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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS

5.3.3 Antibióticos

Apesar de muitas vezes associarmos antibióticos ao uso humano, uma grande parte desses fármacos é utilizada como tratamento não terapêutico em animais. Segundo a ANVISA (2017), o Brasil consumiu aproximadamente 25 mil toneladas de antibióticos no ano de 2011, dos quais cerca de 50% foram destinados para uso humano e a outra metade para uso veterinário. A maior parte dos antibióticos de uso veterinário são aplicados como promotores de crescimento, adicionados na ração ou água dos animais (GONZALEZ et al., 2017). Esses compostos podem não ser totalmente metabolizados pelo organismo humano e dos animais, sendo eliminados nas fezes ou urina. (GIGER et al., 2006; SABRI et al., 2018).

Os micropoluentes da classe dos antibióticos que foram analisados nessa pesquisa são: A cloroxina (CLX), sulfametazol (SLF), tilosina (TLS) e vancomicina (VNC). Para análise dessas substâncias foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência (CLEA) acoplado a um detector com arranjo de fotodiodos, modelo 1260. As frequências de detecção e variação das concentrações dos antibióticos estudados estão dispostas na Tabela 24.

Com exceção dos pontos 1 e 2, a contaminação ambiental por antibióticos foi percebida em todos os demais pontos, ao menos uma vez durante as quatro coletas realizadas. O ponto 6 foi o que apresentou a maior concentração desses contaminantes, quando comparado aos demais pontos da mesma coleta. A distribuição dessa classe de contaminantes no percurso do rio demonstra que a sua contaminação não é apenas em função da área urbana, mas também possui grande participação da zona rural, já que foi possível detectar a presença em pontos que antecedem o perímetro urbano.

Sabri et al. (2018), ao analisarem amostras de água coletadas em um rio da Holanda, obtiveram resultados que também sugerem que o aporte dos compostos ocorre tanto no perímetro urbano quando no rural. Os autores concluíram que a contaminação ambiental por antibióticos foi em função tanto do consumo humano quanto da produção de animais, observando que em locais com maior concentração populacional a contaminação foi mais acentuada.

TABELA 24. CONCENTRAÇÃO ANTIBIÓTICOS (mg L-1) EM ÁGUA DO RIO PIRAÍ CLX SLF TLS VNC Coleta 1 P1 <LD <LD <LD <LD P2 <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD <LD <LD P4 <LD <LD <LD <LD P5 <LD 1,1357 <LD <LD P6 3,3891 7,8623 <LD <LD P7 0,2935 0,3370 <LD <LD P8 0,4636 0,8492 <LD <LD P9 <LD <LD <LD <LD P10 0,0031 <LD 0,1436 <LD Coleta 2 P1 <LD <LD <LD <LD P2 <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD <LD <LD P4 0,1732 <LD 0,7884 <LD P5 0,3921 <LD 0,2043 <LD P6 1,3322 6,0667 0,9231 <LD P7 0,4695 <LD 0,1026 <LD P8 0,0458 <LD 0,0949 <LD P9 <LD <LD 0,1803 <LD P10 0,6399 <LD 0,1562 <LD Coleta 3 P2 <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD <LD <LD P4 <LD <LD <LD <LD P5 <LD <LD <LD <LD P6 0,7833 0,2893 <LD <LD P7 <LD <LD <LD <LD P8 <LD <LD <LD <LD P9 <LD <LD <LD <LD P10 <LD <LD <LD <LD Coleta 4 P1 <LD <LD <LD <LD P2 <LD <LD <LD <LD P3 <LD <LD 0,7833 <LD P4 0,1334 0,3636 <LD <LD P5 0,3697 0,4088 <LD <LD P6 0,7506 3,5380 <LD <LD P7 0,4211 0,3134 <LD <LD P8 0,0189 0,6029 0,0949 <LD P9 <LD <LD 0,1803 <LD P10 <LD <LD 0,1562 <LD

Nota: LD (Limite de detecção)

5.3.3.1 Quociente de risco ambiental para antibióticos

Para a classe dos antibióticos de micropoluentes, os quocientes de risco (QRs) para peixes, Daphnia e alga verde pode ser observados nas Figuras 24, 25 e 26 respectivamente. As análises de QR foram realizadas para todos os compostos da classe de antibióticos, mas apenas o SLF e a CLX tiveram QR significativo e, por isso, são os únicos que estão expostos sendo, portanto, apresentado o QR apenas para estes compostos. Os pontos 1, 2 e 9 também não apresentaram resultados expressivos de QR para todos os analitos analisados, em vista disso os resultados para estes pontos não foram expostos.

Os QR para os peixes (Figura 24) foi o que apresentou os resultados menos significativos, quando comparados com os demais organismos estudados. Percebe-se, assim, que os peixes possuem maior tolerância à contaminação por SLF, porém, mesmo assim tiveram QR de nível médio para a substância CLX. Para os peixes o maior risco foi no ponto 6. Contudo, não é possível afirmar que essa contaminação ocorre unicamente em virtude da ETE, pois QRs significativos também ocorreram em pontos que antecedem o perímetro urbano. Em suma, verifica-se que os peixes estão expostos a riscos em todo o curso do rio, com exceção dos dois primeiros pontos.

