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CAPÍTULO III: VIOLÊNCIA SEXUAL

3.2 Apoio escolar em casos de abuso

A escola deve ter como objetivo garantir a qualidade de vida de sua clientela, bem como promover a cidadania e, nesse sentido, é preciso capacitar os professores para o enfrentamento dessa difícil questão: o abuso sexual infantil. Para delinear um programa de capacitação para profissionais, é necessário conhecer, primeiramente, o universo de informações básicas que os professores detêm sobre o abuso sexual, a legislação referente ao tema e aos direitos da criança.

Os professores de pré-escola também devem ter formação nesta área e ser sensibilizados para a necessidade de revelação da ocorrência do abuso. A média de idade das crianças abusadas sexualmente aparece mais elevada nas pesquisas, sendo que, do primeiro contato sexual até a sua revelação pode decorrer muito tempo, sugerindo que o primeiro contato pode ter ocorrido em uma faixa etária bem mais jovem (Cunningham & Sas, 1995).

Esses relatos se tornam mais difíceis em crianças menores (com até seis anos de idade), pois elas sentem dificuldade de relatar o abuso, visto que ainda não dispõem das condições cognitivas e verbais necessárias para articular a violência e proporcionar recordações dos eventos (Vogeltanz & Drabman, 1995).

Se os educadores forem bem treinados, poderão identificar, mais precocemente, os sintomas do abuso nas crianças pequenas, promovendo uma intervenção, mais cedo, com o intuito de evitar ou amenizar as consequências imediatas do abuso sexual (Fagot et al., 1989).

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Hazzard e Rupp (1986) verificaram que profissionais de saúde mental e pediatras eram mais bem informados que os professores a esse respeito. A pesquisa realizada por Brino e William (2003), que envolveu 20 professoras de escolas municipais de educação infantil, com idades variando entre 31 e 61 anos, revelou que esses profissionais, em sua quase totalidade, não são capacitados para desvelar problemas de abuso sexual entre seus alunos, pois não são capacitados a identificar sintomas que denunciem o abuso sexual. Apenas 15% das participantes foram capazes de enunciar alguma informação sobre abuso sexual contida no Estatuto, sugerindo que essas profissionais não são capazes de verbalizar informações acerca do abuso sexual nele contidas. Pode-se dizer, portanto, que a maioria das professoras não domina informações sobre o conteúdo do ECA (Brasil, 1990) sobre o abuso sexual.Sobre o dever do profissional tomar iniciativas ao se deparar com casos de abuso sexual, todas as professoras entrevistadas referiram a necessidade de denunciar.

No que se refere a procedimentos e ações perante um caso de abuso sexual, 95% das participantes disseram que tomariam algum tipo de atitude, o que parece ser um dado bastante encorajador. Cabe aqui ressaltar que, muitas vezes, há uma diferença expressiva entre o que se afirma sobre algo e o que realmente se faz. Não é possível isolar o relato verbal da participante do estudo, sendo que a resposta pode receber influência de vários fatores (Perone, 1988).

O despreparo e a falta de informação a respeito do que um professor deve fazer ao identificar um caso de abuso sexual pode prejudicar a criança vitimada, colocando-a em situação de risco. Assim, é mencionar que o professor precisa ter cuidado ao expor tais assuntos aos pais, pois estes podem ser violentos e ameaçadores e infligir danos ao professor e à criança. Além disso, a recusa de procurar auxílio ou ajuda especializada e a tentativa de ajudar a criança, conversando com ela, faz com que o problema do abuso se perpetue, expondo a criança a um risco extremo.

Além disso, se a própria criança revelou o abuso ao professor e este nada fez, sua omissão poderá ser interpretada pela criança de forma errônea, achando que o abuso pode não ter sido grave ou que o professor ache que ela está mentindo.

Dentre os sintomas citados pelas professoras, grande parte é descrita pela literatura sobre o tema (Meichenbaum, 1994; Monteiro, Abreu & Phebo, 1997;

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Caminha, 1999; Pires, 1999; Azevedo & Guerra, 1997; Williams, 2001). Dentre os sintomas relacionados citados, frequentemente, na literatura, muitos não apareceram nas verbalizações das educadoras, tais como problemas no sono (pesadelos, vigília), fugir de casa ou evitar voltar para casa após a escola, evitar o toque de outras pessoas, desenvolvimento de fobias e outros.

Entretanto, citar alguns sintomas parece não ser suficiente para identificar ocorrência de abuso sexual. É necessário um treinamento aprofundado para que a professora saiba identificar um conjunto de sintomas, além de avaliar o contexto da criança, como: quando começaram a ocorrer tais sintomas, se foi um processo, se foi de repente, se esses sintomas têm permanecido por um período longo.

O comportamento mais apontado na literatura como sintomático de abuso sexual – comportamentos sexualizados – foi mencionado apenas por uma participante, reforçando a hipótese de que as professoras detêm um conhecimento superficial acerca do tema.

É necessário que sejam ofertados às professores que lidam com crianças pequenas, cursos de capacitação sobre a legislação pertinente ao abuso sexual e ao ECA. É preciso, também, informá-las sobre os meios e procedimentos adequados, que devem ser adotados nos casos de constatação de abuso sexual a seus alunos.

As sessões de Psicomotricidade Relacional, além do interesse que apresentam por si mesmas, constituem um verdadeiro laboratório onde a educadora se molda a uma outra relação com a criança, relação mais próxima, mais disponível, mais aberta, também mais conscientes de suas necessidades profundas, qualquer que seja a maneira em que elas as exprimam... ou não exprimam. Aprende-se, nessas sessões, a estar atenta à linguagem corporal da criança e, através dessa escuta permanente, perceber o significado de seus menores gestos, de suas atitudes, de sua mímica, de seu olhar, dos sons que ela emite, da distância que mantém (ou não mantém) do nosso corpo, do lugar em que fica na sala, da qualidade dos contatos que estabelece com o nosso corpo, das tensões e das descontrações de seu próprio corpo, de seus ritmos, de sua relação com o chão e com os objetos, e de muitas coisas mais. Aprende-se a compreender e, pouco a pouco, a analisar todas as nuances de seus comportamentos (Lapierre & Lapierre, 2002, p.161).

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Ressalta-se a Formação Pessoal de professores como uma abordagem fundamental para que eles tenham um espaço onde possam descarregar suas tensões diárias, além de um momento para olhar para si mesmos em suas próprias demandas. Assim, a Psicomotricidade Relacional disponibiliza uma escuta necessária a esses educadores, que passam a resgatar as suas potencialidades, autoestima, o prazer na dinâmica profissional e familiar, quando preciso, e abrindo uma escuta para os não-ditos verbalmente pelas crianças em situação de constrangimento ou violação de direitos.

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