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5 A ATUAÇÃO DO CADE NA CONSTITUIÇÃO DA COMPANHIA DE BEBIDAS

5.3 ANTARCTA E BRAHMA: DA CONSTITUIÇÃO À FUSÃO

O setor de cervejas possui uma história antiga no Brasil e sua consolidação iniciou há muitos anos. A primeira fábrica de cervejas brasileira foi constituída em 1853 no Rio de Janeiro; esta cerveja recebeu a marca de Bohemia em 1898, e até hoje, é comercializada no Brasil e no mundo. Nos primeiros anos de fabricação nacional, as cervejarias tinham uma proporção pequena; a produção era manual e as fábricas possuíam capacidade limitada. Na década de 70, a produção anual atingiu o patamar de 67 milhões de litros; isso ocasionou uma queda na importação do produto, consequentemente, caracterizando um momento de mudanças no cenário nacional cervejeiro (QUINTELLA, 2013).

Fábricas maiores começaram a surgir no país a partir de 1890, impulsionadas principalmente pela influência de empresários alemães. Já no século XX, as maiores cervejarias brasileiras eram encontradas nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará e Minas Gerais. Com a abertura econômica, iniciada na década de 90, ocorreu uma maior disponibilização de produtos, levando a uma maior liberdade de escolha e assim, aumento no bem-estar social. As empresas, também passaram a investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), pois precisavam se diversificar para manterem sua posição no mercado, buscando assim, anular os riscos e incertezas, ao qual o setor de cerveja está sujeito (QUINTELLA, 2013).

Nestes termos, visando anular às inúmeras incertezas do mercado, as firmas começaram a formar alianças. Essas alianças se tornaram uma forte tendência mundial, e eram realizadas através de fusões e aquisições, originando grandes conglomerados. A fusão de destaque no mercado cervejeiro nacional foi entre a Companhia Cervejaria Brahma (Brahma) e a

Companhia Antarctica Paulista Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos (Antarctica), constituindo a Companhia de Bebidas das Américas – AMBEV, no ano de 1999. Essa fusão gerou grandes mudanças no setor cervejeiro brasileiro e mundial. O ato de concentração ganhou elevada atenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), pois com a união das empresas ocorreria uma elevada concentração no setor, à qual poderia prejudicar os concorrentes e a sociedade (GARCIA; GATAROSSA; NEVES, 2004).

A empresa Antarctica foi fundada por sete empresários no ano de 1885, em São Paulo, a empresa, inicialmente, era pequena e restringia-se a produção de gelo e comida. Somente três anos após sua constituição é que passou a dedicar-se a produção de Cerveja, no ano de 1888. E em apenas quatro anos, a empresa já produzia cerca de 4 milhões de litros de cerveja. Em 1893, a Antarctica passa por mudanças no que concerne ao controle da companhia; a empresa passou a ser controlada pela Zerrener, Büllow & Cia, a qual iniciou forte processo de expansão, que resultou na compra da Cervejaria Bavária, em 1904, e anos mais tarde, a empresa inaugura sua primeira fábrica fora da cidade de São Paulo (HIGUTHI, 2002).

Continuando seu processo de expansão, a empresa construiu novas fábricas e realizou a compra de outros concorrentes mais fracos, como a Bohemia. Na década de 70, a Antarctica passou a produzir mais de 500 milhões de litros de cerveja e refrigerantes, e a expansão atingiu também, o mercado internacional, mediante exportação do Guaraná Antarctica. Nas décadas seguintes, a empresa formou o Grupo Antarctica com 22 empresas coligadas e iniciou um processo de modernização, para enfrentar o mercado que se encontrava cada vez mais competitivo (HIGUTHI, 2002).

Entre as empresas que ganharam destaque no mercado, na década de 1990, estava à empresa Brahma, líder do mercado em, praticamente, todo o período. A Brahma foi constituída em 1888, no Rio de Janeiro, pelo imigrante suíço Joseph Villiger; a empresa se denominava “Manufatura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia” e tinha uma produção diária de 12 mil litros de cerveja. No ano de 1894, o imigrante realizou uma sociedade, denominada Georg Maschke & Cia. E, após dez anos nasce, a Companhia Cervejaria Brahma, resultado da fusão entre a Georg Maschke & Cia. e a Preiss Häussler & Cia; no ano da fusão, a empresa chegou a produzir 6 milhões de litros (HIGUTHI, 2002).

