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5.1 ANÍSIO TEIXEIRA E A OBRA EDUCACIONAL

5.1.1 Anísio Teixeira e o Plano Nacional de Educação de 1962

A ideia de organização e consolidação de um Plano Nacional de Educação surge com o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, de 1932, que representou um documento memória da educação republicana, proclamando a necessidade de organizar a educação nacional e o seu reconhecimento como função pública, num processo de modernização do País e de forte expressão de luta no campo educacional.

Vale destacar que a ideia de um Plano Nacional de Educação já estava prevista no texto constitucional de 1934. Em seu art.150, afirma: “Compete a União: […] Fixar o Plano Nacional de Educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução em todo o território do País” (CAMPANHOLE,H.; CAMPANHOLE,A., 1994, p. 668). Houve um esforço no processo de elaboração desse plano, mas foi interrompido pela institucionalização do Estado Novo. Assim, o debate ganhou novas bases de discussão e reconfigurou o seu conteúdo e forma, até sua elaboração final em 1962.

Nesse percurso, o primeiro Plano Nacional de Educação foi concretizado sob a vigência da primeira LBD 4.024/61, proposta como iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, aprovada pelo Conselho Federal de Educação (CFE) e teve

como principal objetivo a criação dos fundos nacionais de ensino primário, médio e superior, prevendo a aplicação de 12% da receita da União, o que representou um conjunto de metas quantitativas e qualitativas. Por um período de oito anos, foi um plano de aplicação dos recursos federais.

Cabe observar que essas formulações tiveram o empenho de Anísio Teixeira, então relator do CFE, e ampla divulgação entre os educadores. Exemplo disso foi o primeiro encontro nacional de educadores em Brasília, em 1962, organizado pela ABE e o MEC, com destaque publicado pela revista O Cruzeiro, em entrevista com Anísio Teixeira sobre O Plano Nacional de Educação em novembro de 1962, de acordo com a reportagem apresentada na Figura 7.

FIGURA 7 – PARTE INICIAL DA PUBLICAÇÃO DA ENTREVISTA DE ANÍSIO TEIXEIRA À REVISTA “O CRUZEIRO”

Fonte: Arquivo CPDOC- AT pi Teixeira, A. 1962.11.00.

Nota: Essa discussão foi publicada no livro Educação não é privilégio, 1968, 2º edição. O título dado à reportagem que segue a entrevista feita com Anísio Teixeira sugere a necessidade de mudança na organização educacional, tendo a concretização do PNE como uma perspectiva para a constituição do Sistema de Educação.

O título dado à reportagem que segue a entrevista feita com Anísio Teixeira sugere a necessidade de mudança na organização educacional, tendo a concretização do PNE como uma perspectiva para a constituição do Sistema de Educação.

A Constituição de 1946 e agora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação abriu possibilidades para um esforço conjugado das três ordens do governo – O federal, os municipais e o estaduais e fixou as bases financeiras para levar avante a reconstrução educacional. Graças a isto, o plano elaborado pelo conselho federal de educação pode constituir-se mais que um plano pedagógico ou mesmo um plano administrativo – um plano político de descentralização dos serviços educacionais, a fim de poder inserir-a escola no meio local e daí partir o esforço pela emancipação educacional de sua população (ARQUIVO CPDOC. Entrevista dada à revista o cruzeiro, TEIXEIRA, 1962).

Esse foi um momento político importante, pois o PNE ganha vigor em um período de grande emergência com relação ao ensino brasileiro e à defasagem educacional. Desse modo, Anísio Teixeira, então relator, compreendia a relevância de organizar as bases desses plano para a consolidação de um Sistema Educacional que pudesse ser definido no reconhecimento da qualidade educacional e da escola, ou seja, o conceito de sistema não seria algo abstrato e não se definiria apenas por seus aspectos legislativos ou administrativos, mas incluiria o desafio de integrar o Poder Federal, Municipal e Estadual na tarefa de oferecer a todos oportunidades iguais de educação (TEIXEIRA, 2007f, p. 146).

Diante dessas considerações, para Anísio Teixeira, “[...] a chave de todo o plano estaria no projeto de preparo dos professores e dos quadros técnicos” (TEIXEIRA, 2007f, p. 156). Nesse sentido, reforçava a valorização da formação dos professores como elemento fundamental para a reforma educacional.

Sendo assim, Anísio Teixeira tinha uma visão muito clara do planejamento educacional e permanecia firme em suas convicções que fundamentaram os ideais da escola progressista. De acordo com Saviani (2008), Anísio Teixeira representou figura central na década de 1950 e nos anos iniciais de 1960. Com isso, podemos afirmar que as posições ocupadas direcionaram as políticas em discussão na época, assumindo uma condição de influência para a análise da situação educacional do País.

educacional, mas uma vez esse percurso seria interrompido pelas mudanças ocasionadas na ordem política pelo quadro instaurado pós-1964.

De a cordo com Saviani (1999, p. 127):

No período compreendido entre 1946 e 1964 observa-se uma tensão entre duas visões de Plano de Educação que, de certo modo, expressa a contradição entre as forças que se aglutinaram sob a bandeira do nacionalismo desenvolvimentista que atribuíam ao Estado a tarefa de planejar o desenvolvimento do país libertando-o da dependência externa, e aquelas que defendiam a iniciativa privada se contrapondo à ingerência do Estado na economia e àquilo que taxavam de monopólio estatal do ensino.

Desse modo, observamos que as relações e os interesses entre o público e o privado demarcaram um campo de disputa pelo projeto educacional, polarizando o debate do ensino. Esse arranjo ofuscou a questão do Sistema Nacional de Educação e trouxe caminhos de inconsistências e imprecisões, constituindo desvios que permanecem presentes na definição de nossa política educacional.

Nesse panorama, é importante considerar a relação entre SNE e PNE, haja vista que não existe Sistema Nacional de Educação sem Plano Nacional de Educação, ou seja, a formulação do PNE se constitui como elemento fundamental para superar as variações e indefinições políticas e para assegurar uma política de Estado capaz de oferecer condições para que o SNE fosse efetivado.