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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO GERAL DOS RESULTADOS

4.4 As entrevistas

4.4.6 Aplicação no dia-a-dia dos conceitos abordados no programa

A sexta categoria comum analisada refere-se a exemplos de aplicação no dia-a-dia de assuntos abordados no programa de desenvolvimento de líderes para sustentabilidade na rede, conforme pode ser visto nos Quadros 12 e 12a em seguida.

A perspectiva dos mentores

De acordo com o Quadro 12 a seguir, do ponto de vista dos mentores é possível já perceber alguns poucos exemplos de aplicação no dia -a-dia dos conceitos trabalhados no programa. Porém, não foi possível investigar com mais detalhes se a pouca quantidade de exemplos citados, ocorreu p elo fato dos mentores estarem um pouco mais distantes do dia -a-dia dos funcionários

(matriz x agências) ou se, de fato, ainda pouca aplicação prática se conseguiu efetivar na rede de agências da empresa.

Quadro 12: Exemplos de aplicação no dia-a-dia dos assuntos abordados no programa.

Mentor 1 - Os gestor es te m co nseguido associar o tema sustentab ilidad e mais facilmente ao dia -a-dia deles. E xiste um viés fo rte par a a q uestão social e a mbiental, mas muito s deles já se d ifer enciam na q uestão da gestão e da respo nsab ilidade do s negócio s.

Mentor 2

- É impr essio nante a cap acidad e q ue o funcio nário demo nstra de mob ilizar a co munidad e da região dele.

- Gr ande mob ilização de setor, capacidad e de lid erança, cap acidade d e ger ação de resultados to mando a fr ente do negócio efetivamente. Estamo s ganhando escala, tendo eficiência, deixando de gastar dinheiro , porq ue as pessoas co meçam a olhar par a o mundo de for ma diferente, co m visão sistêmica e não aq uela visão mecânica de resultado de curto pr azo que tinham.

Mentor 3

- O funcio nár io co meça a ver a oportunidade d e ganhar dinheiro. A diretor a da rede 1 q uand o ela co meço u a se inteirar sob re a q uestão de sustentab ilidade, ela co nver so u co m um gerente de um po sto, q ue fazia lavagem de carro s, que ele devia p ara r d e jogar no rio aq uela água q ue lavava o s carr os (água co m óleo) , q ue ele pod ia co meçar a reciclar aq uela água e, co m a mesma q uantidad e que antes ele usava para lavar vinte carros, ele pod ia lavar tr inta, p orque era a mesma água, água reciclad a.

- Além disso, o fato da água suja não ir mais para o rio , ele deixar ia d e prejudicar o meio amb iente e as pop ulações r ibeirinhas q ue podem fazer uso d isso. Você percebe clar amente a satisfação d as p esso as, porque eles passam a exercer o p apel de cidad ania par a o cliente.

De qualquer maneira, estas poucas ações já parecem refletir um novo jeito dos funcionários fazerem negócios, de forma mais sistêmica e responsável, observando possibilidades de ganhos para todos os envolvidos, inclusive para o meio-ambiente, e também não pensando apenas no curto prazo, conforme exemplo mencionado pelo superintendente de educação.

Os exemplos citados por estes entrevistados, (reutilização/reaproveitamento da água suja do posto de gasolina, economia de recursos nas agências e art iculações dos gestores nas suas redes/regionais), demonstram que os conceitos de visão sistêmica, de como fazer negócios de forma mais integrada e de como é possível uma instituição financeira contribuir para a preservação do meio -ambiente, abordados no programa, foram assimilados e incorporados pelos participantes em suas ações diárias.

A perspectiva dos gestores

Quadro 12a: Exemplos de aplicação no dia-a-dia dos assuntos abordados no programa.

Gestor 1

- Nó s não pod emos fazer tudo, mas fazemo s aq uilo q ue é po ssível e co mo vivenciei isso, melho rei aspecto s do dia -a-d ia, co mo o resp eito ao funcio nário.

- Quando nó s co meçamo s a p articipar do pro grama de desenvolvimento de líderes p ara sustentab ilidade na r ede, co meçamo s a incentivar as pessoas não a penas pelo asp ecto eco nô mico, mas pelo asp ecto de qualid ade de vida. Co meçamo s a inserir a sustentabilidade em tudo q ue nó s fazía mos, por exemplo, passamo s a tr atar o cliente co mo a no ssa princip al meta e p assamos a p ro mo ver p essoas d entro de critér io s claro s de gestão. O funcionár io é ind icado, passa por u ma avaliação e uma dinâ mica co m vário s Gerentes Gerais de Ser viço, j unto co m um profissio nal de RH.

