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6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.2 Cerâmicas sem revestimento

6.2.2. Analises das estruturas cristalográficas das matrizes cerâmicas

As matrizes (frações granulométricas abaixo de 0,1 mm) de cada cerâmica foram examinadas pela técnica de difração de raios X. O estudo cristalográfico das matrizes cerâmicas foi realizado em amostras não tratadas termicamente e amostras queimadas sob três diferentes temperaturas: 1250, 1460 e 1600 °C. Essas três temperaturas foram selecionadas pois teoricamente representariam os patamares de: conversão irreversível do quartzo em cristobalita (1260°C), mulitização em larga escala que ocorre próximo a 1450°C e formação de fase liquida da sílica. Os difratogramas das matrizes são apresentados nas figuras 12 a 20.

Cerâmica A

As fases cristalinas da cerâmica A, fabricadas com 60% de chamote e 40% de argila refratária, são apresentadas nos difratogramas das figuras 12, 13 e 14.

Na figura 12, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indicou a presença de mulita, corundum e quartzo. A mulita e o corundum são produtos do processo de calcinação da argila na produção do chamote, enquanto que o quartzo é proveniente da argila refratária.

Figura 12: Difratograma de raios X da Cerâmica A sem o tratamento térmico. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o corundum.

Na figura 13, o difratograma da cerâmica A tratada termicamente a 1250 °C apresenta uma redução na intensidade dos picos de quartzo, surgimento de picos de cristobalita, ausência do corundum e pequeno aumento nos picos de mulita.

A cristobalita é um produto da conversão do quartzo em temperaturas próximas de 1260 °C, nesse mesmo patamar o corundum em presença de cristobalita provavelmente foi consumido na formação de mulita.

Figura 13: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1250 °C. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e Cr a cristobalita.

Na figura 14, o difratograma da amostra tratada termicamente a 1460 °C (figura14) indica que todo quartzo restante e observado na figura 13 foi convertido em cristobalita. Devido à ausência corundum não era esperada a formação de mulita (picos de mulita permanecem constantes em relação a figura 13).

De maneira geral, mediante o aumento da temperatura foi possível observar o quartzo (2,65 g/cm3) sendo convertido em cristobalita (2,32 g/cm3) e a formação de mulita na matriz cerâmica. Isso pode explicar a pequena redução de densidade e expansão volumétrica próxima de 2% da cerâmica A após a segunda queima.

Figura 14: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1460 °C. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita e Cr a cristobalita

Cerâmica B

As fases cristalinas da cerâmica B, fabricadas com 10% de chamote, 40% de bauxita calcinada, 10% de alumina calcinada e 40% de argila refratária, são apresentadas nos difratogramas das figuras 15,16, 17 e 18.

Na figura 15, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indica a presença de mulita, corundum e quartzo. O corundum é proveniente da bauxita e alumina calcinada, a mulita é produto do processo de calcinação de argila na produção do chamote, enquanto que o quartzo é proveniente da argila refratária.

Figura 15: Difratograma de raios X da Cerâmica B sem o tratamento térmico. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o corundum.

Na figura 16, o difratograma da amostra tratada termicamente a 1250 °C indicou, de maneira análoga ao que ocorreu na cerâmica A, uma redução na intensidade dos picos de quartzo e corundum, o surgimento de picos de cristobalita e o aumento nos picos de mulita.

Figura 16: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1250 °C. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo, Cr a cristobalita e C o corundum.

Na figura 17, o difratograma da cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C indicou que todo quartzo e cristobalita restante foram consumidos na formação da mulita (o número e/ou intensidade dos picos de mulita aumentaram em relação ao patamar térmico anterior). Com temperaturas próximas a 1460 °C uma quantidade maior de íons de alumina é liberada no sistema favorecendo a redissolução de íons sílica que estavam precipitados na forma de cristobalita e, consequentemente, atinjam a proporção estequiométrica ideal para nucleação da mulita. De maneira geral, assim como ocorreu na Cerâmica A, a precipitação da mulita ocorreu simultaneamente a dissolução da cristobalita.

Figura 17: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum.

Na figura 18 são apresentados os difratogramas da cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C (esquerda) e 1600 °C (direita), os resultados indicam uma redução na intensidade de picos de corundum e aumento nos picos de mulita. Provavelmente durante esse último patamar térmico, o corundum em excesso continuou reagindo com sílica vítrea formando a mulita.

Figura 18: Difratogramas de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 e 1600°C. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum.

De maneira geral, conforme a temperatura de queima aumenta (em um mesmo intervalo de tempo) é possível observar uma relevante quantidade de corundum sendo consumida na formação da mulita, o que pode explicar a expansão volumétrica, redução da densidade e aumento da porosidade à 1600 °C.

Cerâmica C

As fases cristalinas da cerâmica C, fabricadas com 60% de bauxita calcinada, 20% de alumina calcinada e 20% de argila especial, são apresentadas nos difratogramas das figuras 19 e 20. Não apresentamos os resultados da Cerâmica C queimados a 1260 °C pois estes são similares aos obtidos sob 1460 °C.

Na figura 19, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indicou a presença de mulita, corundum e nacrita. O corundum e a mulita são provenientes da bauxita e alumina calcinada e a nacrita é proveniente da argila especial.

Figura 19: Difratograma de raios X da Cerâmica C sem o tratamento térmico. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Na a nacrita e C o corundum.

Na figura 20, o difratograma (a esquerda) da amostra tratada termicamente a 1460 °C indicou uma redução na intensidade dos picos de corundum, ausência da nacrita e aumento na intensidade de picos de mulita. A nacrita tende a apresentar comportamento similar à caolinita nesse patamar térmico, desidratando e formando mulita e cristobalita (Equações 1, 2 e 3). Como a precipitação da mulita ocorre simultaneamente a dissolução da cristobalita, acreditamos que nesse patamar toda a cristobalita já havia sido redissolvida e consumida na formação de mulita. Ainda na figura 20, o difratograma (a direita) da amostra queimada a 1600 °C indica picos de sillimanite (3,23 g/cm3), cuja presença não era esperada uma vez que, essa estrutura sílico-aluminosa forma-se somente sob altas pressões.

Figura 20: Difratogramas de raios X da Cerâmica C tratada termicamente a 1460 e 1600 °C, esquerda e direita, respectivamente. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Na a nacrita e C o corundum. As elipses tracejadas indicam picos de sillimanite próximas e/ou sobrepostas aos picos de mulita.

Segundo Schneider et.al. (2005), como a sillimanite apresenta estrutura similar a mulita, ressonâncias geradas durante a análise podem causar resultados ambíguos em determinadas faixas de leitura. Nesse patamar de 1600 °C não foi observada variação na concentração de corundum, o que descartada a possiblidade de formação de mais mulita. Como os picos de sillimanite são de baixa intensidade e, normalmente, aparecem sobrepostos e/ou próximos aos picos de mulita (elipses tracejadas), a creditamos que os sinais de sillimanite são produto de ressonância e podem ser desconsiderados.

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