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Significado da educação de gestores para sustentabilidade aplicada aos negócios

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO GERAL DOS RESULTADOS

4.4 As entrevistas

4.4.2 Significado da educação de gestores para sustentabilidade aplicada aos negócios

A segunda categoria comum analisada refere -se a educação de gestores para sustentabilidade aplicada aos negócios, conforme destacado pelos entrevistados nos Quadros 8 e 8a em seguida.

A perspectiva dos mentores

Qua dro 8: Educa ção de gesto res para Sustenta bilid a de a plica da ao s negócio s.

Mentor 1 - Quando ela está vinculada diretamente ao dia-a-dia dos gestores, quando você atrela o tema a oportunidades de negócio ou melhorias de gestão.

Mentor 2

- Fazendo bem feito, pois você ganha escala, ganha produtividade, reduz custo e chega muito mais facilmente aos objetivos que se espera que você consiga.

- Compartilhando com seus funcionários, com seus liderados o que você está aprendendo.

- Tomando a decisão correta, analisando o todo.

Mentor 3

- Na condução da equipe para um objetivo único, de longo prazo, para um olhar maior sobre os impactos das ações daquela equipe.

- Ao você mudar o modo de fazer as coisas, de colocar outras variáveis no processo - para cada organização é uma forma diferente.

- Quando o gestor entende essa filosofia, que ele é o protagonista do processo, ver se isto faz sentido, adaptar para a realidade e trazer a equipe para caminhar junto em relação ao tema.

De acordo com o Quadro 8 na página anterior, parece haver concordância entre os mentores do programa, quando atestam que educar gestores para sustentabilidade, aplicado aos negócios, representa associar o tema ao dia-a-dia, à gestão de pessoas e à inserção de outras variáveis nas tomadas de decisão e não tratar o assunto de forma isol ada ou paralela. Pensar e agir de forma sustentável no cotidiano de uma instituição financeira é reconhecer que a variável econômica (lucro) é condição vital para a perenidade do negócio, porém não a obtenção deste lucro a qualquer preço ou de qualquer forma, sem considerar também os aspectos social e ambiental.

Um outro aspecto que pode ser apreendido das respostas destes entrevistados é que o compartilhamento de ideias sobre sustentabilidade entre os gestores e suas respectivas equipes contribui para o a profundamento e melhor compreensão da aplicação do tema ao negócio, que nem sempre é facilmente identificada. Trabalhar o “olhar mais crítico” dos gestores para fazerem negócios de forma diferente, avaliarem o impacto de certas ações adotadas, considerarem os diferentes públicos que interagem e engajarem as equipes para um objetivo comum, parece ser um caminho adequado para mostrar de forma mais concreta e efetiva como o assunto pode ser aplicado ao cotidiano corporativo.

Por outro lado, os comentários do s mentores do programa, destacados no Quadro 8 anterior, parecem não considerar algumas outras iniciativas adotadas, que demonstram a amplitude que o aspecto de educar gestores para a sustentabilidade teve na organização pesquisada – como se pode observar no Relatório Social da empresa, no qual são apresentadas muitas frentes de atuação, tais como: relação com fornecedores, concessão de microcrédito à população carente, investimento social direcionado à educação, compartilhamento da inserção do tema junto a clientes e fornecedores, acolhimento da diversidade em vários âmbitos, relacionamento com a sociedade, preservação do meio -ambiente, dentre outras.

O que se pode extrair dos comentários dos mentores é que ainda há certa ênfase na questão da disseminaçã o do tema pelo gestor às suas equipes,

mais do que na abordagem de outros aspectos atrelados ao negócio da empresa pesquisada.

A perspectiva dos gestores participantes

Qua dro 8a: Educa ção de gestores para Sustentabilida de a plica da ao s negócio s .

Gestor 1 - começa na prospecção de quem você vai visitar (clientes ou fornecedores), mostrando para as pessoas o que a empresa já desenvolveu em relação a este tema; - a partir também de um bom programa de recrutamento, de uma boa seleção e de um bom programa de capacitação dos funcionários.

