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5. TRABALHOS PRÉVIOS

5.3. Eliminar a progressão de fungos ou insectos

A degradação causada pelos agentes biológicos é das que têm produzido maior degradação das estruturas e é necessário eliminar ou prevenir a sua progressão antes de qualquer intervenção de reparação ou reforço. As acções correctivas compreendem, essencialmente, a aplicação de fungicidas e insecticidas, a já referida eliminação da fonte de humidade (o que é suficiente para prevenir o ataque de fungos) e o emprego de calor.

A aplicação de fungicidas e insecticidas na madeira já aplicada faz-se maioritariamente por pincelagem que, embora sendo um método pouco eficaz, permite o tratamento da estrutura no local de serviço. Este método conduz a uma impregnação pouco profunda, devendo ser aplicado em duas ou mais demãos. Em aplicações preventivas, só deve usar-se em peças de pequena secção, com baixo risco de ataque por fungos ou insectos e quando não seja necessária longa duração das peças. Para combater os ataques de insectos, é possível aplicar os insecticidas por fumigação [10]. Os produtos usados são o anidrido sulfuroso, a cloropicrina, o paradiclorobenzeno, o ortodiclorobenzeno e o ácido cianídrico (mais eficaz), que apresentam elevado poder de impregnação e elevado grau de toxicidade. A técnica requer alguns cuidados especiais, tais como o isolamento do local, a utilização de máscaras anti-gás, o policiamento da zona e outros. Um outro método para a eliminação do ataque dos insectos consiste em submeter a estrutura a tratar a uma temperatura de 55 ºC com humidade de 100%, durante uma hora e meia [10]. Para tal, é necessário conseguir uma câmara estanque, sendo

ainda assim difícil garantir que o interior de todas as peças atinja a temperatura de 55 ºC e, para além disso, a elevação de temperatura provoca fenómenos de retracção nas madeiras, que resultariam em fendas e empenamentos. Dados os inconvenientes, estes dois últimos métodos são de aplicação muito reduzida.

A actuação preventiva nas estruturas de madeira pode abranger o emprego de madeira de durabilidade adequada, a adopção de disposições construtivas convenientes e a aplicação de tratamentos preservadores. Todos estes métodos pressupõem a sua aplicação antes da madeira ser colocada na posição definitiva. As disposições construtivas tomadas durante a concepção, construção ou utilização do edifício revelam-se determinantes na vida da estrutura. As primeiras preocupações que se devem ter são a ventilação adequada e evitar o contacto com as zonas húmidas, concretizando-se nomeadamente na execução de sistemas de drenagem eficazes e evitando o contacto da madeira com a alvenaria ou com os elementos de fundação. Por outro lado, convém não esquecer o método de secagem, que deverá ser efectuado de modo a não provocar o aparecimento de fendas, para não propiciar o ataque biológico e a redução da resistência mecânica.

A durabilidade natural de uma madeira pode ser entendida como a propriedade de resistir, sem qualquer tratamento, a um determinado organismo destruidor. Esta pode ser estabelecida de acordo com a norma EN 350-1: “Durability of wood and wood-based products. Natural durability of solid wood - Part 1: Guide to the principles of testing and classification of the natural durability of wood”. No entanto, com base em informação acumulada de testes, a norma EN 350-2 [11] atribui classes de durabilidade e de tratabilidade (receptividade de cada espécie ao tratamento de preservação) para um grande número de espécies de madeira. As características da madeira no seu estado natural poderão não ser suficientes para satisfazer as exigências de durabilidade pretendidas e dependem das condições de serviço em que esta se encontra. Deste modo, será necessário atribuir uma classe de risco (Quadro 4), em função da sua exposição à humidade e do seu contacto ou não com o solo, de acordo com as normas NP EN 335-1 [12] e NP EN 335-2 [13], informação esta que servirá de apoio à norma NP EN 460 [14], que, juntando a informação recolhida com as três normas anteriores, determina a necessidade ou não do tratamento preservador (Quadro 6). Na escolha e especificação do produto preservador e processo de tratamento a empregar, deverá

ter-se em conta, respectivamente, as normas EN 599-1 e EN 351-1.

