5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.2. Aplicações pedagógicas e futuras pesquisas
seja, como marcador em potencial da voz de quem escreve. Usar um advérbio de forma sutil e informada significa ter a sua voz em qualquer texto.
E finalmente, em relação à quarta pergunta, a pesquisa revelou que a escolha dos aprendizes por aqueles advérbios que exprimem veracidade, realidade e intensidade cria a impressão de um discurso muito assertivo, distante do que se convenciona chamar de argumentação e deste modo temos que falar sobre uma das limitações importantes da presente dissertação, que é típica dos trabalhos com corpora – o fato de que em nenhum momento enfocou-se o tipo de texto produzido pelos aprendizes, ou seja a redação argumentativa. Apesar de esta dissertacao não ter levado em conta o que é argumentar por escrito num texto minimamente acadêmico, a compilação dos corpora contempla isto. Pode ser que os alunos brasileiros não saibam o que é argumentar – argumentar não é asseverar, mas discutir e avaliar de forma concisa.
“O ensaio argumentativo é um gênero da escrita que requer que o aluno investigue um tópico, colete, gere e avalie evidências e estabeleça uma posição no tópico de maneira concisa (http://owl.english.purdue.edu/owl/resource/685/05/)”50.
5.2. Aplicações pedagógicas e futuras pesquisas
Uma possível aplicação pedagógica para os resultados desta pesquisa é a utilização de concordâncias a partir de corpora escritos em inglês, que podem ser apresentados na linguagem de sala de aula e/ou podem ser usados em materiais de ensino de língua inglesa. A concordância é empregada para exemplificar o uso de traços linguísticos e as situações nas quais ocorre e é um meio versátil de focalizar várias questões de sentido e estrutura.(Berber Sardinha 2004:273 e 276).
Alguns exemplos (ainda esporádicos) de como se trabalhar com corpus, podem ser encontrados, na Natural Grammar (Thornbury 2004:155 apud O’Keeffe 2007) onde é pedido que
50
Tradução do original em inglês: The argumentative essay is a genre of writing that requires the student to investigate a topic, collect, generate, and evaluate evidence, and establish a position on the topic in a concise manner.
a palavra there seja identificada como pronome ou como advérbio, de acordo com as linhas de concordância apresentadas
Figura 7: Extraído da Natural Grammar (Thornbury 2004:155 apud O’Keeffe 2007)
Sugerimos ainda, como outro exemplo de estudo com corpora em sala de aula, que os alunos comparem, por meio das linhas de concordância, advérbios como probably e possibly, considerados sinônimos, em termos de função e padrão de colocados em corpora de nativos. Através desta análise, é possível identificar semelhanças e diferenças entre esses advérbios quanto ao seu uso em contextos típicos destes corpora.
Este tipo de abordagem, orientada por um corpus, visa tornar o aluno um pesquisador, permitindo que busquem suas próprias respostas ao trabalhar com o computador ou com concordâncias impressas preparadas pelo professor (Berber Sardinha 2004:291).
Dito isto, a presente dissertação pode ser vista como uma singela contribuição para a área da Lingüística de Corpus aplicada à descrição lingüística baseada em corpus e abordou questões sobre a importância da descrição de corpus de aprendiz, para que pesquisadores e professores possam trabalhar em conjunto. Além disso, o presente trabalho visou fornecer uma contribuição original para a área de Corpora de Aprendiz, visto que há escassez de trabalhos que lidem com a
investigação das escolhas típicas da linguagem escrita por aprendizes brasileiros de língua inglesa. Como dissertação, entretanto, ela sinaliza, somente um início de investigação.
Para pesquisas futuras é importante primeiro que o corpus Br-ICLE seja aumentado. Compilar textos argumentativos dentro de universidades é uma tarefa sobremaneira difícil, o que pode ser constatado pelo número de redações até hoje coletada desde o início do projeto. Isso porque os universitários nem sempre querem contribuir para a pesquisa com seus textos. Se aumentado, o Br-ICLE poderia ser objeto de outros pontos de análise para um futuro foco, “onde os advérbios puderiam ser analisados sob o arcabouço da avaliatividade de Martin e White através do subsistema da graduação e do engajamento”51. Com o aumento do Br-ICLE poderia se considerar também a preparação de um material didático compatível com a população analisada (redação acadêmica em inglês por universitários).
51
REFERÊNCIAS
ADOLPHS, S. Introducing Electronic Text Analysis: A practical guide for language and literary studies. London: Routledge. 2006.
AIJMER, K. Modality in advanced Swedish learners’ written interlanguage. In GRANGER, S., HUNG, J., PETCH-TYSON (eds.). Computer learner corpora, second language acquisition and foreign language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2002.
