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Modelo Lula: ajustes no modelo de livre mercado

Em janeiro de 2003 toma posse o Presidente Luís Inácio Lula da Silva que propôs uma revisão no setor de energia elétrica. Assim, sob o comando da Ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff foi iniciado o processo de redefinição do modelo institucional do setor que deveria obedecer a oito diretrizes básicas: prevalência do conceito de serviço público para a produção e distribuição de energia elétrica aos consumidores cativos; modicidade tarifária; restauração do planejamento da expansão; transparência no processo de licitação permitindo a contestação pública, por técnica e preço, das obras a serem licitadas; mitigação dos riscos sistêmicos; manutenção da operação coordenada e centralizada do sistema hidrotérmico brasileiro; universalização do acesso e do uso dos serviços de eletricidade; e modificação no processo de licitação de concessão do serviço público de geração, priorizando a menor tarifa.

Diante das recomendações apresentadas pelo grupo de trabalho responsável por apresentar uma proposta de reforma ao modelo FHC, o presidente Lula emitiu as medidas provisórias (MP) Nº. 144 e Nº. 145 estabelecendo as bases para implantação do novo modelo.

A MP Nº 144 tratou da definição das regras de comercialização de energia definindo como elementos fundamentais do novo modelo: - a competição na geração mediante a realização em separado dos leilões de energia de empreendimentos existentes (energia velha) e de novos empreendimentos (energia nova) pelo critério de menor tarifa; - a existência de dois ambientes de contratação de energia, um regulado para proteção do consumidor cativo e outro livre para estímulos aos consumidores livres; - instituição de um pool de contratação regulada de energia a ser comprada pelas distribuidoras. Outra medida importante desta MP foi a substituição do MAE pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) que dentre outras atribuições ficou responsável pela administração de contratos de compra e venda de energia no ambiente de contratação regulada e contabilização e liquidação das diferenças contratuais no ambiente de contratação livre.

A MP Nº145 criou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pela elaboração de estudos de planejamento integrado de recursos energéticos e planos de expansão do setor de energia elétrica. Além disso, criou o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), responsável por manter a segurança do suprimento de energia elétrica de forma a garantir o atendimento do mercado no horizonte de cinco anos.

O modelo proposto preservou as funções da ANEEL e do ONS e deu ao Conselho Nacional de Política Energética duas novas funções: formular o critério de garantia estrutural de suprimento de energia elétrica e a licitação individual de projetos especiais para o setor. Quanto a Eletrobrás, esta manteria as funções de holding das empresas federais, ficando responsável pela administração dos encargos e fundos setoriais, pela gestão do programa Luz para Todos e pela comercialização da energia de Itaipu Binacional e das fontes alternativas do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa).

Em março de 2004 foram promulgadas as leis Nº. 10.847 e Nº. 10.848, além dos decretos Nº. 5.163 e Nº. 5.175, que estabeleceram um novo marco regulatório.

Princípios básicos do modelo Lula

O modelo Lula foi delineado com o objetivo de vencer alguns desafios, tais como: promover a modicidade tarifária, garantir a segurança do suprimento de energia elétrica, assegurar a estabilidade do marco regulatório com vistas à atratividade dos investimentos na expansão do sistema e promover a inserção social por meio do setor elétrico, em particular dos programas de universalização de atendimento. (SAUER, 2002)

Na busca de atingir o desafio da modicidade tarifária, um conjunto de medidas foi adotado, das quais se destacam:

• O estabelecimento do ambiente de contratação de energia regulado, para congregar todos os consumidores cativos e os distribuidores, no qual as compras de energia são realizadas sempre por licitação e pelo critério de menor tarifa; e o ambiente de contratação livre, onde comercializadores e consumidores livres podem negociar seus contratos de suprimento;

• O estabelecimento da contratação conjunta por todos os distribuidores, na forma de um pool, permitindo a apropriação na tarifa de economias de escala na compra da energia;

• A reestruturação do planejamento setorial, com contestação de preço, permitindo a escolha dos projetos mais eficientes e das soluções mais econômicas para a expansão da oferta.

Para a garantia da segurança do fornecimento de energia elétrica o modelo prevê um conjunto integrado de medidas, dentre elas se destacam:

• A constituição de uma reserva de segurança do sistema, visando a matriz hidrotérmica – combinação ótima de hidrelétricas e térmicas – capaz de garantir a maior segurança ao menor custo de suprimento possível;

• A exigência de contratação de 100% da demanda por parte de todos os agentes de consumo (distribuidores e consumidores livres), lastreada, basicamente, em contratos com prazos não inferiores a cinco anos;

• A contratação da energia visando a expansão do mercado com antecedência de três e cinco anos e por meio de contratos de longo prazo;

• A criação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE, coordenado pelo MME, responsável pelo monitoramento permanente da segurança de suprimento, podendo propor a contratação de reserva conjuntural, em caso de desequilíbrio entre a oferta e a demanda.

A atratividade dos investimentos de expansão do sistema, no novo modelo, se dá a partir de medidas que permitem a realização de contratos de longo prazo entre quaisquer geradores e quaisquer distribuidores.

Contudo, esses princípios básicos podem ser reformulados e aprimorados segundo o comportamento e evolução do mercado elétrico no tempo. Em algum momento pode ser revisto e avaliado o assunto dos investimentos, subsídios e abertura do livre mercado em que não exista a figura do consumidor cativo.

Em que pese o contexto de livre mercado, a inserção social não deve ser esquecida, pois a energia elétrica representa um insumo básico na vida das pessoas, sendo tarefa do Estado promover o acesso a este serviço de forma a minimizar a exclusão social, sem, no entanto, transferir este ônus ao setor privado de modo a não afetar o equilíbrio econômico destas empresas.

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