• Nenhum resultado encontrado

APLICAÇÃO DO MÉTODO COMPARATIVO NA PESQUISA SOCIAL EMPÍRICA: BARRINGTON MOORE JR E “AS ORIGENS SOCIAIS DA DITADURA E DA

DEMOCRACIA”

No ca m p o d a p es qu is a s ocia l em p ír ica , d iver s os a u t or es t em u t iliza d o o m ét od o com p a r a t ivo en qu a n t o in s t r u m en t a l d e a n á lis e. A t ít u lo d e exem p lo, ju lga m os in t er es s a n t e r econ s t it u ir a qu i, em s u a s lin h a s m a is ger a is , o m od o com o a com p a r a çã o foi u t iliza d a em u m es t u d o es p ecífico, n o ca s o, o con h ecid o t r a b a lh o d e Ba r r in gt on Moor e J r . en t it u la d o “As orige n s d a d ita d u ra e d a democracia: senhores e camponeses na construção do mundo moderno”.

A ob r a d e Ba r r in gt on Moor e J r . t em com o ob jet o d e in ves t iga çã o os distintos p a p éis p olít icos d es em p en h a d os p elos gr u p os s ocia is a gr á r ios (ca m p on es es e t er r a t en ien t es ) n a t r a n s içã o d a s s ocied a d es a gr á r ia s p r é-ca p it a lis t a s p a r a a s m od er n a s s ocied a d es in d u s t r ia is . Tr a t a -s e d e in ves t iga r a p a r t icip a çã o d es s a s ca t egor ia s s ocia is es p ecífica s n a em er gên cia d a s d em ocr a cia s p a r la m en t a r es ocid en t a is , d o fa s cis m o e d o com u n is m o n o m u n d o con t em p or â n eo. At r a vés d a r econ s t it u içã o h is t ór ica d e ca s os es p ecíficos e d e s u a com p a r a çã o, o a u t or p r et en d e s e con t r a p or a in t er p r et a ções , en t ã o a ceit a s , qu e a t r ib u ia m a em er gên cia dos regimes totalitários do século XX ao processo de industrialização.

O es t u d o d a t r a jet ór ia d e d ifer en t es p a ís es , in clu in d o a í os E s t a d os Un id os , a Fr a n ça , a In gla t er r a , o J a p ã o, a Ch in a e a Ín d ia59, irá d es ven d a r a exis tên cia d e

múltiplas vias de transição que ligam o mundo pré-capitalista ao mundo moderno, n a s qu a is a s for ça s s ocia is vin cu la d a s a o u n iver s o a gr á r io t iver a m u m p er fil d e atuação bastante diferenciado.

Um p r im eir o elem en t o qu e m er ece a t en çã o em r ela çã o a o m od o com o o a u t or s e u t iliza d o m ét od o com p a r a t ivo d iz r es p eit o a os cr it ér ios em p r ega d os p a r a a s eleçã o d os ca s os s in gu la r es . Tr a t a -s e d e u m u n iver s o b a s t a n t e s ign ifica t ivo d e p a ís es , t a n t o d o p on t o d e vis t a d o n ú m er o, com o em t er m os d e s u a im p or t â n cia

38

p a r a a for m a çã o d o m u n d o con t em p or â n eo. Refer in d o-s e a os m ot ivos p elos qu a is p a ís es com o a S u iça , a E s ca n d in á via , os Pa ís es Ba ixos , “d o la d o d em ocr á t ico”, ou Cu b a , Viet n a m d o Nor t e ou Cor éia d o Nor t e, n o ca m p o s ocia lis t a , n ã o for a m escolhidos como objeto de estudo, Barringtos Moore Jr. afirma:

“Es te e s tu d o con ce n tra -s e , e m ce rta s fa s e s im p orta n te s , n u m p roce s s o s ocia l e x te n s o qu e s e v e rificou e m d iv e rs os p a ís e s . Fa z e n d o p a rte d e s s e p roce s s o d e s e n v olv e ra m -s e , p e la v iolê n cia e ou tros m e ios , n ov os s is te m a s s ocia is qu e torn a ra m ce rtos p a ís e s con d u tore s p olíticos e m d e te rm in a d a s oca s iõe s , d u ra n te a p rim e ira m e ta d e d o s é cu lo XX. O foco d e in te re s s e re s id e n a in ov a çã o qu e levou ao poder político, não na difusão e na recepção de instituições qu e fora m a p lica d a s à força e m qu a lqu e r ou tro loca l, e x ce to n os ca s os e m qu e le v a ra m a u m p od e r s ign ifica tiv o n a p olítica m u n d ia l (...) u m a d e cla ra çã o d e ca rá te r ge ra l s ob re a s p re con d içõe s h is tórica s d a d e m ocra cia ou d o a u torita ris m o qu e cu b ra ta n to os p e qu e n os p a ís e s com o os gra n d e s p od e ria , m u ito n a tu ra lm e n te , s e r tã o v a s ta qu e n ã o p a s s a ria d e lu ga re s com u n s a b s tra tos . De s te p on to d e v is ta , a a n á lis e d a tra n form a çã o d a s ocie d a d e a grá ria a p a rtir d e p a ís e s e s p e cíficos p rod u z re s u lta d os p e lo m e n os tã o compensadores quanto generalizações mais amplas.”60

