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Relacionamento com as pessoas com quem vivia

CAPÍTULO VI: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3 Tema II: Aspectos vivenciais na infância

6.3.2 Relacionamento com as pessoas com quem vivia

Através da questão colocada “Como era o teu relacionamento com as pessoas com quem vivias?” analisa-se o tipo de convivência em relação às pessoas com quem os entrevistados moravam, quando crianças. Identificamos quatro categorias de relacionamento: bom, mau, irregular e com deterioração da família.

A maioria das verbalizações dos jovens expressa que sempre manteve um bom relacionamento com a mãe e com as demais pessoas de sua convivência (N = 11; 64,6%). Em segundo lugar, encontramos verbalizações sobre um relacionamento irregular (N = 2; 11,8%), deteriorioração relacional (N= 2; 11,8%) e mau relacionamento (N= 2; 11,8%)

O quadro 6 ilustra as respostas dos entrevistados sobre a forma como se relacionavam com os familiares com quem moravam, durante a infância. A pesquisa demonstrou uma inquietação, por parte dos entrevistados, ao responder a essa indagação. Houve, de forma geral, um constrangimento para falar sobre o que menos gostava ou não gostava na infância por estar relacionado direto ou indiretamente com o fato vivenciado ou ainda com as pessoas envolvidas.

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O sujeito 15, por exemplo, não gostava do convívio da mãe, aparentemente, pela sua omissão frente ao que se passava.

Quadro 6 - Como era o teu relacionamento com as pessoas com quem vivias? Categorias, Exemplos, Frequências e Percentagens.

Categorias

Exemplos

N

%

1. Bom Bom. (suj2)

Muito bom, assim, meu pai, gostava muito dele e da minha mãe... Meus irmãos, sempre têm aquele atrito, aquelas coisas de irmãos mesmo, mas era bom (suj3) Um bom relacionamento, eu diria. Íamos à Igreja, também com minha tia, desde pequeno ela também cuidou de mim. (suj4)

“Com meus irmãos era bom, me dava muito bem, apesar de brigar, como sempre tem, com minha mãe, com meu padrasto também, até certo ponto” (suj 5)

“É muito bom por um lado e chato pelo outro, porque, às vezes, mesmo com aquela pessoa de dentro de

casa, você se sente seguro.” (suj6) Era bom. Era bonito. (suj.8)

Era bom, muito bom. (suj9)

Às vezes eu era ignorante com minha mãe e todo mundo, era um relacionamento bom, mas não sei dizer por que (suj10)

“minha irmã e minha mãe, a gente sempre foi bem amiga, só que depois... A minha irmã também, a gente ficou bem afastada porque ela não queria morar mais com minha mãe e meu padrasto era um pai para mim até meus 12 anos” (suj 12)

Era bom, a gente vivia na paz (suj. 14)

É... Com minha tia e com minha avó sempre foi um relacionamento muito agradável, (suj 15)

11 64,6%

2. Irregular Eu mesmo não sei. Tinha dia que era bom, tinha dia que era ruim, era normal (suj 11)

Mais ou menos. Meu pai não me deixava sair e eu desobedecia a ele, minha mãe não estava nem aí. (suj 13)

2 11,8%

3. Deterioração relacional

Com meus irmãos era bom, me dava muito bem, apesar de brigar, como sempre tem, com minha mãe, com meu padrasto também, até certo ponto em que se tornou insuportável o convívio com ele (suj7) Com minha irmã e minha mãe, a gente sempre foi bem amiga, só que depois... A minha irmã também, a gente ficou bem afastada porque ela não queria morar mais com minha mãe e meu padrasto era um pai para mim até meus 12 anos, mas depois ele ficou sendo uma pessoa que morava dentro da minha casa, mas que eu não conhecia ele (suj 16)

2 11.8%

4. Mau Com minha mãe não, ela me desprezou quando eu era pequeno, ia para as festas e o companheiro da minha tia nunca falou comigo. (suj 17)

Com meu pai (suj. 1)

2 11,8%

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Considerando uma compreensão geral dos contextos familiares, percebe-se o relacionamento em dois eixos positivos e negativos no convívio da família. Há três nuances determinantes para isso, em primeiro, podemos destacar que, em alguns casos, o abuso ocorreu após a chegada de uma terceira pessoa, um padrasto, por exemplo; em segundo, o abuso ocorre por circunstâncias externas, apesar de próximas as famílias, um vizinho, um namorado, um desconhecido; em terceiro, há os casos de exploração sexual, uma das entrevistadas foi levada pela própria irmã mais velha para as festas em que isso ocorria. No que diz respeito a relação paterna, circunstâncias em que ele é o próprio abusador, o convívio é considerado de irregular a mau.

