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2. Tomada de Decisões Financeiras

2.2 Teoria das Finanças Comportamentais

2.2.3 Enviesamentos Cognitivos e Emocionais

2.2.3.4 Excesso de Confiança

Segundo Shefrin (2007), o excesso de confiança induz os indivíduos a cometerem erros frequentemente, pensando e acreditando que se encontram sempre acima da média. O indivíduo com excesso de confiança pensa que é melhor do que é na realidade e que sabe mais do que realmente sabe. Isso não implica necessariamente que o indivíduo seja realmente ignorante ou incompetente. Indivíduos que apresentam excesso de confiança nas próprias habilidades não levam em consideração a incerteza que existe no processo de tomada de decisões, acreditam que as suas estimativas em situações que envolvem incerteza são mais precisas do que realmente são. Segundo Tversky & Kahneman (1974), o fenómeno de excesso de confiança resulta do facto de as pessoas utilizarem as suas estimativas iniciais como uma âncora, o que provoca um viés nas suas estimativas de intervalos de confiança. Os ajustamentos das âncoras iniciais são insuficientes, levando a intervalos de confiança pequenos demais.

O excesso de confiança é o enviesamento que mais se notabiliza nos estudos sobre as finanças comportamentais (Abbes, 2013; Menkhoff et al., 2013; Palomino & Sadrieh, 2011). Este tipo de enviesamento pode ocorrer em 2 momentos: (i) excesso de confiança nas previsões, quando os indivíduos pensam que podem prever melhor o futuro do que na realidade conseguem, atribuindo um intervalo de confiança demasiado estreito às suas estimativas; (ii) excesso de confiança na avaliação dos problemas, quando os indivíduos sobrestimam as suas capacidades, precisão ou qualidade da informação de que dispõem (ocorre quando um investidor sobrevaloriza as suas habilidades percetivas e a qualidade da informação que possui e acredita que assim pode controlar o mercado). Esta é uma característica de comportamento presente na maioria da população mundial.

Para aferir o excesso de confiança, foram feitos vários estudos, por diferentes autores. Lima (2003), concluiu que cerca de 80% dos indivíduos considera-se acima da média em relação às suas habilidades como condutores, capacidade de gestão, sentido de humor, relacionamento com outras pessoas e capacidade de liderança. Menkhoff et al. (2013) realizaram um estudo, onde investidores institucionais e individuais e analistas financeiros foram registados numa plataforma online. Nesta, muitas caraterísticas socioeconómicas dos participantes eram controladas. Constataram que havia diferenças entre os três tipos de investidores e que a experiência e a idade têm um impacto significativo no nível de excesso de confiança, sendo inversamente proporcional. No que concerne a investidores, estes tendem a acreditar que a sua habilidade de vencer o mercado é acima da média, quando na realidade é bastante difícil de se efetivar. Ademais, em todas as negociações existem, obrigatoriamente, duas ou mais partes envolvidas, mas cada parte possui vontades opostas e informação diferente. Embora todas as partes estejam conscientes disso, cada uma tende a sobrevalorizar a informação que possui, e baseiam-se mais em crenças do que propriamente numa decisão ponderada, pensando que a sua é a mais acertada.

Felipe et al. (2008), realizaram um estudo com investidores brasileiros, com vista a conhecer e obter mais informações sobre possíveis falhas cognitivas exibidas pelo investidor individual brasileiro durante o processo decisório. O estudo revelou evidências de falhas cognitivas (efeito disposição, ancoragem com ajustamentos insuficientes e excesso de confiança). Quanto ao

excesso de confiança, 99,12% dos inquiridos apresentaram este enviesamento. Eles afirmam que uma das razões para este alto nível de confiança pode estar relacionada com o formato do questionário, pois questionários com estimativas de intervalos produzem um extremo excesso de confiança. Por outro lado, o estudo revelou que houve 24,1% de acertos das questões.

Um outro estudo realizado por Cruz Júnior et al. (2011), procurava identificar sinais de excesso de confiança nos preços entre produtores de milho no Brasil. Constataram que para a maior parte dos produtores a variância subjetiva do mercado obtida por meio de questionário foi estatisticamente inferior à variância real do mercado, o que significa que eles possuem uma perceção de risco inferior ao risco do mercado. Concluíram, também, que o excesso de confiança pode explicar parcialmente o baixo uso do mercado de futuros de milho por parte dos produtores, para garantir a proteção do preço do produto. Por outro lado, Abreu & Mendes (2012), realizaram um estudo onde pretendiam investigar como o poder de associação positiva entre a frequência das transações e a obtenção de informação depende dos recursos de informação utilizados pelos investidores e do excesso de confiança. Os resultados deste estudo revelam que os investidores com excesso de confiança, que se consideram melhores que a média, transacionam os ativos com mais frequência.

O excesso de confiança está associado às caraterísticas positivas como uma maior disposição de assumir os riscos ou uma maior resistência face a adversidade. Indivíduos com excesso de confiança podem ter muito sucesso, ainda que esse processo passe por vários estágios de insucesso. Nos mercados financeiros, os indivíduos que assumem maiores riscos acabam por ser compensados. Quanto maior for a informação relevante de que os indivíduos dispõem, maior será o excesso de confiança. Este enviesamento afeta os indivíduos independentemente do seu grau de experiência e conhecimento, pois a aprendizagem e a experiência não se traduzem numa redução deste enviesamento. Quando os resultados são favoráveis, os indivíduos tendem a atribuir o mérito a si, o que aumenta o excesso de confiança; mas quando os resultados são desfavoráveis, atribuem aos fatores externos como o acaso. Esta posição dificulta a aprendizagem, pois o indivíduo não estabelece a ligação entre os maus resultados e a sua competência, e o excesso de confiança tende a ser mais elevado em indivíduos com mais conhecimentos. Por outro lado, os indivíduos revelam ter níveis de confiança muito estreitos nas estimativas. As pessoas sobrestimam as suas capacidades, dando como certos eventos com 80% de probabilidade de ocorrência, consideram como improváveis eventos com ocorrência de 20%, e quanto mais informação se obtém, maior é o excesso de confiança (Lobão, 2012).

Portanto, o excesso de confiança leva os indivíduos a serem demasiado confiantes nas suas estimativas e desviam-se da realidade apresentada, estabelecendo intervalos demasiado curtos, para a tomada de decisão financeira. Por outro lado, indivíduos com excesso de confiança acreditam que possuem uma maior capacidade de previsão de eventos e sobrestimam as suas capacidades. Este enviesamento pode levar os indivíduos a incorrer em perdas por ignorarem as informações disponíveis e fundamentais para a tomada de decisão.

ABORDAGEM EMPÍRICA

A primeira parte desta dissertação foi reservada para uma abordagem teórica, que consistiu na exploração dos diversos estudos já realizados sobre as teorias usadas nos ramos das finanças. Concretamente, focou-se a abordagem tradicional das finanças e, posteriormente, a das finanças comportamentais, tendo sido discutidos os quatro fatores comportamentais que são testados neste estudo empírico.

Assim, esta parte é constituída por 2 capítulos, sendo um referente à metodologia aplicada para a materialização do estudo empírico e o outro para a apresentação dos resultados. Efetivamente, o estudo empírico visa a verificação da aplicabilidade dos pressupostos das finanças comportamentais no contexto moçambicano. Para a sua efetivação, foram aplicados inquéritos que permitem verificar se no processo de tomada de decisões financeiras, os jovens moçambicanos sofrem influências dos fatores comportamentais em estudo. À posteriori, apresentam-se as conclusões resultantes do estudo, bem como as recomendações para investigações futuras.

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