A es colh a d os p a ís es en con t r a -s e p or t a n t o in t eir a m en t e vin cu la d a , d e u m la d o, à p r ob lem á t ica m a is ger a l qu e d eu or igem a o t r a b a lh o, d e ou t r o, a o m ét od o d e a n á lis e em p r ega d o. Nã o s e t r a t a p or t a n t o d e gen er a liza r a p a r t ir d e u m u n iver s o con s t it u íd o p elo m a ior n ú m er o d e ca s os p os s íveis , com t od a s a s s u a s s in gu la r id a d es e va r ia ções , m a s s im d e s elecion a r p a ís es cu jo d es en volvim en t o h is t ór ico a p r es en t a d im en s ões s ign ifica t iva s d o p on t o d e vis t a d a a n á lis e em qu es t ã o, ou s eja , cu ja t r a n s içã o d a s ocied a d e a gr á r ia à s ocied a d e in d u s t r ia l en volveu a r r a n jos es p ecíficos en t r e os d ifer en t es gr u p os s ocia is , d a n d o lu ga r a for m a s s ocia is e p olít ica s in ova d or a s , e cu ja s r ep er cu s s ões ext r a p ola m os lim it es estabelecidos por suas fronteiras nacionais.

59. Os casos da Rússia e da Alemanha não se constituiram enquanto objeto específico de análise mas são usados, ao longo de toda a obra, como contraponto aos demais países estudados.

39

A com p a r a çã o en t r e p r oces s os p olít icos eu r op eu s e a s iá t icos p er m it e r om p er , p or u m la d o, com u m a vis ã o exces s iva m en t e “ocid en t a liza d a ” d o desenvolvimento social, por outro, com um tipo de interpretação histórica segundo a qu a l, “exis t ia a p en a s u m a es t r a d a p r in cip a l qu e con d u zia a o m u n d o d a s ocied a d e in d u s t r ia l m od er n a , a es t r a d a qu e leva va a o ca p it a lis m o e à d em ocr a cia p olít ica ”, t r a zen d o à d is cu s s ã o ca s os n os qu a is a m od er n iza çà o a s s u m e con t or n os não democráticos ou mesmo antidemocráticos.

O n ível cen t r a l d e a n á lis e s ob r e o qu a l s e es t r u t u r a t od o o t r a b a lh o d e com p a r a çã o d es en volvid o p or Ba r r in gt on Moor e J r . é o es t u d o a p r ofu n d a d o d os ca s os s in gu la r es . Tr a t a -s e d e in ves t iga r , em ca d a u m d os p a ís es , qu a is for a m a s com b in a ções es p ecífica s d e elem en t os qu e p os s ib ilit a r a m a em er gên cia d es t a ou daquela configuração social, deste ou daquele “padrão” de transição. Estabelece-se a s s im u m a t en s ã o en t r e “a s exigên cia s d e exp lica çã o d e u m ca s o s in gu la r e a b u s ca d e gen er a liza ções ”61. A p a s s a gem d e u m n ível a ou tro d e gen era liza çã o n ã o

se dá, no entanto, de forma mecânica:

“...p a ra qu a lqu e r p a ís con s id e ra d o é p re cis o d e s cob rir a s lin h a s d e con d icion a m e n to, qu e n e m s e m p re s e a ju s ta m fa cilm e n te à s te oria s d e ca rá te r m a is ge ra l. Con tra ria m e n te , u m a d e d ica çã o m u ito in te n s a à te oria con té m s e m p re o p e rigo d e s e con ce d e r e x ce s s iv a im p ortâ n cia a os fa tos qu e s e a ju s ta m a u m a te oria , para além de dua importância na história de cada país.”62

Ca b e p er gu n t a r a qu i com o o a u t or a va n ça d e u m n ível d e gen er a liza çã o a ou t r o, ou s eja , com o con s egu e ir a lém d o es t u d o d e ca d a p a ís es p ecífico, r et om a n d o, em u m p a t a m a r m a is eleva d o d e a b s t r a çã o, a s qu es t ões qu e lh e serviram como ponto de partida.

