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A partir da década de 2000, o Governo Federal, por meio do Ministério do Esporte, órgão responsável pela elaboração da Política Nacional do Esporte, toma uma série de medidas, a começar pela publicação da Portaria Interministerial n.º 73, de 21 de junho de 2001, dos Ministros de Estado da Educação e do Esporte e Turismo. Com a redação própria do instrumento normativo, fica determinado que:

Art. 1º - A educação física constitui-se componente curricular obrigatório da educação básica, sendo facultativa no curso noturno.

Art. 2º- No cumprimento do disposto no artigo anterior, os estabelecimentos de ensino deverão ministrar a educação física de forma integrada à proposta pedagógica da escola, e voltada ao bem-estar, à integração social e ao desenvolvimento físico e mental do aluno, apoiando as práticas desportivas. (BRASIL, 2001).

Percebemos, por meio dessa portaria, que o governo federal dá início a uma política pública esportiva educacional para reforçar a importância do componente curricular de Educação Física nas escolas e na rede de ensino, especialmente pelo fato de a nova prescrição da LDB, em relação à Educação Física na escola, ganhar nova redação no parágrafo 3º do artigo 26, com a inclusão do termo “obrigatório”, de modo que a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, torna-se componente curricular obrigatório da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, e sendo facultativa nos cursos noturnos. (BRASIL, 2001).

Diante da prerrogativa adquirida pela Educação Física, ou seja, a de componente curricular obrigatório à proposta pedagógica da escola, assina-se, em 21 de junho de 2001, a referida Portaria Interministerial; e, concomitantemente, é lançado o programa Esporte na Escola. Segundo Oliveira (2009), o objetivo desse programa é: “[...] democratizar a acesso à prática e à cultura do esporte como instrumento educacional, visando ao desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens, como meio de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida.” (OLIVEIRA, 2009, f. 102).

Com isso, esperava-se criar condições para a prática de esportes nas aulas de Educação Física, nos horários extracurriculares e nos finais de semana. No entanto, a despeito do que se articulou no governo Fernando Henrique Cardoso para fundamentar a Educação Física como componente curricular esportivo da escola, isso não foi suficiente para balizar e assentar a Educação Física como disciplina responsável por estruturar as práticas pedagógicas esportivas a partir do contexto educacional.

Para além desses marcos, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, iniciaram- se os encaminhamentos a partir da regulamentação da Lei Pelé e do Decreto n.º 7.984, de 8 de abril de 2013. A partir desse decreto, o esporte passa a configurar-se da seguinte forma:

Art. 3º Esporte Educacional: praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.

Esporte escolar: praticado pelos jovens de talento no ambiente escolar, com a finalidade de desenvolvimento esportivo dos seus praticantes sem perder de vista a formação dos mesmos para a cidadania. (BRASIL, 2013, p. 7).

Nesse sentido, depreendemos que o esporte passa a ser praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade e a competitividade excessiva de seus praticantes, com a finalidade de se alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.

Diante do exposto, percebemos, a começar por esse decreto e pelas regulamentações de políticas públicas esportivas educacionais implementadas pelos sucessivos governos, que tais direcionamentos são inconsistentes, tendo em vista a valorização do esporte de rendimento e, dessa forma, relegando-se a segundo plano

o esporte educacional. Tal argumento embasa-se nas leis relacionadas – por exemplo, Lei n.º 8.672/1993 (BRASIL, 1993); Lei n.º 9.615/1998 (BRASIL, 1998); Lei n.º 11.438/2006 (BRASIL, 2006); Lei n.º 12.395/2011 (BRASIL, 2011) – e na crítica de Tubino (2001) em relação ao esporte de rendimento:

É uma prática que dá ênfase aos mais capacitados, ou seja, aos talentos esportivos. Além deste efeito negativo, por excluir os menos habilidosos, no esporte moderno há outros como: o preconceito contra as mulheres na prática esportiva; o uso de substâncias proibidas para ganho de força; corrupção; agressividade durante a prática esportiva; e o início prematuro de crianças e adolescente no esporte competitivo. (TUBINO, 2001, p. 40).

Assim, entendemos que é necessário reestruturar a política educacional esportiva, ou seja, sair do senso comum e transformá-la em uma prescrição concreta e prática que requalifique o esporte educacional como uma ferramenta pedagógica emancipatória, a ser propositiva a partir dos PPPs das escolas.

Ante o exposto, encontramos em Oliveira (2009) as possibilidades emancipatórias do esporte na escola. O autor afirma que não se deve simplesmente reinventar o currículo da Educação Física escolar (o que deve ser reinventado é o esporte nesse contexto). Além disso, deve-se, sobretudo, atrelar essa prática do esporte na escola ao Projeto Político-Pedagógico de cada instituição. Nesse sentido, a Política Nacional do Esporte (BRASIL, 2005) amplia o conceito de esporte educacional para “esporte escolar”, nos seguintes termos:

O esporte praticado na escola no âmbito da educação básica e superior, seja como conteúdo curricular da Educação Física ou atividade extracurricular, conforme a Lei 9.394/96-LDB, e que deve atender os objetivos dos respectivos projetos político-pedagógicos. (BRASIL, 2005, p. 25).

Diante de tal perspectiva, Oliveira afirma que “[...] o projeto político-pedagógico é que define a teleologia educacional, que pode ser orientada tanto para a aquisição do esporte como um bem cultural, sob a ótica do lazer, quanto para o rendimento.” (OLIVEIRA, 2009, f. 158).

Na sequência, apresentamos o esporte educacional, no período compreendido entre 2006 e o atual, a fim de definir o sentido precípuo da política educacional do esporte.