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3 DANO

4.4 APLICABILIDADE DO DANO MORAL

Para que fique demonstrada a incidência do dano moral, faz-se necessário que tenha ocorrido um prejuízo aos direitos personalíssimos. Neste sentido nos ensina Maria Celina Bodin de Moraes:

Assim, no momento atual, doutrina e jurisprudência dominantes têm como adquirido que o dano moral é aquele que, independentemente de prejuízo material, fere direitos personalíssimos, isto é, todo e qualquer atributo que individualiza cada pessoa, tal como a liberdade, a honra, a atividade profissional, a reputação, as manifestações culturais e intelectuais, entre outros. O dano é ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas. (MORAES, 2009, p. 157).

Destaca a autora supra mencionada que no dano moral “o objetivo a ser perseguido é oferecer a máxima garantia à pessoa humana, com prioridade, em toda e qualquer situação da vida social em que algum aspecto de sua personalidade esteja sob ameaça ou tenha sido lesado”. (2009, p. 182).

Logo, nem sempre os atos produzidos pelas pessoas darão causa a compensação por danos morais, conforme lição de Maria Celina Bodin de Morais “o desenvolvimento de atividades cotidianas com freqüência causa danos a terceiros, pelo próprio e normal agir humano”, e segue a mesma autora aduzindo que “essas situações, ainda que causadoras de danos, são autorizadas pelo ordenamento jurídico; os danos que aí se produzem são, portanto, lícitos, não importando em responsabilização”. (2009, p. 175).

Não há como demonstrar objetivamente em um caso concreto a incidência do dano moral. Tal afirmação é possível tendo em vista que o dano moral é algo subjetivo, e, assim sendo, determinados fatos atingem as pessoas de maneiras diversas. Desta forma, algo que para alguém parece ser irrelevante, para outra pessoa pode afetar a sua alma.

Para solucionar tais casos, o juiz deverá agir sempre tendo em mente os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, evitando, assim, uma crescente

demanda de processos que, em verdade, não merecem ser analisados sob o aspecto do dano moral.

Isso ocorre porque muitas pessoas dão credibilidade a fatos que não se revestem de lesão a danos morais. O que se quer dizer e que, muitas vezes, o que ocorre são apenas fatos comuns do dia a dia, não sendo necessário levar a conhecimento do Judiciário, evitando assim a morosidade da justiça e, também, evitando que a pessoa venha a auferir vantagem indevida por se tratar de caso de mero aborrecimento.

No sentido de minorar a quantia devida a título de compensação por danos morais que, ao ver do Relator Ministro Aldir Passarinho Junior, nem sequer existiu, temos a decisão do Superior Tribunal de Justiça – STJ, número AgRg no agravo de instrumento nº 460.122 - RJ (2002/0075755-1), contendo a seguinte ementa:

CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL.

RELACIONAMENTO BANCO/CLIENTE. MERO DISSABOR.

RECURSO ESPECIAL QUE APENAS DISCUTE O VALOR DO RESSARCIMENTO. REDUÇÃO DO QUANTUM.

Como ressaltado no despacho agravado, cujos fundamentos ficam incorporados ao presente voto, sequer se percebeu dano moral, porquanto os equívocos do banco quanto à conta do cliente não extrapolaram o âmbito das partes, não passando de meros dissabores ou contratempos no relacionamento com o banco, não se confundindo com a dor, sofrimento ou humilhação que dão ensejo à reparação financeira a tal título, sob pena de banalização dessa espécie de reparação. (STJ - AgRg no agravo de instrumento nº 460.122 - RJ (2002/0075755-1) Relator Ministro Aldir Passarinho Junior). (Grifo nosso).

São inúmeros os julgados ocorridos no Superior Tribunal de Justiça – STJ – que acabam por afastar a incidência do dano moral por se tratar de mero aborrecimento. Para demonstrar tal afirmação temos o REsp 955031/MG – 2007/0119157, elaborado pela Relatora Ministra Nancy Andrighi, no qual dentre outras coisas dispõe: “A jurisprudência desta Corte é farta de precedentes que negam indenização por dano moral nas hipóteses em que o fato alegado pela parte representa, segundo as regras de experiência, um mero dissabor inerente à vida em sociedade”.

O Superior Tribunal de Justiça – STJ – sumulou o assunto quando publicou a Súmula n. 7, a qual dispõe: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja

recurso especial”. Sobre isso, a Ministra Nancy Andrighi dispõe em seu julgado AgRg nos EDcl no Agravo em recurso especial nº 123.842 – SP (2011/0289471-7):

Ademais, no que tange ao pedido de revisão do valor dos danos morais, cumpre ressaltar que o STJ tem afastado o óbice da Súmula 7 somente nas hipóteses em que o valor fixado como compensação dos danos morais revela- se irrisório ou exagerado, de forma a não atender os critérios que balizam o seu arbitramento. (STJ - AgRg nos EDcl no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 123.842 – SP (2011/0289471-7)).

O Ministro do Superior Tribunal de Justiça – STJ - Massami Uyeda, no julgamento do Recurso Especial nº 1.234.549 - SP (2011/0013420-1), contribui para o entendimento da matéria ao concluir que:

RECURSO ESPECIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - IMÓVEL - DEFEITO DE CONSTRUÇÃO - INFILTRAÇÕES EM APARTAMENTO - POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO - CONSTATAÇÃO, PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS -

LAMENTÁVEL DISSABOR – DANO MORAL - NÃO

CARACTERIZADO - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

I - As recentes orientações desta Corte Superior, a qual alinha-se esta Relatoria, caminham no sentido de se afastar indenizações por danos

morais nas hipóteses em que há, na realidade, aborrecimento, a que todos estão sujeitos (grifo nosso).

II - Na verdade, a vida em sociedade traduz, infelizmente, em certas ocasiões, dissabores que, embora lamentáveis, não podem justificar a reparação civil, por dano moral. Assim, não é possível se considerar meros incômodos como ensejadores de danos morais, sendo certo que só se deve reputar como dano moral a dor, o vexame, o sofrimento ou mesmo a humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, chegando a causar-lhe aflição, angústia e desequilíbrio em seu bem estar.

Mais um exemplo oriundo do Superior Tribunal de Justiça – STJ – é o caso

do AgRg no AgRg no Ag 546608 / RJ

2003/0153952-4, o qual teve como Relatora a Ministra Maria Isabel Gallotti, do qual se extrai importante lição da seguinte ementa:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESCISÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. IMPONTUALIDADE. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA.

1. O mero inadimplemento contratual não enseja, por si só, indenização por dano moral. "Salvo circunstância excepcional que coloque o contratante em

situação de extraordinária angústia ou humilhação, não há dano moral. Isso porque, o dissabor inerente à expectativa frustrada decorrente de

inadimplemento contratual se insere no cotidiano das relações comerciais e não implica lesão à honra ou violação da dignidade humana" (REsp n. 1.129.881/RJ, relator Ministro MASSAMI UYEDA, 3ª

Turma, unânime, DJe 19.12.2011).

2. Agravo regimental a que se nega provimento (grifo nosso).

Neste sentido Rui Stoco aduz que “o mero aborrecimento não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige (STJ – 4. T. – REsp 215.666-Rel. César Asfor Rocha – j. 21.06.2001 – RSTJ 150/382)”. (2004, p. 1674).

E completa Maria Celina Bodin de Moraes que “não será, portanto, o sofrimento humano ou a situação de tristeza, constrangimento, perturbação, angústia ou transtorno, que ensejará a reparação, mas apenas situações graves suficiente para afetarem a dignidade humana”. (2009, p. 327).

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