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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Formação e Desenvolvimento Profissional

4.1.4 Aprendendo Sempre

O ato de aprender é constante entre os homens, desde o nascimento até a morte. Em se tratando de profissão, o bom profissional está a todo o momento buscando atualizar-se para não ficar fora do mercado de trabalho.

Sendo assim, observou-se a compreensão dos sujeitos entrevistados a respeito do crescimento profissional, evidenciado na fala do docente abaixo:

108  O crescimento profissional é uma necessidade. O mundo tem avançado rapidamente e as coisas mudam num ritmo mais acelerado e eu vejo assim, como uma necessidade, a minha mudança. Pra que eu consiga melhorar a qualidade da educação, melhorar a qualidade de aprendizagem, do meu aluno, eu também preciso avançar. Eu ainda tenho algum comodismo, algumas dificuldades, mas eu vejo como uma necessidade o avançar. O crescer profissionalmente é uma necessidade, como eu já falei, porque eu só vou poder melhorar a qualidade da educação do meu aluno se eu também melhorar, então é uma questão de necessidade eu avançar em algumas coisas que eu ainda considero pra mim comodismo (DOC 4). Destaca-se aqui a preocupação do docente com um ensino de qualidade e com a aprendizagem do aluno. Tem consciência da necessidade de modificar a prática pedagógica, em função das transformações sociais. È interessante constatar que ele reconhece seu papel no processo ensino/aprendizagem e atribui ao seu comodismo às limitações para que avance profissionalmente, traz para si toda a responsabilidade dessa formação. O que chama atenção é que ele não faz nenhuma referencia ou análise das condições/contextos que porventura pudessem interferir nessa situação.

Para Bronfenbrenner (1996) o desenvolvimento é um processo pelo qual o indivíduo passa para adquirir uma concepção ampla e diferenciada do meio, desenvolvendo capacidade de envolver-se em atividades que contribuem para suas propriedades e reestruture o ambiente com uma reorganização contínua dentro de uma unidade tempo-espaço, que eleve o nível das ações, percepções, atividades e interações do indivíduo com o mundo, sendo este responsável pela escolha através das relações com diferentes integrantes do ambiente da pessoa.

Em consonância com essa fala, Lalive-D’Épinay (1998 apud TARDIF 2009), diz que o ser humano, ontologicamente, é definido pelo trabalho que produz e, consequentemente, pela excelência em todo o processo de execução, que leva em conta a responsabilidade consigo mesmo e com toda a sociedade, mediante os papéis assumidos.

Nesse sentido, o que o docente informa acima se coaduna ao pensamento do autor, ao demonstrar a necessidade de buscar uma excelência no trabalho mediante as exigências impostas pela sociedade, que está em constante transformação, o que é ratificado por Libâneo (2006), quando afirma que:

O professor participa ativamente da organização do trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe de trabalho, aprendendo

novos saberes e competências, assim como um modo de agir coletivo, em favor da formação dos alunos (LIBÂNEO, 2006, p. 307).

Tanto o autor como o docente (6) comunga com a mesma ideia percebida através da fala quando o mesmo comenta que “[...] trabalho não só na área pública, mais também na área particular, então em alguns momentos a gente sempre tem esses encontros, conversa com outros professores, justamente pra ver o que pode ser ampliado na nossa área, como é que a gente pode desenvolver pra poder facilitar tanto a vida do docente como do aluno”.

Ao citarem as instituições como fundamentais para o processo de crescimento profissional, correlaciona-se este pensamento a mais um dos níveis que formam o meio ambiente ecológico segundo a teoria bioecológica de Bronfenbrenner (2004), o exossistema, que é formado por ambientes não frequentados diariamente pela pessoa, porém que exercem influências sobre a mesma. Essa visão integrada dos indivíduos deve-se ao processo de formação dos docentes, ao considerar que o desenvolvimento humano está presente em todas as fases do ciclo vital da pessoa e se estabelece através das relações, incluindo as profissionais, que se dão através de docentes com docente, docentes com gestores, docentes e alunos, enfim com toda a comunidade escolar.

Destacou-se aqui, duas falas de docentes entrevistados que caracterizam bem a teoria bioecológica.

É, a cada nova turma que se inicia a gente percebe é um novo desafio, são novas pessoas, novas indagações são questões assim muito pessoais que os alunos levam pra sala de aula e que a gente acaba se envolvendo muito na vida deles, as emoções que levam, a cor da pele para a sala de aula [...]. A escola procura contribuir com o possível, mais não tem aquela visão de priorizar isso, de contribuir verdadeiramente para um bom trabalho do professor, ainda há muitas barreiras pra serem derrubadas nesse sentido pra se melhorar o trabalho do professor. (DOC 2)

Para esse docente a relação com o aluno envolve uma cumplicidade, troca de conhecimentos, novas amizades e contribui como mediador do conhecimento para despertar no discente a sua importância como sujeito construtor da História. O ser humano participa de maneira diferente de contexto ou ambientes, mas, nem por isso deixar-se-á de ter o seu valor, pois, cada indivíduo é um ser único e indispensável para humanidade.

