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3. ANOMALIAS E RESPECTIVAS CAUSAS

3.2. Anomalias causadas por acções naturais

A deterioração das estruturas de madeira, pode ter origem em agentes atmosféricos, químicos ou biológicos.

A alteração de cor e textura, resultante da acção combinada da luz, da água e da temperatura, é um aspecto característico do envelhecimento da madeira e não deve ser confundida com a degradação biológica. A luz solar induz a decomposição química superficial dos compostos orgânicos da madeira (especialmente a lenhina), sendo responsável pelo bronzear inicial da madeira. A acção alternada da luz e da água acelera o processo, ocorrendo a deslavagem da camada superficial de lenhina degradada, com alteração de cor da madeira para um tom acinzentado e a obtenção de uma superfície rugosa e ligeiramente friável, em resultado de uma contínua erosão. Por outro lado, os ciclos de perda e aumento de humidade são responsáveis por tensões internas no material que, associadas a gradientes de

humidade entre a superfície e o interior dos elementos, provocam a abertura de fendas de secagem e o desenvolvimento de distorções. Os ciclos de retracção e intumescimento associados a variações de humidade conduzem em geral à perda de rigidez das ligações mecânicas, induzindo aumento de deformações (Fig. 26).

Fig. 26 [4] - Deformação e fendilhação de uma estrutura de cobertura

Em geral, a madeira é resistente à acção de grande número de produtos químicos. No entanto, em certas condições e na presença de certos produtos, a madeira pode sofrer alterações e sobretudo haver corrosão dos ligadores metálicos. A corrosão provoca a diminuição da secção transversal dos elementos metálicos, originando-se subprodutos que vão reagir com a madeira em contacto com o metal, assistindo-se ainda ao alargamento dos orifícios de cravação. Dado que a resistência eléctrica da madeira seca é suficientemente elevada para impedir o desenvolvimento de electro-corrosão, este problema só se põe quando a madeira é mantida em ambientes húmidos (conducentes a teores em água superiores a 20%) ou tratada com produtos higroscópicos, como no caso de certos compostos ignífugos, situações em que é fundamental prever uma protecção eficaz dos ligadores metálicos.

Entre os diversos agentes biológicos, susceptíveis de provocar a deterioração da madei-ra, causam destruição importante os fungos, os insectos e os xilófagos marinhos (Quadro 5).

Os fungos podem dividir-se em dois grupos: os cromogéneos e os de podridão (ou lenhívoros). Os primeiros desenvolvem-se para teores em água na madeira superiores a 25-30%, provocam o ”azulado” e outras colorações mais ou menos importantes, sem degradação significativa de resistência da madeira, visto alimentarem-se de substâncias contidas no

interior das células lenhosas. Os fungos de podridão desenvolvem-se para teores em água na madeira superiores a 20%, alimentando-se directamente da parede celular, destruindo-a e ainda mais se a temperatura se situar entre os 18 e os 26 ºC, de forma mais ou menos acelerada consoante a durabilidade natural da madeira e a eficácia do preservador utilizado. As podridões assim geradas são facilmente identificáveis através da perda de peso e de resistência da madeira, acompanhada por mudanças de coloração e de aspecto (Fig. 27). A madeira das Resinosas, deteriorada por fungos de podridão, apresenta normalmente uma podridão cúbica de cor castanha, enquanto que a madeira das Folhosas apresenta podridão fibrosa branca. É importante referir que, nas condições de madeira total e permanentemente imersa em água (saturada de água), o risco de ataque por estes fungos não existe. O ataque inicia-se pela chegada de esporos (Fig. 28, à esquerda) ou pelo crescimento de uma estrutura filamentosa, proveniente de uma outra peça já atacada. Passado algum tempo, aparecem alterações cromáticas e com o passar do tempo, as enzimas vão formar perfurações ou cavidades que enfraquecem a resistência da madeira.

Quadro 5 - Ataque biológico da madeira

Descrição do agente Descrição do ataque Recomendação

para tratamento Caruncho (hilotrupes

bajulus)

Insecto com cerca de 1 a 3 cm de comprimento, vive 3 anos, dependendo da humidade e temperatura, voa com facilidade.

Faz barulho quando rói a madeira, ouvindo-se distintamente em zonas pouco ruidosas. O ataque detecta-se por orifícios elípticos e no interior da madeira abre galerias ao longo do fio da madeira que vão ficando obturadas por serrim.

