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2.4 ANÍSIO TEIXEIRA E O SISTEMA EDUCACIONAL

2.4.1 Por que Anísio Teixeira?

Como ponto de partida, podemos destacar a trajetória de Anísio Teixeira na composição do cenário da década de 1920 e que foi fortalecida por momentos importantes para o ideal educacional que se constituía. Dentre as questões gerais, podemos identificar a criação da Associação Brasileira de Educadores (ABE)9 em

1924, constituindo um espaço de debate em torno das questões educacionais. A ABE foi responsável pela organização, em 1927, da primeira Conferência Nacional de Educação, reunindo grupos e ideais distintos de educação: de um lado, os liberais e, de outro, os católicos, que contestavam a educação laica e a interferência do Estado na educação; já os liberais faziam defesa da educação laica, gratuita e da obrigatoriedade do ensino, como oposição a essas ideias. Alguns anos mais tarde, foi criado o Ministério da Educação e Saúde, em 14 de novembro de 1930, que representou um espaço de disputa de poder entre “católicos” e “liberais”, acirrando a disputa por quem iria assumir o aparelho estatal, ascendendo com força a construção de um ideário pedagógico com base no pensamento escolanovista, expresso pelo marco do “Manifesto dos Pioneiros”, em 1932.

Esse contexto reforçou o movimento das reformas estaduais, que foi inaugurada pela reforma Sampaio Dória, em São Paulo, estabelecida pelo Decreto nº 1.750, de 8 de dezembro de 1920, e revogada em 1925. Emergiu com a tarefa de buscar inciativas para enfrentar o analfabetismo. No seu intento indicou como alternativa a redução da escolaridade primária: a obrigatoriedade de quatro anos passaria para dois anos. Essas ações defendiam um ensino primário mais aligeirado. Mesmo em meio às críticas feitas à referida reforma, ela teve grande influência para os

9 Associação Brasileira de Educação (ABE) foi fundada em 15 de outubro de 1924 por Heitor Lyra da

Silva, com sede na cidade do Rio de Janeiro, uma Sociedade Civil, sem finalidade lucrativa, de Utilidade Pública, apartidária, pluralista e membro nato do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão ligado ao Ministério da Justiça, desde 1964. A ABE é uma instituição que tem por finalidade congregar educadores, professores, pessoas físicas e jurídicas interessadas no estudo e no debate de assuntos ligados à Educação e à Cultura (PORTAL ELETRÔNICO DA ABE- BREVE HISTÓRICO, 2011).

princípios republicanos. Nesse movimento, outras reformas ocorreram em que se destacaram:

[…] vários educadores brasileiros, representantes do pensamento escolanovista a exemplo de: Anísio Teixeira (Bahia, 1925); Lourenço Filho (Ceará, 1923), Fernando Azevedo (Distrito Federal, 1928), Carneiro Leão (Pernambuco, 1928), Mario Casassanta e Francisco Campos (Minas Gerais, 1927), incidindo ações sobre a escola primária e a formação de professores (VIEIRA, 2007, p. 83).

Desse conjunto de educadores, faz-se nosso interesse a figura de Anísio Teixeira (1900-1971), que se destacou com sua atuação nas questões educacionais, recebendo muitas homenagens, como exemplo indicado nas Figuras 2 e 3, a partir do momento em que se insere na educação e se interessa pela organização do Sistema Educacional Brasileiro, em frente às questões que se colocavam, quanto ao problema da Instrução Pública articulada ao debate de organizar o Sistema de Ensino, de formar os professores e ampliar o acesso à educação no País. Anísio Teixeira inicia uma longa trajetória no campo educacional se inserindo ativamente nas questões em torno da organização da educação nacional.

FIGURA 2 – HOMENAGEM REALIZADA AOS DIRETORES DE INSTRUÇÃO PÚBLICA NA OCASIÃO DA III CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO

Fonte – CPDOC Arquivo pessoal de Anísio Teixeira.