110  O entendimento do docente 10 a cerca de desenvolvimento é que :“[...] geralmente nas escolas que eu trabalho percebo que o gestor e todo o corpo docente têm aquela preocupação em trocar ideias, metas. Profissionalmente tenho crescido, não só com relação aluno-professor mais também com os colegas, pela questão de trocar de técnicas e dinâmicas. Depois da Pós-Graduação tenho crescido muito” (DOC 10)

Enquanto o docente 10 reforça em seu depoimento a questão da interação entre o corpo docente e gestor, o que contribui tanto para troca de experiências, como também, para o bom desempenho na sala de aula. O docente enfatiza ainda em sua fala que cursar Pós-Graduação foi decisivo para crescimento profissional.

Para tanto, “a ciência pós-moderna volta-se ao cotidiano e concebe a linguagem como relacional e constituída na cultura, por meio das interações. Além disso, tanto a realidade como o conhecimento são entendidos como construções sociais”. (SOUZA; BRANCO; OLIVEIRA, 2008, p. 360)

Já o docente 3 quando questionado sobre o que mais lhe propiciava crescimento profissional, coloca que

Apesar dos 30 anos de sala de aula, a própria experiência com aluno, cada turma que você pega é uma situação diferente. Eu trabalho com 1º ano A, B, e C, mas em cada turma eu tenho comportamento e reação diferente, isso só serve para adicionar aos meus conhecimentos e ter condição de trabalhar e de continuar trabalhando [...]

.Tal depoimento trás a questão do tempo de experiência como fator determinante para o “fazer pedagógico” do docente como estímulo para a continuação de sua prática de forma prazerosa e construtiva.

Como defendido por Bronfenbrenner (2004) o desenvolvimento caracteriza-se também com as mudanças, representado por meio do docente 8:

[...] eu trabalhei 17 anos em uma escola, sempre com as mesmas pessoas, conhecendo os mesmos alunos, a mesma família e com essa mudança pra outra escola, a gente vai conhecer novas fontes, novas pessoas, novos colegas, novos alunos e no inicio pra mim foi um pouco difícil porque é um contingente bem maior que antes, mais dá pra levar. (DOC 8)

O mesmo autor refere-se como processo de desenvolvimento a importância das relações, tão bem explicado pelo docente a seguir: “[...] eu vou me socializando com os colegas, e com isso eu vou adquirindo um conhecimento com

eles, isso só vai aumentando o meu crescimento profissional e também o desenvolvimento pessoal” (DOC9).

Nesse sentido, um dos pontos contemplados neste estudo foi à questão do desenvolvimento profissional dos docentes vinculado às relações mantidas com os mais diversos agentes ao longo de sua trajetória profissional.

Entre os entrevistados, encontram-se docentes que evidenciam em suas falas que seu desenvolvimento profissional não se deu apenas pela formação, mas também pela interação com outros sujeitos, dentre os quais os alunos e os colegas de trabalho.

Sabe-se que muito mudou nas relações dos docentes com seus pares, com os alunos e com a sociedade. Porém, qual a visão que os docentes têm acerca

dessas mudanças? Que fatores contribuem para que acompanhem tais mudanças?. O docente a seguir responde essas indagações conforme relato abaixo:

Após a formação eu pude identificar o verdadeiro sentido da História e procurei relacionar os fatos que acontecem atualmente com o passado, procurando fazer com que meus alunos entendam que a História seja bem ministrada, pra que haja realmente uma boa aprendizagem, eles têm, que fazer uma relação com o que aconteceu com o que está acontecendo e até para ensino se tornar mais prazeroso e ter realmente um fundamento na vida escolar deles. (DOC 10)

O docente trás em sua fala a discussão do quanto a disciplina História pode ser trabalhada de maneira diversificada contextualizando os fatos do passado com o presente e para essa efetivação a ciência hoje disponibiliza dos mais variados recursos e o docente pode aplicar múltiplas metodologias.

Para complementar esse tema os quatro pilares da educação justificam de maneira clara e objetiva o papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e sociedades e ao longo de toda a vida. Tais reflexões estão presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) quando recomendam:

aprender a conhecer aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.

Sabendo-se que as representações que os docentes têm de si mesmos são mutáveis, e que essas mudanças interferem decisivamente em seu trabalho em sala de aula, Gonçalves (1999), no seu texto “A carreira das professoras do ensino

112  primário”, afirma que o itinerário profissional do docente é o resultado de três processos que se mesclam tais como:

Processo de crescimento individual, em termos de capacidades, personalidade e capacidade pessoal de interacção com o meio; processo de aquisição e aperfeiçoamento de competências de eficácia no ensino e de organização do processo de ensino-aprendizagem; e processo de socialização profissional, em termos normativos ou de adaptação ao grupo profissional a que pertence e à escola onde trabalha, e interactivos, pela reciprocidade de influências que estabelecem entre si próprios e o meio em que desenvolve o seu múnus (GONÇALVES,1999, p. 147).

Ainda a respeito das influências sobre o professor no processo de desenvolvimento profissional, Moita (1999), em “Percurso de Formação e de Transformação”, afirma que não há formação no vazio, ou seja, formar-se pressupõe uma intensa troca de "experiências, interações sociais, aprendizagens, um sem fim de relações". Sua perspectiva assevera também que o indivíduo interage, é o que é, por conta de sua trajetória e da forma como a mesma interage com outras. É daí que surge a formação (MOITA, 1999).

Sendo assim, vale dizer que o processo de aprendizagem é contínuo, portanto, para a efetivação dessa aprendizagem requer uma predisposição.