Gestor 2

- a partir de gestores conscientes, que começam a fazer o link da sustentabilidade com o negócio (os três Ps - people, planet e profit), percebendo oportunidades para fazer novos e bons negócios ou ampliá-los;

- quando você começa, realmente, a tangibilizar o retorno e o resultado das ações educativas que você está tendo com o gestor nos negócios.

Gestor 3 - talvez com a empresa sendo mais “agressivo” e ousado neste tema, divulgando mais o que ele vem fazendo sobre este assunto, pois isto poderia gerar mais negócios. Gestor 4 - quando o gestor de negócio consegue influenciar pessoas formadoras de opinião; - quando o gestor fala sobre o tema e age de forma sustentável no negócio. Gestor 5 - o negócio fica muito mais rentável, quando você considera a interdependência; - a forma de olhar é muito mais ampliada, você consegue enxergar mais. Gestor 6 - quando você está em um momento de crise e olha para trás e vê que fez as coisas certas e também se preocupou em olhar para a frente (sustentabilidade de seu negócio).

Gestor 7 - a partir do que a empresa faz com a educação - trabalha o indivíduo para ser um profissional melhor (transforma as pessoas) - eu mesmo sou outra pessoa de dois anos para cá, eu evoluí tanto e estou muito feliz por isso.

- uma pessoa feliz, produz muito mais, faz muito mais.

Gestor 8

- a preocupação que a organização hoje tem com o profissional, se ele está bem familiarmente, se ele está bem economicamente.

- até então eram ações isoladas de RH os processos foram se desenvolvendo ao longo dos anos, a mentalidade das pessoas foram preparadas ao longo dos anos para chegar ao ponto que chegou hoje com um treinamento mais abrangente para as pessoas.

- Você tem o antes e o depois, um divisor de águas.

Gestor 9 - quando os gestores continuam falando sobre o tema e praticando - influenciar tem um custo sim, um pouco maior, mas a longo prazo o ganho é grande. Gestor 10 - se aplica na garantia dos resultados, para se ter continuidade no amanhã.

Gestor 11 - a partir de ferramentas concretas como o questionário de responsabilidade sócio-ambiental que a gente aplica junto ao cliente; - não fazendo negócios a qualquer custo e qualquer tipo de negócio;

- valorizando clientes e pessoas que também têm responsabilidade com o planeta.

Gestor 12

- avaliando o impacto que uma decisão tomada causa para o cliente e nos funcionários. - quando as pessoas conseguirem se conscientizar dentro do quanto é importante atender bem, respeitar, ter cliente fiel, ter clientes recomendando a empresa, ou recomendando os serviços para os demais, é isso que vai trazer a sustentabilidade à empresa.

- sendo efetivamente transparente nas negociações;

- quando a gente cuida e pensa na vida do cliente de uma maneira mais duradoura e sustentável;

- mantendo o cliente e gerando confiança - a confiança é que vai fazer com que sejamos ou não sustentáveis em nosso negócio.

De acordo com as respostas acima, dois entrevistados afirmam que educar gestores para a sustentabilidade, aplicado ao negócio, significa prospectar clientes, fornecedores e novos funcionários que tenham

similaridade de pensamento e compartilhem do posicionamento da empresa em relação ao tema sustentabilidade. Neste sentido, Mattarozzi e Trunkl (2008) destacam que o u niverso empresarial já não pode mais comportar interesses conflitantes com os movimentos da sociedade e sustentabilidade parece ser o conceito que vem operando esta mudança, tornando -se o denominador comum desta nova mentalidade.

Para atingir este propósito, ações educativas formais e informais, promovidas pelas organizações (como o programa de desenvolvimento de líderes para sutentabilidade na rede, por exemplo), que visem preparar os gestores para este contexto, parecem ser de extrema relevância, pois a lém delas serem complementares, elas também favorecem, segundo Abbad e Borges Andrade (2004) os processos de aquisição e retenção de conhecimentos e a prática de determinadas habilidades e atitudes dos indivíduos.

