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Aplicação da Female Sexual Function Index e a associação com os dados gineco obstétricos

REVISÃO DA LITERATURA

6.3 Aplicação da Female Sexual Function Index e a associação com os dados gineco obstétricos

Percebe-se no presente estudo que o grupo de mulheres com câncer de mama apresentou correlação estatística quando associado os domínios da FSFI e a quantidade de parceiros e números de relações sexuais (p<0,05). Confrontando os dados do estudo em questão, Vieira et al (2013), avaliou 139 mulheres atendidas no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mastectomizadas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, no período de setembro de 2010 a janeiro de 2011, que haviam recebido o diagnóstico de câncer há pelo menos seis meses, quando analisou a vida sexual dessas mulheres, observou-se que a média de relações mensais foi de 6,3 para aquelas que tiveram relação sexual no último mês. Durante o tratamento do câncer interromperam as relações sexuais 45,3% (63) delas, 25,9% (36) não interromperam e 28,7% (40) estavam sem parceiro. Das 63 mulheres que concluíram o tratamento de câncer apenas 10 ainda não haviam retomado as relações sexuais.

Em estudo realizado com 85 pacientes japonesas diagnosticadas com câncer de mama e em acompanhamento pós-cirurgia, percebeu-se alterações em relação ao desejo sexual das entrevistadas e a frequência de relações sexuais. No caso de 16 entrevistadas, cuja frequência de sexo diminuiu, apesar de seu desejo sexual se manter intacto, é possível que essa diminuição da frequência tenha sido causada por fatores relacionados aos seus parceiros. Por outro lado, sete entrevistadas cuja frequência de sexo foi mantida apesar da diminuição do desejo sexual pode ter sido “forçada” a ter relações sexuais, a fim de satisfazer o desejo de seus parceiros (TAKAHASHI et al, 2008).

De acordo com uma Pesquisa Global de Atitudes Sexuais, a diminuição da frequência das relações sexuais é causada por várias mudanças sexuais após o tratamento, e comportamentos. Essa pesquisa internacional investigou sexo e relacionamentos de 27 500 homens e mulheres com idade entre 40-80 de 29 países, as mulheres na Ásia Oriental foram as menos propensas a falar com os seus parceiros sobre seus problemas sexuais (20% versus 37-50% em grupos de países asiáticos não leste) (MOREIRA, BROOK, GLASSER, 2005). Porém, sabe-se que é extremamente importante para os profissionais de saúde, independente de localização ou cultura, que facilitem a comunicação verbal com relação à sexualidade entre os casais para que eles possam ter o sexo como agradável para ambos.

Pode se perceber, no presente estudo, que mulheres com CA de mama apresentaram os domínios da FSFI com correlação estatisticamente significante e positiva, embora o tratamento para o câncer de mama afete diretamente a vida sexual dessas mulheres, devido à redução da autoestima,

pode-se considerar que quando elas vencem o obstáculo físico e emocional imposto pela doença podem apresentar estímulos sexuais positivos.

O apoio dos companheiros pode ter um peso importante na sexualidade da mulher com CA de mama. O advento desta neoplasia pode fortalecer alguns relacionamentos e ter efeitos negativos em outros aspectos, muitas vezes pela dificuldade de se discutir sentimentos ou mesmo pela percepção da mulher em perder a sua feminilidade (HUGUET, 2009).

Quando a mulher mastectomizada conta com a compreensão e dedicação do parceiro, sente- se mais segura e consegue lidar melhor com a situação. Desfrutar da companhia significa carinho e atenção. Quando o companheiro consegue olhar para a região operada e aceita a nova imagem, é como se extinguisse o risco de abandono (TALHAFERRO, 2007).

Em estudo qualitativo realizado com nove parceiros de mulheres com câncer de mama em Ribeirão Preto, observou-se que o distanciamento do casal repercutiu diretamente no relacionamento sexual, sendo expresso pelos parceiros a dificuldade que a mastectomia trouxe à relação sexual com suas esposas (BIFFI e MAMEDE, 2004).

“Ela perdeu o interesse, nunca vai para a cama junto, sempre tem uma desculpa de ficar até mais tarde e quando ela vai para cama eu já estou dormindo” (BIFFI e MAMEDE, 2004).

