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1. INTRODUÇÃO

3.2 ANÁLISES TAXONÔMICAS

Foram separados 100g de cada amostra para extração dos glomerosporos, por meio do método de peneiramento úmido (GERDMANN; NICOLSON, 1963) usando duas peneiras com abertura na malha de 150 mm/um e 63 mm/um, centrifugação em água e sacarose 50% (JENKIS, 1964). Os esporos separados em lupa óptica montados em lâminas com PVLG (ácido polivinílico lacto glicerol) e PVLG + reagente de Melzer, secos em estufa a 70ºC por aproximadamente 24h e encaminhados para subsequente visualização em microscópio óptico e identificação morfológica (figura 10), seguindo as chaves de Goto (2009), Schenck & Pérez (1990) e demais literaturas de descrições de espécies.

Figura 10. A – coleta de solo rizosférico (RDSE Ponta do Tubarão); B – montagem

de cultura armadilha na casa de vegetação da UFRN; C – peneiramento úmido e centrifugação em sacarose; D – separação dos esporos em ácido lático; E – Montagem de lâminas em PVLG e PVLG + Melzer; F –

identificação das espécies de acordo com as chaves de identificação; G – Paradentiscutata maritima (espécie encontrada nas amostras da restinga). (Fonte: autoria própria)

3.3 ANÁLISES ECOLÓGICAS

As análises ecológicas de riqueza, diversidade, equitabilidade e similaridade, foram feitas pelo cálculo dos índices de Simpson (D= 1/ Σpi2), Shannon-Wiener (H’ = -Σ pi ln pi), Pielou (J=H'/Hmax) e Jaccard (J=Scom/S), respectivamente, usando o software Past (versão 3). Os dados físico-químicos do solo, avaliados na EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN), usados, para a matriz ambiental, são: pH (1:25 em água), salinidade (1:5 dS.m-¹), P (mg.dm-³), N (g.dm-³), Mg (cmolc.dm- ³), Al(cmolc.dm-³), K (mg.dm-³). Tais dados foram obtidos para comparação da riqueza e abundância das espécies, relacionando os resultados da diversidade e da comunidade identificada com os fatores de influência presentes no solo.

Os dados da matriz de espécie foram transformados por meio da função “hellinger” no software R (versão 3.2.1) e os dados ambientais foram transformados pela função “standardize” pelo R. Antes disso usou-se o programa Past (versão 3) para normalizar a matriz ambiental, o Nitrogênio foi normalizado por box copy, e os outlier foram retirados para três variáveis: pH, Mg e K, sendo substituído pela média do transecto ao qual os outlier pertenciam. Por fim foi feito uma RDA (Redundancy Analysis - Análise de Redundância) para correlacionar á matriz ambiental e de espécies (figura 14).

4. RESULTADOS

4.1 TAXONOMIA

Um total de 24 espécies foi encontrado ao longo do contínuo (tabela 01). Todas estas espécies ocorrem na restinga e apenas 11 delas ocorrem na caatinga (figura 11).

Tabela 01: Espécies de FMA encontradas ao longo de todo estudo e suas

respectivas famílias. ESPÉCIE FAMÍLIA Acaulospora sp.1¹ Acaulosporaceae Acaulospora sp. 2¹ Acaulospora sp. 3 Acaulospora sp. 4

Acaulospora cf. herrerae Furrazola, B.T.Goto, G.A.Silva, Sieverd. & Oehl¹

Acaulospora reducta Oehl, B.T. Goto & C.M.R. Pereira

Acaulospora cf. spinosissima Oehl, Palenz., Sánchez-Castro, Tchabi, Hount. & G. A. Silva

Ambispora sp.1¹ Ambisporaceae

Cetraspora sp.1¹

Racocetraceae Cetraspora gilmorei (Trappe & Gerd.) Oehl, F.A. de Souza &

Sieverd.

Fuscutata rubra (Stürmer & J.B. Morton) Oehl, F.A. Souza &

Sieverding ² Dentiscutataceae

Dentiscutata hawaiiensis Koske & Gemma Gigaspora cf. albida N.C. Schenck & G.S. Sm.¹

Gigasporaceae Gigaspora margarita W.N. Becker & I.R. Hall¹

Scutellospora sp.1¹ Scutellosporaceae Scutellopora sp. 2¹ Rhizoglomus sp.11 Glomeraceae Sclerocystis sp.1¹

Septoglomus furcatum Błaszk., Chwat & Kovács, Ryszka¹ Septoglomus sp.1

Septoglomus sp. 2 Glomus sp.1 Glomus sp.2

Paradentiscutata maritima B.T. Goto, D.K. Silva, Oehl & G.A.