Gestor 3

Na vida pessoal foi levar esse te ma... Primeiro, eu assu mir co mo ind ivíd uo q ue pr ecisa ria mud ar. Depois eu levei esse tema par a a minha família. E d a minha família eu co mecei a instigá -lo s a levar isso para frente. E ntão foi meio q ue u ma co rrente do bem. O q ue de pr ático eu co nsegui? No co ndo mínio o nd e eu mo rava, fazer o co ndo mínio reciclar lixo. E ainda no campo pessoal, a minha p reocupação é em quer er fazer uma obra maior, isso eu não tenho d úvida nenhuma. - No campo pro fissio nal, co m um projeto social da empresa, q ue é altamente sustentável, o nível de ad esão na minha regio nal fo i altíssimo, ele ultrapasso u 95 %.

- T eve uma passage m no treinamento, q ue para mi m fo i mar avilhosa, navegar d entro do T ietê. Aq uilo par a mi m foi u m divisor d e águas no meu íntimo, porq ue cho cou. Coincidentemente sete d ias depo is eu tive uma reunião co m o prefeito d e Suzano e Suzano é uma d as cid ades q ue jogam detr ito s no r io T ietê. Nó s co nversamo s muito a respeito e a visita or ganizad a dentro do programa me deu r ecur so s par a discutir sobre isso , foi muito legal E u, inclusive, o co nvidei par a fazer esta navegação.

Gestor 4

- Sab endo q ue aq uele fo rnecedor utiliza do s co nceitos de

sustentab ilidade, a prob abilidade dele se manter na prestação d e ser viço e a entrega daq uele ser viço ser de uma for ma mais co nsistente, é bem maior. E ntão a sustentab ilidad e me ajudo u ni sso, a achar um meio um po uco mais cor reto de to mar uma d ecisão.

Gestor 5

- T oda vez q ue eu vo u co mpr ar alguma coisa, eu penso agora pr imeiro se eu preciso. A segunda coisa: Co mo isso fo i feito? Quem é a empresa, co mo q ue ela faz as coisas? E u pass ei a ser muito mais cr ítico em relação a tudo ; no mer cado, eu nunca mais co nsegui co mpr ar a band ejinha de isopor.

- Orientar mais as pesso as, q uando você vai co lo car as estratégias, você não d eixa mais de pensar nisso e e m ter mo s de negócios, talvez seja uma mudança bastante significativa.

- Você te m uma pr eocup ação muito maio r hoje co m as empresas, olhar quando ela tr ata desse tema, mesmo as peq uenas emp resas, q uando você faz a avaliação, isso é co nsid erado.

- Fazer financiamento d e carro s a álcool, imp lem entar aq uele sistema todo de co leta seletiva, a impr essão de pap el a gente d iminuiu muito nas agências e tamb ém eles fizera m uma eco no mia fantástica de ener gia e d e água.

Gestor 6

- É fazer co m q ue esse negó cio seja bo m para mim, para o s acio nistas e para a co munid ade. E sendo bo m para todo mund o, todo mundo sai ganhando. Acho q ue eu tenho mais colo cado e m prática a

sustentab ilidade do negócio enq uanto r esultado de minha regio nal. - O q ue eu fiz fora da empr esa foi no meu co nd o mínio, a co leta seletiva.

- E o que eu tro uxe do tr einamento é assim: eu esto u o te mpo todo falando sobr e o tema.

Gestor 7

- Da p arte so cial, meus filho s já têm um entendimento maior, mas procuramo s ler sobre o assunto e estimulo as atitud es deles co m as pessoas.

- Da p arte planeta, em casa instituímo s o lixo r eciclado, a eco no mia de água e leva mos isso par a vizinho s, par a o co ndo mínio. Meus filho s já tem uma po stura to tal mente diferente, eu já vejo também q ue pela minha atitude, eles já estão apr endendo. Por exemp lo, lá em casa não entra CD pirata.

- Do po nto de vista eco nô mico, alguns negó cio s aco ntecer am, mas nó s ainda não co nseguimo s evo luir muito nisso. O maior po nto foi a mob ilização nas agências; nó s fizemo s, no ano p assado, vário s d ias de atend imento exe mplar . Quando você co meça a trabalhar, você pensa que você está sozinho, mas não o utras pessoas vêm atrás, eu acho q ue até o no me é correto: Líderes da Sustentab ilidad e.

Gestor 8 - E u passei a fazer p arte de alguns centros de aj uda humanitár ia em Recife; o q ue eu po s so d oar para o pessoal nesse mo mento é tempo, ouvi-lo s e tentar d ar um pouq uinho de auxílio no dia -a -d ia, atenuar u m pouco do so frimento d eles arrecadando alimento s.

Gestor 9

- Disseminar o tema co m muita co nvicção, acreditando no q ue eu consegui co loc ar em p rática.

- Falando do pro fissio nal, a gente passo u a ter uma visão d ifer ente quando a gente fala de gestão de pesso as, de pro cur ar entender um pouco mais o funcio nário, de ter emp atia, apro fundar um po uco po rq ue aquela pessoa age assim, para tentar, d e alguma maneir a, mud ar aq uilo positivamente.

Gestor 10 - Quando vo cê vai dar um créd ito a mais ao cliente e co m isso ele não vai co nseguir pagar é um exemp lo do q ue não p ode ser feito.