BARLOW, M. Computer-based analyses of learner language. In ELLIS, R.; BARKWIZEN, G. (eds.) Analyzing learner language. London: Oxford. 2005. p. 1-20.
BERBER SARDINHA, T. A. Lingüística de Corpus. São Paulo: Manole, 2004. passim
BERNARDINI, S. “Corpora in the classroom – an overview and some reflections on the future developments”. In SINCLAIR, J.M. (ed.) How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 15-36
BIBER, D.et al. Longman Grammar of Spoken and Written English. 1999.
BLOOR, T; BLOOR, M. The Functional Analysis of English: A Hallidayan Approach .London:Arnold. 1995.
BOLTON, K, NELSON, G., HUNG, J. A corpus-based study of connectors in student writing. In HYLAND, K. Teaching and researching writing. London: Longman.2002. p. 49-84.
BUTT, D. et al.. Using Functional Grammar: An Explorer’s Guide. Sydney: Macquarie University. 1995
CONRAD, S. Corpus linguistics, language variation and language teaching. In SINCLAIR, J.M. (ed.) How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 67-85.
DROGA, L; HUMPHREY, S. Getting Started with Functional Grammar. Berry, Australia:2002 passim
GILQUIN, G., GRANGER, S., PAQUOT, M. Learner corpora: the missing link in EAP pedagogy. Journal of English or Academic Purposes. V.6. October 2007.
GRANGER, S. The contribution of learner corpora to second language acquisition and foreign language teaching: A critical evaluation. In AIJMER, K (ed.), Corpora and Language Teaching . Benjamins.2008
GREENBAUM, S. The Oxford Grammar. Oxford University Press:1996
GUO, X. Modal auxiliaries in phraseology – a contrastive study of learner English and NS english. In Danielsson P. and M. Wagenmakers (eds) Proceedings from the Corpus Linguistics Conference Series. V. 1, n. 1 Corpus Linguistics 2005.
KENNEDY, G. An Introduction to Corpus Linguistics. London: Longman . 1998
LEECH, G.; DEUCHAR, M.; HOOGEHRAAD, R. English Grammar for Today. London: Macmillan. 1982
McENERY, T. ; KIFLE, N.A. Epistemic modality in argumentative essays of second language writers. London: Pearson Education. 2002.
McENERY, T. ; WILSON, A.Corpus Linguistics. Edinburgh: Edinburgh University Press. 1996
MELINDA, T. Authentic language or language errors. ELT Journal V. 59/2. April 2005
NASSELHAUF, N. Learner corpora and their potential for language teaching. In SINCLAIR, J.M. (ed.) How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 125-152.
NESSELHAUF, N. Collocations in a Learner Corpus. Amsterdam: John Benjamins.2005
NEEF, J. et al. Contrasting learner corpora: the use of modal and reporting verbs in the expression of writer stance. In GRANGER, S. ; PETCH-TYSON, S. Extending the scope of corpus-based research: new applications, new challenges. Rodopi.2003
NEFF, J. et al. Formulating writer stance: a contrastive study of EFL learner corpora. In GERBIG A. ; MASON O. Language, People, Numbers: Corpus Linguistics and Society. Rodopi 2008.
O’KEEFFE, A; McCARTHY, M.; CARTER, R. From Corpus to Classroom. USA: Cambridge. 2007
RINGBOM, H. Vocabulary frequencies in advanced learner English: a cross-linguistic approach. In GRANGER, S. (ed). Learner English on Computer. London: Longman. 1998. p. 41-52.
RÖMER, U. A corpus-driven approach to modal auxiliaries and their didactics. In SINCLAIR, J.M. How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 185-199.
SCOTT, M. ; TRIBBLE, C. Textual Patterns: key-words and corpus analysis in language education. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company. 2006
SIMON-VANDERBERG, A.M.; AIJMER, K. The Semantic Field of Modal Certainty. German: Mouton de Gruyter. 2007
TANKÓ, G. The use of adverbial connectors in Hungarian university students’ argumentative essays. In SINCLAIR, J.M.(ed.) How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 157-181.
TOGNINI-BONELLI, E. Corpus Linguistics at Work: Studies in Corpus Linguistics. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company. 2001
TSUI, A.B.M. What teachers have always wanted to know – and how corpora can help. In SINCLAIR, J.M. (ed.) How to use corpora in language teaching. Amsterdam: John Benjamins. 2004. p. 39-61
WEI-YU CHEN, C. The use of conjunctive adverbials in the academic papers of advanced Taiwanese EFL learners. International Journal of Corpus Linguistics, Amsterdam, v. 11, n 1, 2006