61. MOORE JR., Barrington. op.cit., p.7 62 .MOORE JR., Barrington, op. cit p. 3.

40

E m “As orige n s s ociais d a d itad u ra e d a d e m ocracia” es t e p r ob lem a é r es olvid o a t r a vés d a con s t r u çã o d e u m a t ip ologia , p or m eio d a qu a l t or n a -se possível identificar três vias distintas de transição para o mundo moderno:

1 ) Um p r im eir o ca m in h o, o d a s “r evolu ções b u r gu es a s ”, p er cor r id o p ela s s ocied a d es in gles a , fr a n ces a e a m er ica n a , n o qu a l o p r oces s o d e in d u s t r ia liza çã o d eu or igem a s is t em a s d em ocr á t icos d e gover n o. Um a d a s ca r a ct er ís t ica s m a is im p or t a n t es qu e id en t ifica es t es p a ís es é a exis t ên cia d e u m gr u p o s ocia l, com u m a b a s e econ ôm ica in d ep en d en t e, qu e s e con t r a p õe a os en t r a ves exis t en t es a u m a “ver s ã o d em ocr á t ica d o ca p it a lis m o” or igin á r ia d o p a s s a d o, tornando-s e o artífice da construção de uma nova ordem social;

2 ) Um a s egu n d a r ot a , a d a “m od er n iza çã o p elo a lt o”, qu e d eu or igem a o fascismo, na forma como este ocorre em países como a Alemanha e o Japão. Neste ca s o, a p r es en ça d e u m a b u r gu es ia “fr a ca ” e d e u m a cla s s e for t em en t e en r a iza d a d e t er r a t en ien t es , p er m it ir á qu e s e es t a b eleça u m a a lia n ça en t r e os d ois gr u p os os qu a is ir ã o con d u zir o p r oces s o d e in d u s t r ia liza çã o s ob u m r egim e s emi- p a r la m en t a r . A econ om ia s e m od er n iza s em qu e ocor r a m a lt er a ções m a is p r ofu n d a s n a s es t r u t u r a s s ocia is ; o ca m p es in a t o con s er va s u a im p or t â n cia em t er m os p r od u t ivos e o exced en t e p a s s a a s er ext r a íd o p ela s cla s s es d om in a n t es p or m ét od os p olít icos b a s ea d os s ob r et u d o n o u s o d a for ça . O m ilit a r is m o a p a r ece com o a lt er n a t iva n o s en t id o d e u n ir a s elit es e d a r con t a d e u m p r oces s o m a is a m p lo, qu e ocor r ia em m a ior ou m en or gr a u em t od o o ocid en t e, ou s eja : a emergência dos trabalhadores como atores sociais;

3 ) Um a ou t r a via n a qu a l r evolu ções ca m p on es a s d ã o or igem a os r egim es com u n is t a s , t a l com o a con t ece n a Ch in a e n a Rú s s ia . Nes t a s s ocied a d es m a n t ém - s e u m a vigor os a cla s s e d e ca m p on es es . “Es ta cla s s e , s u je ita à s n ov a s te n s õe s e força s , à m e d id a qu e o m u n d o m od e rn o ia a v a n ça n d o s ob re e la , p rod u z iu a p rin cip a l força re v olu cion á ria e d e s tru id ora , qu e s u b v e rte u a ord e m a n tiga e la n çou a qu e le s

41

p aís e s n a e ra m od e rn a, s ob a d ire ção d o com u n is m o, qu e torn ou os cam p on e s e s as suas primeiras vítimas”63;

4 ) Um a qu a r t a a lt er n a t iva , a p on t a d a n o ca s o d a Ín d ia , n a qu a l o im p u ls o para a modernização se caracteriza por ser extremamente fraco, não dando lugar a nenhum tipo de revolução camponesa.

