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A aplicação dos modelos de evolução da paisagem e as fronteiras nos estudos

geomorfológicos

A compreensão atual da evolução da paisagem é exer- cida pela interação dos modelos qualitativos (Capítulo 3) que acentuam a descrição das morfologias relacionadas aos modelos físicos, os quais direcionam para uma melhor visualização dos processos geomorfológicos específicos (morfometria da drenagem, relevo, geração de superfícies geomórficas etc.) e dos modelos numéricos (Capítulo 1), unindo os processos que ocorrem na superfície terrestre com os processos geodinâmicos.

O crescimento dos modelos de evolução do relevo mais complexos e realísticos tem revelado que a interação entre os processos geomorfológicos e tectônicos não tem sido constatada imediatamente em estudos de campo. A ne- cessidade de utilizar diferentes técnicas (geomorfológicas, geofísicas) tem mostrado o melhor caminho para explicar a evolução do relevo a longo prazo. Atualmente, o emprego de métodos de datação, especialmente termocronologia por traços de fissão e (U-Th)/He, tem auxiliado a compreen- são da evolução da paisagem (Siqueira-Ribeiro, 2007).

A maioria dos modelos evolutivos do relevo é utilizada juntamente com as datações termocronológicas e podem

determinar o registro da erosão a longo prazo e a preser- vação de antigos remanescentes erosivos (Capítulo 5). Os resultados provenientes desses estudos acabam implican- do a utilização de vários elementos, como a tectônica, a ruptura do nível de base e a retração paralela dos escar- pamentos em ambientes de margem passiva. Em dados termocronológicos obtidos pelo método de datação por traços de fissão em apatitas, a taxa de erosão geralmente diminui em direção ao interior do continente, enquanto nas proximidades da região dos grandes escarpamentos e da porção costeira as taxas erosivas são altas.

Estudos utilizando isótopos cosmogênicos juntamen- te com dados termocronológicos no continente africano indicam que essas taxas erosivas foram altas durante o período relacionado ao rifteamento, fase que corresponde à geração dos grandes escarpamentos em margem passiva. Após esse período, as taxas se manifestaram de maneira muito lenta até os dias atuais (Bierman; Caffee, 2001). Essas baixas taxas erosivas explicariam a manutenção da topografia nesses ambientes de margem passiva (Pazzaglia; Knuepfer, 2001).

No modelo de evolução de recuo de escarpas que envol- vem os processos superficiais e geodinâmicos, a formação dos grandes escarpamentos colocados por Gilchrist et al. (1994), Kooi e Beaumont (1994) e Tucker e Slingerland (1994) parece ser concordante quando relacionada com os dados termocronológicos, demonstrando que são neces- sárias altas taxas de erosão para a formação dos grandes escarpamentos.

Nos modelos numéricos (Capítulo 1), os dados demons- tram que, durante a formação dos grandes escarpamentos, as drenagens primárias alongam-se até a cabeceira do front do escarpamento. Com o passar do tempo, a drenagem migra, formando o interflúvio em função do recuo erosivo

do canal fluvial. Essa migração da drenagem ocasiona o rebaixamento da topografia na região frontal do escarpa- mento, gerando várias seções escarpadas. Outra evolução proposta para a geração dos escarpamentos por meio da utilização dos modelos numéricos está relacionada com as condições da deformação flexural da litosfera (Capí- tulo 2). Em decorrência do descarregamento erosivo e da deposição dos sedimentos nas bacias marginais, o sistema de drenagem não se prolonga em direção ao interior do continente. Ao contrário, esses canais migram em dire ção ao mar, por causa do aumento da topografia do flanco do rift.

Uma das fronteiras dos estudos sobre a evolução da paisagem diz respeito à reconstrução direta entre a elevação média da topografia (Rowley et al., 2001), relacionando as mudanças climáticas e tectônicas existentes durante o período de formação dos relevos (Hallet et al., 1996; Zhang et al., 2001; Burbank et al., 2003; Summerfield, 2005), onde é possível a conciliação entre as diferenças existentes entre as taxas de erosão no relevo.

A aplicação da Análise de Traços de Fissão em Apatitas (ATFA) na margem passiva brasileira tem deixado clara a problemática sobre a evolução tectono-denudacional do Cenozoico do Sudeste brasileiro, colocando a necessidade de uma grande reavaliação a partir do entendimento do processo extensional no limite Cretáceo-Paleógeno nas áreas cristalinas (Hackspacher et al., 2006). Nesse caso, uma nova geração de modelos de evolução da paisagem, tanto qualitativos e numéricos quanto termais, é necessá- ria para um melhor entendimento sobre as modificações no nível de base e a distribuição do comportamento das isotermas na crosta, a fim de estabelecer melhores in- terpretações sobre a evolução da paisagem em margem passiva a longo prazo.

Referências bibliográfi cas

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