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CAPITULO I: UM MERCADO “ELÁSTICO” DE LIVROS E HOMENS

1.5. Livreiros

1.5.2. Antonio José Rabello Guimarães

Outro importante livreiro foi Antônio José Rabello Guimarães, proprietário da Tipografia e Livraria Comercial, como já foi referido. Influenciou o consumo livresco da população ao envolver-se nas esferas de construção, divulgação e venda do saber escrito. Para satisfazer os requisitos da audiência, equipou sua casa tipográfica a fim de oferecer uma variedade de capa, tipo de papel, estilo de prensa, ilustração e outros detalhes que atribuíam valor econômico significativo ao livro e aos produtos impressos.

Anexou a tipografia a uma livraria com mesmo nome e articulou-se socialmente a fim de abranger a todos.

Figura 32: publicidade da livraria comercial, de A.J. Rabelo Guimarães

A melhor transação para quem estava iniciando nesse mercado, renovado pela navegação, seria imprimir os documentos oficiais do governo, pois, dessa

forma, além de adquirir prestígio junto aos outros setores sociais também teriam um contrato lucrativo e vantajoso.

Disputando o direito de imprimir, Antonio José Rabello Guimarães, em abril de 1858, oferece-se para imprimir algumas correspondências do governo por sua conta a fim de conquistar a “boa vontade” de alguns dirigentes. Logo após, esse fato, ele consegue a licitação para imprimir pelo período de três anos todos os documentos e correspondências oficiais, conforme se pode verificar na discussão sobre o orçamento provincial que seria aprovado para 1859, no excerto retirado do relatório, já impresso pela tipografia de A.J. Rabello Guimarães, de dezembro de 1858:

A do artigo 40 porque tendo a presidência um contracto firmado por três anos com o proprietário da Gazeta Official para a publicação do expediente, seria um acto inqualificável de má fé da parte do governo, com comprometimento de sua própria dignidade, a recisão de semelhante contracto, e quando o empresário tem cumprido religiosamente e todas as clausulas de seu contracto, e quando é elle o único que tem nesta capital uma tipografia montada de forma a prestar semelhante serviço com regularidade e perfeição com que tem feito: pela diminuta quantia que custa aos cofres provinciais, como fiz ver em meu relatório à assembléa.127

Mesmo o presidente questionando o gasto com um serviço de impressão, Rabello Guimarães, o proprietário do jornal Gazeta Official havia caído nas graças do vice-presidente da província e, assim adquirido um defensor. Muitos negócios foram fechados dessa maneira por meio de relações dessas políticas.

Dessa maneira, tudo o que se procurasse comprar em termos de papelaria, tipografia, armarinho, livraria ou encadernação bastava ir à loja do “das arábias”,128 tanto era a influência e importância desse homem que, mesmo nas peculiaridades rotineiras, era procurado ou servia como referência:

127

Pará. Anexos ao Relatório do Exmo. Sr. Doutor Ambrosio Leitão da Cunha, presidente da Província do Pará, apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, no dia 08 de dezembro de 1858. Pará: Typ. Comercial de Antonio José Rabello Guimarães, 1858, p. 05. Disponível em: http://www.crl.edu/content/brazil/jain.htm . Acesso em 15 mar 2008.

128

José Mindlin usa essa expressão para qualificar José Olympio fazendo referência à sua mocidade quando a expressão significava “indicar uma coisa ou pessoa pouco comum e até mesmo extraordinária.” Ver a resenha "Um editor das Arábias", de José Mindlin, publicado em Estudos Avançados, v.21, n.60, p.323-24. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script- sci_arttext&pid-S0103-0142007000200027&lng-en&nrm-iso>

Roga-se, há pessoas que formem credoras do abaixo assignado, por quaisquer titulo que seja, o especial favor de comparecerem no dia 12 do corrente pelas 5 horas da tarde, na livraria do sr. Guimarães, a fim de tratar-se sobre a maneira de serem pagos, de seus créditos. Pará 4 de outubro de 1858. – Luiz Antonio Mesquita Falcão.129

Preocupado em articular-se e estabilizar-se no mercado “cumpre mencionar que o digno sócio sr. Rabello Guimarães mandou imprimir gratuitamente o catálogo do gabinete, e sempre se tem mostrado desejoso em prestar serviços a este estabelecimento com igual desinteresse e dedicação”.130 Guimarães tornou-se um dos grandes donatários do Gabinete Português de Leitura no Pará, doando livros e imprimindo o catálogo do acervo da instituição em 1859. Em 1866, expõe seus produtos impressos na Segunda Exposição Nacional, demonstrando o reconhecimento social de suas atividades.

Além de sócio e benfeitor do Gabinete de leitura, esteve envolvido em outros setores por onde o material impresso pudesse circular. Fundou, ainda, com J.J. Mendes Cavalleiro, o Diário do Gram-Pará, primeiro jornal diário do Pará, além de se tornar referência no setor tipográfico, encadernador e livreiro.

Em resumo, isso demonstra a relevância dele para a instituição de referências no mercado livreiro local, uma vez que não se pode desconsiderar a grande importância da imprensa diária para a circulação de idéias.

Benedict Anderson assevera que o florescimento da imprensa como mercadoria foi a chave para a criação de uma sociedade baseada em uma concepção de consciência nacional,131 que comporia uma tradição escrita e intelectual. Nesse sentido, além de impressor e proprietário da Tipografia

Commercial, imprimiu periódicos nos mais diversos direcionamentos ideológicos,

independentemente da freqüência de publicação, pois podiam ser folhas diárias, hebdomadárias, ou que saísse irregularmente como: Gazeta Official (1858-1866);

Gazeta de Notícias (1881); O Adejo Literário (1855-1858); O Guajará (1860); O Checheo (1862); A Bomba (1862) e a Voz do Povo (1860), respectivamente.

129

Gazeta Official , 06/10/58.

130 Relatório do Gabinete de Leitura escrito por Francisco Gonçalves Medeiros Branco, em 1859. In: A

Epocha, 18/07/1859. p. 2. col. 3 e 4. p. 3. col. 1 e 2. gabinete de leitura.

131

ANDERSON, Benedict R.. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Não concluirei, entretanto, sem ponderar que este livreiro se define como um dos agentes transformadores sociais, pois concebia a imprensa como o veículo que oferece subsídios para entender o processo de sistematização do mercado consumidor de literatura escrita, bem como, formadora de um público leitor mais atento e exigente às novidades impressas, sejam periódicas ou livrescas.