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Apreensão das atividades, recursos explicativos e qualificadores

3 PRESENTE ESTUDO

3.1 DESENHO, SEU CONTEXTO E OBJETIVOS DA PESQUISA

3.1.5 Descrição dos procedimentos analíticos

3.1.5.2 Apreensão das atividades, recursos explicativos e qualificadores

Posteriormente às apreensões dos personagens na e pela narrativa pessoal das crianças, ao longo das cinco estórias contadas a respeito do D-E com tema, também foi possível apreender as atividades dos personagens, o uso de recursos explicativos e qualificadores, como veremos a partir de agora.

Neste estudo, a posição metaforicamente refere-se a um lugar moral das pessoas onde essas atribuem qualidades, adjetivos ao personagem principal (si mesmo) e aos demais personagens, considerando a narrativa social dominante, seguindo os estudos de Bamberg e colegas (Bamberg, 1997, 2006, 2008; Bamberg&Georgakopoulou, 2008; Korobov&Bamberg, 2006). Ainda de acordo com os autores, a posição decorre de como um falante é ouvido, da mesma maneira que aquilo que ouvimos decorre de como posicionamos outra(s) pessoa(s).

Assim sendo, Moutinho (2010) exemplifica a importância de como se ouve o narrador: “um choro pode ser interpretado como um protesto se posicionarmos aquele que chora como uma pessoa dominante” (p.95). Em vista disso, apreendemos os recursos discursivos de Flor e Super- Herói com foco nos (1) personagens, (2) como foram se desenvolvendo as ações pelo enredo pela atividade e recursos explicativos, (3) como os qualificadores foram atribuídos aos personagens, (4) em qual contexto foi dito, que juntos, ao longo das cinco produções do D-E com tema, dizem sobre as posições agentivas de Flor e Super-Herói acerca da temática proposta, que envolvia o processo psicoterapêutico de cada um.

Os personagens são indispensáveis para análise do posicionamento agentivo, pois a eles são atribuídos qualificadores, especificando o lugar moral atribuído pelas crianças na narração. Aliado aos personagens, estão suas ações pelo encadeamento no enredo através de justificativas, explicações da criança narradora a respeito das ações realizadas pelos personagens da estória, assim, é importante saber, em quais situações, o lugar e quando foram realizadas. Já os qualificadores dizem sobre como o personagem principal adjetiva a si e os demais personagens atribuindo qualidades ao usar adjetivos, verbos, orações ou até mesmo a presença do qualificador no título ou pelo enredamento da pequena estória. Por fim, a contextualização da narrativa em antes, durante e depois pelo tempo verbal.

Dessa forma, a posição consiste de como os diversos qualificadores são enredados pelas narrativas. No Quadro 3, esclarecemos como foram selecionados os qualificadores ao longo das

estórias contadas pela Flor, tanto no que se refere aos qualificadores da narradora em relação a ela mesma, como desta em relação a outros personagens.

Quadro 3 - Um pequeno exemplo para apreensão dos qualificadores dos personagens pelo estudo de caso 1: Flor

Personagens Episódios narrativos ao longo das 5 (PE´s)

Qualificadores/Posições Flor (eu) PE-2: “adorei estar fazendo eu brincando

com a tia”; “ficar aqui é muito legal” PE-3: “QUANDO:: fui embora (+)fiquei triste”; TRISTÉRRIMA” “olha minha boca triste

PE-5: “nesse dia estava feliz e dei uma flor para minha mãe pro meu pai”

Feliz, contente, Fortalecida

Triste, insatisfeita, Fragilizada

Alegre, bem estar, Fortalecida Família PE-5 :“queria uma irmã para brincar com

ela(+)”

“estou dando uma flor para eles(+) gosto da minha família”

Insatisfeita por não ter com quem brincar, Fragilizada

Satisfeita, feliz, Fortalecida Melhor amiga PE-4: “quase tudo na gente é igual(+) o

nome(+) e nós vamos fazer natação no mesmo dia lugar”

Feliz, bem estar, Fortalecida

Ao exemplificar alguns qualificadores do Estudo de Caso 1, percebemos que Flor direciona os qualificadores mais para si do que para os outros personagens. Como também, ora qualifica-se como feliz por estar no SPA, ora “tristérrima” por deixar o serviço de psicologia. Assim sendo, o conjunto de qualificadores pelo encadeamento das cinco estórias dizem sobre alguns episódios corriqueiros durante e após a psicoterapia, em que Flor posiciona-se como feliz no SPA e triste ao deixar o serviço de psicologia. Neste mesmo contexto, após a psicoterapia, se sente só por não ter uma irmã para brincar com ela.

Como vimos, os qualificadores junto aos demais elementos narrativos já relatados dizem sobre como os personagens são qualificados pela criança narradora, inclusive como adjetiva a si mesma e os demais personagens que, por vezes, são estabelecidos pelo enredamento através do

uso: 1) de palavras: verbos, adjetivos, advérbios, conjunções 3) de orações que atribuam qualidades ao personagem.

Os recursos linguísticos das crianças favorecem a análise do presente estudo não só quando narram estórias sobre os desenhos, mas defendemos que há continuidade da narrativa pela entrevista episódica, através da narrativa performática com o pesquisador.

Já que os qualificadores são de grande importância para o presente estudo, eles foram identificados e categorizados da seguinte forma pelo pesquisador, nos dois casos: (1) fragilidade: que diz sobre sofrimento psíquico, dificuldade, submissão, “estar mal”, e demais adjetivos que (des)qualificam os personagens, como por exemplo: “doidu”, “psicopata”; (2) fortalecimento: que se refere ao enfrentamento, resiliência, superação, “estar bem”, reconstrução de si, força, habilidades, que foram utilizados pelas crianças para adjetivar a si e os demais personagens de uma forma que promove a superação das situações problema, já que o processo psicoterapêutico promove mudanças, transformações.

Junto aos tipos de qualificadores: (1) fragilidade e (2) fortalecimento e os demais elementos que emergem pelas narrativas, foi possível apontar através da interpretação das mudanças de posição, como as crianças constroem sentidos de si em um SPA, que diz sobre o fenômeno de identidade. Por conseguinte, ao trabalhar nas narrativas, como sugere Bamberg (2012), as entendemos como “um meio específico” de explicar pelas produções discursivas, as construções de sentido de identidade de cada criança a respeito da temática proposta pelo pesquisador: “Como você se sente hoje, após não ter vindo mais para cá”. Defendemos, ainda, que é importante o falar de si pelas relações simbólicas, pois diz sobre como cada criança sente- se após seu processo psicoterapêutico, no que se refere à satisfação, como veremos no decorrer dos estudos de casos.

Na análise dos estudos de casos de Flor e Super-Herói, na próxima seção, veremos os qualificadores atribuídos para a personagem principal e os demais, permitindo interpretarmos as posições dos personagens principais perante a si mesmo, o outro e o referente a uma narrativa social que preza pelo cuidado à criança a partir do que é normal e patológico. Na sequência, veremos como foi o procedimento de apreender o contexto em que foram narradas as pequenas estórias.