Silva Intraornatosporaceae

1 Espécies encontradas exclusivamente na restinga.

Figura 11. Presença das espécies em cada área, com sua representação em

número de esporos encontrados.

Oito (8) famílias foram registradas nesse estudo (figura 12), das 15 famílias existentes no filo Glomeromycota. Para as famílias Acaulosporaceae, Ambisporaceae, Gigasporaceae, Glomeraceae e Scutellosporaceae a restinga apresentou maior número de espécies que a caatinga, sendo as famílias Ambisporaceae e Gigasporaceae exclusivas da restinga (figura 12).

Figura 12. Número de espécies por família para cada ambiente coletado (restinga e

caatinga).

Quanto à sazonalidade das coletas para as ambas as áreas (período pós- chuva e período seco), o número de esporos encontrados durante o período seco foi maior para a maioria das espécies na catinga, assim como na restinga (figura 13).

Figura 13. Número de esporos por espécie em cada estação de coleta

4.2 ÍNDICES DE BIODIVERSIDADE

A similaridade aferida pelo índice de Jaccard para as duas áreas foi de 0,48; o que demonstra que as áreas possuem cerca de 50% de similaridade, já que todas as espécies encontradas na caatinga também ocorrem na restinga, mas o inverso não é verdadeiro.

Expressando riqueza e uniformidade, a área mais diversa, segundo o índice de Shannon-Wiener, foi a restinga, com valor de H’= 2,78, enquanto a caatinga possui H’= 1,17. O índice de Pielou, o qual utiliza dos valores de h’ do Shannon- Wiener, mostrou uma equitabilidade de 0,91 para a restinga e de 0,49 para a caatinga, indicando que a restinga possui a riqueza de espécies e abundância delas mais equilibradas entre si do que as espécies da caatinga. A riqueza de Simpson foi de 0,92 na restinga e 0,48 na caatinga, mostrando que a restinga possui maior riqueza do que a caatinga.

Os dados ambientais aferidos no solo, com seus parâmetros físico-químicos analisados, demonstram que sua influência na distribuição de espécies no contínuo não é significativa (figura 14). Essa influência dos dados ambientais sobre a distribuição das espécies foi de 20% analisada pela Análise de Redundância, onde os eixos mais significativos foram o RDA1 (eixo X) e RDA2 (eixo Y) os quais tiveram como maior representatividade a salinidade e o pH, respectivamente, esses eixos pela baixa influência demonstram um intervalo baixo para a distribuição das espécies.

Figura 14. Análise de RDA de correlação entre a matriz ambiental e a riqueza e

abundância das espécies.

4.3 DESCRIÇÃO DE ESPÉCIES

Duas espécies encontradas são aqui descritas, uma por ser uma espécie nova, a Acaulospora sp.2, e a Dentiscutata hawaiiensis por ser seu primeiro achado no Brasil, além de que sua descrição histórica foi apenas morfológica e como continuação deste trabalho tem-se a pretensão de sequenciar a região LSU/ITS/SSU.

Seus Glomerosporos são globosos (entre 45-104 μm) a subglobosos com média de 49x43 μm de diâmetro. Coloração marrom escuro, castanho avermelhado e castanho alaranjado. Com três (3) paredes externa, média e interna (ex, med e in), cada uma contendo duas (2) camadas. Presença do sáculo esporífero em alguns esporos. Figura 15.

Primeira camada da parede externa (ex1) com coloração alaranjada, com ornamentações nesta camada, em forma de sulcos irregulares, com espinhos seu no interior, em quantidades ≥ 7. Entre as depressões a camada permanece, formando dessa forma o que parece vales e picos ao longo de todo o esporo. A segunda camada (ex2) é expansiva de coloração vermelho mais intenso a laranja, o que torna a segunda camada, quando nessa coloração mais laranja, difícil de ser distinguida da primeira camada que já possui essa cor.

A parede média (med) é de difícil visualização e possui duas camadas, e ambas são hialinas e semi-fléxiveis, altamente aderidas a parede interna. A parede interna possui duas camadas também, ambas são hialinas, semi-flexiveis, a primeira (in1) laminada, (in2) é “beaded”.

Outra espécie do mesmo gênero foi encontrada ao longo deste estudo, a Acaulospora reducta, que comparando suas características com a espécie nova, vemos esporos formados a partir do sáculo esporífero (típico do gênero), globosos a subglobosos, com coloração marrom a castanho amarelado. Diâmetro dos glomerosporos variando de 137,44 - 149 μm, ornamentações em depressões ao longo da primeira parede (ex). Presença de três paredes nos esporos, sendo a parede média e interna de dificil vizualização por ser aderidas, e com coloração hialinas.