Quadro 6 - Recomendações para o tratamento dos elementos de construção

Pincelagem e aspersão Imersão (tempo) Imersão a quente e frio Impregnação por pressão (Retenção) Impregnação por vácuo Impregnação por difusão Asmas Madres Frechais Ripadas Varedos Contraventamentos Guarda-pós Esteiras

Vigamentos e tarugos sobre caixas de ar

Barrotes sobre massame Parquetes sobre massame Roda-pés

Vigamentos A1 Não

Tarugos. Barrotes sobre lage de

betão C

Tábuas de solho. Parquetes.

Roda-pés D Sim

Soleiras Forras interiores

Forras exteriores (zonas húmidas)

Forras exteriores (zonas secas) C Sim (10 m) Sim (4kg/m3) Sim (6kg/m3) Soleiras

Forras interiores Forras exteriores Soleiras

Forras (zonas húmidas)

Forras (zonas secas) C Sim (10 m)

Soleiras

Forras (zonas húmidas) Forras (zonas secas) Lambris

Pernas Degraus

Guardas D Sim Sim (5m)

Degraus Guardas Elevados C D Coberturas Observações C

Método de tratamento e produto preservador Elementos diferenciados da construção Risco Não Sim Sim Elementos gerais da construção Não Sim Sim (6kg/m3) Sim (10 m) Sim ( 5 m) Sim Sim (4kg/m3) Sim Não Não Sim (5m) Sim Não Sim Pramentos Sim (4kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim A1 A2 Exteriores resistentes Não Térreos Pavimentos Interiores (estrutura Escadas A1 B A1 A2 D D C Exteriores de enchimento Não Não Sim Interiores (estrutura de madeira) Interiores resistentes Interiores não resistentes Sim Não Não Sim (10 m) Não Sim (60m) Sim (5m) Sim (10 m) Sim (5m) Não Sim Sim Sim Sim Sim (6kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim (4kg/m3) Sim (4kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim Sim Sim (4kg/m3) Sim (4kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim (6kg/m3) Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim (9kg/m3) Sim (9kg/m3) Sim Sim Não Não Sim Sim

Existem no mercado diversos tipos de produtos preservadores, devendo todos eles obedecer às seguintes condições fundamentais [15]: exercer uma acção tóxica, inibitiva ou repulsiva em relação aos agentes biológicos da madeira; ser de fácil introdução na madeira; manter a sua acção protectora, apesar do envelhecimento que possa resultar para a madeira tratada devido às condições de emprego e não diminuir a aptidão da madeira para a utilização a que se destina. Em complemento, poderão adequar-se as seguintes condições: odor e coloração residuais da madeira tratada; acção corrosiva sobre os órgãos metálicos de ligação; toxicidade para o homem, animais e plantas e compatibilidade com os produtos de acabamento, como sejam tintas e vernizes. Os produtos preservadores podem classificar-se em [15]: oleosos; aquosos e em solvente orgânico.

Os produtos oleosos, usados desde longa data no tratamento industrial de madeiras, obtêm-se por destilação dos alcatrões de hulha, sendo os mais importantes o creosote e os

óleos de antraceno. Não são utilizáveis em edifícios pois têm forte odor, provocam manchas e não permitem a aplicação de produtos de acabamento como, por exemplo, as tintas. Aconselham-se para aplicações exteriores (por exemplo, postes) e em meio marítimo.

Pelo contrário, os produtos aquosos podem ser aplicados em edifícios, pois permitem a utilização de outros materiais de acabamento e não dão origem a cheiros ou manchas inconvenientes. São produtos comuns os compostos de crómio, cobre e arsénio (CCA), compostos de crómio, cobre e boro (CCB) e os compostos de crómio, cobre e flúor (CFK). O primeiro destes tem inconvenientes em termos ambientais e, por isso, tem tendência a ser retirado do mercado; para além disso, requer protecção dos ligadores metálicos contra a corrosão. Geralmente, os produtos aquosos são aplicados em autoclave ou alguns deles por imersão - difusão e requerem secagem após impregnação.

Os produtos em solvente orgânico são compostos por um elemento tóxico (pentaclorofenol, naftalenos metálicos ou clorados, hexaclorobenzeno, entre outros), dissolvido num solvente orgânico mais ou menos volátil. São caracterizados por terem penetração fácil (mesmo por pincelagem ou aspersão), boa toxicidade, não apresentarem odores nem manchas, aceitando a aplicação de acabamentos. Não são aplicáveis a madeiras em contacto com o solo.

