al., 1995).  

Pelos dados da Tabela 4 é possível observar que os pesos da carcaça, pele, vísceras e glândula mamária, em gramas, foram afetados negativamente pela restrição nutricional, com exceção do trato gastrointestinal, cabeça e patas e útero, todavia, quando expressos em % do PCVZ, apenas glândula mamária e cabeça mais patas foram afetados pela restrição nutricional (P<0,05). As maiores diferenças foram para pesos da glândula mamária (24,38%), os demais tiveram grandeza de diferenças oscilando entre 8,23 e 13,20%. A pata mais cabeça não apresentaram diferenças nos peso em função da restrição, pois geralmente são menos influenciados pelo manejo alimentar, pois trata-se de região anatômica com massa óssea proporcionalmente maior que os demais componentes. O peso dos componentes corporais diferiu em função dos pesos de abate (P<0,05). A carcaça, pele, vísceras e glândula mamária seguiram a cronologia de crescimento animal com valores distintos para os três pesos de abate. O peso do trato gastrointestinal foi maior para os animais mais pesados, ou seja, com 40 kg em relação aos de 20 kg e 30 kg. O peso do útero e cabeça e patas foram menores para os animais abatidos aos 20 kg em comparação aos com 30 kg e 40 kg. Quando expressos em % do PCVZ, os componentes de desenvolvimento precoce, como TGI e vísceras, foram maiores para os animais abatidos aos 20 kg em relação aos de 30 kg e 40 kg. Comportamento inverso refletiu para a cabeça mais patas e glândula mamária que tiveram desenvolvimento tardio com maiores proporções com o aumento do peso de abate. A proporção da carcaça foi menor para os animais abatidos aos 20 kg. A proporção do útero foi maior para os animais

abatidos aos 30 kg em relação aos animais abatidos aos 40 kg sendo ambos semelhantes aos animais abatidos aos 20 kg.

A massa dos componentes do corpo é bastante responsiva a restrição nutricional, de modo que alterações na ingestão de nutrientes, em particular energia, geralmente comprometem o desenvolvimento dos tecidos corporais. Nessa pesquisa, os componentes corporais, carcaça, pele, vísceras e glândula mamária, mostraram-se sensíveis a alteração no plano nutricional, proporcionado pela limitação no aporte de energia e proteína, modificando sua massa como tentativa de reduzir os gastos energéticos decorrentes da atividade metabólica no corpo. No caso específico de ocorrerem reduções no plano nutricional, caracterizado por uma restrição quantitativa de nutrientes fornecidos, ações em nível metabólico podem reduzir a taxa e a massa metabolicamente ativa dos tecidos (Freetly et al., 1995; Fluharty e McClure , 1997). No caso particular do TGI, cabeça e patas e útero, a restrição nutricional imposta possivelmente não foi suficiente a ponto de promover alteração na massa desses componentes do corpo dos animais ou houve a capacidade dos animais em modificar a taxa de metabolismo corporal como resposta a priorizar os nutrientes ingeridos evitando mudanças na massa desses componentes.

O estado fisiológico do animal também é fator que influencia no desenvolvimento dos componentes do corpo e pode ser importante fator na interpretação dos resultados obtidos na atual pesquisa. As respostas evidenciadas para os componentes corporais possivelmente estão associada ao crescimento do animal que tende a elevar, em termos absolutos, as estruturas corporais (Sisson e Grossman, 1986) e corroboram com os resultados obtidos por Pires et al. (2000) que observaram desenvolvimento dos constituintes corporais de cordeiros em crescimento abatidos em diferentes pesos. Segundo Sisson e Grossman (1986) o peso absoluto dos componentes não-carcaça tendem a elevar-se a medida em que o animal cresce, todavia, comportamento decrescente é verificado quando os valores são expressos proporcionalmente ao peso vivo e peso de corpo vazio. As maiores proporções dos componentes do trato gastrointestinal e vísceras (% do PCVZ) para os animais abatidos aos 20 kg em relação aos de 30 kg e 40 kg demonstram existir maior desenvolvimento de órgãos e vísceras na fase inicial de crescimento reforçando as afirmações estabelecidas por Berg e Butterfield (1976). Por sua vez, Santos Cruz et al. (2009) avaliando o desenvolvimento dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês e Bergamácia abatidos em diferentes pesos observaram que os componentes torácicos (β=0,635) e abdominais (β=0,963), apresentaram ritmo de crescimento menor que o do peso corporal vazio, ou seja, o ritmo de crescimento passou a ser lento à medida que aumentou o peso vivo. Esse resultado confirma que o trato

