• Nenhum resultado encontrado

Cultura para Bernardes (1995) em se tratando de indivíduo, corresponde à instrução, ao saber, ao desenvolvimento intelectual. Enquanto a nível social trata- se o conjunto de crenças, comportamento e valores partilhados por membros comuns a um grupo.

Sobre o aspecto da tradição sócio-cognitiva, cultura é definida como sendo o comportamento que distingue um membro de um grupo ou categoria de pessoas (indivíduos que estão em contato ou têm algo em comum) de outros (HOFSTED, 1997; SMITH-JACKSON; WOGALTER, 2002); ou seja, é o fenômeno situacional persistente que se manifesta através dos modelos de interação com o ambiente, levando-se em consideração, dentre outros, crenças, valores e modelos mentais. Rohner (1984) sugere o conceito de cultura como "sistemas altamente variáveis de significados", que são "aprendidos" e "compartilhadas por um povo ou de uma identificação segmento de uma população."

De acordo com Melo (2008), em termos de mercado, a cultura influencia o processo de desenvolvimento de produtos/serviços para a sociedade, seja na interpretação de mensagens visuais ou no desenvolvimento de objetos de uso. Todas as finalidades atribuídas aos produtos/serviços são originárias de processos arraigados na cultura de um povo.

Segundo Lee (2004), a globalização fez com que a cultura se tornasse o ativo mais importante de se trabalhar. Os designers, através da observação da cultura cotidiana, devem criar produtos/serviços que respondam a essa cultura (MOALOSI et al., 2007). As características culturais de um povo são consideradas um caráter único para incorporar em um produto, tanto para reforçar da identidade do produto no mercado global, quanto para a realização de experiências do consumidor individual (LIN, 2005).

No mercado global - mas na era do design local, as conexões entre cultura e design tornaram-se cada vez mais próximas. Dessa maneira, produtos elaborados pelo homem carregam em si, a cultura a que pertence, através da percepção, da emoção e da compreensão de uma sociedade ou de um indivíduo (GEERTZ, 1989). As mensagens visuais, que também são produtos criados pelo homem, trazem consigo significações que podem gerar margens interpretativas dependendo da cultura e do modo de interação que estabelece com o leitor.

As pesquisas realizadas envolvendo mensagens visuais de sinais de advertência e a compreensão das mesmas por parte dos usuários (e.g. OSTUBO, 1988; AZEVEDO, 2006; KALSHER; WOGALTER, 2011), demonstram os avanços na área. Resultados desses estudos identificaram quais são as características gráficas e informacionais que uma advertência deve possuir para ser melhor compreendida, entretanto, os resultados mostraram que essa compreensão por parte do usuário ainda é um desafio.

Vários fatores influenciam o entendimento, reação e a aceitação de um sinal de advertência, entre eles os fatores individuais. Afinal, cada indivíduo possui seu devido repertório, podendo assim existir uma margem interpretativa, uma vez que possa modificar o entendimento das mensagens visuais, causando o erro. Entender essa influência é, pois, uma das premissas da Ergonomia Cultural.

Smith-Jackson e Wogalter (2002) consideram a Ergonomia Cultural como a área da ergonomia cuja abordagem analisa situações e características com base na variedade cultural de cada indivíduo. Os autores afirmam que variedade cultural de cada indivíduo influencia a percepção de risco, o comportamento, e a aceitabilidade de determinada informação. O que nos confirma que a eficácia de uma advertência vai além dos aspectos gráficos e informacionais e deve levar em consideração também o público alvo. É importante frisar que não é possível conceber um sinal de advertência para cada diferença individual ou característica pessoal, no entanto, ao se identificar as características individuais predominantes em um grupo de usuários, a probabilidade de que as reais necessidades dos mesmos sejam atendidas são maiores. Sametz e Mayhoney (2003) sugerem que o envolvimento dos usuários no processo de design ajuda a captar o seu interesse e as necessidades em um estágio inicial, evitando, dessa maneira, possíveis erros futuros e consequentes prejuízos, materiais ou até mesmo físicos.

A familiaridade com um determinado produto ou situação por parte do usuário diz respeito às crenças, ao conhecimento e às experiências, e se referem ao conhecimento individual que é tido como verdade, mesmo que este não seja. Como foi abordado anteriormente, o processamento da informação só é concluído corretamente se a informação de segurança for de acordo com as crenças e atitudes do receptor. Caso o usuário não acredite que determinado produto é perigoso, a probabilidade de que ele procure ou leia uma advertência é bem pequena (WOGALTER et al., 2002a; WOGALTER, 2006).

Algumas características individuais devem ser consideradas quando se abordam questões que envolvem a Ergonomia Cultural. Smith-Jackson et al. (2011) sugeriram atributos que devem ser observados ao se avaliar o comportamento dos indivíduos diante dos diversos tipos de informação em produtos de consumo (Quadro 2).

Quadro 2 – Atributos culturais incluídos na metodologia da Ergonomia Cultural, adaptado.

Atributo Descrição Exemplos

Etnia Língua, origem, história Americano-africano, coreano, indonésio

Homem, Mulher, Transgênero, Neutro México, Índia, Chiba, Brasil

Sexo

Identidade e socialização como feminino ou masculino (nem sempre consistente com o sexo biológico)

Nacionalidade País de origem, ou em mesmas crenças,

nação da origem de ancestrais

Religião Sistema de crenças espirituais Budista, Hindu, Cristianismo, Cabala etc

Geração

Grupo social nascido na mesma época e marcado por atributos comuns tais como o uso de dispositivos de comunicação ou de padrões linguísticos, como gíria.