Figura 15: A-F Acaulospora sp.2, A-C: esporos montados em PVLG. D-F: esporos

montados em PVLG + reagente Melzer. Siglas: (orn) ornamentação em forma de sulcos com espinhos no seu interior, primeira camada da parede externa, (ex) parede externa, (ex1) primeira camada da parede externa, (ex2) segunda camada da parede externa, (in) parede interna, (med) parede média, (med1) primeira

camada da parede média, (med2) segunda camada da parede média, (sac) sáculo esporífero. (fonte: autoria própria)

Dentiscutata hawaiiensis (Koske & Gemma)

Glomerosporos isolados, formado na base do bulbo suspensor, com coloração marrom escuro, alaranjado ou laranja escura. Globosos a subglobosos, em média de 245,8 μm, com três (3) paredes: externa, média e interna.

A primeira parede (ex) formada por duas (2) camadas, a camada mais externa (ex1) é de coloração marrom alaranjado a marrom avermelhado, unitária, a segunda camada (ex2) é laminada, hialina a amarelo claro. A segunda parede (med) constitui-se de duas (2) camadas: (med1) é coriácea e hialina, já a segunda camada (med2) é chanfrada, ou seja, que se quebra em forma de V (típica dessa espécie) e hialina. A última parede (in) também é formada de duas camadas (2): hialina e coriácea (in1), hialina e amorfa (in2).

Figura 16: A-F Dentiscutata hawaiiensis, A-C: esporos montados em PVLG. D-F:

esporos montados em PVLG + reagente Melzer. Siglas: (ex) parede externa, (ex1) primeira camada da parede externa, (ex2) segunda camada da parede externa, (in) parede interna, (med) parede média, (med1) primeira camada da parede média, (med2) segunda camada da parede média, (bs) bulbo suspensor, (hif) hifa do bulbo suspensor. (fonte: autoria própria)

5. DISCUSSÃO

Este estudo registrou 24 espécies na restinga, destas, apenas 11 estão presentes na caatinga, e uma delas exclusiva para o bioma Caatinga. Segundo o site de inventário de plantas e fungos no Brasil, Flora do Brasil (2017), não há até o momento nenhum registro de Fungos Micorrízicos Arbusculares na caatinga do estado, para os demais estados do nordeste, já foi inventariado o número de: 86 espécies na caatinga e 36 na restinga. O que nos confirma que o bioma caatinga tem sido estudado amplamente pelo nordeste (semiárido) do país, enquanto o RN concentra e restringi suas coletas e estudos às áreas costeiras e vegetação de restinga (mata atlântica).

Os espécimes vegetais, cujo solo rizosférico foi coletado, variam de vegetação herbácea na restinga à vegetação arbustiva com presença de cactos e bromélias na caatinga. Nosso trabalho apontou maior riqueza e abundância das espécies nas áreas de coleta da restinga, cuja vegetação era predominantemente herbácea. Segundo Silva (2013), o tipo de formação de esporo seguiu uma linha de predominância no tipo de vegetação da restinga, onde: restinga arbórea apresentou 70% de espécies glomóides, e predominância de espécies gigasporóide na restinga arbustiva. No entanto, somente o tipo de vegetação não pareceu influenciar as populações de FMA, neste trabalho, assim essa influência não esta bem estabelecida.

O estudo de FMA em restinga e dunas costeiras já foi realizado no sul e sudeste do Brasil, variando de 12 a 47 espécies descritas (TRUFEM; VIRIATO, 1990; CÓRDOBA et al., 2001, TRUFEM, 1995). No nordeste brasileiro 46 espécies foram descritas por Jobim & Goto (2016), distribuídas em 10 famílias distintas, em estudo de áreas de dunas marítimas costeiras. O presente trabalho identificou espécies de 8 destas 10 famílias anteriormente identificadas (figura 12): Glomeraceae, Acaulosporaceae, Gigasporaceae, Scutellosporaceae, Ambisporaceae, Racocetraceae, Dentiscutataceae e Intraornatosporaceae, todas encontradas na restinga e cinco delas na caatinga (as famílias Ambisporaceae e Gigasporaceae não foram encontradas na caatinga). Ambas as áreas (restinga/caatinga) apresentam as famílias Glomeraceae e Acaulosporaceae como

mais representativas com número de espécies (figura 11). Este dado corrobora outros achados em dunas do nordeste, por exemplo, Silva (2013) registrou em seu trabalho a presença de espécies de Glomus e Acaulospora, em 60% das espécies inventariadas, que totalizaram o número de 50 espécies encontradas em áreas de dunas do litoral da Paraíba, município de Mataraca.

