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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS

5.3.5 Anti-inflamatórios

Além dos anti-inflamatórios serem a classe de fármacos mais utilizada pela população, o emprego deles no tratamento veterinário também é uma prática comum. Desse modo, a contaminação no meio ambiente está associada ao seu consumo tanto por via humana quanto animal. Na avicultura os anti-inflamatórios são utilizados, principalmente, para evitar infecções que possam resultar em perda de peso (HUEZA, 2008). Já nos suínos essas substâncias são empregadas no tratamento de doenças que causam imunossupressão (STINGELIN, 2019).

Para essa categoria de micropoluentes, foram analisadas oito substâncias, sendo uma delas um metabólito. Os analitos estudados foram: fenoprofeno (FNP), ácido acetilsalicílico

(AAS), ácido salicílico (AS) (metabolito do AAS), ibuprofeno (IBU), paracetamol (PCT), cetoprofeno (CET), naproxeno (NPX) e diclofenaco (DCF). Para a realização das análises foi utilizada cromatografia gasosa acoplada a espectrofotometria de massas. Os resultados obtidos estão elencados na Tabela 26.

A detecção dos anti-inflamatórios ocorreu, sobretudo, nas coletas 1, 2 e 4, tendo sua presença mais evidente no ponto 6 de cada coleta. O FNP foi o composto de maior recorrência, apresentando também as concentrações mais elevadas, com relação a uma mesma coleta e mesmo ponto. Apesar de terem sido quantificados nos pontos 4, 5 e 6, localizados no perímetro urbano, também foram mensurados na área rural (pontos 3, 7, 8, 9 e 10). As concentrações desse tipo de fármaco, provavelmente, não foram provocadas apenas pelo esgoto da ETE. Observa- se que nas coletas 1, 2 e 4 ocorreu uma diminuição nas concentrações de FNP no ponto 7, bem como um aumento nos pontos 8 e 9. Além disso, o fato de o ponto 3 ter apresentado concentração na coleta 2 é mais um indício de que a presença dessa substância no meio ambiente também ocorre na zona rural.

Outro aspecto que pode ter influenciado na presença desses compostos nos pontos 8, 9 e 10 é a presença de três grandes indústrias, situadas entre essas posições. O grande número de funcionários dessas empresas é um fator relevante, já que os efluentes gerados por essas pessoas podem estar causando contaminação. Tal condicionante, aliada aos resultados das análises de cafeína, sugere uma correlação da presença de anti-inflamatórios com a contaminação por efluentes domésticos nos pontos mencionados (8, 9 e 10). Esses resultados estão de acordo com a literatura, na qual há estudos que associam intensa atividade humana com a ocorrência de diversos poluentes, como anti-inflamatórios. Płuciennik-koropczuk (2014), por exemplo, relatou ter detectado a presença de anti-inflamatórios em rios que estão em regiões de elevada densidade populacional. Mizukawa (2016) por sua vez, observou uma tendência de aferir menores valores de concentração desses fármacos em locais próximos da nascente do rio estudado.

TABELA 26. CONCENTRAÇÃO ANTI-INFLAMATÓRIO (mg L-1) EM ÁGUA

FNP AS AAS IBU PCT NPX CET DCF Coleta 1 P1 <LD <LD <LD <LD <LD <LQ <LD <LQ P2 <LD <LD <LD <LD <LD <LQ <LD <LQ P3 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P4 <LD <LD 1,0069 <LD <LD <LD <LD <LD P5 <LD <LQ 0,4185 <LQ <LD <LD <LD <LD P6 23,875 0,4474 0,6871 3,0851 0,0806 0,2963 <LD 0,7114 P7 1,4712 <LD <LD 0,0569 <LD <LD <LD <LD P8 13,078 <LQ <LD <LQ <LD <LD <LD <LD P9 4,1146 <LQ 0,3510 <LQ 0,0234 <LD <LD <LD P10 15,659 0,1584 0,5892 <LQ <LD <LD <LD <LD Coleta 2 P1 <LD <LQ <LD <LD <LQ <LQ <LD <LD P2 <LD <LQ <LD <LQ <LD <LD <LD <LD P3 25,543 <LD <LD <LQ <LD <LD <LD <LD P4 11,717 <LD 0,0681 <LD <LQ <LD <LD <LD P5 2,9602 <LD 0,0420 <LQ <LD <LD <LD <LD P6 17,576 0,1371 0,1416 1,6640 <LD 0,1169 <LD 0,4771 P7 0,3447 0,0798 <LD <LQ <LD <LD <LD <LD P8 1,6775 <LQ <LD <LQ <LD <LD <LD <LD P9 2,4223 <LQ 0,0316 <LQ <LD <LD <LD <LD P10 1,9659 <LQ <LD <LD <LD <LD <LD <LD Coleta 3 P2 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P4 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P5 <LD <LD <LQ <LD <LD <LD <LD <LD P6 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P7 <LD <LD <LQ <LD <LD <LD <LD <LD P8 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P9 <LD <LD 0,0220 <LD <LD <LD <LD <LD P10 <LD <LD 0,0149 <LD <LD <LQ <LD <LD Coleta 4 P1 <LD <LQ <LQ <LD <LD <LD <LD <LQ P2 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P4 <LQ <LD <LD <LD <LD <LQ <LD <LD P5 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P6 0,4911 <LQ <LQ 0,2570 0,0453 0,0347 <LD 0,0371 P7 <LD <LD <LQ <LQ 0,0095 0,0045 <LD 0,0096 P8 <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD <LD P9 0,7337 <LD <LQ <LQ 0,0152 0,0120 <LD 0,0136 P10 1,3107 <LD <LQ <LQ 0,0038 0,0149 <LD 0,0225 Nota: LD (Limite de detecção)

5.3.5.1 Quociente de risco ambiental para anti-inflamatórios

O quociente de risco (QR) ambiental determinado para os anti-inflamatórios pode ser observado na Figura 30. Contudo, estão mostrados somente os resultados encontrados para o composto FNP, nas coletas 1 e 2, pois foram os únicos casos que apresentaram valores significativos do quociente. Em razão da maior tolerância dos organismos estudados para a contaminação por anti-inflamatórios, os resultados de QR para essa classe de contaminante não atingiu em nenhum momento um QR de grau médio, permanecendo em todas as coletas com baixo risco.

FIGURA 30. QUOCIENTE DE RISCO PARA PEIXES, DAPHNIA E ALGA VERDE NA CLASSE DOS ANTI- INFLAMATÓRIOS DE MICROPOLIENTES

Nota: O número acima da coluna representa o ponto de coleta Fonte: Autor

Para esse tipo de fármaco, verificou-se que a Daphnia foi o organismo que apresentou maior sensibilidade, mas mesmo assim não alcançou um QR médio. Os pontos de maior QR foram o 3 e o 6, indicando que a contaminação do rio por essa substância não ocorre exclusivamente no perímetro urbano, visto que a área rural teve importante contribuição nos resultados. A baixa concentração de anti-inflamatórios no ponto 6 pode ter ocorrido em função da elevada taxa de remoção desses poluentes em ETEs. Fato semelhante foi observado no estudo de Santos et al. (2007), que analisou o esgoto antes e depois do tratamento uma ETE com tratemento biológico, localizada na cidade de Seville, na Espanha. O autor relatou uma taxa de eficiência no tratamento de até 93% para FNP.