Gestor 11 - Por meio d a divulgação do tema, porq ue todo dia no sso gerente está visitando uma empresa, está realizando um negó cio, está em co ntato co m o utr as pesso as, então, q uanto mais infor ma do ele estiver e mais hab ilitado a falar sobre o assunto, mais a gente consegue multiplicar.

Gestor 12

- Pro fissio nal mente, a e cono mia d e i mpressão d entro da agência q ue a gente co nseguiu colo car em prática, a par tir d a idéia d e um estagiário : se a gente red uzisse o espaço em cada impr essão nas máq uinas de AT M. E ssa id éia foi aceita e então po sta e m prática e assim é um exemplo mu ito legal de alguém q ue entendeu o negó cio e co loco u e m prática. Além da eco no mia de ener gia e de água dentro das agências.

Analisando o Quadro 12a acima, dois gestores trouxeram como exemplos de aplicação no dia -a-dia, de assuntos abordados no programa de desenvolvimento de líderes para sustentabilidade na rede, a disseminação do tema junto às equipes, uma maior empatia/respeito com os funcionários, bem como a adoção de critérios mais objetivos para a promoção deles. Estas respostas demonstram que, quand o se fala sobre sustentabilidade, não se espera somente grandes realizações ou ações voltadas ao meioambiente, mas que atitudes simples, que consideram as pessoas em sua essência, também podem ser consideradas como aplicação do tema, com ênfase ao aspecto social.

Aqui novamente pode ser feita uma associação com a visão de ser humano expressa no modelo educativo da empresa escolhida, apresentado no início desta seção, em que mais do que profissionais da organização, o dia -a- dia da empresa escolhida é feito por pessoas, que devem ser consideradas em toda sua inteireza e complexidade e, sobre estes aspectos, é que os gestores entenderam que havia espaço para melhoria da relação com suas equipes.

Transmitir e compartilhar conhecimentos sobre sustentabilida de com a família, realizar a coleta seletiva em casa e adotar atitudes para um consumo consciente (por que comprar e como o bem foi produzido) são exemplos, destacados por dois entrevistados, da aplicação no cotidiano de assuntos abordados no programa. De acordo com o acompanhamento realizado pela pesquisadora e descrito na parte inicial desta seção – o programa objeto de estudo - especialmente os módulos I e II trataram destes assuntos.

Estes depoimentos também evidenciam que aplicações imediatas do aprendizado ocorrido são mais fáceis de serem praticadas quando se referem a aspectos ambientais, já que são mais tangíveis. De qualquer maneira, a reflexão gerada antes do consumo de algum bem, sobre a real necessidade de adquirí-lo, de como ele foi produzido, se está com um preço justo, quais são os valores da empresa que o produziu, dentre outros questionamentos, também parece relevante e válida.

Em consonância ao comentário anterior, três gestores apontaram economia de água, de energia e de papel nas agê ncias, aliada à participação/adesão aos projetos sociais da empresa pesquisada, como exemplos de aplicação no dia -a-dia dos assuntos abordados no programa. Mais uma vez, o viés ambiental é abordado aqui, talvez pelo forte apelo da mídia nos últimos tempos e pelo impacto que causa, ou pelo aspecto destacado por D’Ambrósio (2001) de que dificilmente será possível pensar em educação voltada à cidadania sem considerar meio ambiente e saúde.

Seis entrevistados, alinhados aos comentários feitos pelos mentores analisados previamente no Quadro 12 anterior, consideraram como exemplo

de aplicação no dia-a-dia, de assuntos abordados no programa de desenvolvimento de líderes para sustentabilidade na rede, a realização de novos negócios, um olhar diferente sobre a forma de fazer negócios e a análise mais aprofundada de clientes e fornecedores, como eles pensam e agem sobre o tema sustentabilidade.

Estes comentários reforçam a posição de Veiga (2008) de que as instituições financeiras precisam integrar a perspectiva sus tentável às suas estratégias de negócio e, a partir daí, adotar critérios sócio-ambientais em suas tomadas de decisão, além dos econômico -financeiros. Mais do que isso, segundo este autor, aprofundar a análise e o conhecimento das organizações com as quais as instituições financeiras se relacionam, visando avaliar a qualidade das respectivas gestões e os eventuais impactos sócio-ambientais causados pelas atividades delas, também é fator fundamental quando se trata de aplicar o conceito de sustentabilidade n a prática.

Por fim, um gestor exemplifica a utilização no cotidiano, dos conceitos abordados no programa, citando sua participação em centros humanitários e realizando ações de cunho social, na cidade aonde reside. Esta resposta, confirma a observação d e um dos mentores analisada no Quadro 8 anterior, de que as aplicações práticas ainda estão muito atreladas a aspectos sociais e, mais do que isso, apesar da ênfase grande dada pelo programa na incorporação dos princípios da sustentabilidade aos negócios, conforme acompanhamento da pesquisadora, parece que realmente eles levam um tempo para serem incorporados e colocados em prática na gestão cotidiana.

4.4.7 Barreiras e obstáculos para a não aplicação no dia-a-dia de conceitos

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