De fato, o gênero Acaulospora parece ser muito bem representado em ambientes costeiros, sendo representados por espécies já descritas e bem conhecidas, assim como espécies novas. Neste trabalho detectamos uma espécie nova para o gênero Acaulospora, e sua descrição e publicação estão em andamento. Esta nova espécie apresenta algumas peculiaridades em relação a outras espécies do gênero, como a A. reducta; o tipo de ornamentação é a principal diferença morfológica entre elas, já que a Acaulospora sp.2 possui ornamentação em forma de depressões preenchidas por espinhos. Apesar de morfologicamente distintas, o sequenciamento da região ITS, com primers descritos por Kruger et al (2009), será de grande relevância para a confirmação desta nova entidade taxonômica.

Neste trabalho contamos também com o primeiro registro para o Brasil da espécie: Dentiscutata hawaiiensis, espécie usualmente identificadas no Havaí. Como a descrição original da espécie D. hawaiiensis se deu em 1995, sem o uso de ferramentas moleculares (KOSKE & GEMMA 1995), faz-se também necessária a sua nova descrição, incluindo caracteres moleculares.

A sazonalidade não parece interferir na riqueza das espécies, mas sim na abundância de esporos, uma vez que em ambas as áreas observou-se maior abundância de esporos na seca. Porém, vale ressaltar que algumas espécies podem se encontrar no ambiente e não estar esporulando na época da coleta ou seus esporos estarem em condições de difícil identificação (ZANGARO; MOREIRA, 2010).

Apesar de a restinga ter, no geral, um maior número de esporos para a maioria das espécies identificadas, a espécie Glomus sp.2 apresentou-se significativamente mais numerosa na caatinga do que na restinga (figura 13). As espécies mais abundantes, como o Glomus sp.2 são aquelas de formação esporocárpica, ou seja, formam aglomerados de esporos com densa massa de hifas

protegendo os cachos de esporos. Estas espécies puderam ser encontradas em forma de cachos na estação chuvosa, quando normalmente quando são formados, tanto na restinga como na Caatinga. Já na seca estes esporos podem ser dispersos no solo, e foram encontrados em grande número ao longo do contínuo.

O índice de equitabilidade demonstra em seu resultado que valores próximos de 1 indicam que a área possui espécies igualmente abundantes, e valores próximos a zero (0) indicam um desiquilíbrio na abundância das diferentes espécies. Assim, em nosso estudo, a restinga apresentou espécies mais igualmente abundantes ao longo do espaço coletado. A restinga é mais rica em espécies, mais abundante, mais diversa e mais “equitavél”.

Apesar dessa discrepância de riqueza de espécies, aparentemente não há variação ambiental (condições físico-químicas do solo) influenciando a comunidade de FMA ao longo da zona de transição entre restinga e caatinga. Contudo, deve-se chamar atenção para alguns sítios de coleta, demonstrados na figura 14 (sit, 16, 17, 18, 19 e 36), que destoam dos outros. Isso se dá não por influência das variáveis ambientais, pois são sítios igualmente salinos como os outros, mas que por aleatoriedade são os que apresentaram as espécies mais abundantes. Por este motivo, graficamente eles estão distantes dos demais pontos, pois a característica abundância das espécies nestes pontos acaba influenciando sua posição no plot do gráfico da análise.

O RDA é uma análise que, assim como a PCA (Análise de Componentes Principais), procura criar eixos mais significativos de representação dos elementos mais influentes. Nossa análise, cujo objetivo foi relacionar variáveis abióticas de solo com distribuição de espécies, demonstrou que os elementos ambientais possuem 20% de representatividade nesta distribuição; destes elementos, a salinidade e o pH são os mais importantes. Esse valor, de 20%, é considerado de pouca influência, uma representação ≥ 60% dos dados seria a porcentagem ideal para inferir a influência destes fatores na determinação da composição de espécies neste caso.

Uma importante diferença ambiental entre os dois biomas avaliados é que os solos arenosos das dunas favorecem o escoamento rápido da água da chuva (FERNANDES, 2007), enquanto o solo mais argiloso da caatinga retém um pouco mais a umidade, com isso as vegetações herbáceas das dunas são mais

frequentemente associadas à FMA (JOBIM; GOTO, 2016), o que corrobora nosso achado maior número de espécies encontradas na restinga.

