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Antecedentes à reestruturação (Monopólio)

Antes de sua reestruturação, o sistema elétrico brasileiro operava num monopólio regulado em que as empresas recebiam uma concessão para operar em uma determinada região onde todos os consumidores eram cativos, não podendo comercializar sua energia fora de sua concessão. As atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização estavam integradas numa mesma empresa e eram estabelecidos contratos bilaterais de médio e longo prazo para a comercialização da energia entre as empresas do setor. Na Figura 2.5 ilustra-se o antigo modelo do setor elétrico em que era adotada uma estrutura vertical tipo monopólio do Estado.

Figura 2.5 Estrutura do antigo modelo do setor elétrico.

Fonte: (FALCÃO, 2006)

“Em sua grande maioria, essas empresas tinham uma participação acionária mista (estatal e privada), com controle acionário estatal. O segmento de geração e transmissão era constituído por empresas federais sob o controle da Eletrobrás (Furnas, Chesf, Eletrosul e Eletronorte) e algumas estaduais (Cesp, Cemig, Copel, etc.) enquanto que o segmento de distribuição era, principalmente, formado por empresas estaduais (Cerj, Celg, Cpfl, etc.), algumas federais (Light, por exemplo) e poucas privadas (Cataguazes, etc.). O setor tinha a característica de monopólio regulado, com a regulação exercida pelo DNAEE (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica). A Eletrobrás, além de seu papel de empresa holding, era também responsável pelo planejamento e execução da política federal de energia elétrica”. (FALCÃO, 2006)

GERAÇÃO T D C GERAÇÃO T T D C

Quanto aos aspectos referentes ao financiamento do setor de energia elétrica brasileiro podem ser observadas três fases distintas: (SILVEIRA, 1997)

Na primeira fase, chamada fiscal, a principal fonte de financiamento era oriunda de recursos públicos federais e estaduais, do Fundo Federal de Eletrificação e dos créditos subsidiados pelo BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento). Além disso, os estados e municípios eram obrigados a aplicar os 60% do IUEE (Imposto Único sobre Energia Elétrica) que lhes correspondia, no setor de energia elétrica. Observa-se que neste período (até 1967) foram gerados as principais condições institucionais e os instrumentos financeiros para a futura expansão do setor, onde a tônica da política setorial já começava a se concentrar na expansão mediante recursos próprios.

A partir de 1967, é iniciada a fase empresarial, onde o foco foi a retomada dos investimentos no setor que eram baseados em 67% de recursos próprios e em 33% de recursos de terceiros. Isso se tornou possível uma vez que o setor elétrico brasileiro apresentava uma situação econômico-financeira equilibrada, com níveis tarifários suficientes para cobrir os custos operacionais e remunerar o capital investido.

A partir de 1974 tem início a fase de endividamento externo que culminou com a crise financeira do setor elétrico motivada por uma série de medidas adotadas pelo governo brasileiro tais como: - adoção de uma política de contenção tarifária, que tinha entre outros objetivos reduzir a inflação, subsidiar indústrias eletro-intensivas voltadas para a exportação e reduzir a demanda por derivados de petróleo importado; - utilização do setor elétrico para a captação de recursos externos, necessários para o fechamento do balanço de pagamento do país, que em alguns casos não eram aplicados no próprio setor; - modificação da política tarifária que deixou de ser diferenciada por região e passou a ser praticada de forma equalizada em todo o país, além disso, estas passaram a evoluir em um patamar abaixo da inflação, obrigando o setor a aumentar o nível de captação de recursos externos, com o conseqüente

processo de endividamento; - corte dos investimentos em 1981, 1983 e 1984 que adiou a conclusão de vários projetos, aumentando seus custos em função dos juros durante a construção. No final de 1986 a dívida consolidada do setor de energia elétrica atingia 24 bilhões de dólares, dos quais 80% em moeda estrangeira, e a participação no ativo total do setor eram representadas por 35% de recursos próprios e 65% de capital de terceiros.

Assim, em 1985, é elaborado o Plano de Recuperação do Setor de Energia Elétrica (PRS), cujos recursos necessários para viabilizar a expansão eram oriundos de três fontes básicas: recursos tarifários, recursos orçamentários e rolamento da dívida. Ressalta-se que esta medida gerou uma melhoria na estrutura de financiamento do setor que já apresentava ao final de 1988, 46% de recursos próprios e 54% de terceiros. (SILVEIRA, 1997)

Neste contexto, ganhou força a corrente que defendia a privatização do setor elétrico como forma de assegurar os recursos necessários para a consecução do plano de obras setorial. (SILVEIRA, 1997)

O processo de privatização das estatais no Brasil começou a ser discutido no governo Figueiredo, 1979 a 1984, sob o argumento de que tais empresas tinham saído do controle das autoridades federais. Já no governo de Fernando Collor de Mello foi dada grande ênfase à viabilização da privatização de empresas estatais com a promulgação de duas leis e dois decretos: a) Lei Nº. 8031, de 12 de abril de 1990, que criou o Programa Nacional de Desestatização – PND; b) Decreto Nº. 99.463, de 16 de agosto de 1990, que regulamentou a lei anterior; c) Decreto Nº. 99.464, de 16 de agosto de 1990, que designou o BNDES gestor do PND; d) Lei Nº. 8.250, de 24 de outubro de 1990, que estabeleceu as formas de pagamento das empresas privatizadas. (TOMASQUIM, 2002)

Em 1992, as dívidas das concessionárias estaduais relativas às faturas de energia comprada e não quitada atingiram a marca de 5 bilhões de dólares. Assim, o governo Itamar Franco promoveu significativas alterações na legislação do setor elétrico brasileiro, visando o restabelecimento da adimplência entre as empresas estatais, e a retomada dos investimentos em geração com o aporte do capital privado. Logo, foi

promulgada a Lei 8.631 de março de 1993, que estabelece, entre outras coisas, a desequalização tarifária e a obrigatoriedade de celebração de contratos entre concessionárias supridoras e distribuidoras. Ao abolir o regime de equalização tarifária a referida Lei atribuiu às concessionárias a prerrogativa de propor trienalmente os níveis das tarifas de energia elétrica para homologação pelo DNAEE.

Outra medida favorável à participação do capital privado nos investimento do setor foi a instituição, pelo governo Itamar Franco, do Sintrel (Sistema Nacional de Transmissão de Energia Elétrica) . O Sintrel foi definido como um pacto operativo entre as concessionárias de transmissão, fundamentado no princípio de livre acesso a rede de transmissão. Assim, poder-se-ia estimular a participação do capital privado no setor de geração com a entrada dos produtores independentes. Entretanto, o Sintrel foi inviabilizado pelas dificuldades para definição de mecanismos de tarifação para o transporte de energia no sistema.

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