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Aline Jantsch, licencianda em matemática

I. O começo

Um cheiro explêndido de natureza junto com o ar fresco da manhã, faziam uma harmonia perfeita com o cantar dos pássaros. Estava em minha sala de aula, olhava para o quadro verde ao qual o sol batia e deixava a sala iluminada enquanto aguardava a professora chegar.

Durante o tempo que conversava com minha amiga Angélica, sobre como ela estava, escutávamos um tac, tac, tac, tac e cada vez ficava mais alto o som TAC TAC TAC TAC . Com isso veio um ar quen- te, sensação de abafamento, uma angústia que fazia suar minhas mãos, quando a professora entrou com seu salto alto vermelho, com sua bolsa vermelha, de batom vermelho e sua echarpe vermelha que formava um triângulo perfeito em suas costas, se aproximou de sua mesa de ferro, com madeira verde na bancada e largou sua bolsa ali, se virou de frente para turma, encostou-se na mesa como quem iria sentar, cruzou os braços e tornou a falar, com um tom de voz o mais baixo possível.

—Bom dia turma, quero que todos fiquem em silêncio e quero que fiquem em ordem, em filas agora...

O arrastar das cadeiras e das mesas abafaram o som que saia da boca da professora, ao mesmo tempo que me afastava de Angéli- ca, sentia meu coração acelerar, o ar abafado me sufocar e o sol nem refletia mais no quadro, e sim na echarpe vermelha da professora, fazendo com que uma luz avermelhada se espalhasse por toda a sala, petrifiquei-me de uma forma automática, como se não tivesse mais controle de meu próprio corpo, meus nervos, meus músculos e meus

ossos temeram tudo aquilo.

A professora fazendo um sinal com a mão de pare, retomou a falar: — Me chamo Carmem, vou ser a professora de vocês durante este período, vocês só verão um sorriso meu, quando todos estiverem aqui, em seus devidos lugares, para fazer o exame final.

Neste momento, mesmo me sentindo sozinha e sem nenhum pássaro a me alegrar com seus cantos, me senti desafiada, por ela afirmar que iria ficar em recuperação.

Os conteúdos do primeiro dia de aula, foram: Concordância Nominal e Concordância Verbal, o que trouxe um pouco de alegria por saber os conteúdos, ou pelo menos eu pensava que sabia. Foram tantas as palavras anotadas em meu caderno, que eu nunca detestei, com tal intensidade, saber ler e escrever.

Durante todos os dias de aula com Carmem foram assim , ao es- cutar o tac, tac, tac se aproximando já ia me preprando psicologica- mente, já sabia que iria ficar longe de Angélica, de imediato sentiria dores na mão direita, por causa dos textos que provavelmente teria que copiar, os pássaros não iriam mais cantar, que a sala se tornaria avermelhada e ficaria um lugar quente e abafado onde só se ouvia a voz de Carmem. Ela sempre manteve uma posição militar perante a turma, estava sempre com coque-flor nos cabelos e falava baixinho com um tom de voz frio e seco.

II. O dia do exame final

— Como eu havia falado no primeiro dia de aula, vocês só iriam me ver sorrindo, quando todos estivessem sentados em seus devidos lugares, no dia do exame final, então primeiramente entregarei o exame a vocês.

A cada tac... tac... tac... que ecoava pela sala, mais a minha raiva aumenta, mais a minha vontade por fazer aquela prova crescia e mais ainda a vontade de sair correndo por aquela porta, à minha direita, e nunca mais a ver na minha vida.

— Todos receberam as suas provas? Bom, então boa prova pes- soal e antes que eu me esqueça...

Estava com a caneta entre meus dedos olhando para a prova, que mal conseguia enxergar perante desespero em conseguir passar na- quela disciplina, quando levantei o rosto, o tempo parou... Carmem

realmente cumpriu o que falou, lá estava, sorrindo triunfalmente, tão poderosa que parecia ter vencido uma guerra, com aquele sor- riso, amarelado e feio que deu para enxergar as rugas de sua boca, que seu batom vermelho contornava, junto com uma gargalhada que ecoou pela escola inteira, como que se sua risada me acompanhasse por todas as questões que eu lia em seu exame. Mesmo com as mãos suadas, tomando o máximo de cuidado para não molhar a folha de exame, entreguei minha prova e saí o mais que depressa por aquela porta à minha direita, que parecia ficar tão longe. Mas quando eu saí pela porta da sala, respirei fundo (funnnn...) um ar fresco com sensação de liberdade, expulsando aquele ar quente e pesado que estava sentindo em ficar lá, a claridade em meus olhos brilhou, o cantar dos pássaros voltou e me trouxe paz, como se tudo fosse muito mais lindo.

Ao andar pelo corredor, passava por salas e mais salas por ambos os lados (parecia não ter fim) - então veio a impressão de que eu já tinha passado por aquele lugar antes. Comecei a correr ao olhar para as salas, enxergando clones de Carmens no lugar de todos os profes- sores. Corria, corria, corria e não conseguia sair daquele corredor, angustiada parei de correr. Desabei em lágrimas, porque eu sabia que não conseguiria mudar meu passado. Era tarde demais, deparei- -me com sapatos de salto alto vermelho, com uma bolsa vermelha. Então comecei a andar pelo corredor. Eu precisava sair de lá. Avistei a porta no final do corredor com uma echarpe vermelha enrolada na maçaneta e um bilhete escrito:

— Seja bem-vinda professora. Abri a porta e me deparei com o espelho. Agora sim fazia sentido o fato de somente eu ouvir sempre aquele tac... ta... tac...

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