O processo de tratamento a empregar para aplicação dos produtos anteriores, será escolhido em função da espécie de madeira, do seu teor em água, do risco de ataque e com a durabilidade exigida. Poderão ser indicados os seguintes métodos: pincelagem e aspersão; imersão rápida e imersão prolongada; imersão a quente e frio em tanque aberto; impregnação por pressão; impregnação por vácuo; impregnação por difusão; substituição da seiva.

À semelhança do método por pincelagem referido anteriormente, o método por aspersão origina impregnação pouco profunda, devendo apenas usar-se em peças de pequena secção, com baixo risco de ataque por fungos ou insectos e quando não seja necessária longa duração das peças. A aspersão deve realizar-se em túneis equipados com bicos convenientemente localizados de modo a assegurar distribuição regular do produto.

No método de imersão, as peças são mergulhadas durante um certo período de tempo em tinas, contendo o produto preservador (Fig. 33). A profundidade de penetração obtida depende do tempo de imersão e da espécie da madeira e é maior para produtos em solvente orgânico. Conforme o tempo de imersão varie entre alguns segundos e alguns dias, a imersão pode-se classificar respectivamente em rápida e prolongada, sendo assim muito variável a eficácia da penetração conseguida, apesar de não ser proporcional ao tempo de imersão. A eficácia da imersão rápida assemelha-se ao tratamento por aspersão. Por fim, a imersão pode ser realizada manual ou mecanicamente e peça a peça ou por grupos de peças.

Fig. 33 - Equipamento para o tratamento da madeira por imersão

A imersão a quente e frio consiste na sucessão de duas imersões quente e fria. A primeira, feita à temperatura de cerca 80 a 90 ºC, dilata o ar e a água contidos nos espaços celulares, provocando a sua expulsão parcial. De seguida, a imersão a frio retrai o material remanescente, originando uma subpressão que “suga” o produto preservador para o interior das células. Esta técnica conduz a bons níveis de penetração, sendo comparável ao tratamento por pressão para madeiras com borne facilmente impregnável. Nos casos em que os produtos preservadores (aquosos e em solvente orgânico) não possam ser aquecidos a temperaturas de 80 a 90 ºC, utilizam-se métodos alternativos para aquecimento da madeira, antes da imersão a frio, tais como o vapor de água ou ar quente.

Para impregnação por pressão, utiliza-se um cilindro fechado (autoclave), onde é introduzida a madeira, forçando-se a aplicação do produto preservador através de pressão. No processo de tratamento, podem ser utilizadas diversas sequências [16]:

vácuo inicial destinado a remover o ar das células, facilitando assim a impregnação posterior a uma pressão de 0.8 a 1.5 MPa; um vácuo final remove o líquido em excesso da superfície da madeira, antes de ser reposta a pressão atmosférica normal; a absorção e penetração conseguidas são muito elevadas;

- processo Rueping ou de células vazias: a madeira é sujeita a uma sobrepressão de ar inicial antes de se introduzir a madeira na autoclave, para que no final esse ar comprimido no interior da madeira force uma parte do preservador a sair; esta técnica conduz a penetrações profundas, com retenções relativamente baixas; o tratamento conclui-se com uma operação de vácuo final semelhante à do processo Bethel.

Fig. 34 - Sequência do tratamento da madeira por pressão

O processo de tratamento por vácuo (Fig. 35), também conhecido por duplo vácuo, aplica-se somente a madeira preparadas nas suas formas finais. Consiste em aplicar vácuo ini-cial para remoção do ar das células, impregnando de seguida a madeira à pressão atmosférica ou a uma pressão de 0.2 MPa. No final, aplica-se novamente o vácuo para remoção de líquido em excesso. Este método só se aplica com produtos com solvente orgânico.

Fig. 35 - Sequência do tratamento da madeira por vácuo

O tratamento por difusão baseia-se na propriedade de certos produtos aquosos de se difundir na madeira verde, devido ao seu alto teor de humidade. A madeira é sujeita a uma aspersão em túnel ou a imersão e depois conservada em pilhas compactas, fechadas e

cober-tas, numa atmosfera saturada de humidade, para difusão do produto preservador no interior das peças. As soluções de tratamento devem ser aquecidas, para que haja dissolução completa.

O método de substituição da seiva consiste em substituir a seiva bruta e a água livre contidas no lenho por uma solução aquosa, imediatamente após o abate da árvore. Aplica-se sobretudo ao tratamento de postes.

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