Nota: Essa homenagem foi promovida pela ABE em 1929, com retratos dos diretores da Instrução Pública, dentre eles, a foto de Anísio Teixeira que integrou a delegação da Bahia na conferência (ANEXO A).

Podemos dizer que a inserção de Anísio Teixeira nessa arena política assumiu sempre destaques importantes. No caso da ABE, por exemplo, ele atuou por mais de 40 anos, filiando-se oficialmente em 1931, “[...] foi sócio honorário, sócio mantenedor, membro da Seção de Ensino Normal, membro titular do Conselho Diretor em vários mandatos, conselheiro vitalício, presidente” (SILVA, 2000, p.12) e teve sua presença efetiva na ABE a partir da III Conferência Nacional de Educação. Em outubro de 1931, assumiu a Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal.

É importante perceber que a trajetória vivida por Anísio Teixeira revela a “[...] travessia de desertos e momentos de ruptura” (NUNES, 2000, p. 155). Assim, sua produção nos fornece pistas das motivações que o aproximaram das discussões sobre o Sistema de Educação, reconhecendo que sua escrita “[...] sempre esteve sob a pressão das circunstâncias e da ação” (TEIXEIRA, 1958, p. 1). Dessa forma, a compreensão do seu percurso se torna fundamental para a compreensão do seu pensamento.

FIGURA 3 – ANÍSIO TEIXEIRA - SESSÃO DE RECEBIMENTO DO DIPLOMA DE CONSELHEIRO VITALÍCIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO

Fonte: CPDOC Arquivo pessoal de Anísio Teixeira.

Nota: Anísio Teixeira recebeu o diploma de Conselheiro Vitalício da Associação Brasileira de Educação em 24 de agosto de 1959 (ANEXO B).

Vale ressaltar que a escolha por Anísio Teixeira é reflexo da sua representatividade no campo educacional, sua atuação no cenário político e como educador no âmbito nacional e internacional, ocupando funções importantes a exemplo do cargo de inspetor-geral da Bahia em 1924; diretor de Instrução Pública no Rio de Janeiro; participação na Comissão do Ministério de Educação e Saúde em 1931. Foi um dos signatários do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” em 1932, nomeado diretor do Departamento de Educação do Distrito Federal em 1933; responsável pela criação da Universidade Federal do Distrito Federal; indicado para secretário-geral de Educação e Cultura em 1935. Tornou-se conselheiro de Educação Superior da Unesco, Organizações das Nações Unidas, em 1946. Inaugurou a “Escola Parque”, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, numa proposta de Educação Integral em 1950; foi secretário-geral da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes); assumiu a Diretoria do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) em 1951; integrou o debate da Lei de Diretrizes e Bases de 1961; ocupou a posição de membro do Conselho Federal de Educação em 1962; assumiu a presidência da Comissão Nacional do Ensino Primário e a Reitoria da Universidade de Brasília em 1964. Assim, sua trajetória se estendeu por todas as áreas desde o

ensino primário à universidade, marcando sua posição como um reformador estadista preocupado com os fins da educação brasileira, expresso por sua vida pública em defesa da educação e democracia.

Desse modo, as inquietações de Anísio Teixeira quanto ao lugar da escola pública são preocupações do nosso presente. Compreendemos que Anísio Teixeira foi representante de uma parte significativa da nossa história educacional, “[...] sendo necessário revisitar sua trajetória, enquanto uma tradição passível de se constituir numa base para a nossa reflexão e ação atuais” (BRANDÃO; MENDONÇA, 2008, p. 226). Por esse caminho, buscaremos, a partir do pensamento e ação de Anísio Teixeira no campo educacional, ampliar as perspectivas e ideias desencadeadas e lançadas em suas obras para a organização de um Sistema Nacional de Educação, que em nossos dias têm revelado muitos entraves e indefinições.