Só as medidas de carácter preventivo são realmente eficazes.

Caruncho (anobium puncctatum)

Conhecido como carunhco pequeno com cerca de 2 a 4 mm, vive 3 anos, dependendo da temperatura e humidade

Identifica-se o ataque pela deposição de montículos de serrim junto a orifícios circulares de 1 a 2 mm de diâmetro.

Também aqui só as medidas de carácter preventivo são eficazes

Caruncho (lyctus

brunneus) Situação idêntica ao anobium

Insecto com cerca de 1 a 4 mm de comprimento,desloca-se em fila, tanto no interior da madeira como no interior de "tubos" castanhos, que constroi com terra e saliva.

Não há sinais exteriores do atque que se processa no interior da madeira, é necessário furar para se detectar o ataque.

Fungos

Vegetais que se desenvolvem e penetram na madeira, destruindo-a.

As resinosas apresentam uma podridão cúbica castanha e as folhosas fibrosa branca.

Atacam a madeira imersa em água. Moluscos e crustáceos

(coniophora puteana, poria, serpula lacrymans,…)

Tipos de agentes

Carunchos

Térmitas Insectos

Quanto aos insectos xilófagos, estes podem ser divididos em insectos de ciclo larvar (carunchos) e insectos sociais (térmitas). Os primeiros atacam preferencialmente a madeira seca (ainda que tenham razoável tolerância a valores elevados de humidade e temperatura) e são as larvas que, abrindo galerias na madeira, provocam a sua destruição (Fig. 28, à direita). Após a metamorfose, o insecto no estado adulto abandona a madeira através do orifício de saída (Fig. 29). Este tem existência curta e normalmente não se alimenta, originando apenas a

reprodução da espécie pela deposição dos ovos em fendas ou nos poros da madeira. Devem ser tomadas precauções, por ser maior o risco de infestação, quando haja maior probabilidade de abertura de fendas na madeira, nas zonas de ligação de peças e nos locais fechados ou pouco frequentados como, por exemplo, os desvãos de cobertura. As espécies com maior importância em Portugal são os carunchos grandes Hylotrupes bajulus e os carunchos pequenos Lyctus brunneus e Anobium punctatum (Fig. 30). O Hylotrupes bajulus ataca o borne das resinosas, com um ruído característico levemente audível, produzido pelas larvas quando roem a madeira. É aquele que causa maiores danos. O Lyctus brunneus ataca o borne e a zona de transição entre este e o cerne das madeiras folhosas, identificando-se os orifícios após a emergência dos adultos, pelos quais se escoa o serrim formando pequenos montículos. Com sintomas idênticos ao anterior, o Anobium punctatum ataca o borne de madeiras folhosas e resinosas. As térmitas (Fig. 31), comparativamente aos carunchos, causam maiores danos. Estas vivem em geral no solo, formando colónias compostas por reprodutores, soldados e obreiras, atacando preferencialmente a madeira húmida e em contacto com o solo (directa ou indirectamente). O ataque é caracterizado por ser mais frequente e intenso nas Resinosas do que nas Folhosas e por ser apenas detectável numa fase muito avançada de deterioração, pois todo o processo de desenvolve no interior da madeira, conferindo um aspecto laminado à madeira resultante da destruição das camadas de Primavera sem que tenham sido lesadas as de Outono. Devem ser sempre consideradas medidas construtivas que permitam isolar as madeiras do seu contacto com alvenarias, sobretudo nos pisos térreos ou na proximidade do solo, por materiais que não sejam facilmente atravessados pelas térmitas, obrigando-as a contorná-los e serem assim mais facilmente detectadas.

Fig. 28 - Ciclos de vida do ataque de fungos (à esquerda) e insectos (à direita)

Fig. 29 [8] - Deterioração de uma peça de madeira devido aos insectos

Fig. 30 - Carunchos adultos e respectivas larvas com importância em Portugal (da esquerda para a direita: Hylotrupes bajulus, Lytus brunneus e Anobium punctatum)

Nas madeiras submersas em água do mar, podem encontrar-se ataques de xilófagos marinhos, classificáveis como moluscos e crustáceos. Em Portugal, o molusco Teredo navalis e os crustáceos Limnória e Chelusa destroem a madeira ao abrir nela galerias, sendo em geral

este ataque mais significativo na Primavera.

Fig. 31 - Reticultitermes Lucifugus (Rossi): obreira

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