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3.3 OS PRIMEIROS PASSOS DO CADE: 1962 – 1973

3.3.1 O CADE, antes do Golpe de Estado: 1962 – 1964

O CADE, órgão integrante a estrutura da Presidência da República, era constituído por um presidente e outros quatro conselheiros nomeados pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal; os nomeados deveriam ser “brasileiros maiores de 30 (trinta) anos, de notório saber jurídico ou econômico e de reputação ilibada” (BRASIL, 2013, p. 42). Em agosto de 1963, é nomeado o primeiro presidente do CADE, o Embaixador Lourival Fontes. “Ele levou a termo a tarefa de institucionalizar o órgão, elaborando seu regulamento interno e o regimento interno” (NAVARRETE, 2013, p. 25). Além do presidente, o primeiro Conselho do CADE era formado pelos Conselheiros, Mario Martins, Nelson Omegna, Saturnino Braga, Irineu Pontes Vieira, e pelo Procurador Geral Paulo Germano de Magalhães (NAVARRETE, 2013).

Conforme mostra Navarrete (2013), o objetivo visado era reorganizar a estrutura arcaica da economia brasileira, valendo-se, além de outros artifícios, de políticas de defesa da concorrência. No discurso de posse dos cargos do Conselho do CADE, o Presidente João Goulart deu ênfase aos objetivos e resultados desejados com a constituição do órgão. Demonstroutambém, a grande importância da instituição de um órgão para cuidar da política de defesa da concorrência nacional, em uma economia subdesenvolvida como a brasileira.

Vamos fazer uma revolução pacífica. Não no nosso interesse, mas no interesse do País, para a formação de uma sociedade moderna, de uma sociedade em que todos possam participar da riqueza nacional, para que elas não se constituam em privilégios e abusos que devem ser combatidos pelos senhores, com o apoio do presidente, e acima de tudo, com o apoio decisivo do povo, em combate permanente e patriótico. (...) um pesado muro de pedra separa a missão confiada àquele Conselho dos grandes objetivos a serem atingidos, mas que para rompê-los o CADE não contará somente com seu apoio, pois, o povo brasileiro será o seu maior aliado na busca de melhores condições de vida (NAVARRETE, 2013, p. 26).

Inicialmente, a atuação do CADE se mostrou pouco expressiva, devido ao modelo econômico que se encontrava instalado no Brasil, caracterizado por uma política de preços incompatível com a livre concorrência e estímulos do governo a criação de grandes grupos econômicos, constituídos, muitas vezes, através de fusões e incorporações. As decisões do CADE, também foram frequentemente reformuladas pelo Poder Judiciário, sendo muitas condenações anuladas pela Justiça. Também, não havia provas suficientes para condenação por práticas anticompetitivas (BRASIL, 2013).

No primeiro processo administrativo, conduzido pelo CADE, nota-se que, inicialmente, a instituição conveio à política popular na luta contra o capital estrangeiro. O primeiro caso foi denominado “O Caso da Barrilha”, Processo Administrativo n°. 0001/1963. O processo iniciou, segundo Luiz Rafael Mayer, integrante da procuradoria do CADE em 1964, de uma denúncia feita por Paulo Germano Magalhães, o atual Procurador Geral do Conselho (BRASIL, 2013).

O Processo abordava um suposto caso de dumping praticado no mercado de importação de carbonato de sódio. O minério era conhecido como barrilha, produto utilizado na produção de vidro, sabão e detergente (BRASIL, 2013). Dumping, não seria um caso de análise do CADE, naquele período, porém por causar prejuízos à economia popular, pois prejudicava a produção de vidro nacional, entendeu-se que este seria um caso de análise do Conselho (NAVARRETE, 2013).

Devido às consequências do Golpe de Estado, em 1964, sobre o CADE, este caso que deveria ter sido apreciado até abril de 1964, teve sua decisão tomada apenas em agosto de 1966, e a “[...] acusação de prática de dumping contra as empresas produtoras e importadoras da matéria-prima, reunidas na Associação Técnica Brasileira de Indústrias Automáticas de Vidro – ATBIAV, foi julgada como improcedente” (BRASIL, 2013, p. 45).

O CADE, neste período, também atuou na análise, por meio da Averiguação Preliminar n°.0002/1964, da disputa diplomática entre Brasil e França, caso conhecido como “Guerra da Lagosta”. Lembrando que este caso seria em princípio de competência do Ministério das Relações Exteriores (NAVARRETE, 2013).

O Conselho instaurado antes do Golpe visava às necessidades e os interesses da economia popular, porém com a aplicação do Golpe de Estado, os objetivos políticos ideológicos, na condução e escolha dos casos, são deixados de lado. No período inicial, havia interesse dos funcionários do CADE, em divulgar conceitos e experiências realizados no ambiente econômico brasileiro, tanto nacionalmente como internacionalmente.

A entidade não tinha grande importância política e social. Para se ter ideia, funcionava no subsolo do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Era uma inovação que começava a dar seus primeiros passos. Por não ser ainda conhecida pelo público, não era requisitada a ponto de haver outras denúncias (BRASIL, 2013, p. 44).

E assim, Mayer conclui que o destino do CADE naquele momento era:

Com a ditadura, o CADE, que ainda não estava totalmente instituído, foi gradativamente deixado de lado, até ser extinto por inanição e pela limitação das suas funções. Como hoje, os mandatos dos conselheiros eram exercidos por um prazo determinado. Com a saída de um deles, o substituto deveria ser indicado pela Presidência da República. Como não havia interesse no funcionamento do órgão, encerrado um mandato de conselheiro, o governante de plantão não fazia a indicação do substituto, como lhe cabia. Pela omissão, decretou-se a extinção do Cade (BRASIL, 2013, p. 44 e 45).

Outro impasse a efetiva implantação do CADE como autoridade de defesa da concorrência, no período, era a criação de instituições oficiais responsáveis pelo controle de preços na economia, como a constituição, no mesmo ano de instituição do CADE, da Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB), criada através da Lei Delegada 5, de 26 de setembro de 1962. A SUNAB era responsável pela elaboração e promoção de uma política nacional de abastecimento de produtos essenciais, podendo fixar cotas de produção, importação e exportação (BRASIL, 2013).

Assim, neste primeiro período, como no pós-golpe, verifica-se que a atuação do CADE era restrita, devido às diversas barreiras encontradas, o fato de a atividade econômica ser regulamentada pelo Estado e o governo atuar ativamente na prestação de serviços, dificultava a presença de um ambiente concorrencial no Brasil.