Geração Y, Geração X, Baby Bomers

Nível de educação / Status

socioeconômico

Nível de educação obtido em uma estrutura de aprendizagem em determinado sistema similar a classe de status social, geralmente definido pela renda, educação, local e, em algumas culturas, a etnia.

Área regional ou geográfica que tem grupos relativamente homogêneos de residentes

PhD, Bacharelado, Especialização etc

Classe média, classe média alta, classe rica

Área cultural Urbano, rural, metropolitano,

suburbano, regional etc

Fonte: SMITH-JACKSON et al., 2011, traduzido.

Os sinais de advertência pictóricos impressos em embalagens de brinquedos, são mensagens visuais que merecem atenção, visto que sua interpretação depende, além de outros aspectos, da familiaridade do leitor com sistemas pictóricos e com os conceitos apresentados. O perfil cultural de cada leitor, tais como a idade, sexo, o nível educacional, o meio em que convive, suas crenças e valores podem afetam a interpretação e a aceitação do significado de mensagens visuais, como por exemplo, os pictogramas. Spinillo (2012, pp. 3400, tradução nossa) sugere que "a percepção de uma representação é determinada pela experiência visual do leitor com a imagem e com o referente".

Twyman (1985) afirma que, se é reconhecida a existência de diferenças culturais na elaboração de ilustrações, é plausível considerar que tais diferenças também existam na interpretação de ilustrações.

As diferenças individuais existentes entre as sociedades, ou até mesmo em uma mesmo cidade, como São Luís-MA, sugerem que o uso de mensagens visuais seja de grande importância, pois facilitam a interpretação e o aprendizado do conteúdo das mesmas. Portanto, ao expor informações importantes de caráter orientativo, como os sinais de advertências, os fabricantes de brinquedos devem ter cuidado ao trabalhar com os conceitos para facilitar a interpretação por parte dos consumidores culturalmente diferentes.

Dessa maneira, não apenas informar, mas comunicar de maneira adequada ao usuário sobre todos os riscos a que está sujeito ao utilizar um produto, de forma a atingir o maior público possível, é uma forma de prevenir acidentes. A qualidade da apresentação da informação pode fazer diferença em seu entendimento e consequente comportamento.

4.1 Cidade de São Luís

A cidade de São Luís, local do estudo de caso da presente pesquisa, é a capital do estado do Maranhão, e a principal cidade da Região Metropolitana da Grande São Luís. Possui 1.014.837 habitantes, correspondendo a 16ª posição no ranking das cidades mais populosas do país. É a 4ª maior cidade da Região Nordeste e a 13ª maior capital brasileira. Possui o 12º maior parque industrial entre as 27 capitais do Brasil. O Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,768, o 15 º na lista das capitais brasileiras (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2013).

A população ludovicense se divide em 474.995 homens, 539.842 mulheres, destes 148.766 são menores de 14 anos, crianças. No que diz respeito à raça, a população ludovicense se declara Amarela (11.064 pessoas), Branca (295.364 pessoas), Índio (1.815 pessoas), Parda (572.635 pessoas) e Preta (117.871 pessoas) (IBGE, 2013).

A religião predominante é a católica apostólica romana (343.143 pessoas), seguida da Evangélica (239.636 pessoas) e da Espírita (6.265 pessoas).

Em relação à educação, do total da população ludovicense, 880.701 pessoas são alfabetizadas, 457.578 possuem o ensino fundamental completo, 251.618 possuem o ensino médio completo, 57.210 possuem ensino superior e 2.809 possuem mestrado e 1.094 possuem doutorado.

A cidade de São Luís, bem como a maioria dos centros urbanos possuem grandes diferenças sociais e culturais. A cidade divide-se espacialmente em vários conglomerados urbanos e rurais, chamados de bairros e estes possuem particularidades que os definem. Existem cerca de 300 bairros, alguns são considerados centros financeiros, comerciais, bairros industriais, residenciais, favelas, bairros para diversão e lazer.

As desigualdades encontradas nos bairros da capital maranhense são evidenciadas principalmente por fatores financeiros ou de renda, como a maioria dos arranjos urbanos brasileiros e de outros países capitalistas. A renda per capita do ludovicense é de R$ 626,78 a 5ª pior do país, dentre as capitais (IBGE, 2014). O status socioeconômico reflete diretamente nas diferenças de moradia/habitação, nível de educação e na área regional (bairro) em que reside.

Todos esses aspectos sociais e culturais foram considerados na presente pesquisa com o intuito de relacionar a influência dos mesmos na compreensibilidade ou não de sinais de advertência.

Dessa maneira, no capítulo a seguir, treze variáveis serão analisadas em conjunto, para que seja possível identificar a ocorrência de padrões representacionais em sinais de advertência presentes em embalagens de brinquedos comercializadas em São Luís-MA. E ainda para que viabilize a proposição de recomendações sobre a representação gráfica e informacional desses sinais, baseadas no grau de compreensibilidade dos mesmos por parte dos compradores (usuários indiretos), considerando parâmetros da Ergonomia Cultural, com o intuito de proporcionar aos usuários diretos (crianças) saúde, segurança, conforto e bem-estar.

Documentos relacionados