• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 Formação no Ensino Superior e as Mudanças nas Práticas Pedagógicas: Possibilidades de Aprendizagem

4.3.7 Avaliação dos Alunos

 

Ressalta-se nesse item que, ao perguntar aos entrevistados sobre as melhorias adquiridas com a formação superior, acerca da maneira de como avaliar os alunos, surgiram várias concepções de avaliação adotadas pelos docentes participantes desse estudo, tornando necessária uma breve abordagem a esse respeito.

Entende-se que avaliação consiste em juízo de qualidade que se faz sobre uma determinada realidade. Esse juízo de qualidade deve ser expresso por meio de algum símbolo, seja ele numérico ou verbal, seja outro qualquer. Normalmente, na prática escolar, os símbolos que expressam juízos de qualidade ou são numéricos ou verbais. As notas são símbolos numéricos e os conceitos (péssimo, ruim, regular, etc.) são símbolos verbais (LUCKESI, 2003).

Para Romão (2008), essa atividade caracteriza-se pela metodologia docente que confere valor às medidas apreendidas no processo de ensino- aprendizagem. Esses símbolos têm uma padronização pré-determinada a fim de fazer o comparativo entre os discentes, alvo da avaliação (ROMÃO, 2008).

140  No entanto, nas entrevistas, percebeu-se outra forma que os docentes usam para avaliar seus alunos, a observação destes nos mais diversos momentos e espaços da escola, às vezes, até fora dela. Essa forma de avaliar seria o que os entrevistados chamam de "qualitativa", ou seja, não é mensurada em número ou código. Como exemplo, a afirmação do docente 4:

[...] O quantitativo é aquelas atividades que a gente já conhece escrita, prova, trabalho e o qualitativo eu observo muito a participação no diálogo, no comentário das suas produções escrita, mesmo sendo escrita a gente vê ali o interesse, o empenho, então eu observo muito a participação ativa na hora do dialogo e na hora de comentários de produções e assuntos que a gente trabalha assim, contextualizando a realidade.

Percebe-se que o ato de avaliar para o docente acima destacado, envolve vários aspectos, que só contribuem para a melhoria do seu desempenho profissional, pois se o mesmo leva em conta todos os elementos elencados, isso também demonstra que o docente diversifica ao máximo suas aulas, podendo assim também variar o modo de avaliar seus alunos.

Acerca dessa forma de avaliar, Jussara Hoffmann afirma que

[...] dar nota é avaliar, fazer prova é avaliar, o registro das notas denomina- se avaliação. Ao mesmo tempo, vários significados são atribuídos ao termo: análise de desempenho, julgamento de resultados, medida de capacidade, apreciação do 'todo' do aluno (HOFFMANN, 2009 p. 13).

A continuidade da avaliação é outro ponto bastante ressaltado pelos docentes, na medida em que esse é um "processo contínuo" e que perpassa elementos como a pontualidade, assiduidade, entre outros. A fala do docente 3 é bem representativa nesse aspecto:

 

Para mim a avaliação é um processo continuo, porque começa na questão de pontualidade, da assiduidade, nos trabalhos mesmo sem ser um trabalho avaliativo, mas eu já estou avaliando eles na participação, na exposição do trabalho de grupo, na leitura de uma resenha, de um resumo e cada atividade que eu realizo na sala de aula eu já aproveitei pra fazer a avaliação, porque às vezes aquela prova que a gente faz no final do bimestre, ela por si não dá condição de você saber se teu aluno tá apto ou aprendeu aquele conteúdo, porque às vezes o aluno tem um problema durante o dia ele não estuda aí muitas vezes ele chega e diz "professora eu não estudei pra essa prova". Então, como a gente sabe que essas coisas acontecem, o quê que eu faço ao longo da semana, do mês, tudo é feito na sala de aula eu já vou contando um pontinho para eles poder somar exatamente com aquela velha e tradicional prova (DOC 3).

O docente 3 não diferencia muito sua prática avaliativa do docente 4, entretanto ao responder a pergunta foi mais detalhista quanto aos passos que segue na construção da nota que dar ao seu aluno, descrevendo essa prática como contínua e especificando todo o conjunto de atividades que desenvolve para que o aluno adquira uma média significativa o que nos remete também a pensar que esse docente leva em conta a contribuição dos pilares da educação, quando narra na entrevista que avalia a participação em trabalhos em grupo (conviver), realização de múltiplas tarefas (fazer), aprendeu determinado conteúdo ( aprender).

Além dessas formas de avaliação, quantitativa e qualitativa, alguns docentes levam em conta seu contato com os discentes fora do ambiente escolar, como relata o próximo docente,

[...] por que não basta só ser um aluno presente, não faltar as aulas e apresentar todos os trabalhos, mais eu vejo também o respeito pelo outro, pelo professor, o comportamento de forma geral, nem só na escola. Como também quando eu os vejo na rua eu sempre, procuro estar observando meus alunos, eu conheço cada um, chamo pelo nome todos ele. (DOC 2) As palavras dos docentes entrevistados são consoantes com o que alguns autores, como Rabelo (2009), em “Avaliação: novos tempos, novas práticas”, em que afirma que a avaliação, enquanto uma "atividade teórica e prática" não têm um pressuposto que norteie sua ação, mas sim, que há a existência de uma gama de modelos que pretendem ser a melhor forma de avaliar, porém, sem se chegar a um consenso. Rabelo sustenta a ideia elaborada por Miras e Solé, que conceituam a avaliação como uma atividade através da qual, em razão de certas regras, se consegue obter relevantes informações a respeito de um fenômeno, situação, objeto ou pessoa (MIRAS; SOLÉ apud RABELO, 2009).