S egu n d o Ra gin e Za r et64, a s via s d e t r a n s içã o p a r a a s ocied a d e m od er n a

identifica d a s p or Ba r r igt on Moor e J r ., cor r es p on d em a os t ip os s ocia is web er ia n os , onde o estudo de casos historicamente referenciados conduz a hipóteses acerca da r ela çã o en t r e d et er m in a d a s com b in a ções d e ca u s a s , vis t a s en qu a n t o a r r a n jos t em p or á r ios , “p a d r ões d e in va r iâ n cia em m eio à d iver s id a d e”. Ca d a u m d os p os s íveis p er cu r s os h is t ór icos a p on t a d os em “As or igen s s ocia is d a d it a d u r a e d a d em ocr a cia ” in flu en cia , em s u a t r a jet ór ia , os p er cu r s os s u b s eqü en t es : a s r evolu ções b u r gu es a s ocor r id a s n os E UA, n a In gla t er r a e n a Fr a n ça t iver a m r eflexos s ob r e os d es d ob r a m en t os h is t ór icos ocor r id os n a Alem a n h a e n o J a p ã o e es t es , p or s u a vez, a fet a r a m a s r evolt a s qu e leva r a m a os r egim es com u n is t a s . Tratam-s e, p or t a n t o, d e exp lica ções d e n a t u r eza gen ét ica , qu e s e d is t a n cia m d a s generalizações transhistóricas próprias da comparação durkheimiana.

Com Barrington Moore Jr. fica apontada assim uma abordagem comparativa for t em en t e vin cu la d a a o ca s o es p ecífico, t om a d o em s u a s in gu la r id a d e, m a s qu e t em com o r es u lt a d o a con s t r u çã o d e t ip ologia s m a is a m p la s , qu e t em p or ob jet ivo p os s ib ilit a r , d e u m la d o, u m a r eleit u r a d e exp lica ções p r evia m en t e a ceit a s , d e ou t r o, u m a r u p t u r a , t a n t o com a s in t er p r et a ções gen er a liza n t es com o com a s abordagens históricas excessivamente descritivas e empiricistas.

63. Ver: MOORE JR. , Barrington, op. cit., p.6 64 . Ver: RAGIN, C. e ZARET, D. , op. cit. 745-746.

42

BIBLIOGRAFIA:

BE NDIX, R. Ma x W e b e r : u m p er fil in t elect u a l. Br a s ília : Un iver s id a d e d e Br a s ília , 1986.

CARDOS O, C. F. e BRIGNOLI, H. P. Os m é t o d o s d a h i s t ó r i a : in t r od u çã o a os p r ob lem a s , m ét od os e t écn ica s d a h is t ór ia d em ogr á fica , econ ôm ica e s ocia l. São José: Universidad de Costa Rica, 1975.

CAS TRO, A.M. e DIAS , E . In t r o d u ç ã o a o p e n s a m e n t o s o c i o l ó g i c o . Rio d e Janeiro: Eldorado, Tijuca, 1987.

COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

DURKHE IM, E . As fo r m a s e l e m e n t a r e s d a v i d a r e l i g i o s a . S ã o Pa u lo: E d ições Paulinas, 1976.

DURKHE IM, E . As r e g r a s d o m é t o d o s o c i o l ó g i c o . S ã o Pa u lo: E d it or a Na cion a l, 1985.

DURKHE IM, E .. O s u i c í d i o : es t u d o s ociológico. Lis b oa : E d it or ia l Pr es en ça e Martins Fontes, 1973.

FERNANDE S , Flor es t a n . Fu n d a m e n t o s e m p í r i c o s d a e x p l i c a ç ã o s o c i o l ó g i c a . São Paulo: T. A. Queiroz, 1980.

GOLDMAN, Lu cien . E s t r u t u r a s ocia l y con s cien cia colect iva d e la s es t r u t u r a s . In : LABROUS S E et a llii. La s e s t r u c t u r a s y l o s h o m b r e s . Ba r celon a : E d icion es Ariel, 1969, p.104-113.

MOORE J r ., Ba r r in gt on . As o r i g e n s s o c i a i s d a d i t a d u r a e d a d e m o c r a c i a : senhores e camponeses na construção do mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

MORAES FILHO, Evaristo (org). Comte: sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

MORLINO, L. y S ARTORI, G. La c o m p a r a c i ó n e n l a s c i ê n c i a s s o c i a l e s . Madrid: Alianza Editorial, 1994.

RAGIN, C. e ZARE T, D. Th eor y a n d m et h od in com p a r a t ive r es ea r ch : t wo strategies. Social forces, Chappel Hill, v. 61, n. 3, p. 731-754, March 1983. TARGA, L. R. P. Com en t á r io s ob r e a u t iliza çã o d o m ét od o com p a r a t ivo em a n á lis e

regional. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 265-271, 1991.

WE BE R, Ma x. Me t o d o l o g i a d a s c i ê n c i a s s o c i a i s . S ã o Pa u lo: Cor t ez / E d it or a da Universidade Estadual de Campinas, 1992.

This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com.

The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.

Documentos relacionados