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Ancoragem e Enviesamento de Ajustamento

2. Tomada de Decisões Financeiras

2.2 Teoria das Finanças Comportamentais

2.2.3 Enviesamentos Cognitivos e Emocionais

2.2.3.3 Ancoragem e Enviesamento de Ajustamento

A ancoragem, também denominada “padrões históricos” manifesta-se quando uma escala de valor é estabelecida com base nas observações recentes. Este enviesamento pode induzir os indivíduos a esperarem ganhos nas suas atividades financeiras, mantendo práticas do passado, cometendo erros de previsão. Os indivíduos constroem as suas estimativas a partir de um valor inicial – âncora – baseado na informação a que se tem acesso, ajustando-o para obter uma resposta final. Em grande parte dos casos os ajustamentos feitos a partir da âncora não são suficientemente grandes, o que leva a decisões que se desviam dos modelos racionais. Isto significa que, decisões tomadas em contextos idênticos podem ser bastante diferentes devido à presença de valores de referência distintos disponíveis para os decisores, mesmo que não tenham grande impacto sobre a decisão final (Leung & Tsang, 2013; Lima, 2003; Shefrin, 2007).

A ancoragem é um enviesamento cognitivo que consiste na atribuição de demasiada importância a uma determinada informação (âncora) na tomada de decisões. Para a tomada de decisões, os indivíduos baseiam-se num ponto de referência referido de forma mais ou menos explícita no problema, sobre o qual são feitos ajustamentos sucessivos de modo a refletir a informação adicional até se atingir a estimativa final. Normalmente, as estimativas a partir da âncora são insuficientes e a estimativa final acaba por ser demasiadamente influenciada por essa informação. É neste ponto onde ocorre o enviesamento por ajustamento, que constitui a forma insuficiente como os ajustamentos são efetuados a partir da âncora. Quando a informação inicial contém dados pertinentes para auxiliar a tomada de decisão, a sua ponderação poderá ser racional. Mas, as evidências de estudos mostram que mesmo as informações irrelevantes, que não se relacionam com o problema, podem influenciar a tomada de decisões. Mesmo sabendo que é irrelevante e não tem utilidade no contexto, dificilmente os indivíduos ignoram a informação. A ancoragem pode ocorrer como algo normal no processo de decisão (Leung & Tsang, 2013; Lobão, 2012; Tversky & Kahneman, 1974).

Para comprovar este enviesamento, Tversky & Kahneman (1974) realizaram um estudo para perceber como as pessoas faziam julgamentos diante de incertezas. Por exemplo, solicitaram a um grupo de indivíduos norte americanos, para estimarem o número de países africanos. Usaram 10 e 65 como âncora e primeiro questionavam se o valor era superior ou não ao de

referência. De seguida pediam para que estimassem e, obtiveram 25 e 45 como média para ambos os grupos, respetivamente. Os que receberam números mais altos na roda de sorte fizeram estimativas posteriores mais altas do que os grupos que receberam números mais baixos, o que demonstra que âncoras irrelevantes influenciam as estimativas. Assim, ajustamento a uma âncora é usualmente empregue para estimar um número, quando um valor relevante está disponível; a heurística é altamente económica e usualmente efetiva, mas pode levar ao cometimento de erros sistemáticos de previsão; o conhecimento da heurística e dos enviesamentos pode melhorar julgamentos e a tomada de decisões em situação de risco (Critcher & Gilovich, 2008). Portanto, a ancoragem envolve paradigmas nos quais a atenção dos indivíduos fixa-se no valor da âncora e confiam nesse mesmo valor que não se relaciona com o problema. Os ajustamentos são feitos no valor de referência (âncora), até se encontrar um valor estimado que o indivíduo considera ótimo.

A ancoragem e o enviesamento de ajustamento podem afetar os profissionais da área onde se solicita uma avaliação e podem afetar a tomada de decisão financeiras e que podem levar a: (i) um primeiro efeito de ancoragem é que as estimativas dos investidores em relação à evolução futura dos mercados se situam em níveis demasiado próximos dos verificados no momento em que se realiza a estimativa; (ii) a ancoragem dificulta as opiniões, e as conceções iniciais permanecem válidas para os investidores, mesmo depois de surgirem informações suficientes para justificarem a revisão dessas opiniões; (iii) a ancoragem conjugada com a interação entre os investidores e os analistas do mercado pode originar a subponderação da informação surgida depois de se efetuarem estimativas em relação ao valor dos ativos, levando a ineficiência informacional dos mercados; e (iv) na ausência de um acordo em relação aos fundamentais dos ativos, os investidores podem encarar o número redondo4 mais próximo do preço como uma aproximação aceitável ao valor fundamental (Lobão, 2012; Tversky & Kahneman, 1974).

De acordo com Smith et al. (2013), existe uma relação entre o nível de conhecimento e os efeitos da ancoragem. Um maior nível de conhecimento está associado a efeitos reduzidos de ancoragem. Por outro lado, quando os indivíduos respondem a perguntas relacionadas com os assuntos do seu domínio (como assuntos dos seus países ou zonas de origem), tendem a apresentar efeitos reduzidos de ancoragem, quando comparados com os assuntos desconhecidos. Desta feita, o conhecimento modera os efeitos da ancoragem.

Portanto, quando os indivíduos fazem as suas estimativas começam com um valor arbitrário, que tendem a ajustá-lo ao longo do processo de decisão. Mas, por vezes não fazem ajustamentos suficientes e acabam por se ancorar nas estimativas iniciais, acreditando que as suas estimativas tenham de estar próximas da âncora, cometendo assim erros no processo de decisão. Essas atitudes devem-se ao facto de os indivíduos acreditarem muito nas suas crenças e não se esforçarem em procurar provas contrárias. Mas, na tomada de decisões financeiras tal atitude pode trazer erros graves, quando essas crenças não forem atualizadas em função da informação que o mercado disponibiliza, levando ao cometimento de erros sistemáticos.

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