Os pontos de coleta com pH mais alto foram os da restinga. Este fator ambiental é conhecido por favorecer a abundância e riqueza de espécies glomóide (ZANGARO; MOREIRA, 2010; SILVA, 2013). De fato, em nossos resultados a caatinga apresenta maior número de espécies com esporos glomóides, enquanto na restinga os Glomus sensu lato, estão igualmente ricos a espécies acaulosporóides.

A menor diversidade encontrada na caatinga pode ser também aferida pela condição salina do solo, já que em média o solo é mais salino na caatinga com 0.091 dS.m-¹ enquanto na restinga encontramos a maior salinidade com 0.045 dS.m¹. A salinidade é inversamente proporcional à riqueza de espécies, à medida que o gradiente salino diminui com a distância do mar, ao longo de nossos pontos de coleta, o número de esporos aumentou. Indo de 02-48 esporos no trecho de intervalo de salinidade de 0,067-0,024 na Restinga, concordando com o trabalho de Córdoba e colaboradores (2001), segundo o qual a menor abundância de esporos foi registrada nas proximidades do mar e aumento da salinidade. Na caatinga, no entanto, mesmo com a sua distância da influência marítima, temos a ocorrência de atividade salina próximo á alguns pontos de coleta, explicando a ocorrência de pontos mais salinos na caatinga do que a restinga.

A disponibilidade de P é um fator importante na distribuição e colonização de espécies de FMA, afetando diretamente estes organismos (ARAÚJO et al., 2003), de acordo com Cavalcante et al. (2002) a alta fertilidade do solo geralmente inibe a relação simbiótica (MOREIRA; SIQUERA, 2002). Bressan et al. (2001), também constatou que a ausência de P, N e K, diminuem o crescimento simbiótico. Em nosso trabalho, as concentrações de P se mostraram menores na caatinga, podendo também ser um dos fatores de influência na menor riqueza de espécies de FMA nesta área, enquanto os índices de N e K são equiparáveis.

Dentre as variáveis ambientais acima citadas que poderiam ter relação com a diversidade de espécies ao longo do contínuo restinga-caatinga, a salinidade nos chama atenção, pelo fato de o Rio Grande do Norte ser o maior produtor de sal do Brasil, com sua produção concentrada principalmente nos municípios de Macau (local de nossa coleta), Areia Branca e Mossoró, sendo responsável por 90% da

produção nacional (AZEVEDO, 2013). A atividade salina atualmente se concentra no oeste e noroeste do estado, no entanto encontramos outras zonas onde já foram áreas de salinas e que se encontram abandonadas.

A colonização vegetal destas áreas certamente é possível graças a simbiose com micro-organismos. Dentre os simbiontes desse cenário temos os FMA sendo grandes responsáveis pela obtenção de resistência das plantas ao alto teor salino. Alguns estudos têm demonstrado que a inoculação com fungos micorrízicos arbusculares, principalmente isolados dos gêneros Acaulospora e Rhizoglomus, no caso da Acaulospora, gênero abundante ao longo de todas as áreas coletadas, melhora o crescimento das plantas sob uma variedade de condições de estresse salino (TIAN et al., 2004; YANO-MELO et al., 2003). Tais achados elevam a importância da pesquisa de comunidades de FMA em ambientes estressantes, como o de nosso estudo. Além de colaborar com o inventário da diversidade da micobiota de um dos biomas brasileiros mais ameaçados, estes estudos contribuem com a bioprospecção de espécies de FMA com potencial uso no melhoramento de cultivares em ambientes inóspitos ou reflorestamento de áreas degradadas.

6. CONCLUSÃO

 Os resultados obtidos neste trabalho nos permitem ver a grande potencialidade da área de transição entre restinga-caatinga no estudo de diversidade de Fungos Micorrízicos, assim como do bioma Caatinga no RN.

 O continuo restinga-caatinga se demonstrou homogêneo em composição nos aspectos ambientais, tornando a distribuição das espécies aleatória.

 A Restinga é mais diversa do que a Caatinga.

 De maneira geral, as espécies de FMA apresentam maior abundância de esporos no período seco, indicando a influência sazonal na esporulação das mesmas.

 Este trabalho apresenta o primeiro registro de Dentiscutata hawaiiensis no Brasil. Sua descrição molecular está em andamento.

 Dentre os fatores abióticos do solo, a salinidade pareceu influenciar a diversidade de espécies encontradas entre os dois ambientes, indicando um possível impacto ambiental negativo de uma das principais atividades econômicas do RN, as salinas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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