Nesse sentido, verificou-se que o relacionamento dos jovens com as pessoas com quem conviviam se assentava em dois eixos: um positivo e outro negativo. Para uns, o relacionamento com os pais era muito bom:”meu pai, eu gostava muito dele e da minha mãe... (suj3).” Entretanto, dentro da própria família nota-se a oscilação entre um polo e o outro (positivo e negativo): “Meus irmãos, sempre têm aquele atrito, aquelas coisas de irmãos mesmo, mas era bom” (suj3). “Eu mesmo não sei. Tinha dia que era bom, tinha dia que era ruim, era normal” (suj 11).

No que se refere ao conflito, Simmel citado por Martini (2000) “analisa o conflito como socialização, ou seja, ação social originada por vários fatores dissociantes como inveja, necessidade, ódio, desejo” (p. 258). Assim, o conflito entre pais e filhos é caracterizado por motivos divergentes, como o desejo de excessiva liberdade, de saídas com os amigos, com as quais os pais não concordam, entendendo-se, portanto, que a situação conflituosa é inevitável no âmbito familiar entre pais e filhos, principalmente, adolescentes, devido algumas implicações nas relações familiares das dificuldades financeiras, vivenciadas pelas famílias pobres.

Muitas garotas entram em conflito com suas mães por motivos diversos geralmente relacionados ao fato de divergirem da opinião da mãe e por questionarem suas imposições. Apesar de existirem mães que desejam que suas filhas vivam tudo aquilo que elas não viveram na sua adolescência e juventude, algumas outras agem de forma contrária, não permitindo ou evitando que suas filhas vivam mais do que elas viveram ou tiveram em sua juventude.

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destes quererem fazer algo com o qual a mãe não concorda, como ir a lugares que a mãe considera ruins ou andar com determinadas pessoas que ela não gosta, seguir determinada religião ou não ter os mesmos gostos que ela em relação ao vestir-se, uso de pincengs ou tatuagens (Tessari, 2008).

Os pais, muitas vezes, não se conformam com a perda do ‘posto’ de herói insubstituível dos filhos, quando estes começam a reconhecer seus defeitos e falhas. Muitos pais tentam controlar exageradamente a vida dos filhos, como se pudessem, com isso, não os deixando crescer e tomar suas próprias decisões. Assim, não respeitam sua privacidade, querem participar da vida deles de forma integral e usam como instrumento de controle a alegativa a respeito dos perigos referentes à violência, ao uso das drogas e a AIDS, entre outros (Tessari, 2008).

Por outro lado, o convívio com os irmãos é referido, por alguns jovens, como bom, enquanto a presença do padrasto é vista como inoportuna e incomodante.

“O meu relacionamento com meus irmãos era bom, me dava muito bem, apesar de brigas, né, como sempre tem, com minha mãe, com meu padrasto também, até certo ponto em que se tornou insuportável o convívio com ele”

(suj.5).

A convivência com os avós foi referida como muito boa, pelo único participante que, quando criança, não morava com a mãe e que tem algumas queixas em relação a ela:

“eu morava com meus avós. Com meu avô e minha avó. Eu gostava muito de

estar perto deles. Minha mãe saía e me deixava sempre com eles, com meu irmão. Meu irmão teve que se afastar por uns tempos, foi morar com meu pai, meus pais se separaram. Atualmente, venho convivendo mais com minha mãe e minha vó” (suj7).

Contatou-se, pelas respostas que, na convivência familiar, as crianças e adolescentes presenciam muitos atritos entre familiares, principalmente entre os pais, além de muitas intransigências dos pais em relação aos filhos, aos quais não dão o devido carinho, afeto e, principalmente, orientações e bons exemplos, o que vai criando um distanciamento dessas crianças e adolescentes em relação à família.

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