gastrintestinal e vísceras apresentam, de forma geral, crescimento heterogônico negativo, ou seja, desenvolvimento relativo precoce em relação ao peso corporal vazio. No trabalho realizado por Pires et al. (2000) avaliando o crescimento de constituintes corporais de cordeiros abatidos em diferentes pesos (4,12 kg, 20,93 kg, 28,30 kg e 32,57 kg) são apresentados resultados para a dinâmica do crescimento dos componentes não carcaça de ovinos. Os autores verificaram que a proporção os componentes não carcaça foram maiores para os animais abatidos com peso vivo menor.

Houve interação para o peso da gordura, em gramas e em % do PCVZ, em função do peso de abate e regimes alimentares (P<0,05) (Tabela 5).

Tabela 5. Peso e proporção da gordura, em gramas e em % PCVZ, de cordeiras Santa Inês abatidas em diferentes pesos e submetidas a regimes alimentares distintos

Pesos de abate

Gordura (g) Gordura (% do PCVZ)

Regimes alimentares Regimes alimentares

Ad libitum Restrito Ad libitum Restrito

20 kg 364,43Ca 257,23Ba 2,41Ca 1,91Ba

30 kg 1653,32Ba 1397,00Aa 7,01Ba 6,50Aa

40 kg 3374,88Aa 2027,68Ab 10,77Aa 7,31Ab

CVδ 26,46 20,56

aMédias com letras minúsculas iguais na mesma linha indicam semelhança estatística (P>0,05); AMédias com letras maiúsculas iguais na mesma coluna indicam semelhança estatística (P>0,05); δCoeficiente de variação.

Analisando-se os regimes alimentares conjuntamente, a deposição de gordura, em gramas e em % do PCVZ, foram maiores para os animais abatidos aos 40 kg seguidos pelos animais com 30 kg e pelos de 20 kg (P<0,05), ao passo que a restrição nutricional proporcionou menores pesos de gordura pelos animais abatidos aos 20 kg em relação aos demais (P<0,05). O peso da gordura diferiu em função dos pesos de abate (P<0,05). A restrição nutricional afetou negativamente o peso da gordura, em gramas e em % do PCVZ, para os animais abatidos aos 40 kg (Tabela 5). A maior quantidade de gordura para os animais mais pesados possivelmente está associada à maturidade fisiológica dos animais, em virtude do tecido adiposo ser o último depositado no corpo (Lawrence e Fowler, 2002). Desse modo, a quantidade de gordura corporal depositada pelos animais aumentou em decorrência do aumento do peso e da idade dos animais. Aliado ao mecanismo fisiológico de maturidade animal, o plano nutricional a qual os animais foram impostos também contribuiu para a deposição de tecido adiposo corporal pelos animais em virtude do suprimento dietético de nutrientes e estocagem como tecido de reserva. Baseado nisso, as observações realizadas por

Robelin e Geay (1984) estabelecem que maiores deposições de gordura no corpo dos animais refletem o aumento na ingestão de energia, de maneira que, o sítio de deposição dessa gordura, pode influenciar nos requisitos de mantença dos animais pela atividade metabólica do tecido adiposo (Owens et al., 1995). A forma como a gordura foi depositada internamente no corpo está apresentada na Tabela 9, 10 e 11. Joy et al. (2008) avaliando o efeito do sistema de alimentação sobre a composição química de componentes da carcaça e não carcaça em cordeiros evidenciaram peso da gordura de animais alimentados sob condições de pastejo em relação aos animais alimentados com concentrado, de 2,251 kg e 2,794 kg respectivamente. Os autores destacaram que o maior valor para o peso da gordura pelos animais pode ser associado ao maior ganho de peso diário para os animais alimentados com concentrado.

Não houve interação significativa para os componentes do trato gastrointestinal em função do peso de abate e regimes alimentares (P>0,05) (Tabela 6).