Outro ponto considerado por quatro entrev istados e coincidente à posição dos mentores no Quadro 8 anterior é que educar gestores para sustentabilidade, aplicado ao negócio, representa desenvolver gestores mais conscientes, que saibam aproveitar oportunidades para fazer novos e diferentes negócios. Mais uma vez aqui parece ser reforçado por estes superintendentes, o fato de que ao entender os propósitos da sustentabilidade aplicada ao negócio, isto significa não obter lucro a qualquer preço ou fazer operações ilícitas para conseguir maior rentabili dade a curto prazo, mas sim pensar e propor negócios que sejam interessantes e satisfatórios para os clientes, para a empresa e para a sociedade em geral.

Como afirmam Mattarozzi e Trunkl (2008, p.38) a equação é simples: quando uma instituição financeira decide ser sustentável, ela está sendo também pragmática em relação aos seus próprios interesses empresariais, além de visar ao interesse social em si mesmo. Neste caso, a ampliação de consciência dos gestores parece ser o caminho para a realização de neg ócios em que todas as partes envolvidas saem ganhando.

Em continuidade à análise do quadro 8a anterior, dois entrevistados, em consonância ao posicionamento dos mentores no Quadro 8, comentaram que educar gestores para sustentabilidade aplicado ao negócio , pode ser verificado quando os gestores inserem a noção de interdependência em sua prática diária de gestão (de pessoas, de recursos, de clientes, de fornecedores, etc), quando falam sobre o tema e quando agem de forma sustentável – coerente com suas palavras.

A noção de interdependência mais uma vez pode ser verificada nestes comentários, demonstrando conforme Mariotti (2007), que a sustentabilidade não é a conservação de uma parte isolada de um sistema – neste caso, não adianta somente a empresa auferir lucros – mas é a conservação e a sobrevivência do sistema inteiro: a preservação do todo, de suas partes e das relações entre as partes e destas com ele.

Assim, estes respondentes ao considerarem a interdependência em suas práticas de gestão, estão most rando para suas equipes a necessidade de se interpretar de forma sistêmica uma dada situação, considerando o equilíbrio entre todos os elementos que a integram. Além disso, ao falarem sobre o tema sustentabilidade, estão também demonstrando o compromisso q ue assumiram no aprendizado do tema, em suas ações diárias e na gestão dos negócios sob estes princípios.

Um superintendente abordou a questão de educar gestores para sustentabilidade aplicada ao negócio como algo que transforma, que desenvolve as pessoas, como se fosse “um divisor de águas” – o antes e o depois – quando se aprende sobre o tema. Neste sentido, fica evidente a importância das ações educativas e seus resultados no comportamento das pessoas, pois a evolução da aprendizagem ocorre desde o acol himento das informações até a mudança total de concepção de vida em função de um valor.

Por fim, quatro entrevistados responderam, conforme demonstrado no Quadro 8a anterior, que educar gestores para sustentabilidade aplicado ao negócio, representa saber dimensionar o impacto das decisões tomadas; fazer

operações corretas não só agora no presente, mas principalmente, pensando no futuro; ser transparente nas relações com os diferentes públicos e gerar confiança. Enfim, significa pensar na sustentabilidade do negócio.

Estes aspectos levantados pelos superintendentes evidenciam a assimilação e incorporação no cotidiano de alguns conceitos que foram fortemente trabalhados no programa de desenvolvimento de líderes para sustentabilidade na rede e observados pe la pesquisadora, tais como: visão sistêmica – considerar os impactos e conseqüências das decisões e atitudes tomadas; considerar o curto prazo, mas pensar também no médio e longo prazos – perenidade das relações e dos negócios; agir de forma íntegra e transparente com os diferentes públicos, visando relações mais duradouras e baseadas na confiança – o importante é saber manter as relações e não simplesmente fazer uma única operação ou prestar um serviço uma única vez, visando ganhos imediatos e fugazes.

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