Nos anos 80, a empresa teve grande expansão, mediante a aquisição do controle acionário das Cervejarias Reunidas Skol Caracu S.A., denominando-se a partir de então, Brahma Administração, Investimentos e Participações Ltda. E no final da década, a Brahma foi comprada pelo Grupo Garantia. Os novos dirigentes realizaram um profundo e extenso processo de expansão, modernização e busca de eficiência. No início da década de 90, a

participação somada da marca Brahma era de 38% superando a da Antarctica (HIGUTHI, 2002).

No desenrolar dos anos 90, o setor de cervejas ficava cada vez mais competitivo. A Brahma se fortalecia, porém outras empresas, também estavam crescendo e, consequentemente, aumentando a rivalidade entre as firmas do setor e diminuindo a parcela de mercado das principais marcas, conforme pode ser verificado no Gráfico 14. Os concorrentes que obtiveram destaque eram a Kaiser, à qual apresentava elevados índices de crescimento, a Schincariol e a Skol, marca associada ao grupo Brahma (HIGUTHI, 2002).

Fonte: Higuthi (2002).

Diante desse cenário, a Antarctica perdia espaço no mercado; sua participação em 1995 era de 32%; já em 1997, caiu para 24%; tais informações representam a queda da empresa tanto no mercado de cervejas como de refrigerantes. Esses dados foram relevantes para o aumento do grau de endividamento da Companhia, alcançando a casa dos 550 milhões de dólares em 1999. Desde o ano de 1996, a Antarctica buscava um sócio que pudesse lhe ajudar em seus problemas financeiros. Assim, neste mesmo ano, constitui uma joint-venture com a empresa Anheuser-Bush (Anheuser). Através dessa união ocorreu a produção da marca Budweiser no Brasil, como maiores facilidades na exportação do produto nacional da marca Antarctica. Nesta oportunidade, o CADE interferiu no processo e a união deveria ser desfeita em dois Gráfico 14 - Participação no mercado de cervejas – Brasil, 1989 – 1999.

anos. O mesmo aconteceu na união entre a Brahma e a Cervejaria Miller, empresa, também americana (ZANIOL, 2011).

Ao passo de que as empresas não poderiam formar uma joint-venture com empresas estrangeiras do mercado de bebidas, pensou-se então, na possibilidade de união entre as empresas nacionais, com o objetivo de obter uma redução nos custos, fortalecimento de sua posição societária, melhoras na logística de distribuição e alcance do mesmo nível que as grandes empresas internacionais Anheuser e Miller (ZANIOL, 2011).

O fato de a Antarctica e a Brahma serem as maiores companhias brasileira de cerveja, mostrou-se um fator relevante à fusão entre elas. Em 1998 a Antarctica possuía 12 fábricas espalhadas pelo país e detinha um faturamento bruto de 3,3 bilhões de reais; já a Brahma detinha 16 fábricas e um faturamento bruto de 6,8 bilhões de reais. No Quadro 9, é verificado a situação de ambas as empresas no ano de 1999 (ZANIOL, 2011).

Fonte: Camargos e Barbosa (2001).

Assim, neste cenário, no qual as empresas que lideravam o mercado cervejeiro estavam lutando para continuar no topo e não perder seu lugar para as novas marcas, que em 1999, no dia 1°. de Julho, foi anunciada a fusão entre a Companhia Cervejaria Brahma e a Companhia Antarctica Paulista Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos, à qual resultaria na Companhia de Bebidas das Américas – AMBEV. A nova empresa detinha o controle de 70% do mercado de cerveja, e 40% do mercado de bebidas do Brasil. Era a quinta maior empresa de bebidas e a quarta maior cervejaria do mundo, apresentando produtos e marcas diversificadas, segmentado em 37 marcas de cerveja, 40 de refrigerantes, 7 de água, 8 de isotônicos, 4 de chás, 7 de sucos e 6 de malte (GARCIA; GATAROSSA; NEVES, 2004).

Como a fusão resultou em uma empresa detentora de mais que 20% do mercado de cervejas e bebidas, em geral; o caso foi analisado e julgado pelo CADE. A análise levou nove meses e em 2000, o CADE deu sua decisão, à qual viria a mudar o setor cervejeiro e de bebidas do Brasil e do mundo (ZANIOL, 2011).

5.4 A ATUAÇÃO DO CADE NO ATO DE CONCENTRAÇÃO QUE RESULTOU NA