Tabela 6. Pesos dos componentes pertencentes ao trato gastrointestinal (em gramas e em % PCVZ) de cordeiras Santa Inês abatidas em diferentes pesos e submetidas a regimes alimentares distintos

Variável Pesos de abate Regime CV

δ (%) 20 kg 30 kg 40 kg Ad libitum Restrito Estômago vazio (g) 570,88b 662,53b 795,10a 678,33a 674,00a 13,06 Rúmen vazio (g) 355,60b 409,40b 505,02a 429,16a 417,53ª 15,76 Retículo vazio (g) 71,41c 86,25b 102,23a 86,42a 86,84ª 15,05 Omaso vazio (g) 36,03c 46,76b 58,42a 44,57a 49,57ª 21,37 Abomaso (g) 110,80b 100,97b 131,51a 115,02a 113,83ª 15,19 Intestino vazio (g) 644,70a 606,87a 645,81a 642,14a 622,78a 18,52 Int. delgado vazio (g) 430,36a 324,46b 371,01ab 384,55a 366,00a 23,34 Int. grosso vazio (g) 229,38c 271,23b 303,30a 280,38a 255,56b 9,68

Peso de Corpo Vazio (% PCVZ)

Estômago vazio (%) 4,06a 2,89b 2,72b 3,08b 3,37ª 9,71 Rúmen vazio (%) 2,53a 1,79b 1,73b 1,94a 2,08ª 12,38 Retículo vazio (%) 0,51a 0,38b 0,35b 0,39b 0,44ª 15,25 Omaso vazio (%) 0,26a 0,21b 0,20b 0,20b 0,24ª 19,52 Abomaso (%) 0,78a 0,45b 0,45b 0,54b 0,58ª 11,74 Intestino vazio (%) 4,62a 2,69b 2,23b 3,09a 3,27ª 22,50

Int. delgado vazio (%) 3,09a 1,44b 1,28b 1,92a 1,96ª 29,24 Int. grosso vazio (%) 1,64a 1,20b 1,04b 1,29a 1,30ª 12,82

Médias na mesma linha seguidas por letras distintas diferem entre si para o mesmo fator pelo teste Tukey (α=0,05). δCoeficiente de variação.

A restrição nutricional não afetou a massa dos órgãos que compõem o trato gastrointestinal (P>0,05), com exceção do intestino grosso (P<0,05). Quando expressos em % do PCVZ, a restrição nutricional afetou a massa do estômago, retículo, omaso e abomaso (P<0,05), promovendo maiores valores quando os animais foram submetidos à limitação de

nutrientes. A massa dos componentes do trato gastrointestinal, em gramas, diferiu em função dos pesos de abate (P<0,05) com cada componente respondendo de forma diferente ao aumento do peso animal, todavia, quando expressos em % do PCVZ, os resultados evidenciaram maiores proporções para os animais com 20 kg (P<0,05) (Tabela 6).

No presente estudo, é possível que a restrição nutricional imposta aos animais não tenha sido suficiente para promover alteração na massa dos componentes do trato gastrointestinal, exceto para o intestino grosso. Os órgãos que compõem o sistema digestório demandam muita energia, e, sob restrições severas, o animal tende a reduzir sua dinâmica de crescimento, preservando o desenvolvimento de órgãos que sejam vitais à sobrevivência. O trato gastrointestinal possui atividade metabólica elevada, principalmente por participarem no metabolismo de nutrientes, podendo sofrer modificações em resposta à ingestão de energia (Ferrel e Jenkins, 1998). Segundo Van Soest (1994) a massa dos componentes do rúmen e retículo sofre influencia de fatores dietéticos, principalmente em virtude do teor de energia da dieta. Mesmo sofrendo uma restrição quantitativa de nutrientes, os animais em restrição nutricional mantiveram a integridade e desenvolvimento dos componentes estomacais priorizando a utilização dos nutrientes. Os dados obtidos nessa pesquisa reforçam a constatação obtida por Fontenele et al. (2010) em estudos com ovinos da raça Santa Inês machos, alimentados com diferentes níveis de energia metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal de EM/kg de MS) e com os resultados observados por Camilo et al. (2012) trabalhando com ovinos Morada Nova machos, alimentados com diferentes níveis de energia metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal de EM/kg de MS) em que os autores não constataram diferenças entre componentes do trato gastrointestinal dos animais, em gramas, com aumento do nível de EM na dieta.

