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CAPÍTULO I – APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA E

2.5 APRENDIZADO POLÍTICO E DEMOCRÁTICO NO

Dando continuidade às questões sobre o aprendizado político e democrático, vejamos como este tema é abordado por alguns autores e quais são os resultados encontrados neste sentido em experiências de OP no Brasil.

Conforme desenvolvido por Pontual (1995, 2000), no processo de democratização do Brasil e da gestão pública, a prática educativa é elemento fundamental para garantir maior alcance e qualidade nos aprendizados produzidos. Daí que surge a necessidade da construção de uma pedagogia da gestão democrática, como dimensão indispensável para possibilitar que os atores da sociedade civil e do governo adquiram eficácia e potência de ação no exercício da democracia, da cidadania ativa, da vitalidade das esferas públicas e na construção de uma nova cultura cívica.

Além dos já citados estudos que abordam o aprendizado político e democrático, vejamos alguns estudos de caso com algumas experiências participativas21 no Brasil. Indico, brevemente, alguns elementos e conclusões que estes estudos trouxeram22.

Segundo Pedro Paulo Pontual (2000), em sua tese de doutorado, vários autores e trabalhos enfatizam a necessidade de uma ação educativa planejada e a criação de um instrumental pedagógico capaz de capacitar os vários atores e sujeitos envolvidos nas práticas participativas (FREIRE, 1992; SILVA, PEREIRA e PONTUAL, 1992; PONTUAL, 1994, 1995; DANIEL, 1994; DOWBOR, 1994; TAMEZ e ROLEMBERG, 1995). Diversos outros estudos têm focado a “enorme potencialidade educativa presente na dinâmica do Orçamento Participativo”. A partir daí e de conclusões de Pontual (2000), é importante notar que as possibilidades pedagógicas do OP devem ser verificadas, através dos aprendizados que distintos atores desenvolvem

21 Dois exemplos de abordagens ao aprendizado político no campo da sociedade civil, em especial nas associações comunitárias e de bairro, ver Pires (1993), Krischke (2003) e Reyd R. de Moura (2009).

22 Mesmo não sendo autores brasileiros, os trabalhos sobre aprendizado político no OP de Rosário na Argentina de Lerner e Schugurensky (2007), bem como, o dossiê internacional organizado por Daly et al (2009) e os esforços destes no âmbito do Ontario Institute for Studies in Education, da Universidade de Toronto merecem destaque. Para mais detalhes e obtenção testes trabalhos ver em: http://aecp.oise.utoronto.ca/ e também no site oficial de Daniel Schugurensky,

no processo, aprendizados como o do exercício da cidadania ativa, uma nova concepção de espaço público, novos conhecimentos técnico- políticos e, também, novos padrões de comportamento para o exercício da governança pública democrática e participativa. Lembrando que os distintos desenhos institucionais e as distintas metodologias do OP podem influenciar as potencialidades educativas desta prática (PIRES, 1993; AZEVEDO e AVRITZER, 1994; BAIERLE, 1994; GENRO e SOUZA, 1997; ABERS, 1998; FEDOZZI, 1997, 2002, 2009).

Observemos, então, sinteticamente, como alguns estudos relacionam o OP ao aprendizado político e cidadão. Em pesquisa sobre o OP de Belo Horizonte e de Betim, realizada por Azevedo e Avritzer (1994), destaca-se a obtenção de aprendizados entre os participantes que aprendem sobre o exercício da democracia, a publicidade quanto as decisões orçamentárias, tanto no plano da administração como do legislativo municipal, incluindo-se a preocupação com a transparência por parte dos técnicos do governo. O saldo disto, segundo os autores, é o de que a democracia não pode ser restringida à escolha de representantes, mas é necessário constituir uma prática política aberta à sua própria ampliação e renovação. Abers (1998), em sua tese de doutorado sobre o OP de Porto Alegre (POA) - RS, assinala que a participação neste espaço desenvolve, nos indivíduos, senso de comunidade, sem perder o senso sobre seus próprios interesses, os quais devem ser negociados com demandas também legítimas de outros indivíduos. Em suas conclusões, salienta que o OP faz crescer aspectos de cooperação, mas também desenvolve uma nova cultura política entre os participantes. Para Genro e Souza (1997), os efeitos pedagógicos do OP são bastante claros, inclusive transcendendo o processo de gestão pública e de planejamento democrático, ampliando-se para um processo político de geração de consciência e cidadania. Já, Fedozzi (1996) parece ser mais cauteloso, mas mesmo assim indica que a experiência de OP de POA – RS cria condições institucionais à emergência da cidadania e à construção de uma gestão sócio-estatal baseada em regras e critérios impessoais e universais na hora de decidir sobre os recursos públicos municipais. Enfim, todo este referencial teórico e estudos de caso parecem ser um bom ponto de partida para entendermos os possíveis efeitos educativos presentes quando da participação no OP. Há outros estudos subsequentes que acrescentam e aprofundam as questões entre esta inovação institucional e os aprendizados políticos e democráticos dela advindos.