Pode-se analisar que no presente estudo, as mulheres mastectomizadas com reconstrução mamária apresentaram correlação estatisticamente significante (p<0,05), para todos os domínios da FSFI, exceto dor. Corroborando com esses dados, um estudo japonês comparou grupos de pacientes que foram submetidas à mastectomia poupadora da pele ou à mastectomia poupadora do mamilo, acompanhadas da reconstrução mamária imediata, com mulheres que fizeram somente a mastectomia radical e mulheres que foram submetidas a cirurgias conservadoras da mama. Assim, foram observadas maior satisfação e melhor imagem corporal entre os grupos de reconstrução e de conservação da mama, e menores índices entre o grupo de mastectomizadas radicalmente (UEDA et al, 2008).

Em estudo realizado por Huguet (2009) não houve diferença significativa entre mulheres submetidas quadrantectomia com linfadenectomia axilar à ou mastectomia radical com reconstrução imediata e sem reconstrução, exceto no componente extrínseco relacionado à atratividade. Mulheres submetidas à mastectomia radical tiveram escores mais baixos. Isso é compatível com muitos estudos em que mulheres quadrantectomizadas tinham qualidade de vida significativamente melhor que mastectomizadas com ou sem reconstrução (AMICHETTI, 2001; ARNDT et al, 2004). Outros

trabalhos, no entanto, mostraram declínio do funcionamento sexual em mulheres com mastectomia radical com reconstrução imediata em relação às quadrantectomia com linfadenectomia axilar ou mastectomia radical. Isso pode ser, em parte, explicado pela alteração tátil que ocorre com a prótese ou com os retalhos miocutâneos, pela ausência de mamilo e pela assimetria usualmente observada entre a mama normal e a reconstruída (YUREK et al, 2000).

O câncer de mama por ser uma doença que muitas vezes necessita de tratamentos que mutilam e afetam a qualidade de vida das mulheres, é necessário acompanhamento do profissional de saúde em todas as vertentes da vida dessa mulher, isso inclui a vida sexual.

A importância da informação sobre a doença, tratamento e suas consequências são fundamentais. Essas informações e orientações devem ser repassadas pelos profissionais da saúde, pelos meios de comunicações e pessoas que vivenciaram a doença, buscando abordar as causas do câncer de mama, aspectos relacionados à prevenção, ao tratamento e suas implicações para a vida da mulher, sendo considerados imprescindíveis para diminuir a ansiedade e o medo frente ao diagnóstico e tratamento (DUARTE e ANDRADE, 2003).

Estudos mostram que muitas mulheres ainda não recebem as informações adequadas por profissionais da saúde, quando são diagnosticadas com câncer de mama, acerca das possíveis alterações que o tratamento acarretará para a sua vida sexual (TAKAHASHI et al, 2008; SBITTI, 2011). Estudo com 120 mulheres com história de câncer de mama, verificou-se que 100% expressaram não haver recebido informações necessárias sobre como a doença e o tratamento afetaria sua vida sexual (SBITTI, 2011).

Ainda no presente estudo, ao realizar a análise da correlação inter-domínios, evidenciou uma forte correlação entre a maioria das fases da resposta sexual dos dois grupos, exceto na dor que demonstrou pouca correlação com os demais domínios. Corroborando com esses dados, Pacagnella (2009), evidenciou forte correlação entre todas as fases da resposta sexual, entre desejo e excitação, entre excitação e lubrificação e entre excitação e orgasmo além de forte correlação entre lubrificação e orgasmo. Esses resultados estão de acordo com o modelo de resposta sexual no qual o FSFI se baseia. Segundo esse modelo proposto por Masters & Johnson (1984)e revisado por outros autores a resposta sexual envolve uma sequencia coordenada de várias fases que inclui desejo, excitação, lubrificação, orgasmo e resolução. Embora o desejo e a excitação não se estabeleçam em uma relação temporal estática, podendo a excitação subjetiva preceder o desejo e vice versa, todos os componentes da resposta são mutuamente dependentes (BASSON, 2000; BASSON et al 2004). Percebe-se ainda, baixo índice de correlação entre dor e os demais domínios, o que sugere que a dor

no ato sexual possa estar relacionada à ausência dos componentes da resposta sexual (PACAGNELLA, 2009).