O crescimento animal também pode refletir em mudanças no peso absoluto dos componentes do trato gastrointestinal em termos quantitativos, refletido nessa pesquisa pelo avanço do peso de abate. Dessa maneira, à medida que o animal ganha peso, seus tecidos sofrem acréscimo no número e no tamanho das células acarretando em maiores atividades metabólicas, decorrente dos processos de hiperplasia e hipertrofia celulares ligadas ao crescimento e desenvolvimento do animal e incrementando atividade celular e consequentemente elevando as demandas energéticas desses tecidos (Lawrence e Fowler, 2002). Todavia, ao analisar a massa dos componentes em relação ao peso de corpo vazio, % do PCVZ, a menor proporção com o aumento do peso de abate dos animais pode ser resultante do desenvolvimento precoce de órgãos internos na fase inicial de crescimento animal, ao passo que, com a elevação do peso animal há uma redução proporcional da massa

do órgão em relação ao animal inteiro. Segundo Berg e Butterfield (1976) observam-se precocidade no crescimento de órgãos na fase inicial de crescimento do animal diferenciando em relação a estruturas envolvidas nos processos de locomoção e armazenamento que apresentam desenvolvimento tardio (Jenkins e Leymaster, 1993). Tal fato foi observado no estudo realizado por Santos-Cruz et al. (2009) avaliando o desenvolvimento dos componentes do peso vivo de cordeiros Santa Inês e Bergamácia abatidos em diferentes pesos. Os autores constataram para os componentes intestinais (β=0,963) ritmo de crescimento menor que o do peso corporal vazio, ou seja, o ritmo de crescimento passou a ser lento à medida que aumentou o peso vivo, ou seja, o crescimento foi heterogônico negativo ou desenvolvimento relativo precoce em relação ao peso corporal vazio.

Houve interação significativa para a massa do fígado e diafragma em função do peso de abate e regimes alimentares (P<0,05). O desdobramento da interação está apresentado na Tabela 8. Não houve interação significativa para os demais componentes do sistema visceral em função do peso de abate e regimes alimentares (P>0,05) (Tabela 7).

Tabela 7. Massa dos componentes pertencentes ao sistema visceral (em quilos ou gramas e em % PCVZ) de cordeiras Santa Inês abatidas em diferentes pesos e submetidas a regimes alimentares distintos

Variável

Pesos de abate Regime

CVδ (%) 20 kg 30 kg 40 kg Ad libitum Restrito Bexiga (g) 10,80b 12,77ab 16,00a 12,48a 13,89ª 31,03 Vesícula (g) 2,32a 2,44a 2,71a 2,72a 2,26ª 28,17 Pâncreas (g) 31,07b 32,84b 45,68a 36,37a 36,69ª 16,96 Rins (g) 64,82c 73,72b 86,13a 79,07a 70,70b 9,57 Baço (g) 31,23c 51,68b 68,78a 53,42a 47,70ª 23,45 Língua (g) 61,07b 84,96a 84,71a 78,44a 75,38ª 28,12 Coração (g) 91,25c 119,83b 139,80a 121,91a 112,01b 12,21 Pulmão (g) 232,99c 283,46b 336,22a 300,31a 268,14b 10,80 Traqueia e esôfago (g) 127,09b 182,68a 203,49a 164,36a 177,82ª 21,04 Sangue (g) 887,63c 1239,20b 1621,04a 1287,87a 1210,71a 10,89

Peso do Corpo Vazio (%PCVZ)

Bexiga (%) 0,08a 0,06a 0,06a 0,06a 0,07a 36,24 Vesícula (%) 0,02a 0,01b 0,01b 0,01a 0,01a 29,61 Pâncreas (%) 0,22a 0,15b 0,16b 0,17a 0,18a 20,01 Rins (%) 0,46a 0,33b 0,30b 0,37a 0,36a 14,99 Baço (%) 0,22a 0,23a 0,24a 0,23a 0,23ª 21,45 Língua (%) 0,44a 0,38ab 0,29b 0,35a 0,38a 25,64 Coração (%) 0,65a 0,53b 0,48b 0,55a 0,56ª 10,20 Pulmão (%) 1,66a 1,26b 1,15b 1,35a 1,36ª 10,62 Traqueia e esôfago (%) 0,91a 0,82ab 0,70b 0,74b 0,88ª 21,60 Fígado (%) 1,99a 1,56b 1,46b 1,78a 1,57b 11,91