Ainda para o referido autor, a avaliação deve levar em conta questões que normalmente são negligenciadas pelos educadores, tais como os objetivos desse processo, o conteúdo da avaliação, suas propostas de interferência no processo educacional através de recursos didáticos, entre outros.

Hoffmann (2009), por sua vez, também destaca um questionamento dos métodos avaliativos usados com mais frequência, seja em sua base teórica, seja em sua metodologia, uma vez que esses métodos avaliativos precisam levar em conta dimensões mais amplas da realidade vivenciadas nas escolas. Para ela,

142 

A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação essa que nos impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade, e acompanhamento de todos os passos do educando na sua trajetória de construção do conhecimento (HOFFMANN, 2009, p. 17).

Do mesmo modo, Romão (2008) faz coro com os autores anteriores, no sentido de ressaltar que a avaliação não deve ficar presa às classificações, padronização ou caracterizadas por símbolos e conceitos. Além disso, para ele, a avaliação deve ser mote para uma "reflexão problematizadora coletiva" feita em conjunto pelo docente e pelo aluno:

[...] realizada a avaliação da aprendizagem com o aluno, os resultados não devem constituir uma monografia ou uma dissertação do professor sobre os avanços e recuos do aluno, nem muito menos uma preleção corretiva dos “erros cometidos ’, mas uma reflexão problematizadora coletiva, a ser devolvida ao aluno para que ele, com o professor, retome o processo de aprendizagem. Neste sentido, a sala de aula se transforma em um verdadeiro “círculo de investigação” do conhecimento e dos processos de abordagem do conhecimento (ROMÃO, 2008, p. 102).

Freitas (2012) também assume o discurso que a avaliação deve levar em conta não apenas o resultado de um processo (no caso, uma prova, por exemplo), mas toda a estrutura por trás daquele procedimento avaliativo. Para ele, sala de aula é apenas parte de um todo, que leva em conta também o ambiente maior que é a escola.

Em consonância com Freitas o docente 10 descreve como realiza as suas avaliações:

Eu procuro avaliar através da participação, do desempenho em sala de aula, da socialização que é muito importante que a socialização, faço também a tradicional prova objetiva, subjetiva também através das atividades extraclasse e que são realizadas no pátio da escola, como feira pedagógica, como é, solenidade que acontece também na escola como Gincanas, como participação em festividade como o Dia dos Pais, o Dia das Mães, enfim tudo se aproveita com relação ao, a, a avaliação.(DOC 10) A ideia desse autor acerca da avaliação é pertinente para este trabalho, uma vez que, se é verossímil a afirmação de Freitas (2012), deve-se considerar as diferenças socioeconômicas e/ou regionais que marcam a sociedade brasileira. Assim, perceber as nuances que caracterizam o ensino em Chapadinha é fundamental para o entendimento da dinâmica dos processos avaliativos executados pelos docentes alvo da pesquisa.

Nesse caso, fazendo-se uma analogia das falas dos docentes entrevistados com os estudos desenvolvidos por pesquisadores, especificamente sobre avaliação, pode-se perceber que esse processo não fica restrito à aplicação de atividades e medição de desempenho dos alunos. Pelo contrário, deve levar em conta o ambiente escolar e, quiçá, algo mais amplo, como a realidade regional. Pois como já disse Freitas (1995), “a escola não é uma ilha na sociedade. Não está totalmente determinada por ela, mas não está totalmente livre dela” (FREITAS, 1995, p. 99). O retorno do resultado para o aluno também é apontado como fundamental para o seu desenvolvimento, de forma que o que passa a ser mais importante não é a avaliação em si, mas o que ela proporciona ao aluno no desenvolvimento de suas competências e habilidades.

Percebe-se que os docentes entrevistados compreendem que a tarefa de avaliar é muito complexa e que, portanto, o mais significante é desenvolver no alunado as competências e habilidades abaixo descritas que são propostas tanto no PCN como Diretrizes para o Ensino Médio que são: criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa. Produzir textos analíticos e interpretativos Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos processos históricos. Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica. Atuar sobre os processos de construção da memória social. Situar as diversas produções da cultura (BRASIL, 1999).

Mas dentre todos os entrevistados o único que menciona o processo avaliativo como via de mão dupla foi a docente 1 quando enfatiza a importância da avaliação para o processo ensino/aprendizagem “[...] pra conhecer e ver a aprendizagem dos meus alunos e também a minha prática como é que eu estou trabalhando, isso é um tipo verificação porque na avaliação eu tenho que fazer, realizar essa avaliação pra ver que os meus alunos já adquiriram de conhecimento e também observar a minha prática se está de acordo se está ajudando para a aprendizagem dos meus alunos, então é muito importante, é um processo contínuo a avaliação “.(DOC 1).

Grande contribuição essa fala trás para a pesquisa, pois na maioria das vezes os docentes costumam apontar os problemas relacionados às notas aos desinteresses dos alunos, ficando assim mesmo, sem nada ser feito para que haja uma mudança, e quando o docente propõe fazer a avaliação de sua prática, ele

144  pode descobrir inúmeras situações que serviam de empecilhos para o avanço educacional.