FIGURA 24. QUOCIENTE DE RISCO PARA PEIXES NA CLASSE DOS ANTIBIÓTICOS.

Nota: O número acima da coluna representa o ponto de coleta Fonte: Autor

Na Figura 25 está mostrado o QR para a Daphnia. Essa espécie foi a que apresentou resultados de QR mais elevados, ou seja, dentre os organismos estudados, foi o com maior

sensibilidade aos antibióticos analisados. Em relação aos compostos, o SLF foi o que resultou em valores de QR mais significativos, o que ocorreu de maneira inversa para os peixes. Para essa substância (SLF), a Daphnia apresentou resultados expressivos principalmente nas coletas 1 e 4 entre os pontos 3 e 8. Entretanto, foi o ponto 6 que a Daphnia teve seu maior QR, indicando que o principal responsável para esse resultado, provavelmente, foi a ETE. Também é possível notar que o perímetro urbano não foi o único a contribuir com os resultados, visto que um QR médio foi constatado já no ponto 3 das coletas 1 e 4.

FIGURA 25. QUOCIENTE DE RISCO PARA DAPHNIA NA CLASSE DOS ANTIBIÓTICO DE MICROPOLIENTES

Nota: O número acima da coluna representa o ponto de coleta Fonte: Autor

O CLX também apresentou resultados de QR preocupantes, porém com menor intensidade, indicando que a Daphnia possui maior tolerância para esse composto, quando comparado com o SLF. Verifica-se QR de grau médio em ao menos um ponto das coletas realizadas, já QR alto não foi observado em nenhum momento. Analisando os resultados percebe-se que a Daphnia possui QR significativo entre os pontos 3 e 8.

Os resultados de QR para a alga verde podem ser visualizados na Figura 26. Apesar de não ser a espécie com maior QR dentre os organismos analisados, a contaminação por antibióticos resultou em QR alto no ponto 6 da coleta 1. Desse modo, esse ponto (6) foi o que apresentou maior risco para a alga verde, assim como para os peixes e a Daphnia. O composto com maior contribuição para a elevação do QR, por sua vez, foi SLF. Apesar do indicativo de que o maior responsável para a elevação do QR foi a ETE, não é possível afirmar que essa

contaminação ocorre apenas no perímetro urbano, já que os resultados de QR para a alga verde também foram significativos nos pontos 3 e 4.

FIGURA 26. QUOCIENTE DE RISCO PARA ALGA VERDE NA CLASSE DOS ANTIBIÓTICOS DE MICROPOLIENTES

Nota: O número acima da coluna representa o ponto de coleta Fonte: Autor

Um aspecto importante a ser abordado é a ascensão do QR para o SLF, para as espécies estudadas, do ponto 7 ao 8. Essa elevação pode ter ocorrido devido a presença de uma fábrica de celulose a montante do ponto 8. As substâncias analisadas podem ter origem dos produtos de uso pessoal dos funcionários, estando presentes no esgoto doméstico da indústria. Os resultados demonstraram também que em nenhum momento os pontos 1 e 2 tiveram valores notáveis de QR, o que pode ser devido à pouca ou nenhuma atividade humana próxima a esses locais. Contudo, o ponto 3, primeiro local de coleta que possui em seu entorno intensa ocupação agrícola e pecuária, apresentou QRs significativos. Os valores elevaram-se até chegar ao máximo no ponto 6.

Os resultados demonstram que os dados de QR relacionados aos antibióticos foram em função tanto da atividade agropecuária, quanto da atividade humana no perímetro urbano. A área urbana, todavia, de destacou com os maiores valores, mais precisamente no ponto 6, vindo a reduzir já no primeiro ponto considerado zona rural. Uma das principais fontes que causaram a elevação do QR dos organismos estudados pode ter sido a ETE. Resultados semelhantes foram encontrados por Zhang et al. (2017), que estudaram um rio localizado na cidade de Dalian, na China. Dos 31 compostos analisados, 29 foram detectados em concentrações que resultaram em alguns casos em QR alto. Os autores atrelaram esses resultados a presença de uma ETE.

Apesar da ETE ser a maior responsável pela elevação do QR, não é possível afirmar que seja a única fonte dos antibióticos. Uma prática comum na agricultura é a aplicação de resíduos da pecuária na lavoura. Tal conduta pode resultar em contaminação dos corpos hídricos, já que os antibióticos estão elencados dentre os principais fármacos utilizados na pecuária. Desse modo, isso pode ter contribuído para a elevação do QR nos pontos dentro da área urbana. Hanna et al. (2018) obtiveram resultados semelhantes em seu estudo em uma comunidade rural, localizada no município de Shandong, na China. Os autores realizaram análises de antibióticos na água, solo e resíduos da pecuária, chegando a valores de QR médio. A conclusão foi de que a principal fonte dos antibióticos presentes na água foi a aplicação dos resíduos da pecuária no solo.