Luciano Fedozzi (2002, 2009) também dá grandes contribuições ao assunto do aprendizado político e do desenvolvimento de habilidades

entre os participantes; ao estudar a experiência em POA – RS indica que o OP estaria funcionando como uma instituição de socialização secundária (tipo escola, partido, trabalho) que exerce um efeito compensatório na formação da consciência social. Tais resultados apontaram, positivamente, quando em comparação feita entre participantes novos e os com mais tempo de OP (variável também levada em conta nesta dissertação). Porém, o autor não deixa de citar outras variáveis que podem impactar na aprendizagem política, ou seja, não é somente o tempo de participação, mas o capital escolar e o associativismo (envolvimento cívico-político) que ajudam na composição da consciência social dos indivíduos. Em estudo subsequente, realizado por Fedozzi e Barbosa (2008) os mesmos consideram que esferas públicas como o OP, efetivamente, propiciam, na vida cotidiana e na interação entre governantes e atores da sociedade civil, oportunidades de aprendizagem que podem adquirir conteúdos universais, tanto materiais como normativos. Porém, ambos indicam limitações quanto à qualidade do aprendizado produzido no interior desta prática participativa, bem como, sobre a interveniência da variável escolaridade para garantir o efeito pedagógico. Assim sendo, apesar de todo o efeito positivo do OP, ele pode ter um caráter duplo; se por um lado se apresenta como “escola da cidadania”, por outro pode “significar que a compreensão normativa do mundo social de uma parcela dos participantes não se alterou no sentido da construção de novos valores democráticos, mantendo-se um nível de consciência compatível com formas tradicionais de autoritarismo social e com a cultura patrimonialista-clientelar no Brasil”

Luchmann e Borba (2007, 2008), em seus estudos realizados sobre experiências de OP23 em Santa Catarina (SC), entre outras abordagens, procuraram observar o caráter pedagógico da participação nestes espaços. Luchmann (2008b), em artigo intitulado Democracia

Participativa e Aprendizado Político: Lições da Experiência Brasileira,

expõe o aprendizado político entre os participantes do OP da cidade de Biguaçu – SC. Nesta experiência, notou-se que, apesar das pessoas adquirirem mais conhecimentos sobre os problemas do bairro, conhecerem mais pessoas e vivenciarem o sentimento de eficácia política, esta prática participativa mostrou certas limitações quanto aos aprendizados obtidos, bem como, mostrou que a intervenção de outras variáveis, no caso a escolaridade, é um fator bastante importante na

23 Além de Biguaçu, ao total foram pesquisadas as cidades de Concórdia, Blumenau, Guaraciaba, Indaial, Florianópolis, Criciúma, Itajaí e Chapecó.

apreensão de informações e aprendizados. Segundo a conclusão da autora sobre os OP‟s pesquisados, “os processos de aprendizagem constituem-se como subprodutos da participação”, pois os objetivos dos governos estão voltados muito mais para a “eficácia” na realização de obras priorizadas do que para a constituição de uma “cultura política cidadã”. O resultado disso é a ausência de espaços e mecanismos que desenvolvam, aprofundem e ampliem os conhecimentos, habilidades, atitudes e práticas políticas das pessoas envolvidas com o OP (p. 11).

Após observar as pesquisas e elementos levantados por estes e outros autores, observa-se a necessidade de ampliar os estudos no campo dos aprendizados democráticos. Portanto:

a abertura de novas formas e canais de participação requer uma prática pedagógica explícita capaz de orientar o necessário processo de mudança de atitudes, valores, mentalidades, comportamentos, procedimentos, tanto por parte da população como daqueles que estão no interior do aparelho estatal. Basicamente a potencialidade educativa do Orçamento Participativo converte-se em processo educativo dos diversos atores envolvidos (tanto da sociedade civil como dos governos), quando a sua metodologia e funcionamento incorporam ações pedagógicas planejadas e a criação de instrumentos capazes de contribuir para novos aprendizados por parte daqueles atores que estão orientados na direção da construção de uma nova cultura política. (PONTUAL, 2000, p. 47).

CAPÍTULO III – CONCÓRDIA: CARACTERÍSTICAS