Diafragma (%) 0,59a 0,56a 0,61a 0,61a 0,57b 9,74

Sangue (%) 6,33a 5,49b 5,55b 5,65a 5,92a 10,12

Médias na mesma linha seguidas por letras distintas diferem entre si para o mesmo fator pelo teste Tukey (α=0,05). δCoeficiente de variação.

A restrição nutricional não afetou a massa dos órgãos que compõem o sistema visceral, com exceção dos rins, coração e pulmão (P<0,05). Quando expressos em % do PCVZ, a restrição nutricional afetou a massa da traqueia mais esôfago, ocasionando maiores valores para os animais que tiveram limitação no fornecimento de nutrientes (P<0,05) (Tabela 7). A massa dos componentes viscerais, em gramas, diferiu em função dos pesos de abate, sendo que cada componente apresentou desenvolvimento distinto, conforme a elevação do peso animal (P<0,05). Não houve diferenças para a massa da vesícula, considerando-se os pesos de abate (P>0,05) (Tabela 7). A massa da vesícula, pâncreas, rins, coração, pulmão e sangue, expressos em % do PCVZ, foram maiores para os animais abatidos aos 20 kg quando comparados aos demais pesos de abate (P<0,05). Para língua, traqueia e esôfago, maiores proporções foram observadas para os animais abatidos aos 20 kg em relação aos com 40 kg, sendo ambos semelhantes aos de 30 kg (P<0,05). A bexiga, baço e diafragma não sofreram efeito do peso de abate (P>0,05) (Tabela 7).

No presente estudo, possivelmente o nível de restrição nutricional imposta aos animais não foi suficiente a ponto de promover alteração na massa dos componentes viscerais dos animais experimentais, exceto o peso dos rins, pulmão e coração. Esses órgãos que desenvolvem papel central no metabolismo corporal e modificam sua massa e atividade metabólica pela mudança no plano nutricional. Diante disso, a limitação no aporte nutricional realizada nessa pesquisa e consequentemente a redução na ingestão de nutrientes, tais como energia e proteína, podem ter comprometido o desenvolvimento dos órgãos de natureza metabólica. Os rins, por exemplo, tem atividade metabólica alta, principalmente por participarem no metabolismo de nutrientes, podendo sofrer modificações em resposta à ingestão de energia (Ferrel e Jenkins, 1998). A massa do pulmão e coração, em gramas, também reduziu com o fornecimento de uma alimentação com limitada oferta de nutrientes, provavelmente devido à participação especifica desses órgãos no metabolismo corporal, sendo responsivos à ingestão de energia e reduzem o tamanho dos componentes viscerais, como forma de reduzir os gastos energéticos (Black, 1989).

A condição fisiológica do animal pode influenciar o desenvolvimento dos componentes do corpo. De acordo com os dados obtidos na atual pesquisa, observaram-se aumento na massa dos órgãos que compõem o sistema visceral à medida que se elevou o peso de abate dos animais e possivelmente essa resposta está associada ao desenvolvimento do

animal, permitindo ocorrer alterações na estrutura dos tecidos viscerais em termos quantitativos. Dessa maneira, à medida que o animal ganha peso, seus tecidos sofrem acréscimo no número e no tamanho das células, podendo resultar em maiores atividades metabólicas (Sisson e Grossman, 1986). A hiperplasia e hipertrofia celular ocorrem em função do crescimento e desenvolvimento do animal promovendo aumento no metabolismo celular associado ao incremento nas demandas energéticas desses tecidos. Segundo Ferrell et al. (1986) a atividade metabólica do órgão acompanha o metabolismo por unidade de tecido e tamanho do mesmo. No caso específico do coração e pulmão, órgãos de intensa atividade metabólica, a massa desses órgãos em função dos pesos de abate evidenciam o aumento na